Territórios Lacanianos #011

Coordenação: Glória Maron e Andrea Reis

 

Editorial

 

Instituto de Psicanálise da Bahia

INSTITUTO DE PSICANÁLISE

DA BAHIA

 

Territórios Lacanianos apresenta este mês o Instituto de Psicanálise da Bahia, em duas frentes distintas de atuação na cidade: De um lado temos o curso regular, o ensino à distância, as atividades de extensão, os núcleos de investigação, as seções clínicas e a inserção na rede social,  além do espaço de conversação que é oferecido aos laboratórios do CIEN, formando com isso um conjunto de atividades que estão alinhadas ao propósito que orienta o trabalho de ensino e investigação do Instituto. Este conjunto de atividades visa promover e sustentar, na relação com a cidade, a transferência com a psicanálise. No texto de apresentação assinado por Analícea Calmon vocês poderão acompanhar a extensão desta programação e o alcance de seus efeitos de transmissão da psicanálise de orientação lacaniana. 

 

Também sob a orientação do Instituto, e contando com a chancela da Escola Bahiana de Medicina e Saúde pública, vocês terão acesso ao texto de Célia Salles que nos dá notícias  do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu  em Teoria da Psicanálise de Orientação Lacaniana -TPOL. O curso é coordenado por de Célia Salles e Lucy de Castro, e tem como Consultor Bernardino Horne.   Atualmente completa dez anos de atividade e se estabelece como uma referência de transmissão do ensino e do saber que é próprio à psicanálise. 

 

Boa leitura a todos!

 

 

INSTITUTO DE PSICANÁLISE

DA BAHIA


TEXTO DE APRESENTAÇÃO

Uma instituição analítica, mesmo quando se dedica ao ensino e à pesquisa, como o Instituto, parte da consideração de um furo no saber. Tal observação aponta para uma situação de fracasso, que Lacan traduziu como impossibilidade de aceder ao real.


No início do seu último ensino, onde situamos a 2ª clínica, Lacan vai nos dizer, a propósito de um comentário sobre os textos de Allan Poe, que é no saber de um fracasso onde a psicanálise melhor se mostra.

 

Sob esta ótica o Instituto de Psicanálise da Bahia construiu, para o ano de 2014, um programa que, regido por uma orientação ao Real, contempla as seguintes atividades:


I – A - Curso Regular
I – B – Ensino à Distância


I – A – Trata-se de um curso oferecido regularmente, a cada ano, para um público alvo de estudantes de graduação e profissionais interessados no discurso analítico, que discorre sobre os fundamentos da psicanálise na direção do tratamento. Sabe-se que o ato de ensinar a psicanálise é distinto do ato analítico; entretanto, a posição do ensinante pode dizer algo sobre a sua relação com a causa analítica, apostando na conseqüência de despertar em outros o desejo de saber. Seguindo esta aposta, o Instituto de Psicanálise da Bahia inverteu o seu vetor de ensino, antes direcionado de Freud para Lacan, para uma direção de Lacan a Freud, passando a iniciar o curso pelo "último" Lacan, marcando os pontos de continuidade e descontinuidade com a teoria freudiana.

 

I – B – O entusiasmo incessante em retomar o legado de Lacan nos leva a fazê-lo passar pelos recursos tecnológicos ofertados ao mundo contemporâneo, através da proposta de um curso virtual à distância. Este curso, ainda em processo de gestação e planejamento, vai se destinar exclusivamente a pessoas que residem em outras  cidades e que se inscrevem nos mesmos critérios do público alvo proposto para o curso regular.

 

II – CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM TEORIA DA PSICANÁLISE DE ORIENTAÇÃO LACANIANA


(este curso será apresentado num texto à parte, redigido pelas suas coordenadoras)

 

III – ATIVIDADES DE EXTENSÃO

 

III – A – LEITURA DE TEXTOS CENTRAIS NO ENSINO DO ÚLTIMO LACAN

 

Visando sustentar a transferência com a psicanálise, suscitada a partir do que está apontado no Curso Regular, está sendo oferecido o curso: Leitura de Textos Centrais no Ensino do Último Lacan, destinado a um público alvo constituído por graduados de nível superior dos cursos de medicina, psicologia e áreas afins, interessados em participar do Curso de Pós-Graduação referido no item II. Vale ressaltar que este curso se amplia para além das fronteiras deste público alvo e acolhe outros participantes interessados no tema.

