Bibliô #12

Julho 2014

Boletim eletrônico das Bibliotecas da EBP

 

Editorial

 

As bibliotecas da EBP continuam firmes em sua tarefa de contribuir com a formação e educação freudiana dos analistas. Neste sentido neste número 12 do Bibliô vocês encontrarão informações que vão desde nossos eventos locais como nossas Jornadas a uma entrevista com o Diretor do XX Encontro do Campo Freudiano, Henri Kaufmanner, na qual vocês atestam a atualidade dos interesses dos psicanalistas de orientação lacaniana.


Confiram o lançamento da revista mineira Derivas Analíticas, cuja proposta de diálogo com a cultura da nossa época é bem explicada por sua editora.


O lançamento do livro de Joseph Attié em nossas seções e delegações continua tendo ecos que podem ser aqui recolhidos.


Acompanhem a riqueza da pesquisa do grupo do Bibliô Referência em torno do Seminário VI, pois se trata de uma ferramenta indispensável à leitura contextualizada deste seminário.


Boa leitura!

 

ATIVIDADES NAS SEÇÕES E DELEGAÇÕES

 

SEÇÃO BAHIA

DIRETOR RESPONSÁVEL: Nilton Cerqueira

ACONTECEU

 

NOTA SOBRE O DEBATE PROMOVIDO PELA BIBLIOTECA DA EBP-BAHIA:
(Comissão de biblioteca: Nilton Cerqueira (diretor), Mônica Hage (diretora adjunta), Carla Fernandes, Júlia Solano e Rogério Barros).


No dia 30/05/14, a Biblioteca da EBP-Bahia promoveu um debate no Teatro Martim Gonçalves, logo em seguida à exibição da peça Sonata de Outono. A montagem faz parte do Projeto Baiano Bergman no Teatro, e tem a direção de Aimar Labaki. Contando com a presença dos atores (Cristina Leifer, Thaia Perez e Plínio Soares), a Comissão de Biblioteca trouxe para o debate toda a complexidade da relação mãe e filha, permeada pela ambivalência constante dos sentimentos de amor e ódio. Visitando inicialmente a obra de Freud, que nomeia como "catástrofe", o que ocorre nessa relação, concluímos com os ensinamentos de Lacan que, ao se utilizar do termo "devastação", observa que o devastador não é a relação mãe/filha, mas sim colocar nessa relação a pergunta sobre a mulher. A peça nos permitiu, ainda, levar ao debate questões sobre o amor, e sobre a sensibilidade dos filmes de Bergman que, por abordarem questões inerentes à "alma humana", a nós mesmos, podem travar um diálogo interessante com a Psicanálise. Vale destacar, também, que o Projeto Bergman no Teatro se constitui num incentivo à leitura, ao colocar um livro de prosa ou poesia, que serão doados às bibliotecas comunitárias, como o ingresso do espetáculo.


Mônica Hage

 

SEÇÃO RIO DE JANEIRO

Diretor Responsável:Fernando Coutinho

CONVITE

 

A Biblioteca da EBP-RIO, juntamente com os organizadores de nossas jornadas clínicas anuais, as XXIII, que terão como tema "O Trauma e suas vicissitudes", têm o prazer de convidar os membros, aderentes correspondentes, colegas analistas de outras instituições, amigos e interessados na psicanálise de Orientação Lacaniana para:

 

TRINCAR: TRAUMA E ENCONTRO
Evento preparatório para nossas XXIII Jornadas Clínicas anuais
Data: 28 de julho de 2014
Local: Largo dos Leões, 70
Hora: 20 horas
Convidada: Cristiana Grumbach
Entrevistadoras: Leda Guimarães e Ana Beatriz Freire
Coordenador: Fernando Coutinho


Desde o momento do trágico desaparecimento da cena do mundo do grande cineasta brasileiro Eduardo Coutinho, que tanto nos ensinou com a brilhante intervenção que realizou durante nossa XX Jornada Clínica, que a Seção Rio da EBP, através de sua Biblioteca, tem pensado em prestar-lhe uma homenagem.
É para esse significativo evento que ora os convidamos.


