Dobradiça de Cartéis

Outubro de 2013

DOBRADIÇA DE CARTÉIS Nº 5

Boletim eletrônico dos cartéis da EBP

 

Dobradiça de Cartéis

 

 

Editorial

O CARTEL: SEMPRE PRECÁRIO E PROMISSOR

Cristiana Gallo

Comissão de Cartéis da EBP

 

“O cartel está firme na EBP, a seu modo, sempre precário e promissor”.


Começo lembrando a vocês estas palavras de Marcelo Veras no último Editorial do “A Diretoria na Rede”, saindo da Jornada de Cartéis do Rio de Janeiro, por algumas razões...


A primeira é muito simples:


Este número do Dobradiça de Cartéis apresenta a toda à comunidade analítica da EBP três trabalhos apresentados nesta Jornada do Rio,  envolvendo-os com a discussão e o entusiasmo noticiado pelos participantes deste importante encontro. Os textos de Maria Josefina Sota Fuentes, Gilda Pitombo Mesquita e Vânia Brito Gomes refletem o trabalho que o cartel promoveu, resultando em escritos que transmitem um importante ensino.


Além disto, penso que falar de algo entre precário e promissor sintetiza de forma importante a experiência com o Cartel, com a Escola, com a formação do analista, pois se trata – servindo-me dos dizeres de Elza Freitas na Abertura desta mesma Jornada –, de uma aposta que se lança: é o nosso grão de areia que, antes a deriva, se aloja em “um pequeno grupo”, de onde depois podemos recolher nossa pequena pérola, nosso “pequeno achado”.

 

Este produto que advém da contingência do encontro é o que se transmite a cada texto aqui apresentado e que traduz a experiência de cada um com o Cartel, com a Escola: os textos de Maria de Fátima Santos Luzia e Valéria Ferranti, apresentados na Noite de Cartéis de São Paulo, e o de Rosemarie Fernandes Mooneyhan de Natal, nos traz particularmente os efeitos desta experiência.

 

 Ainda “viajando” nas metáforas de Elza, talvez possamos pensar que não nos basta uma pérola, mas caminhamos para os colares, círculos de pérolas que se entrelaçam, se enodam, seguem em movimento, falam de nós!


Acredito que o precário e o promissor nos adverte que cabe relançar apostas, seguir apostando, pois não se aposta de “uma vez por todas”, pois ainda nos caberá sustentar o resultado obtido no jogo, a cada vez.
Penso que o entusiasmo que ressoou dos trabalhos que nos chegam do Rio de Janeiro e de São Paulo nos colocam na via do “promissor”, dos novos enlaçamentos. Deixarei que eles falem por si, “contagiando-os” com suas experiências – como disse Pepita em nossas comunicações.


Concluo com uma “Abertura”, as palavras de Elza Freitas dando início a Jornada de Cartéis do Rio de Janeiro, o que me pareceu ser um bom começo para a nossa leitura!

 

Hoje, aqui, temos o cartel em duas de suas faces inseridas na EBP/AMP. Pertence ao funcionamento, ao administrativo, já que tendo função executiva é Diretoria. Mas pertence à Psicanálise no que essa tem de mais essencial, de menos burocrática, pois há lei mas há também a indeterminação, a contingência e o consentimento ao inconsciente.


O cartel é um dispositivo que desde sua criação por Lacan ficou destinado a uma posição de desconforto, de entre dois. É seu destino o desconforto. Isso se dá porque comporta dentro de si (o
mais-um) o objeto que causa, encarnado. O próprio cartel ocupa também esse lugar no seio da Escola. Órgão de base que se pressupõe agitador e instigante, está ao mesmo tempo dentro e fora, sem lugar de mestria mas sustentador de precipitação de saber. Foi colocado desde a fundação da Escola, estatutariamente. Pode ser como uma pedrinha no sapato do hierárquico, e pode ser também  como o grão de areia que de dentro da ostra a obriga a uma secreção de um produto. Por seu desejo e por rigor lógico Lacan o fez assim. Não é um dispositivo meramente utilitário, embora possa ser muito útil a cada um de nós e à Escola. Infelizmente não somos ostras e então o que produzimos no nosso caso, é um saber, ou são saberes. Já disse em outro lugar que, além de produzir saber, o cartel produz Cartel. Vejamos que pérolas iremos colher e como vamos também aferir nossa capacidade de reconhecê-las, já que o saber sem mestria não vem destacado por títulos ou iluminados pelo neon, muitas vezes necessário ao funcionamento institucional. O saber sem mestria vem discretamente, às vezes, e estrondosamente outras vezes, seja qual seja a posição hierárquica do autor. Esse saber advém singularmente, ao sujeito revelando-o só como no momento de nascer e de morrer. É de risco esse lugar em que estamos ao falar. Foi de risco a aposta de Lacan. Assim foi fundada a Escola por esse Lacan tão só quanto sempre o foi. Essa solidão força sempre a coragem de uma aposta. No um a um do cartel ela é invocada. E o mais-um mora nela. Esse momento de aposta radical, que buscamos em nossas análises, chega para cada um da escola em uma hora particular. Não esqueçamos, no entanto, que Lacan também teve parceiros, colegas, amigos, inimigos, e em nome da Psicanálise, negociou, trocou e pagou preços às vezes altos para criar a Escola. Assim vamos nós todos negociando. Lanço agora uma pergunta, pois a Jornada já vai começar e não tenho tempo para pensar. Nessa metáfora da aposta, trazida por Lacan, onde fica o blefe? Assim como o tempo lógico indeterminado frente ao relógio desencadeia o ato, no cartel o fator tempo é determinado e isso também tem consequências. No  cartel é a finitude datada claramente que vai propiciar que as ideias coagulem, e vai dar-lhes forma e sempre as mantendo inacabadas, abertas para o que der e vier. As formas pelas quais os cartéis têm se apresentado vem mudando e aumentando em número nos dias de hoje. Isso garante sua vitalidade. Mas tem que guardar algumas características sine qua non.  Primeiro é um dispositivo de Escola, não existe fora de uma Escola. Segundo é balizado pela existência do mais-um, ao qual em funcionamento é exigido um lugar de elemento vazado e cujo desejo é o giro do Cartel. Terceiro,  seu tempo tem que ser fechado, dois anos, ou uma noite. Finalmente, sua produção será levada a céu aberto. Por razão desses princípios, e também por razões de organização prática, essa jornada vai nos levar num torvelinho. Conto com o fervor de vocês, o entusiasmo e as ideias. Agradeço muito a presença de todos. Apostas fechadas começa o jogo com as cartas que virão agora para as mesas.  

 

Escrita cartelizante

Trabalhos apresentados na Jornada de Cartéis EBP-RJ em 31.08.2013

 

POR QUE O CARTEL HOJE?

Maria Josefina Sota Fuentes

 

Como todos sabem, em 2014, o dispositivo do Cartel completará meio século de existência desde que foi criado por Lacan, em 1964, no Ato de Fundação de sua Escola.

 

A pergunta que então vou tentar responder nesta ocasião é por que razão mantemos hoje o Cartel em nossa Escola? E o farei como cartelizante.   Como talvez vocês saibam, nesta Diretoria, a Comissão Nacional dos Cartéis da EBP trabalha em Cartel. Ao ser convidada por Marcelo Veras para ser a Diretora Secretária da EBP, com Glacy Gorski como Tesoureira, chamei Paola Salinas, Inês Seabra, Cristiana Gallo, Cristiane Barreto para compor a Comissão Nacional dos Cartéis da EBP e trabalhar em Cartel. Escolhemos então Carlos Augusto Nicéas como mais-um para desenvolver justamente o tema dos Cartéis na EBP, meu próprio tema, a fim de alinhar a política dos Cartéis nesta Diretoria ao trabalho epistêmico.

