Extimid@des 14
CORPO, GÊNERO E INVENÇÃO
Bianca Coutinho Dias
O "Manifesto contrassexual: práticas subversivas de identidade sexual" foi lançado em 2000, na França, onde reside a autora Beatriz Preciado, que leciona na Universidade Paris 8 e dirige o projeto "Tecnologias de gênero". Para ela, que se define como uma filósofa pós-feminista, o termo "pós-feminismo" indica um giro conceitual de debates sobre igualdade e diferença, justiça e reconhecimento, em direção a debates em torno da produção transversal das diferenças.
No dossiê "Teoria Queer", publicado na última edição da Revista Cult (agosto/2014), Carla Rodrigues traz excelentes contribuições, de onde podemos extrair um possível entrecruzamento das idéias de Beatriz Preciado e da psicanálise lacaniana, naquilo que ela nomeia de "política do desejo", emprestando sua figura como defensora da quebra de um discurso normatizador dos corpos e da sexualidade.
Nessa trilha, podemos perscrutar os lugares possíveis para a subjetividade em uma época em que a "ausência de obra" ( termo já mapeado por Michel Focault) expandiu-se para todos os meandros da constituição subjetiva, criando dificuldades em nos tornarmos sujeitos. Focault dizia da "ausência de obra" como renúncia ao trágico da enunciação de uma verdade e uma saída redutora e dessubjetivante, a que vários discursos dariam suporte. Como lugar paradigmático da "não-obra", ele situa o lugar que a loucura passou a ocupar desde a idade clássica como algo a ser abolido a qualquer custo pela medicalização das subjetividades e um aparato de normas ditas como "naturais". É aí que nos aproximamos também de Beatriz Preciado, pois ela, ao retirar a natureza como dado ordenador do pensamento sobre sexualidade, acaba por situar o corpo e o gênero na ordem da invenção e o discurso como aquilo que ela chama de "suplemento ou prótese" - alguma coisa por onde se pode deslizar.
No dossiê supra citado pode-se perceber que Michel Foucault é um filósofo fundamental, do qual Preciado se vale para pensar uma definição biopolítica dos corpos e produção de gênero, do sexo e da sexualidade como técnicas de domínio criadas na modernidade, com as quais ela quer romper, fazendo disso uma forma de pensamento encarnada no próprio corpo, desnaturalizando o sexual e a normalização da heterossexualidade.
Se tal panorama das condições de subjetivação na contemporaneidade marcadas pela ausência de obra faz algum sentido, o que cabe interrogar é: haveria alguma obra possível, alguma subjetivação possível a partir de uma invenção de um novo corpo? Podemos situar aí a tríade: corpo-gênero-invenção?
Penso que os lugares que Beatriz Preciado busca mapear e discutir se encontram com a ética lacaniana, que também sustenta a "política do desejo": são discursos que se encontram na crítica ao capitalismo e na crítica à hegemonia do discurso da ciência em seu empuxo normalizador de corpos, comportamentos e discursos. Lacan e Beatriz Preciado podem dialogar nessa resistência potente de sustentar o desejo, quando o caminho pronto são os corpos a serviço da medicina, o corpo da produção e da reprodução.
Aqui há um terceiro componente para enodar a "Teoria Queer" de Preciado e o discurso lacaniano: a discussão feita por alguns artistas sobre tais lugares, especificamente, e a partir do que o encontro com as artes aporta para esse embate, a começar pela própria Beatriz que, conforme relato do texto de Carla Rodrigues no "Dossiê Queer", se auto-aplicou testosterona durante duzentos e trinta seis dias, sem seguir nenhum tipo de protocolo médico prévio. Em suas próprias palavras, "com esta intoxicação voluntária, quis mostrar que meu genêro, não pertence nem à minha família, nem ao Estado, nem à indústria farmacêutica. É uma experiência política".
