FÓRUM “Liberdade de expressão e neofascismo”

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[vc_row][vc_column width=”2/3″][vc_column_text]LA MOVIDA ZADIG – DOCES & BÁRBAROS CONVIDA PARA:

FÓRUM “Liberdade de expressão e neofascismo”

6 de agosto de 2022 das 9h ÀS 14h

O Fórum será realizado presencialmente até o limite de vagas e também por transmissão via Zoom

  • Valor: R$ 100,00 para profissionais/ R$ 70,00 para estudantes e alunos dos institutos do CF. (necessário comprovação)
  • Enviar e-mail com comprovante de depósito e nome completo para: ebp@ebp.org.br.
  • Pagamento por PIX: inscricaoebp44@gmail.com

Hotel Intercity Portofino – Florinópolis – SC – Rodovia SC- 401, 3270 – Saco Grande – 88032-005

Telefone e whatsApp para reservas – 48 3112 5200 ( Aos participantes do Forum que se hospedarem no hotel, haverá um desconto no valor da diária – comunicar no momento da reserva)

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ARGUMENTO

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O NEOFASCISMO

Jésus Santiago

“Nossa herança não é precedida por nenhum testamento.”
(René Char)

Vamos realizar no dia 6 de agosto de 2022, um Fórum Zadig/Doces&Bárbaros sobre um tema que se supunha ultrapassado em nossos tempos: A liberdade de expressão e o neofascismo. Afastadas durante as últimas décadas da Conversação política internacional, as ideias totalitárias e as linguagens contrárias à vida civilizada retornam, no cenário mundial atual, de modo surpreendente e nefasto. É um erro considerar que as ideologias políticas características do século XX – como é caso do fascismo – estão extintas, como se o processo civilizatório não sofresse retrocessos ou estivesse imune às contingências históricas. O emprego do termo neofascista para caracterizar a emergência dos movimentos de extrema-direita se faz necessário, pois é o que torna legível o contexto político no qual se evidencia a multiplicação de discursos e de atos assimiláveis ao chamado fascismo histórico.[1]

Não são poucos os acontecimentos recentes, no Brasil, que exemplificam essa nova face do fascismo por aqui. É o caso do ataque antidemocrático e tendenciosamente golpista às urnas eletrônicas. Chama a atenção também a violência praticada contra as instituições e a legalidade jurídica que constituem o pilar do Estado Democrático de Direito, tal como se dava no autoritarismo ditatorial dos governos militares. Sobressai, ainda, o discurso de ódio contra o Supremo Tribunal Federal, que vem sendo conclamado como o inimigo do cidadão brasileiro, causa de seus males e prejuízos. Assistimos à formação de grupos de milícias, bem como ao uso de instrumentos e equipamentos de difusão e disparo em massa de fake news com a finalidade de uma mobilização política ativa, agressiva e, no limite, violenta. Deparamo-nos com o exercício de uma guerra cultural ideológica permanente, na qual se destaca a adoção de narrativas de caráter religioso e de natureza anti-intelectual, uma espécie de anti-iluminismo que agride a razão, procurando desqualificar as conquistas e o saber da ciência. De forma que podemos aferir que o neofascismo é o principal fator de degradação dos valores democráticos e republicanos que se expressam nas liberdades fundamentais e públicas, dentre as quais se destaca a liberdade de expressão.

A liberdade de expressão, tradicionalmente constituída como o cimento sólido de uma sociedade livre que reconhece todos os indivíduos como soberanos para exprimir seus pensamentos e contribuir com os propósitos e projetos para uma Conversação coletiva, é reivindicada, hoje, como um instrumento a serviço da agressividade. A palavra é retirada de suas origens criativas e transformadoras para servir a interesses violentos e a discursos e práticas de ódio, e as redes sociais têm sido seu território privilegiado. A “cultura do cancelamento” é a que mais traduz esse uso das redes sociais com o intuito de proferir discursos inflamados, com alta carga de dogmatismo e puritanismo ideológico, cujo objetivo é levar ao ostracismo uma determinada pessoa ou grupo social ou político. Trata-se de boicote, que facilmente se converte em linchamento virtual de um indivíduo, geralmente uma celebridade, que compartilhou uma opinião questionável ou controversa, ou que no passado teve conduta percebida como ofensiva. Ideias, opinões ou atitudes em desacordo com os princípios e valores dos grupos identitários são assediadas em massa, sendo acusadas de racistas, sexistas, homofóbicas, transfóbicas, etc. Institui-se um novo campo de batalha, em que ativistas se enfrentam de uma maneira tal que se degradam as condições para fazer valer uma ética da Conversação necessária ao convívio democrático dos diversos atores sociais para os quais prevalece a livre expressão do pensamento.

O cibermundo apresenta-se, assim, inundado de injúrias, difamações, montagem de fotos, usurpação da identidade, assédios virtuais e ataques repetidos contra o gênero humano. Desta forma, na web, mediante a difusão instantânea de mensagens, amplificam-se e intensificam-se práticas violentas, as mesmas experimentadas no mundo real.[2] Estranho destino para a liberdade de expressão, na medida em que esta é ameaçada por certos indivíduos, grupos, associações e veículos de comunicação que multiplicam os apelos à censura, visando reduzir ao silêncio as opiniões que lhes desagradam. Na época atual, a liberdade de expressão é objeto de uma apropriação absurda e inaceitável: de um lado, ela serve para amparar ideias e propostas abjetas e, de outro, ela é rechaçada em seu princípio pelo ativismo de censores que querem impor regras para a manifestação pública e livre dos sujeitos de direito. Nestes tempos sombrios, não se pode tomar a “liberdade de ser livre”[3] como fundamento moral, eterno e irreversível, como se fosse um valor para sempre escrito no corpo social. A importância dessa discussão para a prática da psicanálise se justifica pelo fato de que sua existência está intimamente vinculada ao Estado Democrático de Direito e à sua contrapartida imediata, qual seja, a liberdade de pensamento e de expressão.


[1] BIGNOTTO, N. Bolsonaro e o bolsonarismo: entre o populismo e o fascismo. In: Linguagem da destruição: a democracia brasileira em crise. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2022, p. 124.
[2] CANTO-SPERBER, M. Sauver la liberté d’expression. Paris: Albin Michel, 2021, p. 310.
[3] ARENDT, H. La liberté d’être libre. Paris: Payot, 2021.

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