EBP Debates #002

 

Cássia Guardado

Cássia Guardado

 

Para começo de conversa, o texto de Romildo, em sua clareza e lucidez, dispensa comentários.

 

Mas, quanto aos momentos da História recente em que houve um confronto entre as concepções, e mais, as iniciativas, dos evangélicos em relação à Psicanálise e as propostas de tratamentos para diferentes questões, dentre as quais a que está em destaque – a chamada "cura gay" – é emblemática, chama-me a atenção a precedência, para dizer o mínimo, auto outorgada dos nobres deputados para julgar – e deliberar – sobre o mérito de questões que requerem mais que meras articulações políticas no âmbito do legislativo e das comissões em que tais assuntos tramitam.

 

Foi assim que, no transcurso da tentativa de regulamentação da profissão de psicanalista no início dos anos 2000, a resposta dada pelas instituições sérias de formação de analistas, articuladas num movimento em defesa da especificidade de tal formação, barrou o procedimento em curso na ocasião.

 

Agora, vemos a tal precedência atacar, novamente, na pessoa de Marco Feliciano, que insiste em desconsiderar, e derrubar, decisões de instâncias legitimamente encarregadas de regular e orientar a prática de profissões regulamentadas há 50 anos – no caso, o Conselho Federal de Psicologia – com uma "desenvoltura" que, no entanto, não deixou de incluir ameaças caso haja resistência a essas deliberações, tal como o fez quando do questionamento de sua indicação para presidir a Comissão de Direitos Humanos, impondo condições para sua saída, que incluíam a saída de outros políticos de outras comissões.
Espanta-me, pero no mucho, tratando-se de nossa amada pátria, mãe gentil, a prerrogativa de tal figura pública, que se baseia em preconceitos e fundamentalismo religioso para atacar, diretamente, a laicidade do Estado brasileiro.

 

Por outro lado, me alegra muito ver nos episódios recentíssimos a reação de setores da sociedade civil que mostraram repúdio a tal arrogância: ontem, nas manifestações em São Paulo, havia um sarcófago para Marco Feliciano e, hoje, as manifestações programadas na cidade serão contra a presidência da Comissão de Direitos Humanos pelo tal ocupante do sarcófago. Convenhamos, não sem uma boa pitada de humor!