 

Claro que não convém simplesmente dizer que se trata de uma tradição do tipo: Lacan inventou e desejou que o dispositivo fosse o órgão de base de sua Escola e por isso, nós no automaton da Instituição, mantemos o Cartel, sem, inclusive, incorrer no mesmo erro que Lacan tanto criticou em 1964, justamente quando criou o Cartel: a sacralização do Nome-do-Pai na psicanálise na manutenção religiosa dos termos de Freud, tal como ocorria na IPA, da qual Lacan foi “excomungado”, tal como ele mesmo interpreta a instituição psicanalítica que o pôs para fora em 1963.

 

O Cartel foi criado como uma resposta a um problema que Lacan então diagnosticou e que é crucial elucidar para saber se o Cartel é ainda o melhor que temos para lidar ele. Inclusive, quando atualmente se fala em crise nos Cartéis, se é que ela existe, ou da “falta de entusiasmo” pelo Cartel no mundo – tal como JAM o indicou há anos, numa intervenção na Jornada de Cartéis da ECF em 1994 – tão importante quanto saber do destino do Cartel é saber que consequências a simples presença ou não deste dispositivo implica para nossa Escola.

 

Embora os números não entreguem nenhuma verdade, não deixa de ser expressivo que no Catálogo dos Cartéis da Escola da Causa Freudiana do ano passado constassem 286 cartéis, o que quer dizer, mais ou menos, 1400 cartelizantes inscritos na ECF a partir do trabalho singular que cada um deles realiza em Cartel. Tampouco é irrelevante que 237 cartéis estejam registrados hoje na EOL, ou seja, que numa Escola com 516 membros, mais de 1000 pessoas trabalhem em Cartel. É verdade que o mesmo não acontece em todos os lugares do Campo Freudiano. Soubemos, graças ao Boletim Dobradiça, criado na Diretoria anterior por Ondina Machado e sua equipe, da qual Heloísa Telles foi coordenadora, que, em outro extremo, na Espanha, por exemplo, havia somente 7 cartéis declarados, cujo trabalho parecia render poucos frutos ou nenhum produto, segundo avaliava a então responsável pelos cartéis na ELP, Liana Velado.

 

Passemos então ao cenário da EBP. Segundo nossa última atualização da página dos Cartéis no site – que é feita semanalmente por Paola Salinas, a Coordenadora atual da Comissão dos Cartéis, e Cristiana Gallo –, onde registramos a declaração dos novos Cartéis feita pelos mais-uns, como também a retirada daqueles que se dissolvem após no máximo 2 anos de funcionamento, temos o seguinte panorama: numa Escola de pouco mais 200 membros que é a nossa, temos hoje 71 cartéis inscritos, ou seja, aproximadamente 340 cartelizantes.

 

Constatamos que os Cartéis continuam sendo uma porta de entrada importante na EBP, tal como pensou Lacan em 1964, já que, frente à demanda de inserção na Escola, esta sempre poderá responder abrindo suas portas àquele que deseje entrar como “cartelizante”, isto é, como um trabalhador decidido da psicanálise. É, aliás, a boa maneira de responder à demanda de reconhecimento, de títulos e garantias – tal como faz o analista que também subverte a demanda que lhe é endereçada de alívio e bem-estar, isto é, de psicoterapia, que invariavelmente se apresenta, colocando o analisante ao trabalho e fazendo assim frente à vocação à preguiça e à ignorância, própria da repressão, que nada quer saber do real em causa.

 

No catálogo dos Cartéis da EBP que vocês podem consultar no site, temos então atualmente 340 pessoas inscritas, entre as quais 250 não membros de Escola, que ali inscreveram como “cartelizantes” e que podem assim se manter vinculados à nossa Escola pela transferência de trabalho. Ao lado destas 250 pessoas, temos 80 membros de Escola trabalhando em Cartéis e 10 aderentes – o que não é pouco, mas é fato que não são todos os membros que trabalham neste dispositivo. Certamente não há razões para um imperativo do tipo todos em Cartéis, do mesmo modo que o Passe não é uma exigência para todos, mas ter tais dispositivos no horizonte não deixa de ser uma orientação política que incide nas análises e na “formação” dos analistas. É uma questão para nós, contudo, que alguns membros de Escola cheguem a recusar o lugar de mais-um quando esta demanda lhes é endereçada por quatro pessoas que o elegem a partir das transferências de trabalho, e que, inclusive, em alguns lugares, faltem mais-uns disponíveis para a formação de novos Cartéis (lembrando que o mais-um deve ser preferencialmente um membro de Escola). Quando isto ocorre, a Comissão Nacional de Cartéis procura encontrar junto a cada Diretor local soluções para que as demandas daqueles que se dirigem à nossa Escola sejam acolhidas, viabilizando a formação de novos Cartéis.

 

Então, vamos ao problema. Em 1964, no Ato de Fundação, Lacan inventou o cartel como órgão de base de sua Escola em resposta à IPA que ele chamou ironicamente de SAMCDA, a Sociedade de Assistência Mútua Contra o Discurso Analítico, que se edificou, segundo a interpretação de Lacan, justamente para que seus membros, “os analistas”, pudessem se assegurar recíproca e imaginariamente de que “O” analista existe. Para tanto, fundaram uma sociedade em torno do legado de Freud, o Pai morto da psicanálise, que garantiria a todos ali a identificação imaginária ao mestre que funcionaria, na psicologia da massa dos analistas, como um Ideal de Eu, o ponto desde onde cada um dos analistas se vê reconhecido e amado como tal, graças a operação do recalque que vela o real em jogo, no caso, o saber de que “O” analista não existe nem na melhor lista de analistas.

 

A letra morta freudiana, seguindo a interpretação de Lacan, veio justamente como um tampão para nada saber desse furo do real do grupo, do qual Lacan parte para situá-lo no coração da Escola que ele então funda, erguida a partir da questão: o que é o analista e, consequentente, o que é a psicanálise?

 

Ir além dessa sacralização da psicanálise e dos conceitos psicanalíticos é o que Lacan propõe, em 1964, no ato de separação também do inconsciente freudiano, já que, nem mesmo o inconsciente é passível de ser apreendido. Fascinados pelo lugar das divindades ocultas, os analistas, para Lacan, ficaram tão maravilhados pelas significações que dele emanavam, que deixaram cair o essencial em questão: que o inconsciente é ruptura, é aquilo que escapa, é o que emerge num corte do discurso, e que nem mesmo o Pai-Freud pode nos garantir de que ele exista! Ele é ético e não ôntico, depende do desejo de cada um que, instalando com seu ato o discurso analítico, o Sujeito Suposto Saber, possa fazer emergi-lo como tal.

 

É, portanto, radicalmente distinto supor que tanto o saber inconsciente como o saber da psicanálise estão aí já prontos, como uma letra morta, à espera para ser arrancado do inconsciente ou adquirido nos livros, nos Seminários, nos Cursos, quando, a rigor, “não há formação do analista, só há formação do inconsciente”, adverte Lacan! Não há lei de formação do analista, nem saber pronto que garanta a existência do analista ou da psicanálise. Assim, entre o Inconsciente determinado pelas leis do significante de um primeiro Lacan leitor de Freud, ao Inconsciente que se liga a um real, ele mesmo indeterminado, está o corte de 64, do qual nasceu a Escola de Lacan e o Cartel como órgão de base, esse objeto separador com o qual Lacan responde de uma só vez aos impasses dos efeitos imaginários do grupo que ergueram uma IPA contra o discurso analítico, como também indicando o saber que convém ao psicanalista. Este não é um saber universal pronto para ser assimilado pelo sujeito do conhecimento, mas aquele que poderá ser produzido um a um, como um efeito de sujeito, a partir de uma questão singular que emerge no ponto onde uma enunciação se faz presente, ali onde o Outro não responde por estrutura.