Beatriz faz do corpo sua obra singular - política do desejo - que resiste ao enquadramento da masculinidade e da feminilidade, inscrevendo no mundo sua pergunta particular sobre o feminino. Do corpo como objeto de regulações e campo em disputa, alguns artistas constroem suas obras que trazem em seu bojo uma crítica à dualidade natureza/cultura, feminino/masculino, normal/patológico, sexo/gênero e sustentam na linha cortante do desejo o encontro com o vazio. Trata-se precisamente dessa ruptura, desse corpo encenando um destino que não é mais anatômico.
Cindy Sherman é uma artista que coloca em questão a lógica fálica de uma verdade última incluída nessa assunção da mulher como desvelamento, através do apagamento do sujeito em suas obras, o percurso em direção ao vazio e à ausência de figura humana, tanto quanto à ausência de origem apresentada por suas obras de máscaras, manequins ou cópias de quadros da história da arte dos quais falta o original. Ela se dá a ver, mas encarna também o fim da passividade do feminino que se dá ao olhar do outro. Sua obra consiste nesse reenvio do olhar ao espectador e no seu aprisionamento nesse lugar voyeur, a fim de recolocar corpo e feminino em jogo, enquanto lugares de borda nos quais se constrói uma possibilidade de subjetivação.
É aí que psicanálise e arte se encontram - no discurso que possibilita uma brecha de resistência e de transgressão, e que é recolocado naquilo que os artistas sugerem ao campo psicanalítico, desde a discussão que fazem a respeito do corpo e do feminino a partir de uma radicalidade. A reintrodução desse corpo no âmbito da obra de arte, reinvenção de um corpo feminino como corpo pulsional, reescreve a questão de gênero por outra via, que havia sido engolida por uma lógica a serviço de um saber acerca da sexualidade, um saber domesticador.
O que os artistas apontam para a psicanálise, nesse sentido, é a falência da lógica da máscara. O que aparece é um corpo que sobrevive ao naufrágio do simbólico, agitado pelo real a escrever pelas bordas a sua possibilidade de subjetivação.
Judith Butler escreveu em "Problemas de genêro" que o impensável não está fora da cultura, mas dentro dela e de forma dominada: "É possível pensar de forma insurgente pelas bordas do social, na região que foi propositalmente foracluída dele e, muitas vezes, relegadas até mesmo ao reino do abjeto". Segundo Richard Miskolci, os "estudos queer" têm se caracterizado justamente por criarem conhecimento a partir do abjeto - por meio do que a sociedade considera como ameaçadora à sua visão idealizada sobre si própria. Ou seja, do mesmo modo que a loucura como experiência trágica fica obscurecida pelo conhecimento racional e científico, não deixando, entretanto, de existir, como vemos em Foucault, a invenção de um sexo singular também não deixa de dar notícias sobre um campo de resistência e de borda que amarra o corpo e as novas invenções de gênero.
Do sexo normalizado a partir de uma série de discursos que buscam adestrá-lo, dos corpos e prazeres intensificados como discurso passível de ser manipulado pelos dispositivos de saber/poder, passamos à psicanálise e à arte, como o território a partir do qual o corpo feminino será sabido e agido pela via do desejo com todas suas consequências, naquilo que a psicanálise vai entender como corpo.
Já em Freud, podemos localizar a sexualidade humana nos "Três ensaios para uma teoria da sexualidade" como algo aberrante em relação à função biológica da reprodução. Ela é infantil, perversa polimorfa, marcada pela pulsão e seus movimentos, a partir do princípio do prazer, no sentido da satisfação e da descarga.
O sexual e a sexualidade em psicanálise recuperam, portanto, a ideia de um corpo erótico, marcado pelo movimento das intensidades pulsionais e do desejo, circulado e circunscrito pelo desejo do outro, pela fala e pela história, investido, configurado por zonas erógenas, pelos modos, meios e históricos das experiências de satisfação. Não se trata de um corpo organismo, mas de um corpo pulsional, intensivo, um corpo que também se faz enquanto corpo conforme percebe, marca e cria memória. O corpo sexual freudiano é um corpo marcado pelo erotismo, pela pulsionalidade, pelo desejo e pela história. E a história de um corpo é precisamente a história desses assujeitamentos e dessas resistências que têm como palco o corpo.
