Espaço do Conselho

 

1 de maio de 2014

 

Intervenção sobre a Supervisão do Presidente do

Conselho na Grande Conversação da AMP

Luiz Fernando Carrijo da Cunha

 

Faço algumas marcações que me parecem importantes no contexto do debate sobre a supervisão na EBP, lançado pela FAPOL e empreendido pelo Conselho da Escola. Tais considerações estão alicerçadas, sobretudo, no dossiê produzido pela FAPOL com as contribuições de sua Presidente, Elisa Alvarenga, do então Presidente da AMP, Leonardo Gorostiza, e dos Presidentes e Diretores das três Escolas do continente americano.


O dossiê contempla desde um diagnóstico por vezes detalhado, da situação, até as soluções já colocadas em prática nos Conselhos.


No que diz respeito à EBP, podemos dizer que há uma relação que chamaria de “positiva” com a supervisão, na medida em que não encontramos “resistência” a ela ou algum outro diagnóstico que mereceria um tratamento mais agudo, embora não esteja ainda no patamar que aspiraríamos. Nossos relatórios contidos no dossiê são unânimes no que diz respeito à prática da supervisão, dentro da Orientação Lacaniana, em que se visa o ”furo no saber”, apontando para uma política que tem o real como horizonte do tratamento. Encontramos no dossiê menção explicita ao que está em jogo em relação ao “ato analítico” assim como seus efeitos.


Ainda que os termos utilizados sejam diferentes, operamos na mesma perspectiva. Assim como pudemos acompanhar, nem  o termo “controle”, nem o termo “supervisão” garantem em si mesmos uma prática compatível com o que buscamos na Orientação Lacaniana.


Isso posto, coloco em destaque três aspectos da questão que, ao meu ver, podem nos orientar no debate iniciado na EBP:

  1. Na medida em que tanto os membros da EBP quanto sua comunidade de interesse têm uma boa disposição à prática da supervisão, de que maneira podemos colher, no seio da Escola, os efeitos de formação provenientes deste princípio?

  2. A prática da supervisão, quer seja de forma regular ou esporádica, com um mesmo supervisor ou com vários, “autoriza” à prática analítica, especialmente quando se trata daqueles que estão iniciando um percurso? Que consequências podemos extrair disso?

  3. Em relação ao seu aspecto de “infinitude”, sublinhado pelo então Presidente da EBP, responsável por um dos relatórios, a prática da supervisão pode ser tomada como eixo de uma “desregulação” continuada interrogando o analista em sua posição?

Em relação ao primeiro e ao segundo ponto, o Conselho da EBP, já hah alguns anos, tem tentado estabelecer o que concebemos como “uma política da enunciação analisante” no que diz respeito à indicação de candidatos à admissão como membros da Escola. Não sendo reduzida a uma regra, essa política implica na verificação do grau de relação do candidato com a psicanálise de OL, estando a prática da supervisão, como princípio, enodada nesse critério.


Ainda quanto ao segundo ponto e em especial ao terceiro, acreditamos que esse debate traz a tona a questão da Garantia na Escola na medida em que a própria Comissão da Garantia da AMP, responsável por outorgar o gradus de AME àqueles que dão provas de sua prática, está munida desse indicador que traduz efeitos de formação. A existência de uma Comissão de Garantia na Escola pode fazer avançar essa discussão, podendo trazer para a nossa comunidade de interesse  a observação da incidência efetiva da prática da supervisão.
A proposta de uma Comissão da Garantia da EBP foi recentemente acolhida e aprovada pela AMP e seu funcionamento deverá estar em marcha tão logo seja constituída. Acreditamos que com isso, um passo importante foi dado no que diz respeito ao tema da formação do analista em nossa Escola. Assim sendo, a comunidade de trabalho da EBP pode aguardar um aprofundamento da questão a partir das contribuições que poderão advir do trabalho desta Comissão. Ao lado disto, o Conselho da EBP tenta fazer eco a esse debate através dos Conselhos e Diretorias das Seções, propiciando um trabalho orientado tanto no que diz respeito à demonstração dos efeitos de formação inerentes à supervisão, quanto ao que esta prática visa e no que ela tem de enlace com a questão da garantia na Escola.


Ademais, visando uma difusão mais eficaz do tema entre os membros, a EBP, através da Revista “Correio”, dedicou integralmente um número, em novembro de 2013, para tratar da questão da prática da supervisão.

 

 

1 de abril de 2014

 

 

Posse.


Caro Leonardo Gorostiza, Presidente da AMP


Cara Elisa Alvarenga, Presidente da Fapol


Caros colegas do Conselho da EBP


Caros colegas:

 

Quero lhes dizer, antes de mais nada, o que significa, para mim, ocupar esse lugar que ora tomo posse: - Dez anos se passaram desde o fim de uma trajetória e onde outra começara. Em 2004, às vésperas do Congresso da AMP em Comandatuba fui aceito como membro da Escola Brasileira de Psicanálise. Escola onde havia estabelecido meus laços transferenciais e que eu vira nascer nove anos antes, acompanhando os passos de sua chegada e fundação. O primeiro tempo do caminho não foi em vão; ele dá testemunho de uma empreitada definitiva onde o rumo havia mudado inexoravelmente e, ainda, serviu de terreno onde pude semear os primeiros grãos cuja safra, hoje, posso colher. Entretanto, a responsabilidade de pertencer a uma Escola de Lacan só pode ser apreendida em sua extensão, em minha experiência, com a homologação como membro.

 

Mais do que a pertinência a um coletivo que nos integra, a dimensão do trabalho se mostra inequivocamente de outra ordem. Na minha vivencia, então, desde esse momento de virada, o trabalho na Escola produz uma corrente contrária ao empuxo à quietude e até mesmo à anestesia. Se a Escola de Lacan, hoje, pode ser considerada "meu" lugar, não é sem um medido desconforto. Logo, se falo hoje aqui nessa assembleia, isso só pode ser considerado como o resultado de uma aposta onde os parceiros puderam se valer daquilo que a psicanálise dá seu testemunho e, nesse sentido, posso parafrasear meu grande amigo Rômulo que, ao assumir a Diretoria da EBP há alguns anos atrás, disse "ser justa" aquela indicação. Digo, agora, está na medida! Os dois anos que se passaram teve a duração de um lapso cuja marca não posso deixar de tentar transmitir: Logo no começo da gestão deste Conselho, nada de quietude. Fui convocado pelo então Presidente Marcus André Vieira a secretariar o Conselho; sim, era uma convocação e além de tudo marcada por uma contingência. Aquele que seria o secretário, Rômulo, acabara de ser nomeado AE e isso o impossibilitaria de exercer esta função. – Mas, porque não um outro qualquer dos antigos? – Porque não, ora! Foi a resposta que recebi do outro lado da linha. Aceitei; perplexo, mas aceitei. Logo ao desligar o telefone, pude reconhecer meu desejo ali. Aliás, o reconhecimento do desejo vem sempre acompanhado por este afeto. Uma ousadia, com certeza. É claro que o exercício desta função não foi sem percalços: lapsos, esquecimentos, etc...mas nada que abalasse a confiança e o trabalho meticuloso e competente de Marcus a quem, agora, quero fazer esse agradecimento muito especial por ter me mostrado à sua maneira, o intrincado, denso e delicado trabalho dentro do Conselho de uma Escola. Posso dizer que fui "batizado" com a melhor água da fonte. É um privilégio; assim como foi um privilégio estar acompanhado na composição deste Conselho por colegas da minha mais absoluta admiração pelo trabalho de cada um e que podemos, todos, testemunhar e usufruir. Além do trabalho bem orientado no que diz respeito à política da psicanálise, tive a oportunidade de uma interlocução sem precedentes no que se refere às questões clínicas e epistêmicas que nos ocuparam sobretudo na preparação de nossos eventos.