 

Lacan, em 1964, propõe então uma Escola não de analistas, mas para a psicanálise, o que é diferente! Na sua entrada, ele designava não o analista, mas o “trabalhador decidido”, ou seja, o cartelizante que realizará um trabalho, ou melhor o trabalho da Escola, que é o de fazer avançar a questão sobre a psicanálise e o analista.

 

Uma Escola para a psicanálise implica que seus trabalhadores possam enfrentar a angústia diante do real que emerge. É a lição de Lacan do seu Seminário anterior sobre a angústia. Nada mais previsível, já nos ensinava Freud, do que defender-se, proteger-se diante da mobilização da angústia que irrompe frente ao real que se desvela, como quando se retira uma resposta que obturava o furo no saber, que Lacan designou com o matema S(A) barrado. A angústia dos analistas pode ser assim apaziguada no grupo que se garante nessa Assistência Mútua que parte do desconhecimento da Causa analítica mesma, ou seja da Coisa Freudiana que a própria Instituição como grupo tende a deixar cair, quando quem, por estrutura, deve suportar ser um resto caído, rebotalho, é o analista mesmo.

 

Quanto mais o analista se garante, tanto mais ele deixa cair a psicanálise mesma! Por isso mesmo, tampouco se trata de dispensar o coletivo, a Instituição, que é justamente o caso do analista solitário que se garante a si mesmo e que não precisa do Outro para interrogar-se sobre o lugar do analista e construir um saber sobre a experiência da qual ele mesmo faz parte. 

 

A Escola com seus dispositivos – o Passe, o Cartel, a Permutação das instâncias, são os antídotos que Lacan inventou para minimizar os efeitos imaginários do grupo contra o discurso analítico, mas que tampouco garantem que os analistas na sua Escola também não deixarão cair a psicanálise mesma! Razão pela qual ele mesmo dissolveu sua Escola sacrificando a instituição a favor da psicanálise.

 

Hoje para nós, certamente não é mais a IPA uma questão como foi em 64 para Lacan. Talvez na batalha dos saberes do discurso da ciência aliado ao discurso capitalista contra o saber inconsciente, o Cartel ainda possa ser uma aposta política importante. Mas, sobretudo, não podemos deixar de nos perguntar: se deixarmos cair o Cartel, o que virá em seu lugar? A doença normal do grupo como defesa contra a psicanálise?

 

Teríamos outras respostas para a pergunta de Lacan que ele se faz precisamente no dia 15 de abril de 1975, no seu Seminário RSI: Por que o cartel?

 

Será então a vez de fundamentar a resposta no nó borromeano aos efeitos imaginários inevitáveis do grupo, no coletivo que a psicanálise finalmente também não pode dispensar. O mais-um poderá ser então esse líder que não é o líder do recalque que esmaga as diferenças, nem rejeita o real sobre o qual repousa todo grupo, mas que garante a amarração borromeana enlaçando cada a um ao um coletivo mais digno – a propósito da dignidade, como nos ensinava Romildo na última Jornada de Cartéis ocorrida em junho em BH, cuja conferência vocês poderão ler no nosso boletim Dobradiça de Cartéis n.2.  

 

Podemos então dispensar o Nome-do-Pai, como quis Lacan em 64, sob a condição de que dele nos sirvamos, não como uma falsa garantia que vela o real que nos concerne, mas como uma causa, a Coisa freudiana, que repousa sobre um furo, para não deixar cair a psicanálise mesma.

 

ATO POÉTICO: ENTUSIASMO NO AMOR*

Gilda Pitombo Mesquita

 

“Se o poeta for casto nos seus costumes, também o será nos seus versos, a pena é a língua da alma: quais forem os conceitos que nela gerarem, tais serão os seus escritos”.
Miguel de Cervantes

 

Neste texto, pretendemos nos servir de um clássico da literatura universal para pensarmos o ato poético e sua relação ao amor, a saber: “O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha”, de Miguel de Cervantes. O Dom Quixote cervantino é um louco fascinante, cheio de histórias encantadoras e sua leitura nos arrebata para situações inusitadas. O louco aparece na ficção para declarar verdades incômodas. O ato em psicanálise é desta ordem, na medida em que causa rupturas. Lacan cita o exemplo de Julio Cesar atravessando o Rubicão. A partir deste ato, Julio Cesar invade a terra mãe (Roma) e transforma a república em Império.

 

No Seminário “O ato psicanalítico”, Lacan (1967-1968) dirá que não é de um agir que se trata, pois não se encontra na ordem do pensar, por isso não é uma conjetura nem uma prática. O ato se inscreveria mais do lado da poesia. Ele utiliza o termo poesia em grego, ttoínon e se refere a Aristóteles, quando este afirma que a poesia vem de fora do sujeito. “Algo que toma o sujeito”, e é neste sentido que Lacan se define como um poata, não um poeta. Na verdade, o analista é o poata, é um poeta do ato, porque no ato é que ele se deixa tomar pelo inconsciente. O poeta se deixa tomar pelo inconsciente e revela algo que ele próprio não sabia.

 

No amor por Dulcineia Del Toboso, Dom Quixote sempre se revela delirante, o que me levou ao texto de Platão, “O Banquete”, especificamente ao discurso de Fedro sobre o tema: “se o amor é um delírio é preciso condená-lo por ser um delírio ou não haveria alguma virtude neste delírio?”. O personagem Fedro começa elogiando Eros como fonte dos maiores bens, inspirador dos amantes e instigador do arrebatamento nos heróis.

 

Sócrates, outro personagem do “Banquete, recorre à Diotima, que era uma sacerdotisa e para quem Eros não pode ser um deus, afinal, quem ama deseja algo que não tem, logo, o amor é uma carência. Segundo esta sacerdotisa, se o amor é uma busca, ele é um movimento que parte da falta e vai em direção a uma possibilidade de plenitude. Mas, se ele se tornar posse, deixa de ser o que é, pois perderá a qualidade de ser intermediário. O amor é decisivamente “um ser entre”. Amar, então, é gerar na beleza, ou seja, produzir algo perante o que é belo. Desse modo, quando o ser carente encontra o que busca na beleza ou na excelência do outro, torna-se “grávido” e tem necessidade de gerar. Amar significa buscar recursos para lidarmos com nossa mortalidade.

 

Retornando ao discurso de Fedro: segundo ele, haveria tipos diferentes de delírios divinos dependendo do deus responsável pela possessão. Ou seja, ser possuído pela musa leva-nos a fazer poesia. Neste discurso, Platão diz que o entusiasmo é uma possessão divina. Em grego, a palavra entusiasmo quer dizer, literalmente, endeusamento ou ser inspirado pelos deuses .

 

Dom Quixote mantém o amor como “um ser entre”, possuído pela musa inspiradora sem-par, Dulcineia Del Toboso, cria poesias. Em outro episódio, Sancho, que era muito esperto, vendo que seu amo não estava em seu juízo pleno, desobedece a certas determinações do patrão como, por exemplo, ir a Toboso entregar uma carta para Dulcineia. Ele tenta uma saída, pois sabe que ela não existe a não ser na imaginação do cavaleiro da triste figura. Sancho vê que pela estrada vêm, em sua direção, duas mulheres montadas em burricos. Ocorre a Sancho a ideia de enganar Dom Quixote, tentando convencê-lo que é Dulcineia que vem se aproximando. O nosso anti-herói se arruma e vai ao encontro de sua amada. Sancho pensa que, sendo Dom Quixote maluco, provavelmente iria acreditar que a mulher era realmente Dulcineia. Mas, para sua surpresa, o amo reconhece que não era Dulcineia. Elas são camponesas. É inacreditável que, quando as condições são favoráveis para enganá-lo, ele não se deixe levar pela sua delirante imaginação (GULLAR, 2005).
            Lacan (1956-1957) situa três elementos que entram em cena no amor: o amante, o objeto amado e o para-além do objeto. E o que estaria nesse além senão a própria falta? Justamente por isso ele diz que “o dom dado em troca não é nada”. Então, o amor é dar o que não se tem a quem não quer. A relação de Dom Quixote com Dulcineia ilustra muito bem esta questão do amor, pois o acento está no amor, e não no objeto amado. Esse acento comparece no amor cortês, na concepção barroca de amor. E Pessoa (apud SILVA, 2011) afirma que o que se ama é o próprio amor. Essa também seria uma frase possível de Dom Quixote: “Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar...”.

