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26

Binarismo em crise:
Gênero e sexo nos tempos que correm

2022

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Andréa Reis Santos

Editorial

A época atual é cenário de rápidas e intensas transformações no campo da sexualidade. Testemunhamos uma mudança de paradigma que, segundo Miller, em seu texto “Dócil ao Trans”[1], produz uma grande perturbação, uma nova turbulência, na guerra imemorial dos sexos. Miller diz que, nesse campo, tudo está de cabeça para baixo; a coisa se movimenta e, o solo comum, no qual aprendemos a localizar o papel do analista, o lugar do inconsciente e da interpretação, parece estar mais instável do que nunca.

Atentos a essa movimentação, pretendemos fazer de Latusa 26 uma experiência coletiva de investigação sobre o que se passa com a ideia de gênero e as mudanças na sexualidade nos tempos que correm. Esse número inaugura o que esperamos que seja uma série em torno dos impasses do momento atual, a partir do que se apresenta como crise. Nessa série, buscamos privilegiar, menos o saber que acumulamos, e mais o que nos desacomoda na vida e na clínica, os temas difíceis para a psicanálise. Nossos Fóruns já vêm produzindo um vivo debate sobre alguns desses temas polêmicos, que convocam a pensar sobre questões que ultrapassam as fronteiras do nosso enclave, do terreno familiar onde nos sentimos em casa. Temas que nos fazem interrogar de que maneira as ferramentas de que dispomos, nossas referências de base, podem ser operantes para lidar com as mudanças da subjetividade da época. Miller abre o debate anunciando que “A tempestade desabou. A crise trans está sobre nós”. É esse o clima que desejamos trazer para esse número de Latusa e, se possível, para mais um ou dois números dessa série.

Como, então, orientarmo-nos em um mundo no qual um binarismo forte como homem/mulher que, até então, funcionava quase como um universal, é contestado e perde muito da sua consistência, resultando na multiplicidade dos gêneros, testemunha das mutações no real da época? Quando ZADIG propôs interrogar o binarismo preto/branco para colocar em discussão seus efeitos de segregação, fomos compelidos a entrar em uma conversa nada familiar com atores de outras áreas de saber que evidenciaram limites a partir dos quais somos convocados a fazer a psicanálise avançar. Atualmente, além dos binarismos homem/mulher e preto/branco, estamos acompanhando a difusão de um debate, apoiado na construção de uma narrativa que, sob os significantes “decolonial” e “descolonial”, coloca em discussão o lugar da tradição europeia versus a periferia do mundo: a diáspora negra. Isso vale como fio condutor para repensar um terceiro binarismo, velho/novo? A conferir.

Às voltas com o sentimento de que o mundo em que sempre vivemos está sacudido por diferentes tempestades, a ponto de parecer fadado à extinção, vale perguntar em que mundo estamos e de que maneira a psicanálise pode navegar nos mares revoltos da época. É como se os lugares que, antes, faziam função de terra firme, ponto de chegada de uma travessia, estivessem, eles também, em movimento. É preciso, portanto, ajustar, de tempos em tempos, nossos aparatos de localização, as chaves de leitura de que a psicanálise dispõe, para encontrar ou fazer existir pontos de parada.

Com o declínio da norma fálica e as mudanças que decorrem daí, as montagens de si passam a responder a uma nova lógica. Para compreender o alcance dessas mudanças e nos posicionarmos diante delas, seguimos o fio do binarismo em crise, buscando interrogar, não só o que os trans colocam em evidência sobre novos arranjos com a sexualidade, mas, principalmente, o que o trans, como paradigma da época esclarece sobre o que é ser homem, ser mulher, ou, nem um nem outro, nos tempos que correm.