Do lado político, vivenciamos a tensão peculiar à nossa Escola entre o "uno" e o "múltiplo" dada a dimensão geográfica de nosso país e a presença de colegas e de trabalhos consolidados cobrindo uma boa parte desse território. Vivemos num país marcado pela diversidade cultural e com uma herança política não menos diversa. Cada Seção e cada Delegação da Escola tem suas características próprias, suas dificuldades e vicissitudes, cabendo ao Conselho uma permanente interlocução com cada localidade no sentido de disponibilizar as ferramentas próprias à execução do plano em favor à Orientação Lacaniana; trabalho este efetuado em sintonia com a Diretoria da EBP. Se o "múltiplo" compõe nosso cotidiano, o "uno" é encadeado a cada acontecimento que diz respeito à efetividade da Escola enquanto lugar de enunciação. Nossos Encontros e Congressos têm privilegiado esse aspecto, sobretudo, dando destaque ao dispositivo do passe.

 

Além disso, acompanhamos o trabalho entusiasmado de nosso último Presidente, Rômulo Ferreira da Silva, que se dedicou sobremaneira à discussão e à instalação de uma Comissão da Garantia na EBP; foi de sua lavra, ainda, a introdução de um franco debate acerca da prática da supervisão e, nesse sentido, atravessando nossas fronteiras e dialogando com a AMP. Ademais, o processo que envolve a homologação de novos membros para a Escola, implica nas mesmas prerrogativas, ou seja, seguimos o fio de uma política sustentada na enunciação e na valorização do trabalho de cada um que pode ser coletivizado no discurso analítico.

Lembro ainda da feliz contingência de termos tido, nos últimos anos, Presidentes nomeados AE: Angelina Harari, Ana Lydia Santiago, Marcus Andre e Rômulo e, por último e não menos dedicado, nosso colega Ram Mandil, membro deste Conselho. Isto, sem dúvida reforça o rumo traçado pela Escola em direção à uma política da enunciação.


Seguramente que essa tensão não é e nem deve ser mantida em um equilíbrio; a contingência determina qual tratamento deve ser dado a uma ou outra questão.


Com estas poucas palavras, tentei delinear o que apreendi destes dois anos de trabalho no Conselho e, me valendo de um "verbete" de Scilicet quando estava ainda procurando subsídios para esta intervenção, encontrei o termo "Continuista" elevado à categoria de conceito e explorado por Elisa Alvarenga na perspectiva traçada por Lacan em seu último ensino. ("Scilicet, Um real para o século XXI"); é certo que esse termo pode ser mal  conotado  desde um ponto de vista de uma política moralizante, sobretudo se não estamos de acordo com o que nos antecede. Nada disso, o "continuísmo" aqui vai no sentido de tomar a política da psicanálise por sua vertente sintomática e, enquanto tal, voltada para a contingência determinante. É "continuísta" também por dar consequências aos projetos e idéias lançadas e executadas pelos meus dois colegas precedentes, Marcus e Rômulo.


Nada de bravatas e nada de quietude; nossa escola segue seu caminho e se inscreve no conjunto das Escolas da AMP com suas características próprias, mas sobretudo guiada pelos princípios da Orientação Lacaniana – ela não é exceção – é uma entre outras que tem nosso laço com a psicanálise como lastro para sua existência ; portanto, um sintoma para cada um de nós que compartilhamos deste coletivo. A Escola é feita com o "tecido" do "um por um" cuja trama constitui, no Outro Social, uma psicanálise que interroga, incessantemente a ela mesma.


Quero agradecer aos meus colegas que saem do Conselho: Marcus André Vieira, Rômulo Ferreira da Silva, Maria do Rosário do Rego Barros, Simone Souto e Marcelo Veras pelo intenso e prazeroso trabalho que compartilhamos nestes dois anos; para vocês o trabalho termina aqui, mas a parceria que estabelecemos prossegue no cotidiano da Escola e em outras frentes que nos aguardam; vou sentir saudades, mas a permutação, como sabemos, é um bom tratamento aos efeitos de grupo aos quais estamos expostos.


Ao Marcelo Veras, Diretor da Escola, dirijo meu voto de um bom ano de trabalho com tantos projetos que sua inquietude criou; estou junto com você.


Ao Marcus André, desejo um ótimo trabalho no Conselho da AMP.


Aos meus colegas "ficantes", Sérgio de Campos, Fátima Sarmento, Rosane da Fonte e Ram Mandil, nossa tarefa continua; conto com cada um de vocês para continuarmos a dar a dignidade que a EBP merece.


Meus agradecimentos a Antônio Beneti, conselheiro da EBP na AMP e à Elisa Alvarenga, também conselheira e Presidente da Fapol por representar a EBP de maneira dedicada e eficaz nestas instâncias.


Agradeço a Leonardo Gorostiza, Presidente da AMP, pela proximidade com que se dedicou à EBP nestes anos de sua presidência; isto também é um privilégio.


Dou minhas boas vindas aos colegas que entram: Sílvia Espósito, Fernando Coutinho, Glória Maron, Marcela Antelo e Heloísa Prado. Não vou lhes dizer nada além disso: Vocês não sabem o que os espera, sejam bem-vindos.

 

São Paulo, março de 2014

 

 

1 de Março de 2014

 

A ação lacaniana da Escola Brasileira de Psicanálise mostra esse mês três dimensões políticas que confirmam a força de nossa presença nos relevantes debates que animam o campo “psi”. O Observatório Lacaniano, o TyA e a Comissão do autismo. O Conselho faz chegar a todos alguns trechos das notas que foram discutidas na reunião do Conselho da EBP realizada no dia 8 de fevereiro último.

 

1 - Observatório Lacaniano

  • Cássia Rumenos Guardado (EBP-SP)
    Iordan Gurgel (EBP-BA)
    Jorge Pimenta (EBP-MG)
    José Carlos Lapenda (EBP-PE)
    Oscar Reymundo (EBP-SC)
    Romildo do Rego Barros (EBP-RJ)
    Samyra Assad (Coord.)

No ano de 2013, o trabalho do Observatório Lacaniano foi amplamente divulgado nos boletins virtuais da Diretoria na Rede, o que foi fundamental para o início de sua efetiva inserção ao nível da EBP. Em suas edições, tratamos da influência da religião nas tentativas de regulamentação da psicanálise no Brasil, bem como introduzimos o fundamento que permite manter várias instituições psicanalíticas articuladas nesse movimento de luta; refletimos e sustentamos a recusa do projeto “cura-gay”, e transmitimos a carta elaborada junto a outras instituições psicanalíticas, dirigida em mãos à Presidenta Dilma Roussef, barrando partes do projeto sobre o Ato Médico, cujo êxito foi alcançado. A representação da EBP na Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras continua então respondendo pelos encaminhamentos de cartas e assinaturas nas manifestações contingenciais contra as tentativas de extermínio da psicanálise pelo Mestre Contemporâneo, dentre outras coisas igualmente importantes.


Por outro lado, o Observatório Lacaniano participará, pela primeira vez, da Jornada da EBP-SC, cujo tema versará sobre “Psicanálise, Crenças e Leis”. Sua origem foi proveniente da discussão sobre a interferência do aspecto político-religioso numa das nefastas facetas inerentes à tentativa de regulamentação da psicanálise. Essa Jornada está prevista para os dias 22 e 23 de agosto de 2014.