 

Dulcineia não existe. Só no imaginário delirante do cavaleiro da triste figura que existe “A Mulher”: completa, sem falta. O ato poético é o destino sublimatório desse encontro com o real. No ato da escrita, Cervantes acessa algo inominável e inacessível do real, pois na realidade Dulcineia não existe mesmo e o texto acabou se eternizando como uma história de amor impossível, como Romeu e Julieta, de Shakespeare, e Beatriz, de Dante. Trata-se no amor de uma ficção que deve ser tomada literalmente ao pé da letra.

 

O ato poético é força sublimatória. O ato aponta para o âmago do ser, logo toca o gozo. Lacan (1972-1973, p. 112) assinala que “falar de amor é, em si mesmo um gozo”. Mais adiante completa: “a única coisa que se pode fazer um pouco de sério é a letra da carta de amor” (Ibid., p. 113). O único ato de amor de Dom Quixote em relação à Dulcineia foi escrevê-la. Lacan ilustra com o exemplo de Madeleine com Gide, o escritor francês que escrevia cartas de amor para Madeleine, mas não tinha relações sexuais com a esposa.

 

A sublimação depende da dimensão narcísica do eu. Freud (1908) refere-se ao termo para dizer que é um tipo particular de atividade, de destino pulsional: a criação literária, artística e intelectual. Não tem nenhuma relação aparente com a sexualidade, mas extrai sua força da pulsão sexual, na medida em que esta se desloca para um alvo não sexual, investindo em objetos socialmente valorizados, tais como as obras, as criações literárias, as poesias etc. A partir do Seminário “A ética da psicanálise” (1959-1960), Lacan define a sublimação como sendo “o objeto elevado à dignidade da coisa, das Ding”. Um pouco mais adiante ele dirá que: “toda arte se caracteriza por um certo modo de organização em torno desse vazio” (id.162). Assim sendo, “em toda forma de sublimação, o vazio é determinante” (Lacan, 1959-1960 p.162).

 

No Seminário “O ato psicanalítico”, Lacan (1967-1968) reafirma que não há amor que não dependa dessa dimensão narcísica. O que se opõe ao narcisismo, a chamada libido objetal, não teria nada a ver com o amor, uma vez que o amor é o narcisismo e a libido narcísica e a objetal se opõem. Não há um dualismo, ou isso ou aquilo, ou eu ou o outro: o eu é o outro.

 

Dom Quixote ficou à disposição da poesia – quer dar encantamentos cheios de entusiasmos. No Seminário “O desejo e sua interpretação”, Lacan (1958-1959, p. 262-263) afirma que “as criações poéticas engendram mais do que refletem as criações psicológicas”. Em “Nota Italiana”, Lacan (1973) dá ao entusiasmo um lugar de importância no final de análise. Diz que sem entusiasmo não há analista. No final de uma análise o sujeito adquire um saber sobre o seu inconsciente. No Seminário “O ato psicanalítico”, Lacan ressalta que o final da análise se traduz por essa coisa não somente formulada, mas encarnada, que se chama a “castração”. O final de análise não é o reencontro com o objeto: é o encontro com a falta de objeto. O analista é aquele que vem, ao termo da análise, suportar não ser nada mais que este resto. Porém, o que se espera é que, depois de um processo de destituição narcísica ao longo de uma análise, o analista possa ter um entusiasmo com a vida, ou melhor, com o amor e, quem sabe, ser um poata?

 

Referências bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. Profanações. Trad. Selvino Assman. São Paulo: Continental, 2001.
BERNARDO, Gustavo. O Livro da Metaficção. Rio de Janeiro: Tinta negra, 2010.
CERVANTES, Miguel de. O engenhoso cavaleiro D. Quixote de La Mancha. São Paulo: Editora 34, 2007.
FREUD, Sigmund. Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna. In: FREUD, Sigmund, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1908, vol. IX.
GULLAR, F. O Encontro de Quixote e Gullar. In: MONTE, S. 400 anos de Paixão. Rio de Janeiro: EMERJ, 2005.
JORGE, Marco Antônio Coutinho. Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan: a clínica da fantasia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002, vol. II.
LACAN, Jacques (1956-1957). O Seminário, livro 4: A relação de objeto. Trad. Dulce Duque Estrada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995.
_______________(1958-1959). O Seminário, livro 6: O desejo e sua interpretação. Inédito.
_______________(1967-1968). O Seminário, livro 15: O ato psicanalítico. Inédito.
_______________ (1972-1973). O Seminário, livro 20: Mais, ainda. Trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985.
_______________(1973). Nota Italiana. In: LACAN, Jacques. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
PLATÃO. O Banquete. Trad. José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1991.
ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da Loucura. Trad. Francisco Wiel et al. Campinas: Pontes, 1992.
SILVA, Paulo Neves da. et al. Citações e Pensamentos de Fernando Pessoa. São Paulo: Ed. Leya, 2011.
* Este trabalho foi produto do Cartel O Ato Psicanalítico que teve como cartelizantes Angela Duarte, Christiane da Mota Zeitoune, Elsa Santos Neves, Érica Levy, Gilda Maria Pitombo Mesquita e Romildo do Rêgo Barros como mais-um.

 

UMA LEITURA DO COLETIVO DIGAÍ-MARÉ A PARTIR DO OBJETO a DE LACAN.

Vânia Brito Gomes


O Digaí-Maré é um projeto que funciona há 8 anos no complexo da Maré e que tem no centro de sua pesquisa o atendimento em grupos, grupos pequenos, de 4,5 pessoas e um clínico (psicanalista). Buscamos extrair dessa experiência os impasses, os limites e as possibilidades desse dispositivo, apoiados na orientação da psicanálise lacaniana. Para isso, costumamos dizer: não fazemos “grupo”, chamamos de “coletivo”, pois ao privilegiarmos o que se destaca como o mais singular do sujeito, o que, portanto, não é partilhável, estabelece-se uma tensão. Parece-nos interessante.


Estamos então sempre às voltas com a questão de localizar que elementos circulam nesse coletivo e o que opera nesse dispositivo. A partir da hipótese de que algumas vezes a fala de um é tomada pelo outro, num ponto distinto à via do sentido, e que, assim, mais do que produzir outras falas, alguma coisa se localiza e produz efeitos de sujeito, interessei-me em fazer esse cartel do objeto a(1).


Instigada pela idéia que Lacan desenvolve no Seminário 10, de que há algo que não se presta à dialética significante, de que há um resto que permanece inapreensível pela via do significante, que o levou à construção do objeto pequeno a, pela via da angústia, interroguei se poderia me servir dessa referência para pensar o que, no coletivo, aponta para o singular.  

 
Trarei então um pequeno fragmento de um encontro de um grupo(2) de 6 mulheres, em que a intervenção de uma participante, Maria, na fala de uma outra, Rita pareceu produzir um deslocamento importante na posição em que Rita chega para tratamento no Digaí-Maré.


Rita é encaminhada para o Digaí porque “bate na emergência a toda hora”. Explica que, de repente, começa a sentir uma coisa no peito, uma angústia, treme toda e chega a desmaiar, lhe parece que “o corpo está no lugar errado”. Indica assim um corpo sem lugar, algo foi perdido.