Nada mais oportuno pensamos que aproveitar essa celebração para começarmos a nos preparar para nossa XXIII Jornada, que terá lugar em outubro, nos dias 23 e 24.


Foi aí que nos surgiu a idéia de projetarmos um pequeno trecho do seu "Jogo de Cena", em que a personagem Sarita (representada por Marília Pêra) dá o seu depoimento.


Após a projeção, nossa convidada Cristina Grumbach, cineasta, pesquisadora e professora da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, dará seu depoimento como colaboradora do nosso homenageado em todos os seus filmes. Cristina fazia uma entrevista prévia com os candidatos que tinham se apresentado para participar do filme do Coutinho.


No nosso evento, os papéis vão se inverter, pois de entrevistadora ela passará a entrevistada, na ocasião por nossas colegas Leda Guimarães (diretora adjunta da Biblioteca) e Ana Beatriz Freire (colaboradora da Biblioteca).


As entrevistadoras, provavelmente, "puxarão" suas questões em direção ao trauma, tema de nossas próximas jornadas clínicas.


O evento será coordenado por Fernando Coutinho


Quanto ao título que escolhemos para o mesmo, bem! Vamos deixar sua elucidação em suspenso, oferecido à leitura singular de cada um de nós.


Aguardamos vocês todos.

 

Fernando Coutinho
Diretor da Biblioteca da EBP-Rio

 

ACONTECEU

Soirée Attié/Mallarmé
Abner Chiquieri nos conta sobre a tarefa de traduzir na qual o tradutor deve se centrar não no que disse o autor, mas como o disse. Uma boa tradução tem valor de obra de arte. Granada ou bomba, buraco ou furo, problemas para o tradutor em que o próprio texto muitas vezes não ajuda a esclarecer. Nessa busca constante de equivalências desenrolou-se a tradução de Mallarmé – O Livro. O tradutor não precisa ler a estrutura profunda à luz da psico-mecânica da linguagem, a partir da estrutura superficial do original. Abner relembra sua trajetória escolar da infância e juventude que sempre envolveu a tradução, mais do latim para o português, pois eram literais, tinham sentido cúbico. Para escapar de alguns labirintos Abner recorreu ao autor e a riqueza dos conhecimentos de Manoel Motta sobre a poesia de Mallarmé e a psicanálise. Em sua tarefa tentou traduzir o que Attié quis dizer e não ao que ele disse. Um tradutor tem que ser como um autor do original, não lhe cabe superá-lo. O livro de Attié é um misto de ciência e poesia, o que o-animou a traduzir. Não foi um trabalho solitário, mas um trabalho solidário, pois foi um trabalho para os brasileiros e lusófonos. Traduzir é além de uma transformação, é um processo de luto do original.

 

Manoel da Motta é um dos grandes responsáveis por esta tradução e por nos reunirmos hoje. "Tudo no mundo existe para chegar a um livro" forma de Mallarmé, e Josef Attié dá uma explicação psicanalítica e reflexiva, a partir da concepção lacaniana do sintoma. Attié conjuga a arte e a vida do poeta, e escreve o talvez mais extenso estudo psicanalítico de uma obra poética. Manoel traz as figuras do "lance de dados", "Um lance de dados jamais abolirá o acaso" de Mallarmé, para tratar da perda que remete ao objeto perdido freudiano. Segundo Manoel, a obra do poeta pelo ordenamento dos significantes constrói uma nova presença.

