EBP Debates #002

 

Samyra Assad

Nesse debate proposto pela direção da EBP, temos a oportunidade de trazer algumas leituras que a equipe do “Observatório sobre a Regulamentação da Psicanálise” fez, a partir dessa sua rubrica. Mas, antes de nos adentrarmos aos recortes do conteúdo desse debate, gostaria de salientar, a título de uma abertura com chave de ouro para este editorial, o que José Carlos Lapenda tenta viabilizar para essa comissão: uma condição de contatos mais permanentes e confiáveis na Câmara dos Deputados. Canal inédito e promissor, inclusive, para os próximos debates que virão.


Bem, para esta edição, trata-se de algo a respeito do que ocorre recentemente, em se tratando da interferência da Religião na Política e o consequente prejuízo na manutenção de uma laicidade do Estado. Este é um dos aspectos que eu trago na nota que aqui vocês poderão ler, sucedida por outro texto de Romildo do Rego Barros, no qual se observa dois momentos em que a trajetória dessa interferência se coloca: primeiramente, na tentativa de regulamentação da psicanálise por deputados evangélicos – sobre a qual mantemos vigilância constante –, e, agora, no tratamento populista da moral, com o advento da chamada “cura gay”, não sem aí se referir a outras incidências desse tratamento nas ramificações púbicas do dia a dia brasileiro, num universo que vai mais além da nossa prática clínica e institucional.


O debate então é trazido a partir dessas duas notas, quando nossos colegas do Observatório trazem, sucessivamente, suas opiniões: Oscar Reymundo inclui na discussão a referência às medidas religiosas para se derrubar a oficialização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, inclusive sua importante crítica relativa à conjunção da função pastoral com a função empresarial; Jorge Pimenta interpreta, de modo contundente, o fundamentalismo religioso como um dos tributos da desordem do real; Cássia Rumenos Guardado, com seu toque de humor, aponta a precedência cristã como figura pública não somente no Congresso Nacional, como também na “invasão”, se podemos dizer assim, sobre as decisões de instâncias que regulam e orientam a prática dos psicólogos. Em um fôlego a mais, Iordan Gurgel acrescenta o equívoco reconhecido por um grupo cristão norte-americano, a partir do qual um pedido de desculpas se fez através do seu Conselho de Administração para a comunidade gay, “por anos de julgamento indevido”.... E, como um presente, Ricardo Moretzsohn, quem presidiu o Conselho Federal de Psicologia, cedeu-nos gentilmente uma entrevista, sobre a qual é notória sua percepção acerca dos danos ao processo civilizatório a partir de tudo isso, dentre outras coisas bem interessantes que, certamente, chamarão a atenção do leitor.

 

Penso que o incremento das nossas reflexões a partir desse debate será inevitável, mesmo porque, vejo-o como uma continuidade da conversação dos Conselhos, ocorrida no último Congresso da EBP em Porto de Galinhas, no mês de abril desse ano. O tema dessa conversação foi: “De onde vem, hoje, os analistas de amanhã”? – a partir do qual pudemos discutir amplamente o relatório publicado no Boletim Um por Um n. 168, no que tange à hipótese da religião ser uma das figuras contemporâneas que visam ao regime do Mestre Contemporâneo, incidindo sobre a formação dos analistas. Mas isso não é tudo, e o momento atual nos permite observar uma metonímia pela qual se desliza a tentativa de domínio da Religião.


Logo, apresentamos para vocês as leituras passíveis de serem feitas nesse momento em que Psicanálise e Religião são colocadas à prova para dizerem a que vieram, nesse cenário político e social no Brasil do século XXI. O momento é oportuno, pois, lá onde a Religião ensaia seu triunfo, devemos advir nas manifestações que favorecem a existência de outros discursos.

 

 

EBP DEBATES ANTERIORES