           

III – B – CURSOS BREVES


            A incompletude resultante da junção do fracasso com o furo no saber, vai permitindo inventar novos espaços de trabalho. Assim, foi criado um espaço que, conjugado a uma perspectiva temporal, oferece, a cada ano, 2 a 3 cursos breves. Estes cursos tem a duração de 10 horas e são ministrados por convidados que vem tratar de um tema específico.

 

IV – NÚCLEOS DE INVESTIGAÇÃO


Seguindo o velho lema de Freud, segundo o qual pesquisa e tratamento coincidem, o IPB conta atualmente com 5 (cinco) núcleos de investigação, cada um deles visando, no intervalo entre a causa e o efeito, fazer aparecer o sujeito do inconsciente. E pelo fato de coincidir com a clínica, a pesquisa visa elucidar, nas intervenções feitas em cada caso, o tratamento do gozo nos sintomas.

 

Os núcleos contemplam os seguintes temas:
            - Psicanálise e criança
            - Psicanálise e feminino
            - Psicanálise e psicose
            - Psicanálise e toxicomania
            - Psicanálise e saúde mental (este funciona em Belém – Pará)

 

PARCERIA INSTITUCIONAL


A oferta da psicanálise, ainda que regida pelo encontro do fracasso com o impossível,  se expande e tal expansão se presentifica no estabelecimento de uma parceria institucional com o CEPP – Centro de Estudos Psicanalíticos do Piauí, cujo tema de estudo para 2014 é "As manifestações de violência e passagem ao ato: interpretação e ato analítico".

 

V – CONVERSAÇÃO DO CIEN


Destacando a importância de um trabalho inter-disciplinar, o IPB oferece um espaço de conversação para os laboratórios do CIEN – CENTRO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS SOBRE A CRIANÇA, o que aponta para um movimento transferencial de diversos campos do saber em relação à psicanálise.

 

VI – SEÇÃO CLÍNICA


Considerando que desde Freud até Lacan, a psicanálise foi construída como teoria da clínica a partir da experiência, criou-se um espaço para uma atividade que consiste em comentários sobre a teoria da clínica, a partir da apresentação de material clínico. Nessa oportunidade interroga-se a eficácia do discurso do analista, sua pertinência na cultura e sua vocação ao real.

 

VII – REDE ASSISTENCIAL


Na relação Instituto – Escola, encontramos o lugar do Instituto na Seção de Psicanálise Aplicada, o que nos autoriza a oferecer uma rede assistencial à comunidade de baixa renda visando possibilitar o acesso a um tratamento  viável do ponto de vista financeiro e eficaz em resultados terapêuticos. Nesse sentido estamos redefinindo o CPCT que, além de um centro de consulta e tratamento, se constituirá como um núcleo de investigação e troca de experiências clínicas.

 

VIII – EVENTOS

 

VIII – A - JORNADA

 

A Psicanálise nasce por conta do mal-estar na civilização e dele faz parte. Em função disso ocupa-se do que não funciona e faz do fracasso o seu modo de existir. Não se prestando o real a ser transmissível de modo globalizante e sim através da produção e enunciação de cada um, as produções dos alunos do Curso Regular e do Curso de Especialização serão colocadas em debate numa jornada que acontecerá no final deste ano.

 

VIII – B – ENCONTRO DOS ASSOCIADOS

 

Seguindo esta mesma lógica será realizado o I Encontro dos Associados do IPB, que se constituirá num espaço de discussão sobre temas relacionados à instituição e à formação do analista.


IX – PUBLICAÇÃO


O IPB, num esforço a mais para sustentar o impossível que se encontra no cerne de seu exercício de transmissão, conta com uma publicação mensal, o LAPSUS, um espaço criado para estimular os seus associados a se lançarem na escrita e assim compartilharem as suas produções.

 

 

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM TEORIA DA PSICANÁLISE DE ORIENTAÇÃO LACANIANA – TPOL (2013-2015)

 

Inserido no Instituto de Psicanálise da Bahia filiado ao Institut du Champ Freudien, em estreita conexão com a Escola Brasileira de Psicanálise-Seção Bahia  (EBP-BA) e com a chancela da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, o Curso de Pós-Graduação Lato Sensu  em Teoria da Psicanálise de Orientação Lacaniana -TPOL, em sua quinta turma (2013-2015) sob a Coordenação de Célia Salles e Lucy de Castro, e tendo como Consultor Bernardino Horne,   no momento em que completa dez (10) anos de atividade, mantém-se uma referência.