 

Romildo do Rêgo Barros comenta que a publicação desse livro o fez lembrar de que Attié, há uns 10 anos, já falava de seu seminário sobre Mallarmé. Supõe que este seja o maior livro em psicanálise sobre um escritor. Diante de um assunto tão difícil de tratar Romildo nos indica do amor que marca essa obra. O que parece ser uma ilustração para o papel que Attié dá ao sintoma, o que se pode dizer que Mallarmé se tornou para Attié um sintoma. Este livro será muito útil para que se vejam a partir do exemplo da literatura as relações que Lacan teve com Freud. Freud se preocupa com o quê que uma obra pode dizer das fantasias do autor. Attié demostra a importância da primazia do sintoma na criação a partir do momento inspirado no que pensou Lacan que a própria produção sintomática é criação. Este livro é uma obra que nos levará a conhecer Malarmé, a interpretação attieana de Mallarmé e até mesmo a Lacan. Romildo nos convoca a pensar que a transgressão do uso da língua, a exterioridade que se assume quando se diz alguma coisa. A poesia aparece como transgressão da língua e criação de um objeto que não existia antes. São contribuições interessantes, sobretudo aos psicanalistas que se veem a encarar as obras contemporâneas.

 

Heloisa Caldas traz sua experiência pessoal com Attié, em seu momento de estudos para o doutorado. A arte é da produção sintomática, embora o sintoma seja uma resposta ao fracasso, mas há sintomas e sintomas. O que lhe atrai na obra de Mallarmé na escuta e leitura de algumas expressões, como a "perda seca". Attié demonstra o matema sinthomático do escritor e nos ensina sobre o saber fazer de Mallarmé. Mallarmé foi um dos primeiros poetas a valorizar a letra como objeto.  Essa escrita objeto denuncia seu caráter de furo.

Isabel Lins, sustenta na EBP-RJ um seminário sobre esse livro, há mais de 3 anos. Isabel pergunta a Attié em entrevista se ele não teria adotado a própria causa de Mallarmé seu desejo, sonho e projeto. Ele respondeu como sonho e poesia, a serviço do amor. A utopia, vício de Mallarmé que Attié fez seu também. Ele nos transmite o que há de mais sublime na poesia do poeta. Isabel comenta partes dos poemas de Mallarmé que abordam o luto pela perda de seu filho.

 

Ana Beatriz Freire fala de uma citação de Lacan que o próprio Attié lhe deu como dica do livro, Ana e Attié mantêm uma amizade pessoal. Lacan, Seminário II "os colegas que não sabem o que eles dizem, dizem sempre as coisas antes dos outros". Aprende-se com esta obra sobre o sinthoma e sobre o poeta Mallarmé. É um campo de investigação aberto por Lacan (Sem.XXIII) que tem haver com a produção do sintoma, um savoir y faire e um sinthoma. Assim como Freud que extraiu dos restos um saber não sabido, que fez lançar sua própria teoria. Attié extrai do poeta um saber não todo, um meio dizer, uma enunciação, um lugar próprio que faz avançar a psicanálise. O luto é outro tema tratado, que podemos afirmar que o luto percorre toda obra de Mallarmé.  É com Lacan, que Attié tece através de Mallarmé as considerações dele e também interroga o estatuto da mulher para Mallarmé.

 

Francisca Menta

 

ACONTECEU

VIOLÊNCIA NAS CIDADES

Apesar de um grande engarrafamento do trânsito, devido a mais uma manifestação no Rio (dessa vez dos professores da rede pública), às 18h30 do dia 30 de maio, horário previsto para iniciarmos o evento "Violência nas cidades", organizado pela Biblioteca da EBP-RIO, a Mediateca da Maison de France tinha ocupado todos os lugares reservados para nossos convidados: psicanalistas do Campo Freudiano juntamente com o público bastante eclético, que costuma frequentar nossas intervenções nesse espaço que a Maison, parceira da biblioteca de nossa seção, tem nos oferecido há vários anos.


Como coordenador da mesa redonda, eu mesmo, convidei nossos colegas Ondina Machado, Vicente Gaglianone e Rodrigo Abecassis para darem início aos trabalhos.


Antes de passar a palavra a Ondina, justifiquei o título da mesa como uma das preparatórias do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, que terá lugar em Belo Horizonte entre os dias 21 e 23 de novembro próximo.