Em seu relato inicial não é possível introduzir uma pergunta, sua fala é contínua. Rita se apresenta como a “cabeça da casa”, diz que o marido é alcóolatra e os filhos “gananciosos”. Só ela trabalha e sustenta a todos, tudo na casa passa por ela, mas apesar disso, sua “casa virou bagunça”.


Fala de uma decepção amorosa com seu marido. Conta que quando o marido perdeu o emprego, começou a beber e que isso destruiu a família que até então ela considerava completa. Rita se vê agora mais mãe do marido do que sua mulher e acrescenta: “preguei com martelo”. Sua vingança é quebrar as coisas em casa, atitude que interpreta como uma forma de não agredir ninguém.


Conta que sua mãe era cúmplice de suas loucuras quando menina. Seu pai não permitia que ela fosse às festas e a mãe a deixava sair escondida. Quando o pai descobria, sua mãe a defendia e apanhava. Ele “só não marcava seu rosto”.


Maria, outra pessoa do grupo, muito religiosa e que traz os ensinamentos da igreja para responder aos impasses levados pelo grupo, reage à essa cena que Rita descreve, dizendo: Para mim, isso é “assédio sexual”. Explica que acha que eles “brigavam para depois fazer sexo”. Dá um primeiro sentido à essa briga, fazendo uma conexão do corpo com uma satisfação, uma satisfação da ordem de um gozo sexual.
Rita, fisgada por essa constatação, é remetida a seu lugar na fantasia. Ela diz: “há quatro anos não faço sexo com meu marido”. Antes ele tinha emprego e amantes. Ela ficava atrás, descobria as mulheres e batia nelas. Quando o marido voltava para casa ela cumpria com seu dever, como sua mãe lhe ensinara. Por um tempo fez uma tabela com os dias em que ele podia procurá-la, e ele obedecia. No entanto o marido saía para a rua quando queria, Rita diz que ele “a enfrentava”. Depois que perdeu o emprego e as mulheres ele parou de topar as brigas com ela, e Rita então decidiu não fazer mais sexo. Conta que algumas vezes, com raiva, parte para cima dele, morde sua cara, e ele não faz nada.


Num primeiro tempo algo de sua fantasia é materializado no corpo: o corpo vivo é o que bate, morde. O preço de seu gozo é marcado pelo pai no corpo da mãe, com brigas. É essa cena que sustentava a suposta relação com o marido e enquanto este topava as brigas ela assim entrava na série das mulheres. Quando saem as mulheres da vida do marido, algo cai e Rita “prega com martelo”, decide não fazer mais sexo, mas marca o rosto dele. Rita crava o gozo no corpo produzindo um sintoma.


A fala retorna para Maria, que diz: “quando casei, meu marido não queria nada comigo, eu dormia nua a seu lado e ele nem percebia”. Maria lê na Bíblia que o corpo do homem é da mulher e o da mulher é do homem, então decide não cozinhar nem lavar suas roupas até ele fazer sexo com ela. Ele agora a procura, no entanto, vê filmes pornô na internet. Ele vê e ela quer fazer! O uso que Maria faz do discurso religioso fica claro nessa fala, e se apresenta a dimensão de semblante de objeto na relação sexual, marcada pelo desencontro.  


Rita se desconcerta, e pergunta: é verdade que meu corpo é do meu marido? Pede uma confirmação. Silencio. Uma outra pessoa diz que o dela não é. O marido quer todo dia, mas para ela duas vezes por semana está bom.


Interrompo o grupo pois algo importante ressoava para Rita que fica com a pergunta: “É verdade que meu corpo é dele?”


Introduz-se um segundo tempo: o corpo do outro como sexuado faz vacilar para Rita o ponto onde gozo e corpo se “pregam”, introduzindo o enigma do desejo do Outro.


Seguindo Lacan no Seminário 10.


O desejo do Outro não me reconhece (...) ele me questiona, interroga-me na raiz mesma de meu próprio desejo como a, como causa de desejo, e não como objeto. (Lacan, 1962-3, pág. 169)
Interrogar-se como a, como causa de desejo para o Outro, supõe um furo no Outro. O que vai introduzir a dimensão do discurso. Rita começa a se envergonhar de sempre colocar o dedo na ferida dos outros. Pergunta-se por que faz isso? Indícios do engendramento do sujeito a seu gozo. O que ela fisga na fala de Maria, o que ela recolhe é esse resto inapreensível que a convoca a responder como sujeito?


Os desmaios cessam, efeitos terapêuticos.


Seu marido morre repentinamente, mas o trabalho de luto que Rita inicia inclui agora uma parceria. Ela diz: “não sei se consigo ser mãe de meus filhos sem o meu marido” e conta que quando levava uma cantada no trabalho, sua saída era dizer: “sou casada e feliz”. E agora? Vai tecendo histórias ao redor de como ela era mulher para esse homem.


Há também uma certa subtração no gozo das brigas, brigas essas que antes aconteciam no meio da rua, na frente dos  vizinhos e agora passaram para dentro de casa. Tem deixado que seus filhos resolvam suas desavenças sozinhos e percebe que eles estão se virando. 


Rita tentava de diversas formas tapar a falta no Outro, e isso só produzia a certeza da angústia. Nessa virada, a falta recoloca-se no campo do Outro, do lado do Outro e do lado do sujeito, e Rita tem que se virar com ela. É desse ponto que inicia seu trabalho.


A angústia como sinal “de uma forma irredutível sob a qual esse real se apresenta na experiência”(3) produz o objeto pequeno a. É com isso que lidamos, diz Lacan, “por um lado, no desejo, por outro na angústia”(4). É a brecha que se abre nesse caso, para que um corpo sem lugar possa ter uma localização numa parceria sintomática. Podemos pensar que a função do clínico no grupo(5) se aproxima assim da função do mais-um no cartel: manter a brecha de onde poderá surgir o objeto causa de desejo, para cada um.

 

Referência bibliográfica
LACAN, J. (1962-1963). O seminário, livro 10: A angústia. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005.
Notas
1- Este trabalho foi produto do Cartel O objeto a no ensino de Lacan que teve como cartelizantes Ana Cristina Figueiredo, Nuria Malajovich, Vânia Gomes e Maria Lídia Alencar como mais-um.
2- O atendimento desse grupo teve a supervisão de Cristina Duba no projeto Digaí-Maré.
3- LACAN, J. (1962-1963). O seminário, livro 10: A angústia. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005, p.178.
4- Idem, p. 179.
5- A função do clinico no grupo foi uma pergunta da comentadora dos trabalhos na mesa, Maria Inês Lamy.

     
Trabalhos apresentados na Noite de Cartéis EBP-SP em 28.08.2013

UMA EXPERIÊNCIA DE CARTEL

Maria de Fátima Santos Luzia

Por que fazer um cartel?


Antes desta questão, o que se apresentou foi o desejo de trabalho mais próximo da Escola.


Já havia participado de seminários, cursos, conferências, como uma forma de me apropriar do saber da Escola de Lacan. No entanto, o que me levou a fazer um cartel foi o desejo de trabalho, sem saber direito de que trabalho se trata em um cartel, para mim era simplesmente a produção de um texto.


Já havia pensado em fazer um cartel, mas compreendo agora que ele só se deu quando houve um desejo de aproximação da Escola, e que esse desejo só se deu através de minha própria análise.


Miller relata que um cartel bem formado é quando cada um tem uma razão própria para estar ali, ou seja, que cada um esteja no cartel “na qualidade de”; e esta lógica implica aos membros que trabalhem a partir de suas insígnias.


