Quando o mestre mata – Psicanálise e Política – Seminário da EBP-Rio (terceiro encontro)

O que segue não reproduz o encontro, são notas prévias preparadas pelos coordenadores. O evento pode ser assistido no link abaixo:

https://drive.google.com/file/d/1hSU1nZzStofQVDBau9Sdl9H6D7pgBXjW/view?usp=sharing

https://drive.google.com/file/d/1gvGct7a0HP71OIaV0gjYBdgDPBPh2awm/view?usp=sharing

Nossas premissas

Queremos investigar o que seria a função do Imaginário na política. Lembramos que, para Lacan, o imaginário é o registro do que há de mais concreto em uma análise, a consistência do corpo. Nesse sentido, deslocamos ligeiramente o foco. Não estaremos centrados noque há de negatividade nos conceitos que nos orientam:sujeito, sinthoma, singularidade, desidentificação, por exemplo. Buscaremos o modo como eles se articulam com o imaginário do corpo.

Faz sentido porque o espírito da época não é de negatividade. A subjetividade da época é intoxicada e intoxicante, é doexcessoe nãoda falta. A ideia é acolheressa concretude, essa onipresença do imaginário, às vezes de modo bem rígido sem, entretanto, supor que ele seria necessariamente inviável para a clínica analítica.

É pensar (e clinicar) nesse mundo e não pensar (e clinicar) esse mundo.

Nos termos de Lacan com relação aos três registros no Seminário 23 (referidos ao nó borromeano), nossa aposta seria a de pensar o imaginário não como excludente com relação ao simbólico e ao real. Ao contrário, examinar o modo como a consistência (imaginário) do corpo e dos coletivos hoje pode dar lugar ao que é furo, por definição sempre diferente de si mesmo (simbólico) e à ex-sistência (real), por definição àquilo que, “de fora”, determina o que acontece no espaço subjetivo e/ou coletivo.

Então, partimos da ideia de levar a sério o imaginário hoje. O fato de pertencer a um grupo, de se identificar por um atributo e de ganhar com isso uma serie de hábitos, modelos, sins e nãos. Pertencer a um grupo, identificar-se, mesmo que ocorra muitas vezes de forma rígida pode salvar vidas em tempos necropolíticos.

Nossa questão sempre será: qual o encaminhamento, nestas condições, para que uma análise aconteça?

No primeiro encontro…

Destacamos a explosão de particularidades e de tribos identitárias em nossos dias. Tomamos o final da análise de Marina Recalde como solo conceitual para entender que o “identificar-se” não é, em si, o problema. Isso porque a análise não é seu oposto, um desidentificar-se apenas. Identificar-se com o sinthoma, fórmula proposta por Lacan para definir esse momento de final, marca que uma análise não progride apenas no sentido de uma separação. Trata-se mais de reinventar um lugar no coletivo a partir do que se apresenta sempre de modo distinto, o sinthoma. Ele impede uma identificação fixa, mas pode sersituadounicamente fora doregistroda identidade. Em outros termos, um nome de gozo “vitalidade” no caso de Marina, não é um nome fora do sentido, é um nome com o sentido em aberto. É um S1 (nome), sem um S2 (significante segundo que sustenta o sentido do primeiro) repetitivo, mais ou menos fixo.

Identificar-se com o que não é em si uma identidade (o sinthoma, a singularidade) fica fora apenas parcialmente do campo da identidade. Afinal não somos budas. Por isso, trata-se mais de um “fazer com…” o gozo do sinthoma (que pode fazer laço), do que um desfazer eterno da identidade por conta dele. É um “fazer com” que faz até nome, em alguns casos, na arte, por exemplo.

No segundo…

Partimos dotema da interseccionalidade. Assumimos que ela é uma política propositiva, essencial, como contraponto, remédio à tribalização de nossos dias. Essa tribalização (definida com Maffesoli, Miller e Laurent) é uma seccionalização generalizada, uma implosão do universal paterno em uma galáxia de particularidades. Neste contexto, a interseccionalidade é uma proposta de costura algunselementosseccionadospelo corte disruptivo do universal do pai. Articula categorias no plano local por vezes seccionadas no plano geral. É o caso de “gênero” e “raça”, por exemplo no caso do Brasil. Não se pode, por exemplo, trabalhar a favor da “mulher” sem trabalhar pela mulher “negra” sob pena de estabelecer um feminismo que mantém intocada a exclusão escravista de nossa sociedade.

