Territórios Lacanianos #015
Coordenação: Glória Maron e Andrea Reis
RESIDÊNCIA EM PSICOLOGIA CLÍNICA E SAÚDE MENTAL
Esta edição Territórios Lacanianos apresenta a Residência em Psicologia e Saúde mental – um projeto que enlaça duas grandes Instituições: a Universidade Federal da Bahia, através do departamento de psicologia, e o Hospital Juliano Moreira, especializado na área de saúde mental.
O programa de Residência surgiu em 2005, respondendo às consequências da implantação da Reforma Psiquiátrica e buscou no ensino e aplicação da psicanálise a orientação para sustentar a capacitação de profissionais da saúde mental.
No texto assinado por Analícea de Souza Calmon Santos, Marta Inês Restrêpo Soto e Mônica Hage Braga Pereira - assim como nos depoimentos registrados no vídeo - é possível verificar de que forma esta experiência busca articular a prática institucional dos profissionais que participam do programa de residência às ferramentas extraídas da psicanálise de orientação lacaniana, atestando assim, a relevância da sua presença na cidade.
Universidade Federal da Bahia
Instituto de Psicologia
Hospital Especializado Juliano Moreira
Secretaria de Saúde do Estado da Bahia
RESIDÊNCIA EM PSICOLOGIA CLÍNICA E SAÚDE MENTAL
- a intervenção analítica num dispositivo não analítico –
História
A implantação do Projeto da Reforma Psiquiátrica no Hospital Juliano Moreira, evidenciou a necessidade de profissionais devidamente qualificados para a adequada implementação do referido projeto. Foi então que a direção desse hospital, na época representada por Marcelo Véras (membro da EBP/AMP), levando em conta a experiência adquirida nas atividades docentes do curso de Psicologia da Universidade Federal da Bahia, dirigiu-se à coordenação do Serviço de Psicologia desta universidade, na época representada por Analícea Calmon (membro da EBP/AMP), buscando uma parceria para a criação de uma residência em Psicologia Clínica e Saúde Mental. Esta iniciativa, inovadora no nordeste, resultou na elaboração de um projeto de trabalho orientado pela psicanálise que, tendo sido aprovado pelo Departamento de Psicologia da UFBA, possibilitou, no ano de 2005, o surgimento da 1ª turma desta residência, cuja aula inaugural foi ministrada por Antonio Beneti (membro da EBP/AMP).
A colocação em marcha deste projeto de trabalho, valendo-se dos princípios da psicanálise aplicada à terapêutica, pauta-se em diretrizes que visam: a compreensão da "doença mental", como posição do sujeito diante do Outro; a integração do residente em equipes multiprofissionais do SUS, na prestação de serviços técnicos à clientela em questão, visando uma atuação a partir de uma perspectiva ética; o exercício de uma escuta e o desenvolvimento de um raciocínio teórico/clínico, que possam permitir o emprego de recursos metodológicos e técnicos adequados aos projetos de intervenção individual, grupal e institucional no campo da saúde mental.
Este programa recebe anualmente 5 (cinco) residentes, através de concurso público, e tem a duração de 2 (dois) anos que se distribuem em dois módulos: R1 e R2, com carga horária total de 5.000 horas. 20% desta carga horária se destina à fundamentação teórica, sob a forma de aulas expositivas, sessões clínicas e seminários. E 80% se destina à vivencia prática, acompanhada pelos preceptores e orientada pelos supervisores.
As aulas expositivas fogem um pouco do tradicionalismo acadêmico e privilegiam uma reflexão conjunta em torno dos temas que compõem o programa de cada disciplina. Ressaltamos que a disciplina Psicopatologia, é ministrada através de 2 eixos:
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Seminários teóricos – que visam uma interface entre a psiquiatria e a psicanálise de orientação lacaniana.
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Sessões clínicas – que consistem em apresentações de casos, construídos pelos residentes, sob supervisão, com um esforço de formalização teórica que deve ir além de uma classificação nosológica, para permitir uma leitura dos sintomas ou fenômenos voltada para a singularidade do sujeito. Nessa oportunidade, convida-se um psicanalista da nossa comunidade para debater o caso.
O campo de prática, por excelência, é o Hospital Juliano Moreira. No 2º ano os residentes dividem a atuação clínica entre o hospital e alguns CAPS parceiros da nossa comunidade. Os três últimos meses da residência são dedicados a um estágio opcional, a ser escolhido por eles em uma das instituições com as quais temos parceria formal. São elas:
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Centre Hospitalier Les Murets – em Paris (este estágio tem a coordenação de Dominique Wintrebert – membro da ECF/AMP)
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Hospital St. Isidro – na Argentina (este estágio tem a coordenação de Guillermo Belaga – membro da EOL/AMP)
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IPUB – Instituto de Psiquiatria da Universidade do Rio de Janeiro
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Hospital Raul Soares – em Minas Gerais (este estágio tem a coordenação de Sérgio de Campos – membro da EBP/AMP)
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CETAD – Centro de tratamento de álcool e drogas – na Bahia
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CIAV – Centro de intervenção anti veneno – na Bahia
Como se vê, esta residência se coloca no cruzamento de duas distinções: uma entre a psicanálise pura e a psicanálise aplicada; e a outra entre a prática da psicanálise em consultório privado e na instituição.
Ainda no que se refere à psicanálise aplicada, vale ressaltar que a tônica desta residência é a clínica da psicose, considerando o que a mesma ensina à clínica da neurose. Dentre os diversos setores percorridos no hospital, é o módulo da internação que melhor propicia este encontro, suscitando um desafio no que concerne a intervenções pontuais, o que faz lembrar o modelo da "prática entre vários". A passagem pelos ambulatórios contempla, de forma mais detalhada, o exercício da escuta e construção do diagnóstico em psicanálise.
Se quisermos sintetizar a experiência vivida pelos residentes, podemos distingui-la em 2 grandes atos:
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O ato de entrada – que consiste na organização, pelos R1, de um colóquio que se realiza anualmente, nas dependências do Hospital Juliano Moreira e que hoje já tem conquistado um lugar no calendário de eventos da saúde mental, na Bahia. O objetivo do colóquio é oferecer um espaço para discussões e troca de experiências relacionadas à inserção da psicanálise no campo da saúde mental. Até o momento já foram feitos 9 (nove) colóquios cuja sucessão, somada às demais atividades, já nos permite dizer que há atualmente uma comunidade constituída, na psicanálise de orientação lacaniana, com razoável experiência clínica no campo da saúde mental.
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O ato de saída – que consiste na apresentação a uma banca examinadora, de uma monografia elaborada durante o curso, fruto da interface da teoria com a prática O intuito deste trabalho, para além de consolidar o final do curso, é formalizar, a partir de uma construção, a função clínica de um trabalho orientado pela psicanálise lacaniana, numa instituição de saúde mental.
Toda essa experiência vem nos mostrar que a clínica psicanalítica se constrói, se inventa e se reinventa de forma constante.
Membros da EBP/AMP que participam efetivamente desta Residência:
- Analícea de Souza Calmon Santos – Coordenadora geral, supervisora e docente
- Marta Inês Restrêpo Soto – Coordenadora adjunta
- Mônica Hage Braga Pereira – Preceptora do ambulatório infanto-juvenil, coordenadora da sessão clínica e preceptora