Minha análise foi o ponto que determinou essa procura por um cartel, sabendo dele apenas que se constituía de 1 + 4, e que tinha como doutrina o produto próprio de cada um. Mas o que seria esse produto próprio?
Miller relata em seu artigo O cartel no mundo que o Cartel “é um pequeno grupo, é um meio de executar um trabalho. Não é um fim em si mesmo. Sim, mas também não é exatamente um meio. Lacan preferiu dizer que é o meio, e não para executar um trabalho, mas para executar o trabalho. O meio para executar o trabalho – com artigo definido.”


No Ato de fundação Lacan termina com o termo “trabalhadores decididos”.


O pequeno grupo era o que Lacan procurava para reformar a Escola ligada ao efeito de massa, de identificação. Este pequeno grupo se apresenta como a possibilidade de um laço social não fundido sobre a identificação. Opõe-se à massa, a identificação, não pelo seu tamanho, mas por sua lógica de laço social não identificatório, não ligado ao discurso do mestre, mas sim ao discurso do analista. Por isso o Mais-Um como aquele que provoca a produção exatamente porque descompleta o saber.


Parece simples quando se lê sobre o cartel sem ter feito um. Para mim essa clareza só se deu durante o movimento do cartel e nem mesmo no seu início, mas no movimento que sofri durante sua duração.


Quando se deu o desejo pelo cartel, surgiu a questão de que tema gostaria de abordar. No primeiro momento trabalhar o seminário da Angústia. Para mim parecia muito simples essa escolha, pois era um tema que me interessava, pois vivemos num mundo angustiado e isso me pareceu um tema muito moderno ou até pós-moderno.


Não entendia muito bem o que diferenciava o trabalho de grupo e o trabalho de cartel.


Mesmo tendo lido sobre o que se tratava o Cartel.


Havia lido no Ato de fundação que diz que o próprio da Escola, em sua relação à verdade, é o trabalho em cartéis. Para mim parecia o suficiente para a minha decisão.


Iniciado enfim o cartel. Decidimos começar o trabalho pela leitura do Seminário da Angústia.


Qual é a minha questão? No primeiro momento nenhuma, depois aparece à questão de saber mais sobre as referências filosóficas que Lacan utiliza nesse Seminário. Inicio então o que acredito ser a execução de um bom trabalho, através de uma pesquisa sobre o conceito de angústia.


Colada num saber universitário procuro pesquisar o conceito de angústia através dos saberes filosóficos que Lacan utiliza como referências nesse seminário, pois assim teria uma compreensão mais exata do seu escrito.
No entanto, ler um texto de forma solitária é diferente de dirigi-lo a um outro, que não é qualquer um, mas a um Outro que não normatiza o saber mas o descompleta.


Algo de novo começa a acontecer quando mesmo já tendo lido o texto em outras ocasiões em alguns momentos parecia que o lia pela primeira vez, pois algo novo surgia e que não havia aparecido em leituras anteriores, como aulas, seminários ou mesmo numa leitura silenciosa.


Mas, e os filósofos? Não me interessavam mais. Este novo tinha a ver com a imagem especular, a imagem do espelho que tantas vezes já havia lido. Daquilo que escapa dessa imagem, que faz furo. Do estranho que pode aparecer na imagem que deveria ser tão exata num espelho.


O meu interesse agora se volta para a literatura, que tem como tema esse estranhamento do familiar.
Inicio então pela referência do Homem de areia, de Hoffman, que está no seminário.


No entanto, um dia ao entrar em uma livraria vejo um livro que me chama muito a atenção pelo seu título O Duplo, de Dostoievski.


Leio sua sinopse e o compro. Só mais tarde, com sua leitura, percebo que ele vai tratar da questão da imagem do outro que está na posição de um Outro que muitas vezes pode ser devastador. A angústia aparece nessa duplicidade avassaladora e que Dostoievski descreve como o grande tormento de todo ser humano. Eis então que se torna mais claro a escolha de trabalhar o tema da angústia.


            Dirijo ao cartel essa minha descoberta, não se trata mais de um trabalho apenas epistêmico, mas de uma questão própria, que se desencadeou por estar em trabalho de cartel.


Mas o que é estar em trabalho de cartel?


Guy Briole em seu texto O cartel ensina, diz que o que deve resultar do    Cartel, não é uma doutrina, mas um “produto próprio a cada um”. Onde a finalidade do cartel é que cada um se encontre ensinado através do exercício de elaboração do trabalho que produz.


Sendo o Cartel o lugar onde cada um possa encontrar seu estilo próprio, sua singularidade na relação com o trabalho.


“Não é o pronto para ensinar que é exposto, mas um produto não acabado, elaborado por cada um, posto em questão no e pelo cartel, enquanto estrutura de base da Escola.”


Só depois pude notar que a escolha da literatura não foi aleatória, pois ela tem importantes marcas na minha infância e adolescência.


A entrada no cartel, como a questão que se mostrou apontam para um momento da análise, mas que só pode se dar por estar num dispositivo que descompleta.


Carlo Viganó em seu texto “Sobre o Cartel, relata que o cartel é o lugar da formação, que se centra sobre a produção do sujeito, do seu desejo de saber, e que Lacan assim nomeia como um escrito, escrito este diferente da normatização da ciência onde normalmente funciona como escritura. “Um escrito não é simplesmente uma produção de teoria. Um escrito é o que se produz em cartel, é um texto, um texto que testemunha, justamente como diz a palavra texto, a vivacidade que caracteriza a posição do desejo do analista.”


A angústia que parecia ser um tema escolhido por ser atual ou mesmo um sintoma recorrente em nossos dias não passou de um semblante.


Um trecho da obra O duplo aponta melhor essa escolha, esta leitura foi dirigida ao cartel.


“Todos os pressentimentos do senhor Golyadkin se realizaram de forma plena. Tudo o que ele temera e previra agora se concretizava. Ele perdeu o fôlego, ficou tonto. O desconhecido estava sentado à sua frente, também de capote e chapéu, em sua própria cama, com um leve sorriso nos lábios e, apertando um pouco os olhos, fazia-lhe um amistoso aceno de cabeça. O senhor Golyadkin quis gritar, mas não pode, quis protestar de algum modo, mas não teve forças. Ficou de cabelos arrepiados e sentou-se desfalecido de pavor. Aliás havia razão para isso. O senhor Golyadkin reconhecera por completo seu amigo noturno. O amigo noturno não era senão ele mesmo – o próprio senhor Golyadkin, outro senhor Golyadkin, mas absotutamente igual a ele –, era, em suma, aquilo que se chama o seu duplo, em todos os sentidos”...

 

A partir daí, o duplo (o segundo Golyadkin) surge como uma imagem especular, um outro igual, que ao mesmo tempo que é tão semelhante é também estranho. A estranheza se apresenta naquilo que não pode ser especulárizavel, eis ai a angústia.


O trabalho da Escola passa pelo cartel. Que trabalho?


No Ato de Fundação de Lacan, a palavra trabalho é repetida muitas vezes. O que Lacan chama o trabalho da Escola? “É um trabalho – que no campo aberto por Freud, restaura a relha de arado, cortante da verdade – reconduzindo à práxis original por ele instituída no dever que lhe cabe em nosso mundo que, por uma assídua crítica, aí denuncia os desvios e comprometimentos.”


Para Miller, em outras palavras, seria a exigência ética, epistemológica que presume-se seria realizada pelo trabalho da Escola, e este trabalho passaria necessariamente pelo cartel –  e não pelo seminário, pela conferência, pelo curso.


O Ato de fundação diz que o próprio da Escola, em sua relação à verdade, é o trabalho em cartéis.

 

Referências bibliográficas

BRIOLE, G. O cartel ensina? Em Manual de Cartéis, EBP-MG. Livraria Scriptum.
DOSTOIEVSKI, F. O Duplo
LACAN, J. (1962-1963). O seminário, livro 10: A angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005.
LACAN, J. O Ato de Fundação. Em Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2003.
MILLER, J-A. Le cartel dans le monde –  traduzido em Novas reflexões sobre o Cartel. Em Manual de Cartéis, EBP-MG. Livraria Scriptum.
VIGANÓ, C. Sobre o Cartel.Em Manual de Cartéis, EBP-MG. Livraria Scriptum.