Aproveitei a ocasião para apresentar duas publicações de nossa Escola _ "Ódio, segregação e gozo" e "A violência: sintoma social da época" _ como dois valiosos instrumentos de trabalho que muito vão nos ajudar na preparação e elaboração de nossos textos, que seguirão os eixos de reflexão propostos pela comissão científica do encontro, liderada por Sérgio Laia.


Lembrei aos presentes que o vocábulo violência, apesar de constar tanto dos escritos de Jacques Lacan quanto dos seus seminários, não constitui um conceito psicanalítico propriamente dito. Por outro lado, agressividade foi bastante trabalhada por Lacan desde seus primeiros seminários, mas também nos Escritos. Em nossos consultórios ou instituições onde nos colocamos como psicanalistas, não é raro ouvir dos sujeitos que nos procuram que ocasionalmente podem tornar-se violentos que ocasionalmente podem ser tomados por alguma coisa mais forte que eles mesmos, que lhes tomam o corpo e os levam a agir sem pensar. Nessa perspectiva, um ato de violência pode ser pensado então por um psicanalista como uma passagem ao ato, realizada por um sujeito que subtamente se eclipsa.


Relembrei aos nossos convidados que Eric Laurent ao ser entrevistado por Ondina Machado e Cristina Drummond que lhe perguntaram se,  a partir do que vemos frequentemente publicado na mídia,  acreditava que a violência tem aumentado nos nossos dias, este  respondeu que tudo depende do ponto de vista  de onde nos colocarmos. Para os sociólogos e suas estatísticas, provavelmente sim, porém do ponto de vista da psicanálise não temos como responder a essa pergunta nem pela afirmativa nem pela negativa.


Depois dessa breve introdução ao tema do nosso Encontro, passei a palavra a Ondina, que reafirmou uma vez mais que violência não é um conceito nem lacaniano nem freudiano, como o é a agressividade, violência recalcada pela fala. Vivemos num mundo que valoriza cada vez mais as reações rápidas, até mesmo disruptivas, como a resposta violenta. Muito importante na fala da Ondina foi a correlação entre trauma e violência, mostrando como cada um de nós vai reagir de uma forma diferente à violência, uma vez que, para cada um de nós o trauma que nos constitui foi diferente. A violência de cada sujeito vai depender de como foi tocado pelo insondável do trauma causado pelo atravessamento da fala em seu ser. Citou exemplos recentes de violência urbana, como os linchamentos, e como nessas ocasiões as reações de cada um são sempre da ordem do particular, mesmo quando participando desses violentos acontecimentos da ordem do público.


Rodrigo Abecassis, nosso colega que trabalha como psicanalista na polícia,  trouxe um texto consistente, do ponto de vista teórico, e muito interessante como depoimento de sua experiência de prática psicanalítica com policiais. Seu interesse sobre as questões de psicanálise e direito, vem de longa data. Falou-nos sobre o sujeito da psicanálise em relação à aplicação da lei. Apoiou sua fala em Walter Benjamim, fazendo a distinção entre o direito natural e o direito positivo. Em alemão, a palavra violência significa tanto a violência propriamente dita quanto o poder. A violência pode ser vista como um meio para se atingir a fins justos. O próprio Estado pode usar a violência, como por exemplo, na guerra. Há violência na instituição de uma lei, mas também na garantia de sua aplicação. Freud, no seu mito do Totem e Tabu, situa a violência na origem da lei. A culpa, presente numa manifestação de violência, indica a presença de um sujeito.


A função de um policial, que tem a violência como um direito, seria representar a lei ou a sua impotência? Finalmente o policial é o braço armado da lei, que se serve da violência para chegar aos seus fins justos.
Finalizou abordando a questão das manifestações de junho de 2013, com o fenômeno dos grupos que não se formaram em nome de um ideal.


Depois do Rodrigo, é a vez do Vicente nos falar.