Abrimos esse número de Latusa com a poesia e a presença lúcida e generosa do nosso convidado Tom Grito. Tom não faz parte de nossa comunidade analítica, vem de outras bandas, do mundo da poesia urbana, do ativismo no coletivo Slam das Minas[2], e entra na conversa, ajudando a localizar pontos de impasse que produziram o efeito de nos fazer avançar em um terreno ainda pouco familiar para muitos de nós. Latusa com poesia foi uma atividade em dois tempos. Primeiro, em um ambiente mais reservado, em que fizemos uma prévia da atividade seguinte, com Marcus André Vieira e comigo, como entrevistadores, e Marina Morena Torres, filmando, também entrando na conversa. Essa entrevista está publicada, aqui, em forma de texto. Na segunda atividade, presencial e aberta ao público, na Sede da Seção Rio, retomamos muitas das perguntas que foram propostas no encontro anterior e pudemos escutar do Tom, além da força de sua poesia, notícias sobre a função política da poesia urbana, a diferença entre militância e ativismo, a montagem de si como um processo e não como um produto final e, ainda, sobre o papel do coletivo Slam das Minas como um lugar seguro, lugar de onde foi possível, para ele e para alguns outros, dar início ao processo de transição. Estes temas estão destacados nas marcações que segmentam o vídeo, publicado aqui, desse encontro de Latusa com poesia. A presença de Tom Grito nos ajudou a entrar “com tato” no acalorado debate que inclui a multiplicidade de temas que orbitam em torno das mutações do binarismo homem/mulher na nossa época.

O trabalho da comissão de Latusa, na investigação dos efeitos dessa desestabilização do binarismo, começou com a pesquisa de uma ampla bibliografia de base, nosso ponto de partida. Buscamos nossas referências para localizar, no ensino de Lacan, os fundamentos que nos serviram de bússola para avançar no mar agitado do debate da época, sem sucumbir à tempestade de que nos fala Miller. Foi a primeira etapa de trabalho em que nos dedicamos à leitura e conversa com convidados que, de alguma maneira, estavam envolvidos com o tema: Eliane Costa Dias, Marcus André Vieira, Margarida Assad, Niraldo de Oliveira Santos e Ram Mandil participaram de nossas reuniões e foram interlocutores importantes na primeira etapa da construção da revista.

Alguns desses textos de referência em nosso campo estão publicados aqui, na rubrica “Fundamentos”. Miquel Bassols abre essa série e foi uma bússola importante com o texto “Fundamentos da Sexuação em Lacan”, no qual detalha “a nova lógica da sexuação”, proposta por Lacan, a partir do quadro das fórmulas quânticas da sexuação. Ele demonstra que essa construção de Lacan nos conduz além do binarismo recíproco entre os sexos, além do pressuposto fálico, que funciona para “todos”, além do Édipo, e dá lugar à lógica feminina do “um por um”. Bassols nos ajuda a entender de que modo a perspectiva da psicanálise subverte a lógica dos universais, que é solidária do binarismo entre os dois significantes, homem/mulher, em que se funda a sexuação simbólica, induzida pelas formas ideais da masculinidade e da feminidade. É um texto fundamental para dar tratamento a uma série de mal-entendidos que povoam o debate atual entre a psicanálise e os outros discursos, em torno do tema da sexualidade.

Contamos também com o artigo inédito de Fabian Fajnwaks, “Erosão do binarismo e ascensão do fluido”, no qual se dedica a circunscrever em que e por que o binarismo sexual estaria em crise. Ele faz uma leitura dessa crise como sintoma do declínio da ordem simbólica e de uma espécie de errância do gozo, quando este não é mais situado no Outro. O autor identifica, na fluidez que decorre daí – presente na série de termos que comportam o prefixo trans –, um dos significantes mestres de nosso tempo. Ajuda-nos, assim, a deslocar o tema do binarismo, a partir da perspectiva da Psicanálise, percorrendo as referências, desde Freud até Lacan.

Outro texto de referência para elucidar questões de base e ajudar a desfazer equívocos foi “A diferença entre transexual e transgênero: de que se trata para a psicanálise?”, de Eliane Costa Dias. A autora recorda que Lacan aproximou a transexualidade da psicose e nota que, muitas vezes, essa abordagem persiste como palavra final sobre a questão, com a transexualidade sendo tomada em relação à foraclusão e ao empuxe-à-mulher. Propõe considerar, no entanto, que, 2021, chamado por Miller de “o ano trans”, é também o ano em que nos preparamos para encarar A relação sexual e A mulher, que não existem, e pergunta em que medida o ultimíssimo ensino de Lacan nos permitiria ampliar a abordagem da crise trans, já que os trans, hoje, não são mais o que eram no tempo de Lacan. “Trans, hoje, quer dizer muito mais. (…) As questões colocadas pelos sujeitos trans interrogam a clínica psicanalítica (em sua prática e em sua teoria), mas interrogam também o momento da civilização”. Ao diferenciar os termos transexual e transgênero, ela revela a dimensão política que está em jogo na abordagem desse tema.

