Bibliô #16


Nesta edição nossos diretores de biblioteca, Laura Rubião e Fernando Coutinho, conversaram com alguns dos autores que estarão lançados seus livros no XX Encontro e transcrevemos abaixo um “avant première” do que serão estes lançamentos.

Acompanhem!


MIRTA ZBRUN SOBRE O LIVRO:

A formação do analista”- De Freud a Lacan.

Por: Fernando Coutinho

 

1) De que trata seu livro?

 

Examino no meu livro um tema de atualidade no Movimento Psicanalítico, a “Escola criada por Jacques Lacan”, com a questão que lhe é essencial, a “formação do psicanalista”. Trato essa noção ‘como conceito, não como preceito’.

 

2) Como você conceitua a diferença entre a Sociedade Psicanalítica criada a partir do Movimento Psicanalítico de origem freudiana e a formação do analista na Escola de Lacan?


O novo ordenamento dos conceitos freudianos operado por Jacques Lacan fez surgir uma nova clínica e também uma nova formação psicanalítica. Na minha investigação, tentei elucidar e dar uma formulação conceitual a essa particular formação do analista para além do Édipo, diferente da formação desenvolvida nas sociedades criadas por Freud.  No início do século XXI, pouco mais de 100 anos depois do surgimento da Psicanálise de Sigmund Freud e 40 anos após a “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola”, de J. Lacan, apresentar um estudo sobre o assunto é um desafio que empreendi por considerá-lo tão necessário quanto instigante.

 

3) Quais são para você as condições da formação do analista examinadas em seu livro?


Como é conhecido são três as vertentes do que vem a ser a formação de um psicanalista, estabelecidas desde Freud: análise pessoal, supervisão da prática e estudo da teoria.  Porém, ao examinarmos a tradicional formação do psicanalista, que se restringe ao interior da corporação analítica, em contraste com a Escola de Lacan, que se dirige universalmente ao conjunto dos interessados na problemática analítica, introduz-se e se põe à prova a própria existência do grupo psicanalítico e a formação que ele dispensa. E para responder a esse desafio teórico e prático, desenvolvo em meu livro a ideia de que “não há analista sem Escola”.

 

4) Finalmente, como apresenta em seu livro a Escola de Lacan?


 Através de seu conceito de Escola, Lacan tencionou dar uma nova forma à velha questão que percorreu todas as sociedades psicanalíticas: deveriam estas sociedades, na sua prática institucional, responder à pergunta sobre quem é o psicanalista?  No meu livro pretendo responder a esta questão examinando a Escola de Lacan como o lugar para onde convergem os paradoxos que engendram o postulado da ‘formação do psicanalista’ e ainda, considerar a ‘experiência da Escola’ como determinante na produção de um analista.
 

Entrevista concedida por Lucíola Freitas a Laura Rubião sobre seu livro Subversos.

 

1) Como se deu o processo de confecção de seu livro?

 

Primo Levi a escrita do trauma foi escrito a partir do trabalho de investigação realizado no âmbito de um Doutorado em Psicanálise realizado entre 2010 e 2014 na UFMG. Nesse período tive a chance de realizar parte de minha pesquisa no Centro Internazionale di Studi Primo Levi, em Turim, o que contribuiu imensamente para a escrita tanto da tese, quanto, posteriormente, do livro, pois a obra de Primo Levi encontra-se apenas parcialmente traduzida e publicada no Brasil. O horizonte epistêmico do livro é o do testemunho. A pergunta que me orientou e permitiu a articulação entre o campo da literatura e aquele da psicanálise, foi uma pergunta sobre os confins da representação: como o escritor enfrentou a dimensão absolutamente traumática da experiência concentracionária, em sua opacidade e ilegibilidade? De quais recursos de linguagem se serviu? O que foi possível disto transmitir? Neste livro, meu percurso de leitura e de escrita se fez por meio do entrelaçamento e cotejamento de passagens da obra e de fragmentos de vida, transmitidos através das entrevistas concedidas pelo escritor durante sua vida. Se no primeiro momento havia me dedicado às possíveis articulações entre o testemunho e o político, no decorrer da pesquisa fui me interessando cada vez mais pela dimensão poética do testemunho de Primo Levi, até perceber que este se constituiu, desde os primórdios, numa zona entre dois: entre o poético e o político. Tais termos constituem, em sua obra, não uma relação de oposição ou exclusão, mas uma relação de extimidade.

 

2) Poderia falar um pouco do tema nele desenvolvido?