 

O TRABALHO DO CARTEL E A FORMAÇÃO DO ANALISTA

Valéria Ferranti

 

Minha aproximação com a Escola Brasileira de Psicanálise se deu pouco antes da cisão de 98. Frequentava dois seminários oferecidos pelos membros e, em um deles, constitui meu primeiro cartel. Minha questão girava em torno do mito e da estrutura. A partir desta questão e do tema do cartel debrucei-me em O Seminário, livro 4, A relação de objeto e O Seminário, livro 17, O avesso da psicanálise.


Não demorou muito para que os ventos da crise se fizessem sentir. Tentei precisar as datas, mas não consegui. Teria que buscar textos, anotações, cadernos... não fazia sentido. Os efeitos são mais importantes.


Neste mesmo período decidi retornar a universidade. De cara me matriculei em uma disciplina com um professor estrangeiro convidado do Instituto de Psicologia e da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Sua disciplina tinha como tema a estrutura e o desenvolvimento tomando o Seminário 4 como referência teórica. Bingo! Sentia-me à vontade pra discutir, falar, debater com este simpático francês. Lá pelas tantas ele me pergunta, meio afirmando: você é da Escola?


Autorizava-me a falar e, em muitas vezes discordar da interpretação do texto, a partir do trabalho de investigação do cartel que, associado a minha participação nos seminários oferecidos pelos membros, começava a dar corpo a um dos tripés da formação analítica. Embora a universidade fosse um refugio confortável segui mirando a Escola e este dispositivo genial e infernal proposto por Lacan chamado cartel foi o modo como pude me manter flertando com uma instituição que estava se recompondo de uma importante crise. Transferências rompidas, novas se colocando no horizonte, enfim, havia outra configuração. Do meu primeiro cartel uma cartelizante desligou-se da psicanálise, outra da instituição. Mas duas cartelizantes hoje são membros da Escola. Assim, posso deduzir pela experiência, que o cartel foi o dispositivo por onde minha transferência com a Escola foi “sustentada”. Sublinho então os termos transferência e saber.


Miller em um texto intitulado “Cinco variações sobre o tema da elaboração provocada”(1) afirma que, para ele, o cartel tem o propósito de saber. Evidente que há outros propósitos, mas a elaboração visando o saber epistêmico ressoa em minha experiência. Havia uma elaboração de saber, assim como na universidade, então, qual o estatuto da elaboração que se dá no cartel?
Um dispositivo proposto em que quatro escolhem um Outro, o Mais-Um. Esta montagem de cara se diferencia de um grupo, uma vez que há Um que descompleta. Não há mestria de modo prevalente, pois o Mais-Um é o provocador e não aquele que transmite o que já sabe.


Miller afirma: “Se há provocação ao trabalho, à elaboração é porque não há nenhuma vocação para o trabalho”. Cabe ao Mais-um a provocação, ser o agente provocador desta empreitada que terá para cada cartelizante seu propósito. Ainda neste texto encontramos a seguinte afirmação:


“Se partimos, no cartel, de um saber constituído que se deveria adquirir com o Mais-um, ocorrem então as famosas “crises de cartel”, notadas S barrado. Elas são, em geral, o testemunho de que, colocamos no posto de comando um saber todo pronto, em suma, um saber. Não se obtém um resultado de saber a não ser que se coloque S barrado em posição de Mais-um. É propor para o cartel a estrutura do discurso da histérica, da qual é preciso não esquecer que Lacan dizia que era quase a do discurso da ciência.”(2)
E em Lacan encontramos em O Seminário, livro 17, a seguinte afirmação:


“Se há algo que a psicanálise deveria forçar-nos a sustentar tenazmente é que o desejo de saber não tem qualquer relação com o saber (...). Distinção radical que tem suas consequências últimas do ponto de vista da pedagogia – o que conduz ao saber não é o desejo de saber. O que conduz ao saber é – se me permitirem justificar em um prazo mais ou menos longo – o discurso da histérica.”(3)
Há portanto uma articulação entre saber e discurso, entre saber e discurso da histérica. É possível considerar que o discurso da histérica mantém a pergunta, mantém o questionamento do S1 pondo-se assim ao trabalho de investigação e de produção de saber (vale ressaltar que há circulação dos discursos, alternância nas posições discursivas). Minha inferência é que tanto o Mais-um como os cartelizantes produzem a partir desta posição discursiva, onde S barrado é o agente que questiona S1 produzindo uma “nova” articulação com S2, um produto próprio, não sem a provocação do Mais-um para que se saia da vocação inerente a todos nós: a preguiça.


Notas:
1 - MILLER, J-A.“Cinco variações sobre o tema da elaboração provocada”. Em Manual de cartéis. EBP-MG. Livraria Scriptum.
2 - Idem, p.20.
3 - LACAN, J. O Seminário, livro 17, o avesso da psicanálise. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1994, p. 21.

 

Trabalho apresentado na Noite de Cartéis Delegação RN em 23.08.2013 

MEU RELATO DE CARTEL

Rosemarie Fernandes Mooneyhan

 

O cartel é um dispositivo proposto por Lacan para quem pratica a psicanálise e quer estudá-la. É fundamental na formação do analista e para a consolidação de uma comunidade. “O cartel é o melhor lugar para se responder a questão: O que é a psicanálise”, segundo o manual de cartéis da EBP- Minas Gerais. O cartel embora sendo um coletivo de trabalho, cada um trabalhará sua própria questão.


Participar de um cartel propiciou-me a abertura de um leque de experiências, pois a partir deste pude inserir-me na Escola e vivenciar outras atividades importantes para o exercício da psicanálise.


 Iniciei o cartel mobilizada pelo desejo de estudar acerca da angústia na contemporaneidade ligada a aspectos como: consumismo, acontecimentos de corpo, toxicomanias, hiperatividade nas crianças, medicalização na infância, após concluir um curso na EBP-PB, em que escrevi um trabalho à respeito das crianças na contemporaneidade. Entrei em contato com Glória e Gorete Sarmento, que já estavam procurando o cartel. Convidamos Eloá para Mais-Um. Ela aceitou e em seguida Juliana Castro juntou-se a nós. Os encontros foram acontecendo a cada quinze dias e logo passamos a nos reunir semanalmente em torno da leitura do Seminário 10.


Percebi o quanto é rico ler o texto de Lacan linha a linha com outras pessoas implicadas, cada uma dando sua contribuição, fazendo comentários, colocando questões e dúvidas. Após alguns encontros eu me dava conta de que novas questões surgiam e pensava em outras possibilidades de trabalhar acerca da angústia. A leitura avançava e as discussões também. No momento, estou trabalhando acerca da angústia, o tempo e a contemporaneidade. Porém a seguinte construção, retirada do site da EBP-RJ tocou-me: “Podem participar de um cartel aqueles que praticam a psicanálise ou queiram estudá-la, membros e não membros de Escola – daí sua importante particularidade de ser um dispositivo que permite uma primeira aproximação com a Escola”.
Num dos encontros do nosso cartel, no ano passado, Eloá, a partir de um comentário meu acerca das mulheres da geração Y, que eu havia lido numa revista feminina, instigou-me a escrever minhas ideias sobre este tema, pois a Jornada da EBP-RN tinha como eixo temático: A mulher. Senti-me mobilizada, mas logo deixei de lado, pois achava que não estaria preparada para produzir algum trabalho interessante. Após um período encontro Ruth Jeunon que me encoraja a escrever, afirmando que eu não deveria idealizar tanto. Fiquei tentada. Rascunhei. Gostei e investi. Consegui escrever uma pequena resenha e apresentei na Jornada. Essa experiência me fez pensar no quanto precisaria avançar nos estudos da psicanálise.


