![Show Menu](styles/mobile-menu.png)
![Page Background](./../common/page-substrates/page0148.png)
24
é a convenção do drama dentro do drama, a
play-scene
, que
realiza a possibilidade de um marco através do qual se pode
ver um espaço de espelhos refletivos que inclui, além disso,
o fato de que Hamlet modificou algumas linhas da obra que
fará representar e que esta obra, ao mesmo tempo, dobra a
representação da pantomima. Na medida em que Hamlet
revela que Luciano é o sobrinho do rei, a perspectiva especular
muda nosso ângulo de visão. Este crítico diz que “se podemos
tirar da cabeça as implicações freudianas” a conclusão é uma
dupla imagem: uma retrospectiva e a outra prospectiva. Se
na primeira Cláudio não é melhor que Luciano, na segunda
Hamlet não poderá cumprir a vingança ao não ser melhor
que ambos. É preciso dizer que, em suas conclusões, Jewkes,
ao fim e ao cabo, embora não o saiba, concorda com a
psicanálise - não há saída para a identificação especular.
Concluirei citando Jorge Luis Borges
17
quando diz que
Cervantes teria gostado da
play-scene
emHamlet, já que Dom
Quixote, um quase coetâneo de Hamlet, é um livro sobre
livros que, em sua segunda parte, conta com a primeira como
já publicada. Ou como nas posteriores
As meninas
, onde não
se sabe se o quadro que o pintor pinta dentro do quadro pode
ser ou não o quadro que vemos.
Trad.:
Roberto Dias
Rev.:
Luiz Gonzaga Morando Queiroz
Alicia Calderón de la Barca
Psicanalista em Barcelona e Girona, AME da ELP-Catalunya
e da AMP, docente do Instituto del Campo Freudiano -
Sección Clínica de Barcelona. Alguns títulos publicados: “Esos
puntos radicales de lo real...”, “Karen Horney y el “sueño
de la mujer toda””, “La locura del yo”, “El padre real: un
operador estructural”, “Joan Rivière y el secreto de lo femenino”,
“Simbólico, imaginario y real y condición de amor: sobre el caso
de “La joven homosexual”, “Artificio de artista”, “Enigma de
las epifanías”. Tradutora frequente dos seminários de Jacques-
Alain Miller publicados em Freudiana, da qual já foi diretora.
Artigo publicado originalmente em Freudiana, n. 17, ELP-
Catalunya, Barcelona, mayo/agosto, 1996, cedido amavelmente
pela autora.
__________
ENDNOTES
1 LACAN, J.
O Seminário
, livro 6:
O desejo e sua interpretação
. Rio de Janeiro:
Zahar, 2016. p. 312.
2 LACAN, J. Homenaje a Margarite Duras. In: ___.
Intervenciones y textos
. Buenos
Aires: Ed. Manantial, p. 65.
3 MUIR, Kenneth.
Aspects of Hamlet
. Cambridge: Cambridge University Press,
1968.
4 REGNAULT, F. Le héron de l’empereur.
Quarto
, Bruxelas, n. 23, p. 47, 1985.
5 LACAN, J.
O Seminário
, livro 10:
A angústia
. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p.
43. Em espanhol não se utiliza palco e sim cena: “Así, primer tiempo, el mundo.
Segundo tiempo, la escena a la que hacemos que suba este mundo. La escena es la
dimensión de la historia. La historia tiene siempre un carácter de puesta en escena.”
(LACAN, Jacques.
El seminario
, libro 10, la angustia. Buenos Aires: Paidós, 2006.
p. 43.)
6 LACAN.
O Seminário
, livro 10:
A angústia
. p. 43.
7 LACAN.
O Seminário
, livro 6:
O desejo e sua interpretação
, p. 312.
8 “O que Hamlet manda representar no palco, portanto, é, afinal, ele mesmo
praticando o crime em questão. Esse personagem, cujo desejo não consegue animar-
se para fazer a vontade do
ghost
, do fantasma de seu pai - pelas razões que tentei
articular para vocês -, tenta dar corpo a alguma coisa que passa por sua imagem
especular, sua imagem posta naquela situação; não consumar sua vingança, mas
primeiro assumir o crime que depois será preciso vingar.” (LACAN, J.
O Seminário
,
livro 10:
A angústia
. Rio de Janeiro: Zahar, 2005, p. 45.)
9 OLIVIER, Laurence.
Confessions of an actor
. Ed. Nicholson, 1991.
10 LACAN.
O Seminário
, livro 10:
A angústia
, p. 46.
11 LACAN.
O Seminário
, livro 10:
A angústia
, p. 46.
12 LACAN.
O Seminário
, livro 10:
A angústia
, p. 363.
13 DOVER WILSON, John
What happens in Hamlet
. Cambridge: Cambridge
University Press, 1951.
14 UBERSFELD, Anne.
Semiótica teatral
. Madrid: Cátedra, 1998.
15 TENENHOUSE, Leonard.
Power on Display
: The politics of Shakespeare´s
Genres. London: Routledge, 1986.
16 JEWKES, W. T.
To tell my story: the function of framed narrative and drama in
Hamlet
, Shakesperean Tragedy. Stratford-upon-Avon Studies, Ed. E. Arnold, 1990.
17 BORGES, J. L.
Conferência em Buenos Aires em setembro 1977
. (Inédito)