 

Dediquei o primeiro capítulo à investigação da chamada “coisa-nazista” passando pelos contos fantásticos e pelas incursões de Levi em torno do problema da verdade até a concepção da noção de zona cinzenta, localizando, nesse momento, suas raízes poéticas. Se no primeiro capítulo explicitei a formação singular da “coisa-nazista” e da “coisa-coisa” para Levi, no segundo me dediquei à Coisa freudiana, tal como conceituada por Lacan, passando pelas relações entre o vazio e o objeto de arte, via a sublimação e a extimidade; pelo problema do mal e do sacrifício aos deuses obscuros; pelas relações entre a biopolítica e o racismo na contemporaneidade; para então situar o trabalho do artífice da palavra em meio a tudo isso. O terceiro capítulo dá-se como um mergulho na obra de Levi, não sem o recurso aos conceitos de real e de trauma, tal como formalizados por Lacan. Nesse momento, procedo a uma demonstração de como o inassimilável do trauma se apresenta e se escreve por meio de um pesadelo de repetição e da iteração de um significante, mas também por meio da culpa, da vergonha do sobrevivente e da angústia. Para então demonstrar como, por meio de seu trabalho de escrita, fragmentando e perfurando com a linguagem a “coisa-nazista”, daí poderá extrair-se um objeto, nesse caso, o objeto voz. O último capítulo explicitará as referências e os recursos de linguagem utilizados pelo escritor em sua lida com o inominável; passando ainda, pela centralidade do recurso ao oximoro e, com este, pelo “centauro”, o “anfíbio” e o “híbrido”, como traços de estilo e formações sinthomáticas, até a invenção de seu “pedaço de real”: a “zona cinzenta”. 

 

3) Qual a importância do tema para nossa comunidade?

 

Acredito que talvez, quem melhor possa responder a essa questão, sejam os leitores. Recorrerei assim, para tentar responder a esta pergunta, à ajuda dos primeiros leitores deste trabalho. Antônio Teixeira, que foi o meu orientador de tese, e quem redigiu a apresentação do livro, extraiu de sua leitura algumas questões e uma direção. Transcrevo trecho que está na orelha do livro: “Lucíola Macêdo parece dirigir ao campo de concentração o olhar do Angelus Novus de Paul Klee, evocado por W. Benjamin em sua nona tese sobre o conceito de história: onde se busca uma cadeia de acontecimentos, só se vê “uma catástrofe única que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés”. Como testemunhar da pura ruína, desse avesso de qualquer possibilidade de edificação, quando nosso discurso procede por montagens? O testemunhar aqui se coloca na defasagem entre a ruína traumática que afeta o pensamento e o que pode o pensamento disso elaborar. Por isso, seu livro se mostra atravessado pela questão de uma língua do testemunho. Como testemunhar da ruptura sem por que do trauma, senão através daquilo que, na língua, fragmenta e silencia a continuidade do discurso representativo?”.


Romildo do Rêgo Barros, em seu prefácio, nos diz: este livro “trata essencialmente de psicanálise, embora percorra outros tipos de experiência. Ele se inicia com a coisa nazista, na companhia de Primo Levi e de alguns outros, em seguida considera a Coisa a cuja dignidade um objeto pode se elevar na sublimação; e culmina na Coisa da qual a experiência do passe é a expressão. Nos três casos, trata-se, no fundo, de expor quê noção de testemunho pode-se extrair. O testemunho sobre aquilo que surgiu como limite do humano em um campo de concentração, sobre aquilo que Jacques Aubert, citado por Lucíola Macêdo, chamou de “uma catástrofe significante sem precedentes”; o testemunho sobre a obra de arte, ou melhor, o testemunho dado pela própria obra de arte; e, finalmente, o testemunho sobre o tratamento do real próprio da análise, que a experiência do passe, em um dispositivo especial, propicia. Além disso, o livro mantém um laço com o funcionamento do dispositivo analítico, que, inventado por Sigmund Freud, pôs em cena há pouco mais de um século uma relação de porosidade entre sujeito e objeto, que só mais tarde se tornaria patente na cultura. Com o seu artifício clínico, que aparentemente visava as tragédias, dramas e farsas da família burguesa, e que foi a ocasião definitiva para se pôr em palavras a estrutura da fantasia, Freud nos dá condições, quando interpretado por Lacan, de entender melhor o mundo de hoje e o que se passa além das paredes da família. Paredes que, pelo que vemos, já estão parcialmente arrombadas. São questões, como se vê, decisivas, das quais depende o acesso da prática analítica aos novos e futuros tempos”.

 

Entrevista realizada por Laura Rubião com Maria de Fátima Ferreira sobre o livro A dor moral da melancolia.

 

1) Como se deu o processo de confecção de seu livro?

 

Este livro busca municiar a prática clínica com os pacientes melancólicos. Ele resulta das inquietações geradas pela experiência clínica dentro de um hospital psiquiátrico, ao se estabelecer o diagnóstico e ao tratar esses pacientes.