Dados esse corte e essa costura, perguntamos o que seria do jogo analítico de corte e costura nesse contexto. Assumindo que o essencial da interpretação lacaniana é que ela seja o corte que subverte a costura do mestre, chegamos à ideia de que hoje é preciso de modo mais radical apostar na interpretação que corta. Mais que nunca é preciso partir do S1 que corta, não podemos nos dar ao luxo, como antes, de promover a interpretação pelo sentido, terapêutica, do mestre como primeiro passo para estabelecer o tecido, os S2, em que incidirá o corte. Especialmente porque os S2 que o mestre oferece, para os reféns da necropolítica de hoje, tendem a ser de violência e extermínio do sujeito em questão.

Guias

Para o encontro de hoje queremos trazer à cena nossos guias. Em vez de dar prioridade ao modo como os sujeitos às voltas com a necropolítica sofrem, em seu ideal do eu etc, preferimostomaressessujeitoscomoguias. Nãosãogurus (nãosãopais,nãosãoheróis, não são ideal). Guias, mais como na umbanda, ou como intercessores (cf. Miller).

Então, em vez quebrarmos a cabeça para entender o mestre hoje, para denunciar o mestre contemporâneo, capitalista, às vezes fascista, melhor tentar seguir na medida, o fazer desses guias. Queremos saber como conseguem, como se viram com o gozo do corpo sem passar necessariamente pelo enigma de seu desejo, sem passar pelo sujeito suposto saber (que só se institui a partir de alguma confiança depositada no mestre).

Então, além de acompanhar cada um até seu “fazer com”, trata-se, também, na cidade, de recolher as formas, os modos identitários de onde partem os analisantes hoje para se virarem com o gozo opaco de seu sintoma. Aqui, mulheres, migrantes, indígenas, negros, trans, são guias, pois raramente podem se dar ao luxo de se contentar com a suposição de saber em um mestre (afinal, o que esse mestre quer mais é lhes eliminar).

Não ter opção a não ser compor com o opaco do corpo sem passar pelo saber do mestre é o que pode ocorrer igualmente com o analisante ao cabo de seu enfrentamento analítico com o destino.

Seja qual for o caso, quando só resta do desejo o gozo de desejar, a vida como fome fundamental é que essa composição com o opaco do gozo pode fazer do corpo caixa de ressonância para o que da vida é mutante, quando pão e poesia ambos, tudo ao mesmo tempo agora, tornam-se a luta que vale.

O inconsciente e os corpos (negros)

O caso clínico, o inconsciente dos sujeitos, o um a um da clínica, sempre orientaram o tratamento e os psicanalistas. Ensinando-nos desde Freud.

Naquilo que estamos às voltas neste Seminário podemos nos perguntar: Como nos deixar ensinar na atualidade? Como ler os sujeitos que construíram seu inconsciente a partirde marcas que rechaçam oseu próprio corpo? Quais foram as estratégias criadas?

Neste terceiro encontro pensamos em colocar aqui alguns fragmentos que podem nos dizer um pouco não só dos efeitos do racismo sobre os corpos dos sujeitos, mas, alguns encontros em análise.

Um analisando escolhe seu analista por vários motivos, sabemos que esse traço que faz a transferência existir muitas vezes pode ser escutado ou percebido após algum tempo, talvez,   na              atualidade, ao nos depararmos  com  a  decolonização,  com  a interseccionalidade e com as questões da raça, seja necessário ao psicanalista se perguntar sobre o lugar do analisando na cidade, que corpo ele tem.

O psicanalista ao estar avisado deste corpo ele pode se autorizar a escutar o que é novo na cidade e escutar qual é ogozo e, qual o traço transferencial que permite uma análise, pois, ao localizarmos de qual corpo estamos falando podemos conseguir ler e estarmos mais atentos ao que nos cabe em nossa época, já que o analisando, a partir do corpo que tem, pode ter certeza da sua humanidade, sem se perguntar sobre sua pele ou, se nos deparamos com outro corpo, teremos um analisando às voltas com um corpo rechaçado, agredido, impossível de ser branco, criando estratégias para encontrar um lugar à sombra.