Desse modo, há um trabalho interno (EBP) e externo (interlocução com o Outro Social, participação da EBP nas reuniões da Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras), e, assim, penso que o formato do trabalho do Observatório se constrói a cada dia, principalmente a partir do ato de seu acompanhamento pelo Boletim Diretoria na Rede. Essa formulação permite pensar, portanto, que o Observatório é um braço do Conselho e da Diretoria da EBP, que carrega certo aspecto moebiano - se posso dizer assim - na realização do seu trabalho institucional. Nesse segmento, é possível também vislumbrar o formato da sua função: certo f(x), cuja variável pode se instalar em cada Seção da EBP, de acordo com a observação, interpretação e encaminhamentos a partir dos acontecimentos que tangem à psicanálise e ao seu futuro na sociedade do século XXI, no que diz respeito às tentativas da sua regulamentação.


Adequarmo-nos, portanto, em cada tema dos eventos, seria o nosso dever e desafio constantes. A presença de cada Seção da EBP, através dos seus respectivos representantes no Observatório, de algum modo, favoreceria essa modalidade de funcionamento. Logo, a importância de se expandir esse trabalho via Jornadas locais e Encontros Brasileiros, tal como foi trazida essa proposta pelo Conselho da EBP em agosto/2013 quando almejávamos um evento específico, permite tornar agora o trabalho do Observatório Lacaniano uma espécie de curinga em cada evento da EBP, porém, levando consigo a intenção de nos abrirmos a outros discursos (a política, a sociologia, o jornalismo, a religião, a antropologia, a economia, os Conselhos de Medicina e Psicologia, dentre outros).  Tratar-se-ia de um convite para um debate, enfim, agentes com os quais pudéssemos nos interagir a fim de sustentarmos a razão pela qual a psicanálise não pode ser regulamentada, sensibilizando-os para o aspecto que vai mais além de uma terapêutica. O Observatório, assim, estaria presente sob a forma de plenária ou conversação, fóruns, etc., em cada evento da EBP.
Suponho que isso possa preparar nossa comunidade junto aos acontecimentos políticos nesse sentido, bem como na doutrina que sustentaria esse anseio. Creio que, mais além do que acontece na Bélgica atualmente em relação às tentativas de se oficializar a psicanálise dentro do campo das psicoterapias, seria imprescindível que esse formato de trabalho do Observatório Lacaniano na EBP traga em sua realização, a evidência de que a luta é constante pela sobrevivência da psicanálise, que isso urja em cada evento que o Observatório participe, inclusive nos Congressos da EBP. Tanto o é, que, recentemente, a Sociedade Psicanalítica Ortodoxa Brasileira (SPOB), presidida por um pastor, obteve como resposta do Tribunal Regional Federal a proibição para exercer a psicanálise de modo profissional, pelo fato da prática analítica não ser regulamentada; no entanto, a razão sobre a qual essa resposta do TRF se deu, foi devido ao fato de que “a psicanálise é uma especialidade da área da Psicologia...” http://trf-1.jusbrasil.com.br/noticias/112338528/psicanalise-nao-pode-ser-exercida-como-profissao-no-brasil . E assim sucessivamente: a cada vitória, a retomada de uma nova batalha. E isso desde o ano de 2000, percurso no qual contribuímos para o arquivamento de uns cinco projetos de lei que visavam a regulamentação da psicanálise.


Samyra Assad.

 

2 - REDE TyA BRASIL

 

A rede TyA é uma rede mundial que conta com psicanalistas ligados ao Campo Freudiano, grupos e instituições vinculados aos Institutos que nos diversos lugares do mundo se ocupam do tema das Toxicomanias, contando com a orientação de Judite Miller. Poderíamos dizer que o lugar onde TyA tem um trabalho mais sistemático é a Argentina, através do trabalho sustentado inicialmente por Mauricio Tarrab, Ernesto Sinatra, Silitt, e hoje por Fabian Naparstek,  Dario Salamone, entre outros. Através da revista Pharmakon (Publicação de Grupos e Instituições de Toxicomania e Alcoolismo do Campo Freudiano) editada na Argentina, veiculamos as nossas produções e de colegas de todo o mundo como Venezuela, México, Espanha, Bélgica, Bolívia. Pharmakon está em seu13º número.

 

No Brasil, esse movimento teve seu início com algumas reuniões por ocasião dos Encontros Americanos e outros eventos internacionais, com poucos participantes que trabalhavam com essa questão, aproveitando a presença de Judith Miller e dos colegas argentinos, mas, sem termos uma mobilização mais efetiva para a qual pudesse convergir uma política direcionada à questão Álcool/Drogas. Aos poucos, outros colegas foram se aproximando e um desenho do trabalho no Brasil se delineando.

 

A rede TyA Brasil tem hoje cerca de 65 participantes inscritos em uma lista, reúne colegas de todo o Brasil interessados na discussão dos novos sintomas e da problemática envolvendo o uso de álcool e outras drogas.


Não há uma forma única de trabalhar. Há locais, como Belo Horizonte, Ribeirão Preto, Salvador, Paraíba, onde os Núcleos de Investigação e Pesquisa ligados aos Institutos funcionam há anos com um trabalho sistemático, há Núcleos mais recentes como os da CLIPP em São Paulo. Em outros locais, o trabalho se dá na forma de cartéis inscritos na Escola (Rio de Janeiro), ou oficinas (Santa Catarina), ou grupos de discussão ligados às Delegações ( GO/ DF) e mesmo investigações mais ligadas à pesquisas envolvendo universidades (Claudia Henschel no Rio; Marcia Rosa na UFMG) e ainda profissionais de serviços de Saúde Mental, como CAPS, Unidades Básicas de Saúde, Assistência Social, Clínicas particulares, ONGS, etc.

 

Desde 2009 sou a responsável pela Rede de Toxicomania e Alcoolismo (TyA) no Brasil. Em 2012 por ocasião do Congresso da AMP em Buenos Aires, aconteceu o primeiro Colóquio Internacional TyA, intitulado “ Todos adictos” onde tivemos inúmeros trabalhos selecionados e  apresentados. Por ocasião do ultimo ENAPOL em novembro de 2013, foi realizada a Primeira Conversação TyA América. Dessa maneira, estamos sempre trabalhando muito proximamente dos colegas argentinos. 

 

Em outubro de 2012, por ocasião da  XVII Jornada da Seção Minas, cujo título foi "A política da Psicanálise na era do direito ao gozo", tivemos o Fórum: “Drogas para além da segregação” que contou com a participação de muitos participantes de TyA e com a orientação da Presidente da FAPOL, Elisa Alvarenga.


Durante a Jornada da Seção Minas que contou com a presença de Fabián Naparstek, e no Encontro Brasileiro realizado na Bahia, os diversos representantes de TyA no Brasil se reuniram com o objetivo de fortalecer esta rede. A partir daí surgiu  o desejo e a necessidade de organizarmos um evento da rede TyA no Brasil, tal como acontece com as demais redes: CEREDA e CIEN. Elisa Alvarenga levou nossa demanda à Judith Miller em janeiro de 2013, e tivemos o seu consentimento.   Dessa maneira o I Encontro da Rede TyA Brasil acontecerá  no dia 20 de novembro desse ano  por ocasião do próximo Encontro Brasileiro que se realizará aqui em BH. 

 

Uma das orientações que temos tido de nossos colegas, especialmente Fabián Naparstek, é que cuidássemos para que TyA não se tornasse algo como um grande “guarda-chuvas”, onde as pessoas se nomeassem “membros de TyA” ,mas que contasse com pessoas comprometidas com a Orientação Lacaniana.  Realmente o campo das toxicomanias comporta toda sorte de discursos... Desta maneira estamos às voltas, um pequeno grupo de trabalho: Oscar Reymundo de Sta Catarina; Pablo Sauce da Bahia; Cassandra da Paraíba; Maria Célia de Ribeirão Preto; talvez algum colega do Rio, em pensar o formato desse I Encontro TyA Brasil de forma não só acolher aqueles que chegam, mas também endereçar as demandas aos Institutos e Escolas.