Levando em consideração a heterogeneidade do público, usou os primeiros minutos do seu tempo, explicando alguns conceitos fundamentais do ensino de Lacan, que seriam úteis à sua explanação. Explicou em poucas palavras a questão da fala, do significante e do discurso do mestre.


Em seguida, usando como eixo um excelente texto de Luis Eduardo Soares, lembra um recente episódio que nos causou comoção, a história de um cidadão comum que foi alvejado por um policial que o confundiu com um traficante, uma vez que esse homem fazia um reparo na varanda de sua casa, servindo-se de uma furadeira que foi confundida pelo policial com um metralhadora. "Homem alvejável",estava criada assim uma nova categoria, inexistente até então no estado de direito.


Vicente, brilhantemente, percorre o seminário 10, com a questão da angústia, do objeto e do dejeto a ser eliminado, lembrando-nos assim da passagem que pode ser realizada do objeto do horror ao objeto da segregação.


Depois de percorrer alguns autores importantes na abordagem do tema da violência, Vicente conclui sua fala, citando Thomas Piketty, que recentemente publicou um livro de economia que tem obtido uma enorme repercussão mundial, no qual o autor demonstra o exponencial agravamento das desigualdades sociais no mundo capitalista e os consequentes efeitos segregacionistas da daí derivam.


Depois dos nossos convidados, agradecendo às suas contribuições, lembrei que a fantasia, matemizada por Lacan, foi inspirada na descoberta de Freud, tematizada em "Bate-se numa criança", fantasia presente em nossas análises e organizadora da realidade e da sexualidade do sujeito, mas que nos indica também o ponto de violência presente no cerne de um falasser. Há segregação e violência, mas também uma lei reguladora, em cada um de nós.


Foi uma noite que nos trouxe bastante satisfação.

 

Fernando Coutinho
Rio, 01/06/2014

 

A violência: sintoma social da época – coletânea de artigos organizada por Ondina Machado e Ernesto Derezensky, editora Scriptum, produzida pela EBP, Belo Horizonte, 2013

 

EBP SANTA CATARINA

DIRETORA RESPONSÁVEL: LAURECI NUNES

 

Noites de Biblioteca: Atividades Preparatórias 

IX Jornada da EBP-SC "Psicanálise, Crenças, Leis"
 I Colóquio do Observatório Lacaniano da EBP "Desafios Contemporâneos à Psicanálise" 
 XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano "Trauma nos corpos, violência nas cidades"

 

As palavras em erupção: Dos traumas às invenções 
Denise Wendhausen, Diego Cervelin, Rafael Caetano Cherobin e Silvia Ghizzo. 

Coordenação: Laureci Nunes (EBP/AMP)

Dia 10 julho 2014, às 20h:30
Local: Ático do Edifício Sudameris, Jerônimo Coelho, 280, centro Florianópolis-SC
Atividade aberta e gratuita
Informações - (48) 32222962 e www.ebpsc.com.br

 

 

EBP- PARANÁ

DIRETORA RESPONSÁVEL – CÉLIA WINTER

 

Como parte das atividades da Biblioteca da Delegação Paraná, no dia 31/05, tivemos o lançamento do IV numero, da revista Aleph, com a palestra de Fernanda Otoni Brisset e comentários de Rômulo Ferreira.

Fernanda, destacando a violência, chama a atenção da  presença desse significante no dia a dia da cidades, da política e da clínica contemporânea. Diferenciando agressividade e violência, cita Lacan, afirmando que "não existe agressividade sem a instituição de um outro e, que violência, é o que  se pode produzir numa relação inter-humana quando a fala se demite". Ilustra com a atualidade do vandalismo, fenômeno  que temos presenciado no dia a dia das cidades, onde,  na solidão da massa, aglomerados de uns sozinhos, irrompem em uma violência individual desregrada, triunfo da pulsão de morte. 