Dimensão política que Marcus André Vieira, no texto “O que se cristaliza em uma identidade”, desloca para o centro da cena e dá a ela todo o seu valor. Ele propõe retomar, em um novo contexto, de nova maneira, relações entre sujeito e gozo, discutindo os modos de apresentação do sujeito com relação à identidade. Sem perder de vista o que é próprio ao discurso da psicanálise, vai além da crítica ao fenômeno que ele chama de tribalismo generalizado. Apoiando-se na teoria dos quatro (mais um) discursos de Lacan, interroga a forma de laço social que seria própria ao discurso da psicanálise para, finalmente, arriscar um elogio da identidade como ponto de partida, muitas vezes necessário e vital na direção da experiência de extimidade a que uma análise pode conduzir.

Ainda na série das referências de base, levamos para a nossa discussão “Identidade, diversidade e diferença dos sexos”, em que Sérgio Laia faz uma leitura apurada do texto “Nota sobre a criança”, de Lacan, especialmente ali onde profetisa o fracasso das utopias comunitárias. Ele propõe um paralelo com o “the dream is over”, de John Lennon, para colocar em destaque a articulação que Lacan estabelece entre a família conjugal, sua função de resíduo e a ideia de uma transmissão irredutível. Daí, avança para o Lacan de dez anos depois, no Seminário: Dissolução, para introduzir o mal-entendido que as crianças corporificam nas relações entre os sexos. Mal-entendido que se estende a todos os seres falantes e que o transsexual nos apresenta em um tipo de slow motion. Sérgio Laia avalia os avanços alcançados pela Lei de Identidade de Gênero, vigente na Argentina, desde 2012, mas alerta para aquilo que, mesmo depois de desfeitos alguns mal-entendidos, permanece na opacidade do gozo, como enigma que a lei não alcança.

Romildo do Rêgo Barros, em “Haverá um paradigma trans?”, encerra a rubrica “Fundamentos” com a pergunta que serviu de pano de fundo para o trabalho de Latusa. Romildo relê o belíssimo conto de Guimarães Rosa, A terceira margem do Rio, de onde destaca a ideia de um lugar inventado entre duas margens, o leito, lugar de passagem, apresentado por ele como uma espécie de metáfora do prefixo trans: não origem, nem destino, mas trajeto, transição. Propõe, ainda, a questão que nos colocou a trabalho: “Não será este o verdadeiro escândalo do surgimento do trans na cultura, o de ter acrescentado algo ao universo suposto da diferença sexual, que dividia a humanidade em dois sexos…?”

De alguma maneira, os textos que publicamos em seguida, na rubrica “Declinações”, nos pareceram formas possíveis de abordar e dar tratamento a esse escândalo.

Clotilde Leguil, no texto “O acontecimento da sexualidade com Lacan, além e aquém do Falo”, traça um percurso que tem como ponto de partida os efeitos da liberação da palavra, provocados pelo movimento #metoo, verdadeiro terremoto – nas palavras da autora. Segue o fio da análise elaborada por Éric Marty, em O sexo dos Modernos[3], e também em sua conversa com Miller, publicada em Lacan Quotidien[4], de onde extrai elementos para interrogar o acontecimento da sexualidade a partir da ambiguidade do consentimento na vida amorosa e sexual, seguindo seu plano de pesquisa em torno da fronteira opaca que se estabelece entre “ceder” e “consentir”.  Leguil propõe arrancar o acontecimento da sexualidade da questão do binarismo e seu além, para levar em conta o corpo e o sujeito, já que, para ela, em psicanálise, não se trata de pensar a sexualidade apenas a partir do binarismo ou de seu além, mas desde a marca deixada pelo acontecimento da sexualidade, antes mesmo que o falasser possa subjetivar o que lhe acontece.