Estamos tentando criar um Boletim para que as informações circulem entre nós, possivelmente com uma frequência trimestral e sendo veiculado em Veredas. Estamos com um pequeno grupo pensando em seu formato. 

Uma vez que o Brasil está “causado” e embaraçado com as políticas publicas que envolvem álcool e drogas, principalmente abrangendo ações que visam a segregação e a exclusão, a questão que hoje nos colocamos é: quais as contribuições que os psicanalistas de Orientação Lacaniana podem dar a esse debate, como contribuir?

 

Maria Wilma S. de Faria

 

3 – Comissão do Autismo

 

Comissão sobre o Autismo, com representação no Movimento “Psicanálise, Autismo e Saúde Pública” (MPASP)


Composição: Ana Martha Maia, Célia Salles, Cristina Vidigal, Fernanda Otoni Barros-Brisset, Heloísa Prado Telles, Leny Mrech, Lilany Pacheco, Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros, Ondina Machado, Paula Borsoi, Paula Pimenta (coordenadora), Rachel Amin e Tânia Abreu.


Data do texto: Fevereiro/2014

 

O trabalho da Comissão Autismo no Movimento “Psicanálise, Autismo e Saúde Pública” (MPASP)

 

Paula Pimenta
Pela Comissão Autismo

 

Em dezembro último completou-se um ano da mobilização nacional que levou os psicanalistas de todos os cantos do Brasil a se manifestarem contrariamente ao edital paulista recém-lançado, que convocava clínicas de atendimento a autistas a se conveniarem ao SUS para prestação de serviço à comunidade, com a exigência de uma orientação comportamental.


A mobilização ganhou corpo e se transformou no Movimento “Psicanálise, Autismo e Saúde Pública” (MPASP), com mais de 500 afiliados que procuram defender a atuação da psicanálise na clínica com esses sujeitos. A Escola Brasileira de Psicanálise se fez presente desde o início do movimento, primeiramente pelo desejo de alguns de seus membros e, posteriormente, por meio da Comissão Autismo, formalizada pela atual diretoria para representar a EBP no Movimento.


Ao nos aproximarmos da II Jornada do MPASP, que acontecerá em 21 e 22 de março próximo, às vésperas do Dia Mundial do Autismo, podemos reafirmar as importantes ações impetradas nos três campos que guiam o movimento — produção científica, comunicação e articulação política. Afora aquelas constantes dos relatórios anteriores enviados pela Comissão Autismo à diretoria, há que ressaltar que o último trimestre de 2013 foi palco da terceira mesa-redonda organizada pelo MPASP, que tratou do tema “Detecção precoce de risco e sofrimento psíquico”, ocorrida em 23 de novembro. A EBP não pôde se fazer presente nesse debate, pela coincidência de datas com o VI ENAPOL.


Sob a égide da comunicação, nesse mesmo período, tivemos a produção de artigos em jornais de grande circulação, participação em programas de televisão, entrevistas em rádios, além de menção espontânea da mídia escrita e digital às ações do Movimento, o que configura o sucesso de nossas articulações ao longo desse primeiro ano.


Também na esfera política o quarto trimestre do ano se mostrou fecundo, pela replicação do MPASP do evento “Vozes do SUS” na cidade paranaense de Londrina, em 29 de novembro, tal como ocorreu em São Paulo, no mês de junho. Na ocasião, gestores do SUS se fizeram presentes, demonstrando o vigor político do Movimento.


Como desafios para o ano de 2014, o MPASP ressalta a importância de se conseguir transmitir a clínica psicanalítica com autistas aos pais e ao público em geral, com o recurso, sobretudo, do depoimento daqueles pais que acompanham o trabalho da psicanálise com seus filhos. Os testemunhos estão sendo filmados para a confecção de um vídeo de divulgação. Os recortes clínicos da prática de seus membros também se mostram oportunos para a transmissão dos efeitos terapêuticos com os autistas.


A aproximação do campo da educação, que abrange os professores e as escolas que recebem casos de inclusão, é também uma expectativa do Movimento, bem como o aprofundamento da discussão sobre a inclusão do autismo no campo da deficiência.


Os membros da EBP e dos Institutos do Campo Freudiano participantes do MPASP apontam a via da transmissão como sua especial contribuição ao Movimento. Vários se inseriram nos diversos Grupos de Trabalho (GT) temáticos, que trazem a missão de produzir material consistente para fazer avançar os projetos do Movimento.


Como proposta à diretoria da EBP, a Comissão Autismo estabelece a conveniência de se avivar o blog sustentado por ela (autismoepsicanalise.blogspot.com.br), com modernização de seu lay-out e maior divulgação entre os membros da Escola e dos institutos. Com a modernização proposta, a difusão de seu conteúdo poderá chegar mais facilmente a seu principal destinatário, o público em geral, que merece conhecer nosso trabalho nessa clínica e fazer seu próprio juízo, em lugar de permanecer sugestionado por comentários alheios e desinformados. Desse modo, o blog passa a ser o dispositivo institucional com que contamos para manter diligente a política da psicanálise para o autismo.


Rômulo Ferreira da Silva
Presidente do Conselho da EBP

 

 

1 de novembro 2013

 

Caros colegas

 

O Observatório de Psicanálise da EBP tem acompanhado as tentativas de regulamentação da psicanálise para além dos muros nacionais. Essa petição que vocês poderão ler logo abaixo, enviada por nossos colegas belgas, é esclarecedora de que essa tentativa é geral e que temos um longo caminho pela frente. 
Nosso trabalho na Escola e a seriedade com a qual cuidamos da nossa formação analítica, é a base para o enfrentamento dessa questão.

Saudações

 

Rômulo Ferreira da Silva

 

Apelo dos psicanalistas aos parlamentares da Bélgica
Signer la pétition

 

Texto adotado pela FABEP (Federação das Associações Belgas de Psicanálise) - em 20 de outubro de 2013

 

Uma regulamentação da psicoterapia a partir de uma lei sobre a saúde mental está em preparação. Ela engloba a psicanálise.


Nós, psicanalistas e amigos da psicanálise, ou simplesmente reconhecedores do que ela trouxe para a cultura, pedimos com insistência que as estruturas institucionais que até o momento permitiram e asseguraram a transmissão dessa disciplina não sejam ameaçadas pela regulamentação que se prepara, isso com o intuito de que a especificidade da psicanálise seja levada em conta. Esta é uma disciplina completa.


A formação dos psicanalistas sempre foi até hoje assegurada pelas Sociedades e Escolas que existem na Bélgica há muitas décadas. É preciso uma análise pessoal de longa duração e uma formação permanente que atravessa toda a prática do psicanalista: supervisões privadas e institucionais, seminários, grupods de trabalho, colóquios...Esta formação não advém das universidades, mesmo se uma parte da formação teórica pode ser por elas realizada.


A psicanálise é praticada hoje tanto por médicos e psicólogos como por pessoas detentoras de outros diplomas. É o que Freud chamou de psicanálise laica. 


Com toda a legitimidade, nós pedimos que, para além dos demais ensinamentos que possam ser feitos por outros, que as Escolas e Sociedades Psicanalíticas permaneçam habilitadas a assegurar esta formação específica.


ACTE PSYCHANALYTIQUE

ASSOCIATION PSYCHANALYTIQUE DE LA CAUSE FREUDIENNE

ASSOCIATION FREUDIENNE DE BELGIQUE

CAPS FREUDIENS

ECOLE BELGE DE PSYCHANALYSE - BELGISCHE SCHOOL VOOR PSYCHOANALYSE

ECOLE DE PSYCHANALYSE SIGMUND FREUD

ESPACE ANALYTIQUE DE BELGIQUE

FORUM DU CHAMP LACANIEN DE BRUXELLES.

