Editorial #08
“Estou me guardando pra quando o carnaval chegar…”
Nossas férias acabaram e o Carnaval também! Porém, na EBP e na AMP temos muitos carnavais pela frente até que a grande festa pagã venha nos contagiar novamente.
Enquanto muitos rasgam suas fantasias, nós estamos elaborando as nossas para eventos que se aproximam. No dia 22 de março teremos em São Paulo uma Conversação para os membros da EBP que se preparam para o IX Congresso da AMP que ocorrerá em Paris, de 14 à 18 de abril de 2014. Muita fantasia pode aparecer para tentar falar de “Um real para o século XXI”.
A Escola Brasileira se prepara para esse evento e já calcula seus efeitos nas atividades que se delineiam para antes e depois do Congresso.
Seções e Delegações apresentam um vasto programa de investigação sobre o tema e colocarão em debate, em suas jornadas, os produtos desse trabalho.
Vocês podem conferir a riqueza desse movimento a partir do Dossiê enviado para a AMP sobre as atividades preparatórias para o seu Congresso.
Em novembro desse ano teremos o XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano da Escola Brasileira de Psicanálise. Ele ocorrerá em Belo Horizonte.
Antes dele, as jornadas locais terão aquecido os motores para nossa grande festa nacional.
Tudo isso promete um VII ENAPOL apoteótico nos dias 04, 05 e 06 de setembro de 2015. Assim esperam os organizadores!
Recentemente, conversando com um amigo, economista, que por essas contingências da vida esteve presente no VI ENAPOL em Buenos Aires, pude escutar uma definição de real que me pareceu deveras importante: “o real da psicanálise é aquilo que não podemos calcular, que aparece em todos os campos do conhecimento e que estamos sempre em busca de tentar aborda-lo. Diante dele, inventamos.”
Ele deu vários exemplos de como, em seu campo de atuação, esse real aparece e que é submetido a tentativas de controle que, todos sabem, não o alcançam.
Achei que se em um ENAPOL uma pessoa que não é psicanalista, pôde extrair essa definição e colocar em sua prática essa experiência, é porque, de alguma forma, a psicanálise de Orientação Lacaniana tem sabido transmitir o legado de Freud e de Lacan.
Um real para o século XXI é o que a psicanálise pode oferecer para o mundo como aquilo que Sigmund Freud ofereceu a partir de sua Interpretação dos sonhos. Interpretava-se os sonhos antes de Freud, porém, é com o advento da psicanálise que o mundo pôde ter acesso a uma maneira muito especial de abordar esse fenômeno. Não se tratou mais, desde então, de fazer associações de elementos que apareciam nos sonhos com premunições ou elementos de uma realidade compartilhada. A realidade passou a ser sempre psíquica.
O real que surgiu a partir daí deixou de ser a realidade a ser compartilhada e confirmada pela experiência. Esse real, tomado por Jacques Lacan, como seu sintoma, se revelou distante do que se pode pensar como o real da ciência ou da natureza, menos ainda da religião.
Um real que se apresenta na experiência de cada um diante da vida. E para que serve saber que ele existe - ou que ex-siste? Quase indagou meu amigo. Seria apenas para nos darmos conta de que há algo inefável e inexorável?
O mais interessante dessa conversa que relato para vocês é a ideia de que se a psicanálise pode oferecer para o mundo Um real, é porque ela pode, de alguma maneira, oferecer uma saída de como fazer com ele.
O texto de Jacques-Alain Miller de lançamento do IX Congresso da AMP, assim como os vários textos de Papers e Scilicet, nos orientam nessa enorme pesquisa.
Minha presidência da EBP termina no dia 22 de março de 2014 na Assembleia Geral Ordinária. Nosso próximo presidente será Luiz Fernando Carrijo da Cunha, escolhido pelo Conselho da EBP e referendado pela AMP. Desejo a ele, e ao próximo Conselho, bons anos de trabalho!
Rasguem suas fantasias do Carnaval, mas “não rasguem seus bilhetes”. Temos muitas coisas pela frente. Imperdíveis!
Uma boa leitura desse novo número do DR, sob a orientação de Marcelo Veras, nosso Diretor Geral.
Rômulo Ferreira da Silva
Presidente da EBP