 No momento observo o quanto foi importante ser acolhida e respeitada naquele espaço da Escola, a partir de uma produção pequena. Passei a participar mais da programação da Escola, a me implicar. No início deste ano, novamente Eloá me chama para participar dos encontros preparatórios para o ENAPOL VI. Reluto pelas diversas ocupações, mas aceito. Momento marcante pois ao estudar para apresentar acerca dos Eixos Temáticos do ENAPOL, pude  informar-me sobre o evento, a bibliografia. Explorei o site, li textos, enfim aproximei-me deste.


A partir dos Preparatórios para o ENAPOL aproximei-me desta Delegação e das pessoas. Passei a enxergar este espaço como um recurso, um dispositivo importante, que me viabilizava muitas possibilidades. Num dos encontros preparatórios apresentei acerca do Estádio do Espelho de Lacan. O texto dos Escritos é pequeno, porém bem denso e por isso pesquisei e observei que Lacan comenta em outros seminários sobre o mesmo, inclusive no seminário da angústia. Pude me beneficiar com este trabalho, embora tenha passado muito menos aos colegas, em relação às construções que pude fazer.


A partir da experiência de cartel venho participando dos eventos da Escola com um olhar e uma postura diferentes, pois vejo quão valiosos são; quão tecidos pelo desejo de cada um que ali investe.


 Momento ímpar foi escrever o caso de uma criança que atendo e levá-lo para discussão num encontro preparatório, onde recebi muitas contribuições. O apresentarei na Jornada da EBP-PB e RN.


Estes são tesouros, mais que produtos deste cartel. Ainda cito como produtos minha ida ao ENAPOL em Novembro e possivelmente à Paris em Abril de 2014 para o IX Congresso da AMP. Esta invenção de Lacan, o cartel, revela o quão fecunda é a promoção de efeitos na formação do analista e nos debates que contribuem para o avanço da psicanálise.


Obrigada a Glória, Juliana, Gorete e muito obrigada a Eloá pela calorosa acolhida.


Natal, agosto de 2013.

 

AGENDA DOS CARTÉIS NA EBP

 

EBP-SÃO PAULO

Diretora de Intercâmbio e Cartéis: Cássia Guardado

 

Jornada de Cartéis da EBP–SP

 

DIA: 5 de outubro
Local: Sede da Seção São Paulo
Convidada: Cínthia Busato (Diretora de Intercâmbio e Cartéis da Seção Santa Catarina).

 

DELEGAÇÃO ESPÍRITO SANTO

Responsável pelos Cartéis: Tânia Martins
 

Jornada de Cartéis da Delegação ES

 

DIA: 25 e 26 de outubro
Local: Aliança Francesa (Vitória)
Convidada: Maria Josefina Sota Fuentes

 

 

 

 

EBP-PERNAMBUCO

Diretora de Intercâmbio e Cartéis: Maria Eliane Neves Baptista

 

Jornada de Cartéis da EBP–PE

 

DIA: 25 e 26 de outubro
Local: Museu do Estado de Pernambuco
Convidado: Marcelo Veras

 

EBP-MINAS GERAIS

Diretora de Intercâmbio e Cartéis: Lúcia Grossi

ACONTECEU

 

Dia 26 de agosto reunimos as pessoas interessadas em formar cartel na noite Acham-se Cartéis, que acontece uma vez por semestre. Todos os inscritos no Procura-se cartel foram chamados por e-mail, assim como os alunos do Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais, e todos os membros e frequentadores da Sessão.


Tivemos um primeiro momento de conversa sobre o dispositivo do cartel e como ele se insere institucionalmente no funcionamento da Escola. Houve uma grande participação dos alunos do Instituto e a presença de alguns inscritos no site: ao todo foram 24 participantes. A equipe de cartéis preparou uma lista já organizada por temas mais amplos que pudessem reunir um número maior de inscritos. No momento do encontro surgiram outros temas e foi possível a formação de seis grupos acompanhados pela equipe de cartéis e por Inês Seabra, membro da Coordenação Nacional de Cartéis, que participou também com esclarecimentos.


Aguardamos com expectativa a formação de novos cartéis na Seção Minas.


A Diretoria de Cartéis optou por enviar por e-mail esta lista que organiza os inscritos no site por grandes temas para aqueles que não puderam comparecer ao encontro e aqueles que se inscreveram após o dia 26 de agosto.

 

DELEGAÇÃO RIO GRANDE DO NORTE

Responsável pelos Cartéis: Ana Aparecida Rocha

 

ACONTECEU

 

No dia 23/08/2013, quinta-feira, realizamos na Delegação Rio Grande do Norte de Psicanálise uma “Noite de Cartéis”.


Contamos com a participação de 27 pessoas distribuídas entre membros da EBP, correspondentes, alunos e ex-alunos do Curso de Introdução aos Conceitos e Clínica Psicanalítica em Freud e Lacan.
Iniciamos com um texto elaborado por Ana Aparecida, responsável pelos cartéis na delegação, onde colocamos um pouco da história do dispositivo do cartel no ensino de Lacan, como também suas regras e modo de funcionamento. Apoiamo-nos na indagação que Josefina Fuentes fez no Dobradiça de Cartéis nº 1 sobre o tripé da formação do analista e o cartel colocado por Lacan como um órgão base de sua Escola. Recorremos ainda ao texto de Cristina Drummond “O cartel e a Escola”, a Miller com seu texto “Novas reflexões sobre o cartel” e em especial o texto de Mauricio Tarrab “No cartel se pode obter um camelo”.
Após a leitura deste texto, de modo a provocar aos convidados a falarem de suas experiências como sendo ou tendo sido cartelizantes, lemos o trabalho de Andreia Barbosa de Faria, apresentado na XVI Jornada de Cartéis da EBP-MG, intitulado “Efeitos de sujeito advindos do Cartel”.


Escutamos diversos relatos e em comum a estas diversas falas, escutamos o rastro da provocação de saber e a consequente busca, feita não sem angústia,  que o cartel instala em cada um de seus membros.
Diante das falas uma questão se destaca: será que o produto é sempre um texto escrito? Quando o cartel se dissolve não indo até o final, não se obtém ainda assim, um produto? Na discussão realizada colocamos o valor que cada um recolhe, diante de seu não saber, da questão que o move, o esforço, a tentativa de elaborar algo acerca do que o conduziu até ali. Certamente que o produto também se dá na ordem do subjetivo.


No momento temos três cartéis em andamento e que precisam ser declarados. Intitulam-se: “As mulheres e seus objetos”, “Angústia” e “Autismos”. Em todos há a presença de correspondentes da Delegação Rio Grande do Norte de Psicanálise.


Pensamos ter recolhido como produto desta empreitada a escuta e, quem sabe, no só depois, o despertar, a provocação de levar a cada um ali presente que ainda não fez ou está em um cartel, buscar este dispositivo de trabalho e de encontro com o saber psicanalítico.


Para nós fica também a meta de, no primeiro semestre de 2014, realizarmos uma Jornada de Cartéis. Atividade esta que já ocorrera outrora em nossa Delegação e que significaria para nós o segundo tempo de um instante em que a Noite de Cartéis marcou o primeiro.

 

MILLER, J.-A. “Novas reflexões sobre o cartel no mundo”. In Manual de Cartéis. Belo Horizonte: Scriptum, 2010, pp. 27-36.

 

COMISSÃO EDITORIAL

Comissão Nacional dos Cartéis da EBP: Paola Salinas (Coordenadora), Inês Seabra, Cristiana Gallo, Cristiane Barreto e Maria Josefina Fuentes (Diretora Secretária da EBP)


Logomarca: Luiz Felipe Monteiro sobre obra de Escher

 

 

Dobradiça de Cartéis