FORUM DU CHAMP LACANIEN DU BRABANT

GEZELSCHAP VOOR PSYCHOANALYSE EN PSYCHOTHERAPIE

KRING VOOR PSYCHOANALYSE VAN DE NEW LACANIAN SCHOOL

LE QUESTIONNEMENT PSYCHANALYTIQUE

SOCIETE BELGE DE PSYCHANALYSE - BELGISCHE VERENIGING VOOR PSYCHOANALYSE

 

 

 

1 de outubro 2013

Caros colegas

A batalha contra a regulamentação da psicanálise continua. De tempos em tempos esse movimento recrudesce e ficamos cercados por iniciativas diretas e indiretas  com esse intuito. Há muitos anos a EBP participa de um amplo movimento nacional, chamado Articulação, que discute e propõe ações no sentido de impedir que a ética da psicanálise seja engolida por uma política de controle do estado, ou pior ainda, por normatizações da formação do analista e da sua prática consequentemente.

 

Foi assim que o Conselho da EBP decidiu constituir o Observatório, coordenado por Samyra Assad, como uma comissão ad hoc responsável por representar a EBP nesse movimento e com o compromisso de manter nossa comunidade sempre informada dos passos que o Observatório dá, juntamente com o movimento nacional mais amplo.

 

O Conselho sugeriu que a EBP-SC dedique o tema de suas próximas jornadas a essa questão, visto que nessa Seção a discussão "psicanálise e religião" tem ocorrido de forma bastante interessante. Uma reunião que ocorrerá durante o VI ENAPOL, entre essas duas instâncias, nos dará notícias sobre esse evento vindouro.

 

Encaminhamos uma carta de Bernard Seynhaeve e um documento redigido por Alexandre Stevens, referentes ao movimento de tentativa de regulamentação do exercício das psicoterapias na Bélgica. É importante notar que o projeto de lei que se anuncia lá, toca em dois pontos diferentes, mas que dizem respeito à psicanálise na mesma intensidade. 

 

Aqui no Brasil podemos identificar claramente as tentativas de regulamentação por um lado, mas por outro, há um movimento subliminar de tentar submeter a psicanálise ao "Ato Médico". 

 

Na prática já vivenciamos isto. Os planos de saúde que cobrem sessões de psicoterapia realizadas por profissionais não médicos, exigem que sejam feitos relatórios e indicações para esse tratamento, por um médico. Se assim não for, o tratamento não será pago. 

 

O conselho julga fundamental que sigamos os passos do Observatório/ Articulação, mas que possamos também acompanhar o que ocorre para além de nossos muros. Vocês poderão verificar semelhanças e diferenças do que ocorre aqui e na Bélgica, mas o que importa é que estamos todos interessados em manter a psicanálise viva, sem a interferência do estado ou da religião.

 

Boa leitura!

 

Rômulo Ferreira da Silva

 

Presidente do Conselho da EBP

 

 

 

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Prezados assinantes:

 

Peço aos senhores tomarem conhecimento da mensagem urgente dos nossos colegas da ACF-Bélgica e da Seção Clínica de Bruxelas.

 

 "Uma lei sobre as práticas de psicoterapia está sendo preparada nos bastidores da Bélgica. A psicanálise é visada nesse projeto. Queremos alertar nossos colegas franceses."

Caros colegas, caros amigos,


Vejam como o legislador belga se coloca. Uma lei sobre práticas de psicoterapia está sendo planejada nos bastidores do parlamento na Bélgica. O que se prepara é inaceitável. Primeiro, porque a psicanálise é visada nesse projeto de lei, enquanto que em "nenhuma parte do mundo existe diploma de psicanalista", como salienta Jacques-Alain Miller em seu Prologue de Guitrancourt. Depois, porque não há consenso sobre o conteúdo desta lei. Nós dizemos portanto, NÃO. Não a queremos. Não que não queiramos que se deixe de legislar, até porque não se sabe como nós, psicanalistas, permaneceríamos fora da lei.  Mas o que nós queremos é que, tal como a França, se faça distinção entre psicanálise e psicoterapia.
Pensei que seria necessário alertar a todos, também aos senhores, que são sensíveis ao ensino de Freud e de Lacan. Eu propus, portanto, a Michèle Rivoire, transmitir nosso movimento em sua lista, para que possam nos apoiar com todas as suas forças. Vamos nos encontrar com os parlamentares envolvidos, todos os parlamentares, aliás. Nós organizamos um Fórum para 5 de outubro próximo. Os senhores estão convidados. Pedimos mais. Vamos colocar uma petição on-line. Os senhores serão informados e terão oportunidade para se manifestar.
           
Atenciosamente,


Bernard Seynhaeve

 

 

Um projeto de lei que destroi o que quer construir.

Redator : Dr Alexandre Stevens

 

Um projeto de lei sobre o exercício das psicoterapias está sendo desenvolvido com a colaboração do gabinete de Madame Onkelinx. Neste texto, ainda incompleto, mas do qual uma primeira versão circula, três pontos são inaceitáveis para os psicanalistas:


1. Trata-se de limitar o acesso à formação, para habilitação de psicoterapeutas, apenas a médicos e psicólogos. Uma abertura muito limitada é feita para as pessoas do campo psico-médico-social (assistentes psíquicos, assistentes sociais, enfermeiros ...), desde que sigam uma formação complementar prévia a seu acesso à formação de psicotepeuta. Não se trata porém de alguns cursos de psicopatologia, mas de um apanhado suficiente, uma recuperação, para aproximar-se a algo equivalente ao diploma de psicólogo.


Esse projeto terá, assim, uma grave consequência: qualquer outra pessoa será excluída do acesso para a formação nas psicoterapias. Filósofos, professores, literatos, sociólogos, criminologistas ... não mais poderão tornar-se psicoterapeutas, a partir da votação desse projeto. Ora, numerosos são aqueles que, com tais diplomas iniciais, se comprometem com as formações intensivas e extensas em psicanálise. Freud e Lacan, ambos médicos, sempre sustentaram um acesso aberto à prática analítica, independentemente do diploma universitário. Freud dedicou a isso um texto conhecido «A questão da análise leiga». Daqueles que não são, nem médicos nem psicólogos, mas têm uma prática de psicanalista e/ou de psicoterapeuta, muitos enriqueceram, com frequência, a nossa ciência e auxiliaram, efetivamente, muitas pessoas em sofrimento.
O projeto de lei no estado atual do texto empobrecerá a psicoterapia ao recusar seu acesso a tais candidatos de qualidade. Este projeto mata Henri Bauchau pela segunda vez. Grande poeta e romancista belga foi também psicanalista, sem ser médico ou psicólogo. Patrick Declerck, antropólogo e psicanalista belga, tem transmitido uma experiência apaixonante de trabalho com os SDF, sem ser médico ou psicólogo. Jacques-Alain Miller, filósofo e psicanalista francês, estabelece os Seminários  de Lacan e mantém um curso de audência mundial, sem ser médico ou psicólogo.


2. A formação prevista por esse projeto é faraônica: 5400 horas! Reservada às universidades, será portanto, essencialmente técnica. O volume gigantesco certamente não garante a seriedade da formação. Ao contrário, tudo será formatado no sentido da fabricação de uma psicoterapia de Estado. A universidade transmite os saberes estabelecidos, mas a psicanálise e mais amplamente as psicoterapias dinâmicas, demandam um saber fazer clínico que implica o fato de o analista ter feito uma psicanálise pessoal, a fim de agir com seus pacientes, estando liberado de suas próprias dificuldades, de suas inquietudes e de seus julgamentos a priori. Tal trabalho pessoal não é quantificável em termos de horas e só pode ser apreciado, caso a caso, dentro dos procedimentos desenvolvidos ao longo do tempo pelas escolas de psicanálise.


