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EDITORIAL
Livros proibidos como objetos de desejo foram
e serão trama argumental de diversas aventuras.
Bulimia de letras ou apetite por recônditos? Livro
como objeto causa, livro para ser devorado fora
do olhar do Outro. O escondido tem o aroma da
substância perdida, por isso nos atrai, oferece seu
mistério, para deleite do leitor.
O Bibliô n.32 se inspira em um evento realizado
pela Biblioteca da EBP-Minas Gerais, dirigida por
Márcia Rosa Lucchina, sobre “As religiões do livro”.
Um tema inédito e exigente, que foi abordado por
dois pontos de fuga. Cito Márcia:
Sob o título “as religiões do livro”,
estivemos conversando não apenas
sobre religiões que se constroem em
torno do livro, mas também sobre
nossa relação religiosa, profana,
sacrílega,..., com o(s) livro(s). Para
tal, indagamos a alguns leitores:
“Você reza em qual Bíblia?” e a alguns
outros, “Qual livro proibido você leu
escondido?”.
O texto de Claudia Moreira, também surgido desse
evento, sobre “Um livro escandaloso”, é de leitura
imprescindível para os freudianos. Após apresentar
dois exemplos das suas leituras escondidas, ela
introduz o Moisés de Freud como livro resistido,
proibido, do qual podemos extrair a falha que
Freud descobre fraturando toda identidade, questão
de absoluta atualidade. O judaísmo como ética
da separação, como diz Miller, em “O sintoma
charlatão”.
Antônio Teixeira nunca precisou ler um livro
escondido. Em contrapartida, escolhe transmitir
sua experiência de juventude, de arrebatamento
frente a um livro irresistível e o modo de aquisição
do qual se vale para dele usufruir. Trata-se da versão
original dos
Escritos
de Jacques Lacan. Letras para
não ser lidas durante um tempo, tempo ditado pela
subjetividade do leitor frente à objetalidade do livro
a ser apropriado.
Teresinha N. Meirelles do Prado ensina que a
própria leitura pode encarnar a transgressão. O
constante suspense vivido na clandestinidade, posta
em cena de um insaciável desejo de saber. Busca
apoio em Clarice Lispector para pintar o afresco da
felicidade clandestina que a prática da leitura pode
proporcionar a um jovem corpo falante.
Gustavo Dessal não conta com nenhum livro
proibido na sua experiência de leitor. Como autor, faz
umas recomendações de leitura e gentilmente cede
uma resenha sobre um conto de Clarice Lispector.
Iordan Gurgel e Lucíola nos entregam duas peças
soltas de suas experiências de leitura sob as cobertas.
Finalmente e como alimento para a leitura do
seminário 6
de Jacques Lacan, presente nas nossas
mesas de trabalho, publicamos um artigo de Alicia
Calderón de la Barca, sobre o artifício da
play-scène
do qual se serve Shakespeare no seu Hamlet, para
pôr em cena uma verdade mentirosa.
Surfando se encontram divinos detalhes para leitores
e recentes lançamentos para os quais chamamos a
atenção.
Agradecemos aos autores e leitores,
MA
Ler a escondidas