As produções de Cindy Sherman e de várias outras artistas, contribuem para problematizar o feminino freudiano, ao trazer a discussão acerca desse feminino para além daquilo que fica submetido à lógica fálica e ao âmbito do que pode ser contornado pela castração e pela maneira como a mulher se articula com a mesma. Em seus trabalhos, fazendo-se muitas de si, criam ancoradouro na resistência ou rebelião que pode se dar aí, ou seja, através da reinserção de sua materialidade corpórea na obra, da recolocação em cena de tudo aquilo do corporal que fora negado para que o mesmo se tornasse apresentável.
Cindy Sherman apresenta com seu trabalho uma manobra contra a assepsia do corpo. E então ela pode ser tudo: atriz de mil sexos e nuances, mulheres diversas e sujeitas aos caprichos da indústria cinematográfica, como na série "Untitled Film Stills", que consiste em vários auto-retratos em que a artista apresenta-se em situações que reenviam à repetição de cenas que estruturam o imaginário produzido pela indústria cultural. A cada fotograma, ela absorve uma gramática de aparências compostas por gestos, poses e estilos plenamente codificados, colocando em cena alguns fantasmas fundamentais do feminino. Trata-se do tempo estático do fantasma; tempo morto que não conhece fluxo nem diferença.
Tudo se passa como se Sherman nos mostrasse que ser corpo é estar atado ao olhar do Outro. A auto-representação,que está na base de seu trabalho, é um puro jogo de superfícies, de aparências. Através delas, Sherman apresenta a visão da mulher como estereótipo cultural, como glossário de poses, gestos e expressões faciais. Seu trabalho questiona também a normatividade do gênero e da sexualidade e põe em xeque a lógica binária que define os sujeitos como macho ou fêmea, abarcando um potencial político que denuncia a fragilidade dos ideais e a parafernália discursiva voltada à permanente patologizacao das experiências do corpo e da sexualidade que escapam às normas.
Através de regimes de despersonalização, a fotógrafa norte-americana problematiza de maneira radical a articulação entre corpo e imagem. Isto na medida em que todos os seus ensaios fotográficos tratam da mesma questão - a mais delicada da estrutura do narcisismo: a representação do corpo próprio e seus impasses. O nó da tensão do projeto de Sherman encontra-se na extensão do adjetivo "próprio". O que é meu no corpo? Ou seja, o que significa subjetivar o corpo?
Interrogações que levam à Lacan: o feminino da mascarada lacaniana revela a falácia da lógica das máscaras. Cindy Sherman tensiona isso até o limite: véus, artifícios e estratégias mostrados reintroduzem o feminino enquanto possibilidade outra que escapa à ordem do desvelamento e da verdade, impasse frente ao qual a psicanálise não ficará imune, forçada que será a considerar o feminino também em relação a essa brecha. Foi necessário surgir Lacan para que essa aproximação à mulher e ao feminino, sempre fragilmente ordenados pela organização fálica, fosse posta em questão.
Será Lacan quem se perguntará se a mediação fálica dará conta de todo o campo pulsional em uma mulher. Deslocando-se do campo do sexo para o campo do gozo, se indagará acerca de um gozo feminino, considerando que existe, para a mulher, uma divisão entre ser "toda fálica" e "não toda fálica".
A lógica da castração não rege todo o campo do gozo, resta uma parte que é fora do simbólico. A mulher, que não existe para Lacan, nada mais é do que um dos nomes desse gozo. Ela é, então, o outro nome do real, da borda, do Outro. Falar sobre a mulher é falar a respeito disso tudo. É como falar do corpo, daí sua aproximação ao feminino.