Somos, evidentemente, favoráveis a uma formação longa e séria para se tornar psicanalista, mas também nos opomos a uma formatação idêntica para todos. O projeto de lei reconhece quatro quadros de referência. É preciso que, para cada um destes quadros, as formações exigidas sejam articuladas de modo diferente. Para a orientação psicanalítica e psicodinâmica, a formação deve incluir estes requisitos não compatíveis,  mas entretanto, necessários. Isso só pode passar pelos institutos que formam os psicanalistas há um século.


3.Enfim, vê-se voltar subrepticiamente a submissão à ordem médica: arquivos, partilha de informações com o médico generalista, etc.


Os psicanalistas não hesitam em fazer contato com  o médico; caso haja indicação, eles envolvem um psiquiatra a cada vez que isso se faz necessário, e não se opõem aos tratamentos médicos ...
Mas o projeto vai mais longe do que esta prática: ele quer impor um quadro automático que deixe supor a todos esses contatos, uma subordinação da psicoterapia à medicina. O colóquio singular do paciente e de seu psicoterapeuta  não pode reduzir-se ao formalismo administrativo de um relatório a se estabelecer, nem estar submetido a uma autoridade coordenadora exterior.
  
Em conclusão :


Se a Ministra da Saúde e os Deputados que vão apoiar este projeto de lei não querem ser responsáveis por esse ressecamento intelectual e moral da psicoterapia, devem então modificar seu texto, abrindo largamente para os outros diplomas universitários o acesso para a formação em psicoterapia.


Se eles não querem que a escuta do sofrimento psíquico se reduza à pura engenharia acéfala, devem então estabelecer um quadro flexível de formação, exigindo, mas sem visar a formatação dos psicoterapeutas em molde único.


Se eles não querem invalidar antecipadamente o diploma que estão criando, então devem confiar naqueles aos quais eles consagram o novo título de «psicoterapeuta», sem submetê-los por antecipação ao controle do médico. Caso contrário, eles devem ao menos aceitar que a psicanálise não se reduz a uma psicoterapia e reconhecer os psicanalistas via Anuário das Escolas de Psicanálise, como é feito fora da regulamentação das psicoterapias na França.

 

E tanto pior para a psicoterapia do Estado.

  
Correio da ACF Bélgica
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Comunicado do Conselho da Escola Brasileira de Psicanálise

1 de setembro 2013

 

O Conselho da EBP se reuniu nos dias 02 e 03 de agosto de 2013 em São Paulo.

 

Em relação ao The Miami Symposium: What Lacan knew about womem, comentou-se sobre a dificuldade do ensino de Lacan em penetrar nos EEUU; talvez ainda pela influência dos pós-freudianos, pela terapia cognitiva comportamental e pela neurociência. No entanto, esse foi um passo decisivo da AMP na demarcação de um território a ser conquistado. Sabemos que a difusão da psicanálise de orientação lacaniana não se faz sem esforço, tampouco, sem entusiasmo.

 

 O Conselho iniciou a discussão sobre a necessidade de existir referências fixas onde possam ficar arquivados permanentemente os documentos contábeis, atas e documentos jurídicos, estoque de livros além de ser um local para contratação de cargos administrativos estáveis que não sejam substituídos a cada rodízio de direção.

 

Por solicitação do Diretor Geral da EBP foi considerada a necessidade de se criar uma Diretoria de Biblioteca da EBP, como funciona nas Seções, assim como a escolha do Diretor de Biblioteca da EBP.

 

O Conselho considerou de suma importância que nossa comunidade analítica seja incentivada a participar das atividades preparatórias e dos eventos que se apresentam: ENAPOL, Seminário Internacional da EBP – HAUN e o Congresso da AMP de 2014 em Paris.

 

A orientação do Conselho é que as atividades preparatórias locais para o Congresso da Associação Mundial de Psicanálise sejam organizadas em torno dos Papers que estão sendo divulgados nas listas da AMPSilicetdeverá sair ainda nesse ano e poderá compor, junto com os Papers, objeto de discussão nas atividades locais.

 

 

Atenciosamente,

  

Rômulo Ferreira da Silva

Presidente do Conselho da EBP

 

Sérgio de Campos

Secretário do Conselho da EBP

 

 

Carta à Presidente Dilma

5 de agosto 2013

 

O Presidente e o Diretor da EBP assinaram a Carta à Presidente Dilma Roussef que foi elaborada pela Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras propondo veto parcial ao texto aprovado pelo Senado e comumente chamado de ATO MÉDICO. Aqui no Espaço do Conselho publicamos a íntegra da carta e congratulamos os membros da Articulação pelo êxito da iniciativa.

 

Rômulo Silva - Presidente da EBP

Marcelo Veras - Diretor da EBP

 

Brasil, 20 de junho de 2013.

 

Excelentíssima Senhora
Presidente da República
Dilma Roussef,

 

Vimos por meio desta solicitar uma especial atenção de Vossa Excelência quanto ao texto aprovado pelo Senado Federal anteontem, 18.06.2013, intitulado o "Ato Médico", aprovação que ocorreu em caráter simbólico pela maioria dos Senadores presentes sob alegação de “urgência” que não entendemos, justamente nesta semana em que todas as atenções estão voltadas para as recentes manifestações populares e para a Copa das Confederações, aproveitando ainda a votação contrária à orientação do Conselho Federal de Psicologia visando um tratamento corretivo da homossexualidade, também tramitada esta semana, e que retira de profissionais qualificados, por não serem médicos, o direito de orientarem suas clínicas conforme os diagnósticos por eles atribuídos.      Representamos, em nível Nacional, o Movimento intitulado Articulação das Entidades Psicanalíticas brasileiras, que associa as Instituições Brasileiras que formam Psicanalistas e se reconhecem como tal, mutuamente, e nos opomos ao texto ora aprovado pelo Senado pois entendemos que o objetivo dessa lei é hierarquizar as relações entre os diversos campos profissionais que atuam em equipe em instituições de saúde pública, reservando aos médicos um lugar privilegiado em detrimento dos outros campos de saber. No que tange aos psicanalistas, esta lei não só desconhece como desrespeita a formação do psicanalista que, sendo ou não médico – a maioria dos psicanalistas brasileiros é não médica –, é submetido a uma formação de enorme rigor teórico e clínico que o faz capacitado a orientar sua conduta clínica de maneira autônoma e independente, não necessitando tutela de qualquer natureza para tal.

 

Escrevemos esta carta na tentativa de sensibilizar Vossa Excelência para o problema, tendo em vista o fato de que, ora aprovado pelo Senado, necessita apenas da assinatura de Vossa Excelência para efetivar-se, contrariando a vontade e a capacidade de um enorme número de pessoal não médico do qual depende atualmente o atendimento clínico da população brasileira.

 

Tomamos a liberdade de indicar os artigos que nos parecem atentar gravemente à autonomia e independência dos profissionais não médicos no texto discutido no Senado:

1) artigo 4o., incisos I, X, XI:
Art. 4º São atividades privativas do médico: I – formulação do diagnóstico nosológico e respectiva prescrição terapêutica [...]1 X – determinação do prognóstico relativo ao diagnóstico nosológico; XI- XI – indicação de internação e alta médica nos serviços de atenção à saúde;
2) artigo 5o., incisos I e II:
“Art. 5º São privativos de médico: I – direção e chefia de serviços médicos2; II – perícia e auditoria médicas, coordenação e supervisão vinculadas, de forma imediata e direta, às atividades privativas de médico;

 

Colocamo-nos ao dispor de Vossa Excelência para esclarecermos quaisquer pontos que julgue necessários nesse sentido, e nos subscrevemos,

 

Com grande respeito e com admiração,

 

Rômulo Silva - Presidente da EBP

Marcelo Veras - Diretor da EBP

 


1   Que, conforme mais abaixo no texto do Projeto tem como uma de suas definições as alterações psicopatológicas, o que contraria a competência, conforme alguns autores (inclusive o próprio médico que criou a Psicanálise, Sigmund Freud), mais do psicanalista  do que do médico: “III – alterações anatômicas ou psicopatológicas”

2   Na medida em que não fica claro o que é um “Serviço médico”, podendo este inclusive ser todo um ambulatório, uma enfermaria, um dispositivo clínico de saúde – inclusive mental –, esse inciso é um retrocesso em relação ao que já se instituiu no Brasil, no sentido de hoja haver CAPS que funcionam sob a coordenação e supervisão de não médicos, assim como ambulatórios, enfermarias em hospitais universitários, perfeitamente coordenáveis por professores não médicos e trabalhando com os médicos. Aliás, esse inciso entra em contradição até com o que o próprio texto do Projeto de Lei observa em Parágrafo Único: “Parágrafo único. A direção administrativa de serviços de saúde não constitui função privativa de médico”. Ora, se não constitui então por que o texto do inciso a inclui?