“Sujeito do inconsciente, um não-binário?”, de Dalila Arpin, traz para o debate a presença forte da clínica pensada a partir da perspectiva borromeana. Ela faz um percurso que parte de uma apresentação de pacientes conduzida por Lacan, e também de seu seminário inédito de 1979, La topologie et le temps, para extrair, daí, o que ela chama de uma “topologia da transformação”, que serve de chave de leitura para um caso da clínica contemporânea. Inclui, nesse percurso, questões sobre a sexuação, sob a ótica do último ensino de Lacan. Com a ideia do nó borromeano generalizado, ele propõe que cabe a cada ser falante lidar com um buraco e não mais com um objeto, ou um significante: o nó, como suplência, todos em trânsito entre as consistências, e o terceiro sexo como lugar de passagem e não como um estado.

Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros pergunta: “Como viver a infância hoje?”, e busca demonstrar “o que Lacan nos ensina sobre a sexuação na atualidade”. Rosário nos lembra que o encontro com o sexual é sempre marcado pelo fracasso, mas que, cada época coloca esse fracasso em evidência de uma maneira diferente das outras.  Ela analisa as mudanças do simbólico no século XXI e a maneira como crianças e adolescentes são afetados por essas mudanças, como elas se arranjam diante dos impasses em relação ao falo e, ainda, às novas formas de fazer família. Afirma que o tabuleiro onde se joga a vida sexual está bem sacudido e propõe buscar, naquilo que Lacan introduziu com suas fórmulas da sexuação, uma orientação para responder a uma série de questões sobre o processo da sexuação que ela descreve e problematiza ao longo do texto, colocando em destaque o fato de que a abordagem lacaniana da sexualidade faz furo em qualquer pretensão ao universal como totalidade. Ela insiste na importância de sustentar espaço vazio e tempo para escolha no processo de autorizar-se de si em relação à posição sexuada de cada um. Tempo e espaço necessários para que cada um possa adotar e modificar, à sua maneira, as nomeações que recebe.

Lucíola Freitas de Macêdo, em “Feminismos”, explora o campo de tensionamento entre discursos de naturezas distintas e aposta na importância da interlocução entre a psicanálise e os discursos de gênero, abordada por ela a partir daquilo que o discurso analítico subverte na relação com os outros – o do mestre e o universitário. Ela percorre uma série de referências sobre o tema para colocar o acento nos efeitos do corte operado por Lacan, com a lógica do não todo – lógica que permite uma leitura do feminino como algo que não se universaliza e não se essencializa.

Margarida Assad, em “Masculinismo, um movimento além do falo”, entra no debate sobre o feminino, mais especificamente sobre a feminização do mundo, pelo tema nada usual do movimento masculinista, corrente que vem se alastrando pelo mundo nos últimos tempos e que testemunha uma das maneiras da época de colocar em questão a pergunta sobre o que é um homem.

Concluindo a série, Oscar Reymundo, com “Algumas questões da vida trans, propõe discutir pontos delicados em torno do que está em jogo na decisão de mudança de sexo. Destaca que a busca de uma solução para a dificuldade em habitar um corpo não se reduz a uma questão de “exercer o direito à operação”. Propõe pensar a questão a partir do que chama de uma lógica da herança: “uma herança não pode não ser recebida, há que decidir com cuidado que destino dar ao que se recebeu, porque há decisões que se tomam na vida e das quais não há retorno”.  Conclui lembrando que, naquilo que buscam os trans, nem sempre se trata de querer transformar o corpo que se tem, mas, sim, em alguns casos, de querer ter um corpo, o que faz toda a diferença.

Depois desse primeiro tempo de construção de um solo comum a partir de uma bibliografia de base, e com o intuito de incluir a comunidade da seção Rio na elaboração que desejamos provocar, a comissão de Latusa se dividiu em quatro grupos de trabalho, incluindo diversos colegas da Seção Rio para a construção de relatórios que serviram de ponto de partida para uma conversação que se deu, por sua vez, em dois tempos. Primeiro, com um encontro entre os participantes dos quatro grupos em que os relatórios foram apresentados e discutidos e, um mês depois, com uma atividade aberta ao público, com a reescrita dos relatórios, que contou também com a presença de alguns dos convidados participantes da primeira fase de preparação da revista.