Constata-se, na clínica, que, muitas vezes, o sujeito apresenta fenômenos tão variados, com mecanismos que tornam difícil um diagnóstico mais apurado. Dentre esses fenômenos, é muito presente no dizer de alguns sujeitos, o de perseguição algumas vezes acompanhado de uma culpa intensa, que se manifesta pelo delírio de auto-acusação, com presença de desvitalização, inércia e inibição, apatia, vontade de morrer, auto-mutilações, tentativas de auto-extermínio, falta de interesse por tudo na vida. Por outro lado, há sujeitos que se apresentam tão mortificados, com tanta indignidade, que chegam à análise após uma perda ou até mesmo após uma tentativa de autoextermínio, que, orientando-nos em busca de saber se se trata de uma tristeza neurótica ou de uma psicose melancólica.


Diante desses desafios, o lugar que a psicanálise confere ao tratamento da melancolia, é a discussão central neste trabalho: Como o analista pode funcionar na clínica da melancolia? Ou seja, frente à certeza de morte sentida pelo melancólico, que manejo o analista pode adotar? E, na variedade dos fenômenos das psicoses, quais são os específicos da melancolia?

 

A questão que fundamenta esta investigação apóia-se na consideração do efeito foraclusivo, no melancólico, sustentado pela presença maciça da dor moral, essencial à melancolia. E, nessa condição, buscar-se-á saber qual a possibilidade do sujeito ser passível ao tratamento analítico. A tese central que se destaca, neste livro se baseia na possibilidade de o analista, ao ajudar contra, oferecer um certo anteparo à passagem ao ato suicida conferindo um sentido ali onde o real do gozo mortífero se presentifica.

 

2)  Poderia falar um pouco do tema nele desenvolvido e qual a importância deste para nossa comunidade?

 

Este livro toma a dor moral do melancólico como uma resposta ao real em jogo na melancolia, à luz do conceito, extraído do ensino de Jacques Lacan, sobre a foraclusão do Nome-do-Pai. A abordagem dessa dimensão foraclusiva não se fez sem o pressuposto freudiano de que os pacientes melancólicos estão identificados narcisicamente ao objeto perdido. Sem nenhum pudor no desmascaramento de si e como consequência da impossibilidade de fazer o luto, o melancólico não acredita na melhora e se apresenta como o pior de todos em suas relações, o que, na clínica, muitas vezes, pode inviabilizar o tratamento. Diante disso, a questão fundamental que o livro procura encarar diz respeito ao modo como a psicanálise pode tratar esses sujeitos que carregam em si mesmo essa dor autodestrutiva. A prática analítica aponta, nesses casos, para a necessidade de produzir um sentido, baseado no dito do paciente, constituindo-se em uma espécie de “ajuda contra” o Outro mau que vem à tona no âmago do vazio essencial da melancolia. Ao ocupar um lugar de anteparo contra esse Outro mau,o psicanalista visa ao que há de mais irredutível no insuportável do sofrimento, abrindo uma perspectiva de apaziguamento desse gozo desenfreado e sem limites. É uma abertura que cria as chances para o tratamento tocar em algum investimento libidinal que ligue o melancólico à vida.

 

No Cinema com Lacan

Stela Jimenez

 

Aqui fabricamos teus sonhos, diz Mièle no filme  A Invenção de Hugo Cabret. Ele “não sabia” até que ponto essa afirmação era verdadeira...

 

O cinema, com sua maneira singular de por “em cena”  situações impossíveis, e com suas habilidades técnicas, permite “visualizar” processos psíquicos que só se tocam nos sonhos.

 

Como toda arte, faz aparecer o indizível, o Real. Mas o cinema tem a particularidade de poder mostrar de que maneira esse real está organizado, as formas topológicas em que o real se enlaça nos nossos processos psíquicos. A mais simples dessas “demonstrações” que o cinema pode fazer é o jogo com o tempo. Nele, passado, futuro e presente podem coincidir, como no nosso inconsciente. Pode demostrar que o verdadeiro caminho do tempo do inconsciente é “do futuro para o passado”. Pode brincar com o tempo tomado como quarta dimensão: um filme blockbuster, como de “Volta para o futuro” , mostra que é possível atravessar uma parede se se voltar ao ano antes em que essa parede foi erguida. Ora, a nossa estrutura psíquica funciona, preferencialmente, na segunda e na quarta dimensão: na dimensão das superfícies, e na quarta, que entrelaça espaço e tempo....

 

Pode demostrar que o tempo é absolutamente relativo: as duas horas de um filme podem retratar cinco minutos ou cinco  séculos, se o diretor as manejar no sentido naturalista a plateia vai receber como tempo realístico.

 

Este livro explora algumas dessas articulações que os filmes nos ensinam,  seguido das elaborações conceituais que as justificam. 

 

A violencia é analizada no comentário sobre o filme: O homem do lado. Os autores nos ensinam que, para além da agressividade especular, é a presentificação repentina do objeto a (nesse caso o objeto olhar) o que desencadeia a paixão destruidora. 

 

 

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