 

 

Assunto EBP-Veredas

1 agosto de 2013

 

O conselho e a Diretoria da EBP agradecem os mais de quatro anos de trabalho que Cristina Maia dedicou a nossa lista EBP-Veredas, tendo colaborado com sua equipe nas traduções do enorme material que circula em nossas listas da AMP.

 

Por decisão de Cristina Maia ocorre a permutação dessa importante função. A EBP recebe a notícia com satisfação por se tratar de uma lógica de Escola.

 

Patrícia Badari é a indicada de Cristina para substituí-la. Para Patrícia, desejamos um bom trabalho na moderação de EBP-Veredas e esperamos bons frutos no trabalho conjunto.

 

Atenciosamente

 

Rômulo Ferreira da Silva

Presidente da EBP

 

Marcelo Veras

Diretor Geral da EBP

 

 

Acontecimento

Sérgio de Campos1

 

Os psicanalistas teriam algo a dizer sobre o que está acontecendo nas ruas? Há algo inédito, fora do campo da representação e que ninguém se atreve a explicar. Os analistas políticos estão pasmos e mudos. Há um acontecimento em curso, no sentido de Deleuze e de Badiou. Trata-se de uma intervenção na sociedade pela sociedade. Badiou assinala que a intervenção é todo procedimento pelo qual o múltiplo é reconhecido como evento 2. Não há precedentes históricos no Brasil, mas já foram registrados movimentos com alguma semelhança no Cairo, o estopim para a primavera árabe, em Madri, conhecido como los indignados, a marcha de Wall Street em New York, o movimento de Vancouver, entre outros.

 

O movimento das massas, supranumerário, evidencia a apresentação que tomou as ruas, convocada pelas redes sociais. As redes sociais manejadas pelos jovens internautas já são vistas como o mais poderoso instrumento subversivo e de mobilização social. Em virtude das redes sociais, a mídia conservadora perde espaço, a capacidade de controle e deixa de ser, gradativamente, formadora de opinião. Jamais um líder conseguiu feito semelhante. O evento surge distinto de qualquer outro movimento ocorrido no Brasil, seja as diretas já ou fora-Collor. O curioso é que o movimento é de massa, deslocalizado em seu sítio, sem líder, espontâneo, sem nome, sem partido, sem bandeira, sem ambição de poder, sem ideologia e sem uma causa única.

 

Sanadas as preocupações básicas com a subsistência, o brasileiro se interessou pela política. Há pelo menos múltiplas causas em jogo: movimento contra a corrupção, a favor de mais saúde e de mais educação, em defesa do aborto, das relações homoafetivas e ao seu contrário – alegados pelos pentecostais e conservadores, a PEC 37 (contra o poder investigativo do Ministério Público), a PEC 300 (a favor do reajuste dos militares), a greve da polícia federal, a favor da liberação da maconha, mobilização contra a copa do mundo, os verdes em defesa do meio ambiente, a favor do passe livre, etc... A quantia dos vintes centavos é emblemática e funcionou como a gota d'agua. A temperatura alcançou o ponto de ebulição e o caldo entornou. 

 

A mídia conservadora tenta desacreditar o movimento focando a atenção dos espectadores televisivos e leitores na baderna. Porém, o movimento de cunho pacífico é o primeiro a rejeitar os vândalos. O vandalismo está incluído no movimento, mas não lhe pertence. O anonimato, o excesso e a ilegalidade o desqualificariam. Seguramente, esse evento produzirá uma situação histórica, embora nem toda situação histórica produza o acontecimento. Qual será a consequência da relação entre os dois?

 

Diante desse acontecimento abrupto no Ethos, teríamos de rever a teoria freudiana da “Psicologia das massas”. Estamos sob o regime da pluralização dos nomes do pai. Seja à esquerda ou à direita, os partidos políticos estão perdidos e, em vão, tentam se capitalizar no movimento. Porém, esses jovens não mais se sentem representados pelas lideranças tradicionais e pelos partidos políticos. “Give me a break!” O movimento não anseia por novas promessas ou lideranças oportunistas. Há uma crise de representatividade e um desvelamento do real. O acontecimento se interpõe entre o vazio da representatividade e o si mesmo do evento3 .

 

Se o movimento que ganhou as ruas pode ter tido alguma influência de outros do além-mar, a questão que se coloca como enigma é saber qual é o elemento, o S1, que os faz unir, tão díspares e contraditórias, correntes de pensamento nesse acontecimento múltiplo singular. Afinal, qual será o operador da conexão que promove a fidelidade entre o heterógeno do conjunto? Existe algo inteiramente, singular e indecidível que está fora da ordem, da representação e da compreensão, que se instala, e que tudo indica, é para ficar no século XXI. A conclusão está no devir. As desordens do simbólico, finalmente, alcançaram o real?

 

1 Membro da EBP e AMP, Ex-AE (2009-2012).
2 Badiou, A., O ser e o evento, Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1996, p. 165
3 Idem, p. 390.

 

 

A Cura Gay

Rômulo Ferreira da Silva

Presidente da EBP. A.E. (Abril de 2012) Membro da EBP e AMP

 

Estamos diante de acontecimentos que fogem ao controle das instâncias que antes se ocupavam de discuti-las e administra-las, ao menos era essa a crença que se tinha, ou se pretendia ter.

O movimento popular a que estamos assistindo reflete o grau de inoperância do simbólico no nosso século. Mesmo que esse movimento se queira pacífico a partir de boa parte dos que o compõem, os atos de vandalismo tornam mais clara a “manifestação”. O “quebra-quebra” é dirigido aos ícones que não mais se sustentam, ao menos, naquilo que um dia puderam manter um semblante de ordem e progresso.
Os prédios públicos são alvos de pichações e depredações, empresas privadas também são destruídas e saqueadas. Até os partidos, de esquerda ou não, que pretenderam se representar, foram alvo de reações violentas. Não há mais palavras de ordem que unifique a turba.

Não se trata de uma derrubada da autoridade paterna em sua verticalidade. Ao que assistimos, já é um resultado dessa queda. Se, antes, podíamos ver, claramente, na psicose que o que foi foracluído do simbólico retorna no real, pudemos observar, a partir do último ensino de Lacan, que para todo ser falante, há algo do real que não se submete ao simbólico.

Estamos acostumados a lidar com esses restos sintomáticos nos tratamentos que conduzimos ou nos submetemos, até o ponto em que eles podem ser sinthomatizados. Ou seja, o ser falante, ao se deparar com a impossibilidade de dar sentido ao que se lhe apresenta como real, inventa. Inventa algo que articula o singular do gozo com o seu entorno.

Podemos dizer que a psicanálise tem o seu quinhão de responsabilidade no que ocorre no mundo contemporâneo. Por isso mesmo, os psicanalistas não podem se furtar a entrar na discussão que se apresenta.

