EBP Debates #002

 

Oscar Reymundo

 

Oscar ReymundoDestaco da leitura da nota de Samyra a idéia do perigo que representa, para o sempre em construção regime democrático, a cumplicidade que vem se impondo na sociedade brasileira entre os passos que membros de um setor da comunidade evangélica vêm dando na direção de ocupar lugares de decisão nas diversas instancias do poder político e a ânsia de regulamentação da prática psicanalítica, por parte desta mesma comunidade religiosa. Tanto as medidas judiciais que o PSC pretende tomar para derrubar a regulamentação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, quanto a idéia de fazer valer uma cura da homossexualidade através de terapias de reorientação sexual dirigidas por psicoterapeutas evangélicos, são algumas das ações mais ostentosas, porém não as únicas, que membros desta comunidade religiosa vem realizando no intuito de influenciar nas decisões do Estado e assim poder legislar sobre a vida privada dos cidadãos. A psicanálise constitui um obstáculo nesse percurso de restituição de um Estado neomedieval. Esses pastores, que até agora tem se virado para conjugar uma versão da função pastoral com a função empresarial, são cientes da pedra que a psicanálise representa, neste século, no caminho de pretender insuflar consistência ao conjunto sustentado pelo Todo. “A religião está como “de olho absoluto” na psicanálise”, escreve Samyra. Nesse sentido, a política que este grupo de pastores segue é clara: o que não se pode derrotar deve ser neutralizado. Uma regulamentação pode muito bem se colocar ao serviço da neutralização daquilo que se quer silenciar.