EBP Debates #007

 

Editorial

Traduza-me ou te devoro

 

Ao colocarmos no tradutor google o título de Seminário XXIV de Lacan: l'insu que sait de l'une-bévue s'aile a mourre, obtemos o seguinte resultado:

Sem o conhecimento sabe que um deslize de asa é Mourre

Mourre tanto pode ser um jogo comum na antiguidade como um tipo de flor que surge após as geadas. Com certeza pode ser muito mais...

Surge então, a partir de uma provocação feita por Éric Laurent em sua participação no Seminário haun, o desafio de pensar coletivamente ideias para o nome do Seminário no Brasil.

Um debate foi inicialmente lançado aos membros da EBP. Eis o convite que foi encaminhado:

 

Caros Colegas

 

Vamos fechar o último número do boletim Diretoria na Rede de 2013 com uma pequena enquete, que não deixa de demandar um pouco de ousadia e invenção. Estamos consultando os membros da EBP sobre que tradução dariam em português para o Seminário XXIV: L'insu que sait de l'une-bévue s'aile à mourre. A resposta poderá ser acompanhada por um pequeno texto (não mais que um parágrafo) fundamentando a proposta. Para que possamos publicar nesse número de Dezembro, sua resposta deverá nos chegar até o próximo sábado, dia 30 de novembro. As primeiras 6 respostas ganharão uma publicação da EBP!

 

Saudações


Marcelo Veras

 

Até o momento apenas nossos colegas Teresinha Prado, da EBP São Paulo e Romildo do Rêgo Barros da EBP Rio se arriscaram a tomar a palavra. Convidamos agora todos os leitores do DR a participar do desafio. Lembramos que, para as primeiras seis sugestões, seus autores ganharão um livro da EBP e ao final, uma comissão de colegas, escolherá uma proposta que merecerá um prêmio especial. Teresinha e Romildo, vamos encaminhar seus livros.

 

 

Comentários:

 

Teresinha Prado

Caríssimos,

É quase um castigo propor um desafio destes para ser justificado em apenas um parágrafo! Ainda assim, não resisti, pois se trata de um seminário que me é muito caro. Eu teria muito mais a dizer, apenas para explicar a proposta e sua relação com o seminário 24. Mas, dada a contrainte, aí vai:

 

O FRACASSABE DO UM-LAPSO VAI A-MOR-RA” (Ou: "Um não-sei que sabe do Um-lapso vai a-mor-ra")

 

O maior desafio é articular, seguindo o que Lacan propõe nesse momento de seu ensino, particularmente à moda de Joyce, que considerava a homofonia não a partir da etimologia, mas da sonoridade, do ressoar das palavras, as duas frases homofônicas do título: “O não sabido que sabe do inconsciente vai à Morra” e “O insucesso do inconsciente é o amor”. Nesse seminário Lacan propõe um saber que está fora da relação S1-S2, e que se caracteriza por um savoir-y-faire, como no exemplo que dá de sua irmã pequena, que dizia :”Manène sait” e que, diz Lacan, com isso, "vai à morra", ou 'se toma como portadora de saber' (15/2/77). Ele nos mostra que esse é o estatuto do inconsciente real, como furo, lapso, equívoco, parasita linguageiro que está fora do sentido, a tal ponto que se apresenta em terceira pessoa (‘ela sabe’). A referência ao jogo “Morra” (semelhante à nossa “purrinha”, mas sem os palitos), um jogo de adivinhação, cai aqui como uma luva, pois se trata de acertar o que não se sabe, além do fato de ser um jogo que precisa (como o amor) de pelo menos duas pessoas para acontecer...   

Abçs,

Teresinha N. Meirelles do Prado.

 

Romildo do Rêgo Barros

Prezado Marcelo:

A tradução desse título de Lacan tem dois níveis. Ou pelo menos dois. Um primeiro, fonético,  daria algo como "O insucesso do inconsciente eh o amor". Se a tradução for literal, já eh mais dificil, sobretudo a segunda parte: "O não sabido de um tropeco, s'aile a mourre". A mourre eh um jogo parecido com nossa porrinha. Mas, como traduzir? Será que os argentinos conseguiram em espanhol...?

Um abraço,

Romildo