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Arquivos da

Biblioteca

nº12

A política editorial da revista

Arquivos da

Biblioteca

é orientada pela publicação de

intervenções ocorridas na

Escola Brasileira

de Psicanálise

, seção Rio de Janeiro. Por essa

razão, sua temática é múltipla e vibrante,

permitindo ao leitor uma proximidade com

um real capturado em forma de escrita.

Dentre os vários trabalhos publicados

em Arquivos de Biblioteca Nº12 destaco

algumas formulações de Marina Recalde

(AE da EOL/AMP) que cruzam diretamente

com o tema do Congresso da AMP:

“Meu corpo sempre foi um problema” (...)

“Um corpo trêmulo e alérgico, pequeno,

obscuro, mortificado, enlouquecido”. Para

nos apresentar a solução resultante do seu

fim de análise, Marina Recalde levanta várias

questões às quais se dedicou a trabalhar

no seu testemunho “Corpo, significante

e gozo”: Como fazer com um corpo de

que não se gosta, que fala sozinho e que

atrapalha? Como tocar o corpo de um modo

vital, desligado das coordenadas neuróticas

que potencializavam o sofrimento e a

mortificação? Qual é o corpo, ao final do

percurso, depois de ter atravessado uma

análise?

Motivados pelo Congresso da AMP-2016

ocupamo-nos na

Diretoria de Biblioteca

com o eixo investigativo da prevalência do

pornô na vida cotidiana. Para tanto, na

conferência “E as mulheres, como ficam

com a pornografia?”, Marcia Rosa Luchina

formula que a pornografia atual apaga a

idéia que temos da lei e do desejo, do pecado

e do código, e, talvez mais secretamente, de

nossa própria história e de nosso estatuto

de sujeito. Para apresentar um resultado de

suas investigações, Marcia Rosa Luchina

abre a questão: “e as mulheres? Quando se

trata da pornografia, elas seriam e estariam

aí apenas como objeto em cenas produzidas

por homens?”.

Do lado dos homens, Bernardino Horne

inverte a perspectiva neurótica da solidão

transformando-a numa alegria vibrante, ao

nos dizer em sua conferência “Aquele que

para existir deixa de ser” que a escolha da

psicanálise “é renúncia instintiva, é solidão,

é renúncia econômica. E é sobre esse ponto

que, quando chegamos ao final, estamos

sozinhos. Quando nascemos estamos

sozinhos, quando morremos estamos

sozinhos. E, quando terminamos a análise,

estamos sozinhos. Ao mesmo tempo, é uma

solidão alegre”. Nesta mesma direção, Luiz

Fernando Carrijo Cunha, no testemunho

“‘É preciso acender a luz’ ou uma imagem

a mais”, se refere à diferença entre se

deixar “engolfar” pelo vazio e “delimitar”

o vazio, passagem que só lhe foi possível

analiticamente a partir do esvaziamento do

olhar como objeto, apresentando, assim,

uma saída para a prevalência do olhar tão

habitual nas neuroses.

Os demais trabalhos apresentam elaborações

instigantes que ainda poderiam ser referidas

ao tema do Congresso da AMP, porém

deixo aos leitores a fascinante investigação

da escrita desses corpos falantes atravessados

pela psicanálise.