Lacan, no Seminário 20, intitulado "Mais, ainda", refere-se à mulher como o sujeito que traz a alteridade radical. Isso quer dizer que a mulher não pode ser reduzida nem encerrada em uma referência ao masculino, nem ao falo. Algo escapa, criando todo um outro continente desconhecido, do qual não podemos nos aproximar pelo referencial fálico.
Pensar sobre a feminilidade é deslocar-se para um lugar que desliza constantemente. Aí está a imensa importância de muitas artistas, que provocaram mudanças profundas no momento em que ingressam no campo artístico, trazendo consigo seus corpos.
Novas identidades de gênero, novas formas de conjugalidade, uma imensa diversidade de práticas eróticas - campos de borda, lugares possíveis para a subjetivação em nossos tempos. Invenções que resistem a todo discurso que visa subtrair a materialidade do corpo. Criações de uma feminilidade, que faz barreira à estratégia de disciplinamento do desejo, que nunca deixará de ser: delirante, plural e nômade.
Foto: Autoretrato - Cindy Sherman
MUDANÇA DE SEXO,
RECUSA DO ENIGMA
Maria Bernadette S. de S. Pitteri
Um fenômeno já aparecia no século XX e tem-se exacerbado em nosso século: a mudança de sexo via terapia hormonal e técnicas cirúrgicas. Os avanços científicos e tecnológicos atropelam a anatomia. Mas seria "a anatomia o destino"? A ciência responde com um "não", totalmente diferente do "não" da Psicanálise.
Causou furor e espanto entre os aficionados do Pugilismo, a notícia veiculada pelo Sunday Mirror, comentada no Estadão (10/8/2014), de que Frank Maloney, ex-pugilista, consagrado empresário do boxe, aos 62 anos fará uma cirurgia para mudança de sexo, passando a chamar-se Kellie Maloney. Ele já se casara duas vezes e é pai de três filhos. Aposentado do boxe desde outubro do ano passado, ele diz que tinha medo de falar sobre sua sexualidade.
O fato é que há uma moralidade que regula, ou desregula, a conduta sexual. Para Lacan, a moralidade da conduta sexual está subentendido por tudo o que se disse do Bem. "Só que, a força de se dizer do bem, isso acaba em Kant, onde a moralidade confessa o que ela é ... ela é Sade" (Lacan, Seminário - 20, p.117).
As identificações com as quais a humanidade se reparte são imaginárias, o que talvez indique o enigma que daí advém. Lacan afirma que "relação sexual não existe" e ensina que o discurso analítico visa o sentido, mas um sentido sexual, o que dá a razão de seu limite, ou seja, o "sentido indica a direção na qual ele fracassa" (Lacan, Seminário - 20, p. 106).
O fracasso do sentido, no entanto, permitiu a Lacan articular as fórmulas da sexuação, que demonstram que, a partição entre homens e mulheres é algo bem mais complexo do que indica nossa vã anatomia. Nestas fórmulas "Quem quer que seja falante, se inscreve de um lado ou de outro".
O homem como todo se inscreve na função fálica, temos um universal masculino. Mas, e quanto à mulher? No lado "mulher" das fórmulas, vê-se que todo ser falante, "provido ou não dos atributos de masculinidade, pode inscrever-se nesta parte ... caso a inscrição ocorra do lado mulher, não haverá qualquer universalidade, este ser falante será não-todo" (Lacan, Seminário - 20, p. 107). Ou seja, não há necessidade de recorrer ao aparato científico para a mudança anatômica, basta colocar-se do lado do não-todo. Basta? Nada simples, claro. Mas uma análise ajuda muito.
Freud deixa de lado um campo, ignorado por ele, e se pergunta "o que quer uma mulher?". Lacan avança aí: "Esse campo é o de todos os seres que assumem o estatuto da mulher - se é que esse ser assume o que quer que seja por sua conta. Além disso, é impropriamente que a chamamos a mulher, pois ... a partir do momento em que ele se enuncia pelo não-todo, não pode se escrever." ( Lacan, Seminário - 20, p. 116).