Amigos brancos

Em uma supervisão um analista relata que atende uma moça “morena clara” e que esta diz a ele “não me reconheço negra, e queria ser branca quando criança”. Relata outras questões familiares, a relação com a mãe e com o pai, a falta de apoio e cenas que ela considera traumáticas.

Os amigos atuais falam do preconceito e racismo contra o branco, coisas que ela discorda, mas, não sabe o que dizer. Em outra situação diz indignada que estava no ponto de ônibus e uma das pessoas que a viu, segurando o jaleco, pergunta: Você vai para o curso de auxiliar de enfermagem? Ela é dentista. Cena que o analista banaliza dizendo que as pessoas eram assim mesmo.

Podemos dizer que ela sabe que é negra, mas, que desde criança queria ser branca, embraçada com isso, criou estratégias sobre o seu corpo que não funcionaram. Como acolher tais questões? Como que esse significante: “negra” pode entrar no primeiro plano deste sujeito? Não como um predicado, mas, como um significante opaco e novo, pois, quando ela não se reconhece negra implica um olhar do Outro mestre. Daquele que diz quem vale e quem não vale. Quando o corpo negro está como um predicado, ele ocupa o lugar do pior, por isso ela diz que queria ser “branca quando criança”. Esses nomes, esses significantes têm essa marca por serem nomes dados pelo Outro. Tanto negra quanto branca para esta jovem vem marcado pelo olhar do Outro. Em que sua própria nomeação ainda não está presente.

Sem cor

O Laboratório“A Escola e suas Cores” inscritonoCIEN-Minas começouuma conversação numa escola infantil, particular, em um bairro considerado nobre de BH, esse primeiro encontro foi marcado por algumas falas que podem nos orientar de qual corpo estamos falando. Nesta primeira conversação estávamos trabalhando: pedagogas, cantineira, ajudante, professores de música e de dança, e psicanalistas. As falas são de negros e brancos.

Uma professora teve, o que ela considerou, um problema em outra escola, uma aluna diz: “professora, a M. me chamou de preta” e a professora declara “eu não soube o que fazer, o que consegui foi sentar as meninas em roda e dizer que elas tinham nome e que era necessário usar o nome”. Uma das pedagogas afirma: “Mas também temos cor”. Podemos concluir que a professora só precisou fazer essa intervenção com as meninas, porque esse significante ainda está marcado pelo negativo, pelo pior. Ele não vem opaco. Podemos afirmar com esse fragmento que o corpo negro é marcado pelo pior e que ao sermos indiferentes à cor estamos dando suporte, dando consistência a uma cor específica: O branco. (Prefácio do Pele Negra, máscaras brancas p. 14).

Piolhos

Outra professora relata, “eu nunca tive problema com essas questões, ouvi uma vez meu avô dizer, brigando comigo ‘entra pra dentro negrinha’, mas, eu era terrível. Tenho o meu cabelo alisado porque me acostumei, não me vejo de outra maneira. Passaram a alisar porque minha mãe não tinha como cuidar, meu pai trabalhava demais e eu tinha muito cabelo, com isso tive piolho” (quantos anos você tinha?) “Eu tinha 6 anos, aí minhas tias decidiram cortar meu cabelo curtinho, tipo de Joãozinho, para ficar mais fácil e, depois alisaram para não ter mais piolho”. Uma estratégia. Um modo de existir implica e não implicada, lendo esse acontecimento de forma banal?

Schock

Um dos professores, branco, relata que não tem esse problema no trabalho, pois, majoritariamente seus alunos são brancos e que os problemas são outros, mas, nos conta que estudou numa escola pública e que um grande amigo tinha o apelido de “choque”, Shock, “Esse amigo acordava todos os dias as 5 da manhã para pranchar, passargel e pentearocabelode um jeitoespetadoe, ele me disse que quandocrescesse iria fazer implante de cabelo liso”.