Os relatórios são variações em torno do mesmo tema e trazem a leitura que cada grupo produziu, tomando como provocação um trecho do ensino de Lacan, na lição de 09/04/74, do Seminário, livro 21, onde ele afirma que “o ser sexuado só se autoriza de si mesmo e de alguns outros”[5]. Os quatro relatórios, os pequenos textos das ressonâncias, nos quais alguns dos participantes da conversação dão notícias do que os desacomodou e provocou na conversa e a gravação com a íntegra da atividade também estão publicados nessa edição e têm a função de levar a público uma mostra do que a Seção Rio pôde avançar sobre o tema, nessa importante etapa da construção de Latusa 26.

Na rubrica “Flashes do divã”, contamos com a contribuição de vários colegas do Conselho e da Diretoria da Seção Rio, que aceitaram a delicada tarefa de extrair de sua clínica uma pequena vinheta que pudesse localizar a maneira com que cada um vem se encontrando com os desafios da época, diante das novas modalidades de arranjo com a sexualidade. São elas: Ana Beatriz Freire, Ângela Batista, Cristina Frederico, Maricia Ciscato, Rachel Amin e Ruth Cohen.

Finalmente, concluímos a travessia com “Incidências do Passe”, porto de chegada que dá lugar à potência da transmissão incomparável que podemos extrair de um testemunho de fim de análise. Nessa rubrica, publicamos “Paradoxal Virilidade”, um dos testemunhos de Fabian Fajnwaks, AE entre os anos de 2015 e 2018. Nesse escrito, ele destaca, do seu percurso de análise, as mudanças em relação à forma como idealizava a virilidade e seus semblantes. Ele circunscreve a operação pela qual pôde situar o real em jogo no fantasma do parlêtre, e mudar de posição frente ao jugo fálico, de forma a aceder a uma posição desejante, permitindo-lhe estar mais perto, como homem, de uma mulher.

Essa edição/experiência de travessia que foi Latusa se deve ao trabalho de um coletivo desejante e implicado, que remou junto, do começo ao fim, formado pela sua comissão, e também por muitos outros. Fizeram parte dela: Carolina Dutra, Glória Maron, Lourenço Astúa de Moraes, Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros, Maria Corrêa de Oliveira, Marina Morena Torres, Marina Sodré, Paula Borsoi, Sandra Landim e Angélica Bastos que, além de participar da comissão, foi uma espécie de “correspondente internacional”, no contato direto com os autores estrangeiros. Contamos com os colegas da Seção Rio, que foram muitos, e compuseram os grupos de trabalho para produzir os relatórios que nortearam a conversação. Seus nomes constam em cada um dos quatro relatórios. Além disso, contamos com alguns êxtimos que fizeram diferença no momento da conversação: Eliane Costa Dias, Marcus André Vieira, Niraldo de Oliveira Santos e Oscar Reymundo.

Tivemos a alegria de contar com a forte presença do poeta convidado Tom Grito, que tanto nos ensinou, e com Marcus André Vieira que, além da participação nas duas entrevistas do Latusa com Poesia, foi um interlocutor presente em todos os momentos em que precisamos de um êxtimo para iluminar questões.

Latusa 26 contou também com o trabalho cuidadoso de Ana Beatriz Zimmerman, Bruna Guaraná, Maria Corrêa de Oliveira, Carolina Dutra, Lourenço Astúa de Moraes, Renata Estrella, Vânia Gomes e Viviane de Lamare, na equipe de tradução, e, ainda, com Marina Sodré e Larissa Pinto Martha, na transcrição das nossas reuniões e da entrevista com Tom Grito. Jéssica Nogueira fez uma revisão atenta das referências bibliográficas e Thereza De Felice foi responsável pela revisão detalhada do português. Gabriela de Azevedo Fernandes Lopes assina o belo trabalho de edição dos dois vídeos.

Esta edição não seria possível sem o empenho decidido de Sandra Landim, Lourenço Astúa de Moraes, Thereza De Felice e Bruno Senna, que foram parceiros preciosos na conclusão do processo de editoração.

Nossa linda capa se deve à arte de Lourenço Astúa de Moraes, que conversa com a identidade visual das nossas 29as Jornadas, sobre Lógicas Coletivas nos tempos que correm, também de sua autoria.