Como pensar a manchete "Frank Maloney, ex-boxeador, anuncia mudança de sexo"?
Maloney declarou ao Sunday Mirror: "Eu nasci no corpo errado e sempre soube que era uma mulher. Eu não posso continuar vivendo nas sombras. É por isso que eu estou fazendo isso hoje. Viver com este fardo por mais tempo poderia ter me matado". E ainda, "O que havia acontecido de errado no meu nascimento está sendo medicamente corrigido. Eu tenho um cérebro feminino. Eu sabia que era diferente do minuto em que eu me comparava com as outras crianças. Eu não estava no corpo certo".
Será que algum cientista começou a fazer experiências para mudar o sexo a partir do cérebro?
A fala e o apelo à cirurgia reparadora remete à crença n´A mulher, como um universal, à total cegueira em relação ao enigma do sexo. Ora, só há universal masculino, o homem como um todo "toma inscrição pela função fálica", justamente o que recusa, alguém que se dispõe a fazer terapia hormonal e cirurgia reparadora.
Para Lacan, a grande " questão é ... saber no que consiste o gozo feminino, na medida em que ele não está todo ocupado com o homem ,,, a questão é saber o que é do seu saber" (Lacan, Seminário - 20, p. 1118) e adiante " há um saber que não se sabe, um saber que se baseia no significante como tal". (p.129).
Uma hipótese é que, quem muda de sexo cirurgicamente acredita que saberá do gozo feminino quando conseguir mudar a anatomia corporal. As mensagens de apoio recebido, até de pessoas ligadas ao boxe, fez Maloney exclamar "Isto mostra que o mundo está mudando, ... para melhor".
De fato, o mundo está mudando... para melhor? Talvez apenas mudando...
E é com estas mudanças que a Psicanálise tem que se haver.
Matérias
Lenda do boxe, Frank Maloney fará mudança de sexo: 'Nasci no corpo errado'
Leia matéria: http://extra.globo.com/noticias/mundo/lenda-do-boxe-frank-maloney-fara-mudanca-de-sexo-nasci-no-corpo-errado-13553830.html
O ex-pugilista e um dos maiores empresários do boxe, Frank Maloney, de 62 anos, vai se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo. O inglês, que já foi casado duas vezes e é pai de três filhos, afirma que agora se chamará Kellie. A notícia chocou os fãs do esporte, que usaram as redes sociais para comentar o caso. As informações são do jornal The Sunday Mirror.
"Eu nasci no corpo errado e sempre soube que era uma mulher. Eu não posso continuar vivendo nas sombras. É por isso que eu estou fazendo isso hoje. Viver com este fardo por mais tempo poderia ter me matado", afirmou ao jornal o ex-lutador, que afirma sempre ter lutado para ocultar seu "espírito feminino".
Maloney não foi um grande nome como pugilista, mas se consagrou como um dos maiores empresários do esporte, tendo agenciado a carreira de Lennox Lewis, ex-campeão mundial peso-pesado de todas as organizações do boxe. Agora, seu novo desafio será passar pelos últimos procedimentos para a mudança de sexo.
Frank ao lado de Lennox Lewis Foto: Max Nash
"O que havia acontecido de errado no meu nascimento está sendo medicamente corrigido. Eu tenho um cérebro feminino. Eu sabia que era diferente do minuto em que eu me comparava com as outras crianças. Eu não estava no corpo certo. Tinha ciúmes das meninas", diz ele, que já faz há dois anos terapia hormonal para se feminilizar.
"Chocado!", disse um internauta Foto: Reprodução / Twitter
Aposentado do boxe desde outubro do ano passado, Maloney conta que nunca havia falado sobre sua sexualidade antes por medo. "Você pode me imaginar andando em uma sala de boxe vestido como uma mulher? Eu posso até te dizer o que eles iriam gritar comigo. Mas se eu estivesse no teatro ou no mundo das artes ninguém ligaria para isso", diz ele, que afirma estar sem interesse sexual em ninguém, no momento, e acrescenta: "A comunidade de boxe pode pensar o que quiser sobre mim agora".