Podemos afirmar que enquanto o significante negro ou preto, for utilizado a partir do que foi definido pelo colonizador ele vai assustar quem o escuta, tal qual nos mostrou a professora do ensino infantil, mas, que é necessário, principalmente aos analistas de várias cores, escutar esses significantes, fazer um movimento, inclusive teórico, para que o analisando possa se apropriar da palavra e se perguntar sobre o seu lugar e que corpo tem.

Dentes

Em um dos casos de supervisão do Ocupação, um fragmento mostra-nos a banalização sobre as questões da raça, uma jovem estava no interior com a família e uma senhora que estava presente “pediu para ver os seus dentes porque, pelo tom de pele, quase não dava para ver que ela era negra”.

Podemos afirmar com esses fragmentos, fragmentos que chegaram na análise ou na conversação, que estes dizem o quanto que o colonizador definiu o negro como raça. Ele demarcou e desmarcou o lugar do negro, erigiu padrões de laços sociais com o branco, criou uma definição dos corpos, inclusive de corpos inferiores.

Afro-Pati

Para sair disso o negro ocupa o lugar de arrumadinho, como escutei de um analisando: “ele era um negro arrumadinho e dizia que era um negro kinder Ovo e que sua irmã topava ser uma Afro Pati”.

Como ler estes significantes? Quais estratégias foram criadas para eles existirem: “morena clara”, “kinder ovo”, “afro-pati”? Estes fragmentos demonstram que estes sujeitos sabem que são negros, mas, lutam para ter o corpo branco, assim, criam estratégias. Assim, o cabelo é alisado por causa dos piolhos e quem sabe um dia conseguiremos um implante de cabelo liso.

Comentários S1 x S2

Talvez a tarefa do psicanalista seja promover, noum-por-um de cada caso, osignificante da fantasia, “negra de merda” no caso de Marina, não como um predicado, um S2, um nome dado pelo Outro com a marca da injúria, do pior no caso do racismo, mas sim como um S1, significante novo para cada sujeito. O mesmo termo, mas perdendo seu sentido, de abjeção neste caso. Foi o que vimos no passe de Marina Recalde, com o significante “negro”, ou da ocupação, quando surge o significante “Quilombo”, um significante que nãoé desconhecido, mas pode ocupar um lugarnovoe opacopara cada um para além do que foi dito pelo corpo do Mestre.

Assim, os sujeitos podem se separar dos significantes: “Morena clara”, “Kinder ovo”, Afro-Pati, cabelo liso, preta… ou estes podem sofrer uma torção em que o sujeito se torne negro não pelo predicado dado pelo Outro, mas, com uma nomeação própria, se incluindo no mundo a seu modo.

Entrada em análise

(ref p. Outros Escritos, p. 253 E Vieira, M. A. Na boca, Latusa 19)

São quase todos fragmentos de entrada em análise, definida por Lacan como:

1) Um significante da pessoa (por exemplo, “gosto de gente alegre, ou seja, sou alegre”).

2) Se endereça a alguma coisa do analista que o futuro analisante não sabe bem dizer o que é (e que Lacan chama de um traço indefinido, um “significante qualquer” e escreve Sq). Sim porque se algo que sei de mim se endereça a algo que sei ou presumo saber do analista há casamento (empatia) e não associação livre (deslizamento de fala aberta, que Lacan escreve (s1, s2, …sN)).

3) Então, entre o saber do sujeito (S) e o “não sei que” do analista (Sq) se produz um sujeito novo, um sujeito como ponto cego, presença de uma ausência, um desejode sabero que está entre o que sei de mim e oque este Outro, indefinido, talvez saiba de mim. Esse é o sujeito do inconsciente (sj).

4) Então, em sua álgebra, Lacan escreve assim:        SSq

sj (s1,s2…sn)

Com esses fragmentos podemos dizer que hoje, o tal do Sq não é muito bem tolerado. Não saber bem porque escolhemos esse analista e não outro, não saber bem porque se está ali com ele, isso supõe um cheque em branco, uma confiança depositada no que não se sabe bem e isso é o oposto dos tempos que correm. Hoje, só se paga por um saber que “entregue”. O ‘terapeuta” profissional tem que oferecer um produto e entregar esse produto, seja de saber ou de bem-estar. Em nossa álgebra: o analista tem que propor um S2 claro para o S do sujeito. Neste contexto, mais que nunca é preciso, de saída, “produzir” um Sq e isso começa por “produzir” um S1 (sem um S2 muito evidente) (ref Gorostiza, Latusa, a dignidade de um S1).

