É POSSÍVEL CANTAR

Por Gisela Goldwasser
Cartel: Os objetos voz e olhar – Heloisa Caldas (mais-um), Fanny Cytryn, Denise Henriques, Cecília Castro, Marcia Crivorot, Gisela Goldwasser

A reunião do cartel sobre o tema do dizer e da voz é feita durante a pandemia e realizada on-line. Algumas vezes tivemos problemas em conjugar imagem e voz: outras vezes uma pessoa não aparecia, mas falava ou não aparecia e não falava; para ouvirmos quem falava era necessário calar o microfone para diminuir a interferência. Independente disso, antes mesmo da pandemia, nos encontros ao vivo sempre haverá algo que não se consegue dizer.

Recordo os sobreviventes de guerra que desenham, sussurram um barulho lembrado, arriscam uma narrativa. A narrativa sempre terá uma invenção. É preciso a invenção como véu para fazer face ao horror.

Poderíamos cair na armadilha e pensar ingenuamente em algo mais fidedigno ao emissor na forma da escrita. Ledo engano; quem dá a voz é o leitor.

Não dá para falar tudo. Isso pode incomodar. Mas dá para falar alguma coisa. Continue lendo “É POSSÍVEL CANTAR”

A VOZ HUMANA

Por Marcia Crivorot
Cartel: Os objetos voz e olhar – Heloisa Caldas (mais-um), Fanny Cytryn, Denise Henriques, Cecília Castro, Marcia Crivorot, Gisela Goldwasser

Penso ser muito interessante e, a meu ver, prazeroso, pois leve, podermos refletir sobre alguns difíceis conceitos da psicanálise lacaniana, bordeando-os com os acréscimos vindos da Arte, no caso mais especificamente, a Arte do cinema. Mas não o contrário, ou seja, a Arte é precursora. É grotesco colocar a Arte no divã. Esta introdução, portanto, sublinha a minha intenção de apreender uma escuta do objeto Voz, no filme “A Voz Humana”.

Estudar o objeto Voz no cartel foi uma trajetória com textos e casos clínicos bem ricos sobre o assunto, acompanhados de criativos apontamentos, associações e reflexões. Reverenciando o dispositivo do Cartel, o texto, o tema, as questões impuseram-se transferencialmente pelo bom funcionamento do nosso escolhido mais um, Heloisa Caldas, que soube bem conduzir os cortes nas identificações imaginárias e paralisantes, pertinentes aos grupos de estudos.  Também fico grata à riqueza do acolhimento de cada Voz dos sujeitos integrantes deste amável e produtivo cartel.

Nos encontros de nossos estudos, recolhi como bem destacado ou sublinhado que Lacan, acrescentando os objetos Voz e Olhar na teoria freudiana, reitera sua leitura de Freud diferenciada dos neofreudianos. Constrói uma outra trajetória e apontamentos. Abandona a leitura de um percurso cronológico, desenvolvimentista e promove lugares pelo jogo da linguagem. Lacan lendo o Inconsciente pesquisado e demonstrável em Freud, nos apresenta que o Inconsciente se estrutura como uma Linguagem.

Enquanto os objetos oral e anal dimensiona a DEMANDA do sujeito ao Outro; o Olhar e a Voz, referem-se a demanda do Outro ao Sujeito. O objeto Voz ressalta sua função invocante do Sujeito dividido, assim como os seus efeitos de ressonância no corpo. Continue lendo “A VOZ HUMANA”

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