Nas redes sociais, muitos fãs do esporte comentaram com surpresa a revelação de Maloney. A maioria em apoio.
From private passions to sexting: how Britain's sex life has gone public
A new film that rediscovers The Joy of Sex, which led to a revolution in the bedroom 40 years ago, also shows how today's technology can add to a couple's problems
Jason Segel and Cameron Diaz play a couple in the film Sex Tape who pick up a copy of Dr Alex Comfort's book, The Joy of Sex, to help their faltering sex life. Photograph: Sportsphoto
The Joy of Sex, edited by Dr Alex Comfort, was billed as the first richly illustrated "cordon bleu" lovemaking manual, for "sex that works". It was divided into Starters, Main Courses, Sauces and Pickles, followed by Problems (including "waterworks" and bisexuality). It promised to show "the novice how to tackle a live lobster". First published in 1972, it sold in millions and, no doubt, will sell again, as the book now carries a bright red sticker: "As seen in the movie Sex Tape."
The comedy, released in the autumn, stars Cameron Diaz and Jason Segel, as a couple with children and no sex life. They pick up a copy of the book, try out various positions and make a film, which the husband then accidentally syncs to a number of iPads which they try to retrieve, leading to episodes of blackmail and robbery.
It's a neat parody of how our private carnal world is now a narcissistic public playtime with no established rules and boundaries.
The confusions, contradictions and inclination to moral panic of this coming together of sex and technology, at a time when for many the traditional restraints on behaviour provided by church, state (patrolling, for instance, homosexual life), and a clear moral consensus have dissolved, is strongly reflected in the uncertainty around how to police female behaviour (a preoccupation for hundreds of years), cyber-safety and sexual activity.
Criminal sanctions were recently proposed on "revenge porn", in which a person releases online explicit images of a former partner without his or her consent. Last month a 17-year-old in the US state of Virginia, who sent his 15-year-old girlfriend a picture of his aroused penis, was arrested for "sexting". In one survey of 1,280 teenage girls and young adults for USCosmogirl, 20% of 13- to 20-year-olds and 33% of those aged 20 to 26 said they had sent nude or semi-nude images electronically. One survey does not flag up a trend (or moral degeneration for that matter), but potentially that is an awful lot of young people to criminalise for what is arguably, in many cases, a modernised version of playing doctors and nurses.
Concurrently, in these unpredictable sexual times, there are frequent throwbacks to the 1950s, when "nice" girls didn't, and innocence/ignorance was the prerequisite, either simulated or real, of the virginal bride. Last week Turkey's deputy prime minister, Bulent Arinc, said women should not laugh in public. "Chastity is so important … it's an ornament for women," he said to global titters.
So what are we to make of it all? How far have we really travelled in the 40 years since The Joy of Sex appeared, long before the arrival of Aids? Indeed, in these contradictory times – Tesco withdrawing pole-dancing kits for little girls even as the campaign against female genital mutilation finally gathers pace – and amid the maelstrom of influences that include faith, culture, individualism and the commodification of all experiences, is progress possible to detect, never mind map?
The National Survey of Sexual Attitudes and Lifestyles has been published every 10 years since 1990. According to the latest survey, teenagers have sex on average for the first time just before they turn 17 and the number of partners for all, on average, is relatively modest. Oral sex has grown in popularity, but anal sex is still a minority interest. More than 60% said they were satisfied with their sex lives that now, unsurprisingly, continue into older age. Sodom and Gomorrah this isn't.
The Joy of Sex was published several years after the arrival of so-called "free love". The Pill had made contraception a female responsibility; legalised abortion had limited shotgun marriages; and homosexuality was no longer a crime. Men could have sex without strings; young women were expected to comply or risk being called frigid. But sleep around too much and then, as now, a young female could earn the label of slag.