O que vemos, como destacou Ram Mandil, é que em cada cartaz presente nas manifestações espalhadas por todo o país, há uma denúncia/reinvindicação particular, revelando inclusive estilos variados, ora agressividade, ora ironia e assim por diante.

Ouvi em um programa de rádio um manifestante que participou da destruição do espaço de abertura da Copa das Federações, dizer: “Eu não queria copa no Brasil!”

Ora, o fato  desse “Eu” não ter sido consultado sobre a disputa acirrada que ocorre entre os diversos países para sediarem esses eventos, poderia ser interpretado simplesmente como uma posição arrogante e descabida se não tivesse em seu cerne a denúncia de que, mesmo as instâncias democráticas, não funcionam mais. Não se trata de pensar que elas estejam funcionando mal; elas não funcionam mais.
Constatamos, então, que há uma participação muito particular nessas manifestações. Estaríamos mais apaziguados se houvesse minimamente uma organização identificada pelos S1 da cultura: as feministas, os evangélicos, os estudantes, os sem-terra, os operários, os gays.

Há conjecturas de todas as ordens sobre a origem das ações violentas nas manifestações: a polícia infiltrada para justificar reação mais contundente da força repressiva, moradores de rua e usuários de droga para se aproveitarem da situação, facções que acreditam na guerrilha urbana e também se infiltram etc.
Porém, estamos advertidos por Freud sobre os efeitos que a massa pode ter sobre os indivíduos. O evento mais traumático até agora documentado foi o que ocorreu em Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, que envolveu a morte de um manifestante a partir de uma reação, ainda não esclarecida, de um motorista que ficou no meio da manifestação. Ele é contra a manifestação? Sentiu-se em pânico diante da pressão dos manifestantes por estar de carro no meio da multidão? Sentiu-se impune, como todos os dias nossos políticos e grandes empresários, dão exemplo no exercício de suas funções? Obviamente nada disso justifica a ação violenta e irresponsável, mas é algo a se pensar, já que estamos na ordem do um por um, mesmo nessas grandes manifestações.

Da palavra de ordem que se ouvia na época da ditadura “Você aí parado, também é explorado”, surge uma versão mais contemporânea: “Você aí parado, vai ficar parado?” Trata-se de um apelo que pode parecer sutil, mas engendra uma mudança. Sai da ideologia da luta contra o capitalismo e da opressão do proletariado explorado, para uma exigência de participação, um imperativo: “Goza!”

Cada um entra na multidão com sua face de gozo e suas reinvindicações.

Em contrapartida, ao menos aparentemente, surge o “projeto” da “cura gay”.


Será que vamos ter que lutar por um Estado laico?
Aqueles que não se sentem confortáveis com a escolha de objeto, outrora considerados “egodistônicos”, não têm direito a tratamento?

Mas, eles já têm?

Qualquer sujeito que não se sinta bem nesse ponto pode procurar ajuda, seja pela via da medicina, da psicologia e até da psicanálise. Ou a “cura gay” será imposta?

A divergência entre “as manifestações” e a proposição do pastor, está no apoio que ele faz na religião.
Se para “as manifestações”, fica clara a junção do discurso da ciência e do capitalismo, paradoxalmente sendo esse último, alvo de ataques, ocorre uma tentativa de agregar a religião, no discurso do pastor, como o discurso que poderia sustentar os outros dois.

Mais que temerosa essa estratégia é ameaçadora, pois pode abrir margem para a recolocação da homossexualidade como doença, além de ser pecado.

Depois de todo o movimento ocorrido para a retirada da homossexualidade da lista de doenças do Código Internacional de Doenças, aparece essa proposta, contra a corrente, mas que não deixa de ter ressonâncias nos últimos eventos; já que podemos nos deparar com algum cartaz com os dizeres “Pelo direito à cura gay”.

 

 

We don’t need another hero

Luiz Fernando Carrijo da Cunha

Membro da EBP e AMP

 

Nem mesmo os mais astutos conservadores da nação ousariam, hoje, proclamar qualquer sombra de ilegitimidade nas manifestações que tomam conta do país. Não restam dúvidas quanto a isto; o exercício da democracia e a cidadania que lhe é tributável garantem esse estado de direitos. Aliás, as instituições governamentais não deixaram de pagar um preço por terem negligenciado, no início da onda de manifestações, esta prerrogativa que sustenta uma sociedade democrática. É certo, também, que o assunto é tema corrente para análises políticas e sociológicas; algumas irrefutáveis no que diz respeito ao seu contexto e causalidade, outras de pouca importância diante do vulto que a coisa alcançou. Não importa. O fato é que vemos uma sociedade marcada pelo espírito de estupefação sobretudo pela incapacidade de detectar a “palavra de ordem” que estaria na base do movimento. Um fato novo? Quem ousa interpretá-lo fora da série que constitui nossa história, já que as análises que correm nas mídias tentam fazer disso uma simples reviravolta para chegar ao mesmo lugar? Nossa “pizzaria” já é bastante familiar para tentar acomodar-se ao seu menu. Não é à toa que os espíritos expectantes aguardam pela “palavra de ordem” que não veio; ainda não. – Virá? Sem dúvida que seu advento permitirá que a coisa se ordene e, ato contínuo, faça perder o seu elo ao real que se coloca. Não que não haja causas (no plural), mas a falta de UMA promove, por um lado, a perspectiva de uma nova operação com o real a partir da política, mas por outro, esta mesma política, assentada sobre o edifício da tradição do mestre (esquerda ou direita, não importa), pode tomar, para si, através de seus representantes, a unificação da causa. O “sucesso” desse “acontecimento” dependerá da persistência do real fora de qualquer expectativa de soluções heroicas; ou uma coisa ou outra. A tese de Lacan que sustenta a leitura da cultura contemporânea relativamente à perda da eficácia do pai nos auxilia na busca por um lugar a ocupar nesse turbilhão. Isto nos permite tomar a palavra numa vertente a considerar, na política, a possibilidade de um novo arranjo em que o próprio discurso, pautado na democracia, inclua seus restos. Os corpos nas ruas, a multiplicidade de apelos e a constância do fato estendido às redes sociais testemunham isso e, como psicanalistas, convém que os tomemos como um sintoma bem concernido e que não pede, a priori, um herói salvador.

 

 

Sobre as recentes manifestações

Ram Mandil

A.E. (Novembro de 2012) . Membro da EBP e AMP

 

Sobre as recentes manifestações: o que me parece importante é tentar extrair o máximo do que essa experiência traz de sem-sentido ("ninguém está entendendo nada") mas que exerce uma força de atração e mobilização impressionantes. Tem alguma coisa da ordem da pulsão (o movimento "acéfalo"),  da ordem da repetição ("a primavera brasileira"), tem alguma coisa que beira a passagem ao ato (os "vândalos", ou os anarquistas do Black Block),  não tem um S1, mas um enxame deles (um cartaz: "Tanta coisa errada que nem cabe num cartaz"), tem um monte de causas (portanto, é sem uma),  tem a ironia (outro cartaz: "Detesto bala de borracha, atirem Halls") e tem uma abertura para a  transferência do gozo do individualismo contemporâneo para o gozo dos corpos na rua (outro: "Saia do x-vídeos e vem pra rua"!).   O desafio, a meu ver, é não perder de vista a distância entre o acontecimento em si e os S2 que procuram dilui-lo ou explicá-lo. E  ver que tipo de nova saída sinthomática isso poderá gerar (e que inclui, portanto, o que tem aí de inassimilável).   

 

Estive numa passeata, no sábado passado, contribuindo para aumentar a média de idade dos participantes.  O que mais me chamou a atenção foram os cartazes sendo escritos na hora, no chão, sem estereótipos, sem palavra de ordem unificada.  Um enlace singular entre a letra, o gozo, o corpo... e política".