 

Desde seu início em 2004, o Curso TPOL atraiu membros da EBP, antigos aderentes da EBP- Bahia, de outros Estados e Delegações, em busca de um estudo sistematizado da Teoria. Nesta quinta turma, analistas praticantes ligados à EBP, praticantes da psicanálise e recém-saídos da Universidade de diversos Estados além da Bahia (São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Paraíba, Recife, João Pessoa, Belém do Pará) compõem o quadro de cinqüenta e cinco alunos.

 

A chancela da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – Instituição Universitária respeitada, fundada há sessenta e dois anos, mantém a autonomia epistêmica do IPB. Todos os professores do Curso de Pós–Graduação da TPOL são membros da EBP / AMP. Observamos os trâmites universitários contratuais próprios dos cursos de Pós-Graduação Lato Senso, mas nosso ensino é para-universitário.

 

Além dos imprevistos que ocorrem em todos os cursos, em um curso como o nosso em que se privilegia como eixo do ensino a intensão e a transmissão da Psicanálise acima da difusão, informação e ensino teórico clássico, o comum é se criar um problema próprio e ao mesmo tempo um obstáculo. Em nossa singularidade, os professores não preparam uma aula que se repete ano após ano.  Isso significa que não há uma experiência nem bibliografia prévia fechadas. A cada ano, nós analistas damos uma forma nova a nossa aula com perspectivas diferentes, porque nós mesmos vamos mudando e pensando a teoria em constante movimento, acompanhando a clínica. Lacan dizia que o ensino universitário ensina saberes mortos, cadavéricos, enquanto a transmissão psicanalítica pretende transmitir algo do tipo de uma experiência viva em relação ao saber. O que se transmite? O que é transmitir?

 

Muito resumidamente, o ensinante em posição de analisante, quando desenvolve suas articulações, seu saber, diz algumas palavras, sem pensar, que ressoam no inconsciente real do estudante. Tem o valor de uma experiência de aproximação ao Real.

 

Nossa experiência em estudar a teoria hoje e a clínica do Século XXI se orienta nesse sentido. O Curso de Pós-Graduação em TPOL que já avançara muito desde a primeira turma iniciada em 2004, e desde a quarta turma havia implantado a categoria de Monitores e Plataforma Moodle, imprimiu na 5ª Turma, uma reorientação radical do programa de ensino, na perspectiva da orientação ao real, com o objetivo de aproximá-lo da Psicanálise do Século XXI.

 

Foi uma aposta necessária e bem sucedida. Significou levar uma turma de 55 alunos, muitos deles iniciantes, a entrar de imediato em contato com o ultimissimo Lacan, "Há o UM". Como disse J-A Miller ao apresentar o tema do IX Congresso da AMP, necessário "aggiornamento..., atualização de nossa prática analítica, de seu contexto, de suas condições, de suas coordenadas inéditas no século XXI quando cresce o que Freud chamou de "o mal-estar na cultura" e que Lacan decifrava como os impasses da civilização".  

  

Iniciado em abril de 2013 com a aula inaugural proferida por Bernardino Horne com o tema "Porque necessária a análise pessoal para aprender Psicanálise; porque Freud privilegiou no tripé da formação de um psicanalista a análise pessoal", em sua estrutura, o curso tem 390 horas, distribuídas em 08 Disciplinas, na sequência: Uma Orientação ao Real, Topologia, Inconsciente Estruturado como uma Linguagem, Epistemologia, Metodologia de Ensino, Psicose, Sintomas Contemporâneos e Neurose.

 

Instituiu-se a modalidade de cartéis como instrumento de avaliação de cada disciplina, o que propiciou uma transferência dos alunos ao trabalho, e definiu-se que os Trabalhos de Conclusão de Curso (nos moldes exigidos pela Universidade) fossem pautados na Revisão de Conceitos.

 

Um desafio para todos:

 

Entre o tempo da criatividade necessária ao professor, e a antecipação das ementas, regras, bibliografia que convém se cria um hiato que cabe à coordenação tentar reduzir dentro do possível. Um hiato entre o que se transmite e o tempo de programar algo que às vezes toma forma em data próxima à aula.

Uma tarefa difícil e necessária para a coordenação: estar atenta ao cumprimento dos programas, aos tempos e demais formalidades da Universidade e a relativa liberdade necessária a respeitar, para poder abrir o criativo e o valor de ato que cada aula procura.

 

Nossa bibliografia é sustentada em Freud, Lacan, J-A Miller e membros da AMP