O discurso analítico e o S1

(ref p. Outros Escritos Radiophonia, p. 447 (pergunta VII)

Como dissemos no último encontro é preciso que a análise, pela interpretação, apresente um significante vazio. Ele é vazio de sentido, mas não de presença, vazio muitas vezes por ser uma encruzilhada de sentidos, sobredeterminado, com tantos sentidos que não tem sentido (como a Afro-pati, ou o schock).

Então, tudo se passa como no discurso analítico em que é o objeto que age. , a presença libidinal do analista como alguém que não entra na relação empática, e produz um S1. Só que sem que isso ocorra por uma subversão do discurso do mestre. Já que esses sujeitos não têm lugar no discurso do mestre de nossa civilização a não como não-sujeitos. O mestre, hoje, é necropolita, por exemplo, ou é capitalista. Mata ou destrói antes que se possa haver a subversão do discurso analítico com relação ao do mestre.

Discurso do mestre S1S2

Sj a

Discurso do analista a sj

S2 S1 (s1 separado de S2)

Corpos

Negando a negação

O corpo negro não é dado tal qual o corpo do mestre, com isso ter um corpo negro, tornar-se negro é a possibilidade de construir uma identidade negra, uma tarefa eminentemente política, pois, não é possível uma construção sobre seu corpo sem se haver com as questões deste Outro mestre que põe em xeque o seu saber, sua história e seus atravessamentos.

Podemos afirmarque estessujeitosgozam com essas estratégias, que funcionam ounão para uns e, que levam outros para a militância ou para um tratamento psicanalítico. Na militância, algumas vezes, ocorre uma união dos corpos que também segrega, pois, passam a decidir quem é negro e quem não é. Segrega os corpos e defini quem são os irmãos, mas, não da mesma maneira que o colonizador.

Quando um sujeito vai para um tratamento analítico, independentemente de sua cor, o psicanalista, pode dar voz a essa “dor”. A psicanálise um laço social que trata o gozo e que o psicanalista não está desimplicado das questões da política.

Sobre os nossos guias, a psicanálise pode escutar esses sujeitos angustiados de uma forma específica com o seu corpo e, com o desejo de analista, ajudá-lo a questionar sua posição diante do discurso do corpo mestre.

Um corpo

Definição de corpo por Lacan: “aquilo apto a portar uma marca em uma sequência de significante e que, por isso, sustenta a relação, por subtrair-se dela” (quanto ao ponto da marca) (Outros Escritos p. 407).

Nossos guias sustentam o corpo com uma marca que não é entre (lugar do sujeito no discurso do mestre), uma marca que se subtrai, Sq. Mas sim com uma marca evidente, um traço identificatório, por exemplo. Nosso trabalho é seguir na possibilidade de que eles o façam não tomando, por exemplo, a negritude não como S2, mas como S1 que lance uma cadeia associativa singular.

Não racializado

Qual negação incide sobre o corpo negro? No plano de cada um, como vimos, eventualmente o recalque do seguinte modo:

Sobre uma Bejahung primeira “tu és negro”, advém uma Austossung, expulsão, “tu não és humano” e a partir daí introduz-se uma Veineinung: uma negação “meu cabelo não é crespo, é liso” (e tome chapinha).

No plano do discurso racista ambiente, porém, assumimos que seja a foraclusão, dada a radicalidade da segregação necropolítica.

A dificuldade do não-racializadoé não consentircom o negro como S1, sócomo S2 e por isso se permitir relativizar o que ele sustenta. O S1 negritude, por exemplo, para quem o toma como S1 original, não pode ser relativizado, forçado a entrar na cadeia do sentidocompartilhado, sob pena de ir parar na prisão, lugarreservadoao de pele negra.

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