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A lenda negra de Jacques Lacan
Èlisabeth Roudinesco e o seu método histórico
E
ste é um livro polêmico, uma operação para
ajustar os ponteiros. Mais de três décadas após a morte
de Jacques Lacan, a “lenda negra” continua a circular
pela cultura: Lacan tirano, Lacan sem escrúpulos, Lacan
ávido, Lacan tantã. A única biografia existente sobre o
maior psicanalista francês se construiu sob o pretexto
da objetividade, mas continua a fazer ressoar essa lenda.
Nela, sua autora Élisabeth Roudinesco, ao desconsiderar
que não se deve ser o historiador da história em que se está
incluído, negligencia o que Lacan dizia de si próprio e da
prática a que dedicou grande parte de sua vida, deixa-se
levar por sua transferência negativa em relação ao homem
que conheceu primeiro socialmente e passa ao largo dos
efeitos de sua clínica e de seu ensino.
Nathalie Jaudel, sem propor uma “contrabiografia” e,
sobretudo, sem se valer de entrevistas e depoimentos para
traçar o seu retrato de Lacan, atém-se a textos escritos,
aos quais o sujeito de que trata sempre deu extrema
importância. Nessa via, não apenas retoma a ideia
freudiana de que todo biógrafo, na intenção de aproximar
dos leitores o seu herói, tende a rebaixá-lo, como também
mostra que conhecer a vida de um autor pode, muitas
vezes, dificultar ou mesmo impedir uma apreensão
consequente de sua obra.
Sua bússola, assim, a um só tempo “amigável e desenvolta”,
como observado por Roland Barthes a respeito da tarefa
biográfica, mapeia quer a absoluta singularidade de
Jacques Lacan, quer a força, o impacto e a originalidade
dos avanços que este imprimiu à invenção de Sigmund
Freud.
N AT H A L I E J A U D E L
Psicanalista. Membro da École de la Cause freudienne
(
ecf
)
e da Associação Mundial de Psicanálise
(
amp
)
. Formada em
Direito e diplomada pela SciencesPo Paris.
Tradução
Teresinha Natal Meirelles do Prado.
C O N T R A C A P A E D I TO R A
Coleção Opção Lacaniana, vol. 12