"The double standard still exists," says Sharon, 33, a photographer and a lesbian, who lives in Brighton. "Women are still judged negatively by how they dress and appear. Gender and sexuality is much more fluid in Brighton, but I wouldn't hold my partner's hand in much of the rest of the country."
Ideas about women remain quaint. Thirty-five years after Roth's Portnoy's Complaint, for instance, Caitlin Moran's novel, How to Build a Girl, has a heroine who masturbates. "It takes a long time for real change to happen," says Dr Rebecca Langlands of Exeter University, author of Sexual Morality in Ancient Rome. "In the 1960s and 70s, sexual liberation was largely about male pleasure. Female sex drive and pleasure has mainly been left out of the story so far."
In a moving book, Sex Before the Sexual Revolution, Professor Kate Fisher and Simon Szreter talked to people who had married in the 1930s, 40s and 50s. Lack of knowledge, shame, ignorance and fear existed, but there was joy, affection and pleasure there too, Fisher says – sex as part of a much bigger picture to do with mutuality, caring and sharing. "I didn't find that people were very inhibited and crippled by no sex education," she says.
Felicity, born in 1919, wife of a claims assessor, for instance, says of sex: "They do say it's the most important and the least important thing." Fisher writes: "Some of our respondents did not find themselves enjoying sex despite their 'inhibited' and private culture but rather because of it."
Today privacy is a luxury. Sexual activity, changing partners and exhibitionism seems to crowd the centre stage. One of the national survey's darker statistics is that one in 77 men and one in 10 women have had non-volitional sex. TV presenter Kirsty Wark is among critics who say access to porn risks reshaping expectations and any understanding of intimacy.
"The Joy of Sex normalised sex because the couple looked like they could live down the road," says Christina Fraser, a therapist with Coupleworks. "Porn has created ridiculous expectations and the hairless dolly. Sex should be about empowerment, not the opposite. Intimacy is about an authentic relationship and, following the gourmet analogy, while sex can be the occasional exotic treat, regular cheese on toast has its place, too."
"Most parents are worried about what their children are learning in the playground and from the internet, and they think schools are doing more than they are," says Simon Blake of Brook , which advises the under-25s on sex and relationships and is now in its 50th year. "It's ridiculous that sex and relationship education is still not compulsory. At the same time, we have to take care that that whole conversation around sex isn't about abuse, exploitation and harm. We need to say this is what a good relationship looks like with a determined focus on gender equality. We need to say, 'Only have sex when you can enjoy it and take responsibility'."
Prompting debate around such issues is the Sex and History Project, a new award-winning project, established by Kate Fisher and Rebecca Langlands. It uses historical sexual objects – a ring with metal teeth to deter masturbation; an 18th-century chastity belt – to trigger discussion. "They often see these objects as 'cool' and it starts them thinking about how sex is controlled and whether it needs to be controlled," Langlands says.
"In the classroom, teenagers are intrigued by these objects and start talking about why people feel the need to control sex and what it reveals about underlying attitudes towards gender and sexuality," she says. A group of sixth-formers were looking at a 19th-century Chinese portrait of a woman's genitalia. "It was beautiful,but one pupil's reaction was, 'She's got so many pubes – that's disgusting.' So we had a discussion about where that attitude comes from and how other cultures think differently."
Studies tell us "risky" sexual behaviour is often associated with low self-esteem, few aspirations, little income and poor education. Fix that – and the sexual health and wellbeing of the country might improve considerably; the earth will move.
Professor Andrew Oswald, a researcher into happiness, co-wrote a 2004 study , which is still relevant today, he says. It indicates that the married have 30% more sex than the single, widowed and divorced – they are happiest with one partner and that happiness equates to receiving an extra $100,000 each a year. Odds on, that is not what the experimental Comfort would have predicted.