Lógica coletiva que não comparece apenas na imagem, mas que sustentou toda a travessia que resultou na construção dessa edição de Latusa. O que temos aqui é o produto de um trabalho coletivo de pesquisa e investigação sobre os instrumentos de localização e orientação que a psicanálise nos oferece e que são permanentemente ajustados para seguirem operantes, servindo de bússola e clareando trechos de opacidade. Instrumentos que nos permitem navegar em águas revoltas pelas tempestades dos tempos que correm, principalmente quando um tanto de vida acontece, não em terra firme de uma ou de outra margem, mas, como nos fala Romildo, na terceira, feita de leito, lugar inventado entre duas margens.

Boa leitura a todos!


[1]          MILLER, J.-A. Dócil ao trans. 2021. Disponível em: <https://uqbarwapol.com/wp-content/uploads/2021/04/JAM-DOCILE-AU-TRANS-PT.pdf>. Acesso em: 03/11/2022.
[2]          Coletivo artístico que organiza batalhas lúdico poéticas de forma itinerante no estado do Rio de Janeiro. Para ler mais sobre, acesse <www.slamdasminasrj.com.br>.
[3]          MARTY, E. Le sexe des modernes: pensée du Neutre et théorie du genre. Paris: Seuil, 2021.
[4]          MARTY, E.; MILLER, J. A. Entretien sur le sexe des modernes. Lacan Quotidien, n. 947, p. 18, 21 mar. 2021. Disponível em: https://lacanquotidien.fr/blog/wp-content/uploads/2021/03/LQ-927-A.pdf. Acesso em: 15 out. 2022.
[5]          LACAN, J. Leçon 11 du 9 avril 1974.  In: LACAN, J. Le seminaire, livre 21: Les non-dupes errent. Paris: [s.n.], 1981. 201 p. Inédit.

SUMÁRIO

Editorial

11        Editorial

Andréa Reis Santos

LATUSA COM POESIA

23        Latusa com Poesia – Entrevista com Tom Grito

FUNDAMENTOS

35        Fundamentos da sexuação em Lacan

Miquel Bassols

43        Erosão do binarismo e ascensão do fluido

Fabian Fajnwaks

51        A diferença entre transexual e transgênero:
de que se trata para a psicanálise?

Eliane Costa Dias

61        O que se cristaliza em uma identidade

Marcus André Vieira

71        Identidade, diversidade e diferença dos sexos

Sérgio Laia

85        Haverá um paradigma Trans?

Romildo do Rêgo Barros

DECLINAÇÕES

91        O acontecimento da sexualidade com Lacan,

além e aquém do binarismo

Clotilde Leguil

103     Sujeito do inconsciente, um não-binário?

Dalila Arpin

119     Como viver a infância hoje? O que Lacan nos ensina sobre
a sexuação na atualidade

Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros

127     Feminismos

Lucíola Freitas de Macêdo

135     Masculinismo, um movimento além do falo

Margarida Assad

139     Algumas questões da vida Trans

Oscar Reymundo

A CONVERSAÇÃO

145     Glória Maron (relatora), Bruna Guaraná,
Isabel do Rêgo Barros Duarte,
Maria Antunes, Maricia Ciscato,
Sandra Landim e Vanda Assumpção Almeida

153     Angélica Bastos (relatora)
Eliana Bentes, Lívia Sales,
Lourenço Astúa de Moraes,
Maria Sílvia Garcia Fernandez Hanna,
Paula Legey

159     Paula Borsoi (relatora), Dinah Kleve,
Francisca Menta e Ondina Machado

171     Maria Corrêa de Oliveira (relatora),
Andréa Vilanova, Ângela Batista,
Márcia Zucchi, Maria do Rosário Collier do
Rêgo Barros, Marina Morena Torres

RESSONÂNCIAS DA CONVERSAÇÃO

179     Maria Corrêa de Oliveira

181     Maricia Ciscato

185     Marina Morena Torres

189     Niraldo de Oliveira Santos

193     Oscar Reymundo

FLASHES DO DIVÃ

197     Ana Beatriz Freire

199     Ângela Batista

201     Cristina Frederico

203     Maricia Ciscato

205     Rachel Amin

207     Ruth Helena Pinto Cohen

INCIDÊNCIAS DO PASSE

211     Paradoxal virilidade

Fabian Fajnwaks

TABELA NÃO DEFINITIVA DE GÊNEROS

RESUMOS/ABSTRACT