Eixo 2: O analista frente ao discurso de ódio segregador e a nova lógica coletiva
Freud encontrou nos sonhos o seu ponto de partida para a construção de um aparelho psíquico formado por Inconsciente, pré-consciente e consciente, com qual pôde abordar duas questões: o desejo e seu objeto, fundamentais para a suposição de um sujeito ao inconsciente.
Lacan deu um passo a mais e, com outros elementos – o S(Ⱥ) , o S1, o S2 e o a – apontou a novas problemáticas para o desejo e o objeto, na relação com o Saber e a Verdade. Essa primeira virada teórica lhe permitiu propor o Inconsciente real, incluíndo aí o gozo como alteridade constituinte, um “gérmen” que ele irá nomear de letra de gozo.
“O inconsciente é politico”, quer dizer, transindividual. Miller, em Intuições Milanesas, explora essa afirmativa lacaniana, apontando que conceber “o inconsciente como político parte não do Pai, e sim do Inconsciente, como o que está a ser definido”[1].
A “evaporação do Pai”, no Discurso da hipermodernidade, assim como a emergência do gozo feminino, têm promovido o surgimento de novas subjetividades e o crescimento da segregação e do discurso de ódio.
Se o Pai se evaporou, o que veio em seu lugar? Como fazer laços numa época em que as identificações ruíram, dando lugar a novos coletivos? Como entender o aumento do racismo e da segregação, tão evidente nos tempos atuais? O que podemos aprender quando, analistas, nos colocamos nesse novo mundo, sem a pretensão de compreendê-lo de imediato?
A psicanálise interroga as novas possibilidades de laço social, tendo como orientação os destinos inerentes ao gozo, que, em sua raiz, é segregador. Isso exige do analista que se interesse pelas questões da cidade, por uma leitura da subjetividade de sua época para decifrar aí o movimento simbólico da civilização[2].
Neste Eixo, acolheremos trabalhos que, partindo de vinhetas clínicas ou situações do contemporâneo, possam produzir questões e elaborações sobre esses fenômenos e suas manifestações em nosso tempo.