 

Os comentários de Romulo e a fala de Fernanda convocam os analistas à necessidade crescente de ofertar a presença do desejo do analista, onde o significante não faz sentido.  


Este é o desafio que a orientação lacaniana propõe frente a precariedade simbólica e a falta de ideais no contemporâneo, produzindo como consequência dessa demissão desejante, a liberação do gozo a céu aberto, onde se dispensa o Outro e se passa ao ato.


O analista com seu desejo se oferta como um objeto e ao se deixar consumir, pode provocar um gosto novo, a satisfação de falar que possa dar algum tempero a "essa vida que vai além da vida dos corpos".

 

Segue em anexo o sumario digitalizado da Revista Aleph IV lançada nesta noite!

 


 

EBP SÃO PAULO

DIRETORA RESPONSÁVEL- CYNTHIA FREITAS

 

ACONTECEU

Atividade da Diretoria, 21 de maio de 2014.
Noite da Biblioteca, Mallarmé O Livro.
Por Cynthia N. De Freitas Farias


"O que o analista ensina ao poeta?" 
Roberto Zular1 retoma ao avesso a questão da noite, para trabalhar primorosamente o livro de Joseph Attié, lançado no Brasil, que articula vida e obra do poeta simbolista que influenciou profundamente a poesia do século XX. E responde: a habilidade com que  Attié traz a dimensão do acontecimento para a poesia. "Um poema é um acontecimento de linguagem ... Entrar num poema é entrar num outro modo de organização de tempo e do espaço, do ritmo, outro modo de produção da subjetividade"2.


E "o que o poeta ensina ao analista?"
O encontro com a arte é sempre um acontecimento no estrito sentido exposto acima. A poesia de Mallarmé levou Attié ao seu Mallarmé O Livro para tentar "saber o que há nessa poesia de tão opaco, de tão atraente e de tão fascinante"3. A leitura do livro de Attié pode abrir para muitos o universo da poesia. Ler Um lance de dados jamais abolirá o acaso é uma aventura. Sob nossos olhos as palavras no papel nos conduzem a encruzilhadas, produzindo escanções no ritmo da leitura. É preciso parar e lançar os dados invocando o acaso. O caminho escolhido por acaso implica a contingência de um novo acontecimento. Daí por diante, o leitor é envolvido num ritmo de lances ao acaso e encontros de palavras sem compromisso com o sentido, pura experiência do olhar que produz voz.


Pulsão escópica e pulsão invocante estão em Jogo demonstrando como se articulam dois comentários aparentemente paradoxais que Zular nos apresenta no inicio de seus comentários: "A poesia não pode salvar minha vida", título de um livro e a declaração de Mandela dizendo que a recitação diária de uma poesia fez com que sobrevivesse aos 20 anos de cativeiro4. O ritmo não recobre a pulsão mas engendra o vivo da experiência pulsional: "A pulsão tem um ritmo que não temos acesso mas que se acopla de maneiras singulares ao ritmo da poesia"51.


Valendo-se de uma fala de Lacan de que ele não era um poeta mas um poema, Zular nos convida a aproximar, a partir da leitura do livro de Attié, o lugar do poema e o lugar do analista, na medida em que o encontro com um analista permite experimentar, por meio das escanções no discurso que o corte da sessão produz, um outro lugar para o sujeito. Essa espécie de "restrição"6 que o verso exige foi defendida por Mallarmé até o final.


Vale ressaltar no comentário de nosso convidado da noite sua admiração quanto ao fato do autor passar do poema ao poeta sem muita dificuldade, sem pudores diante do risco de psicanalisa-lo. Vida e obra se misturam e, a partir do esquema L de Lacan, vemos configurar-se a estrutura subjetiva de Mallarmé, numa forma inusitada de estruturar sua obra.


No eixo imaginário (a-a'), O fauno e Horodias. Igitur (S), sujeito do desejo a espera de um significante que venha representa-lo. Finalmente o esquema se completa com O livro, obra nunca levada a cabo, I(A), como proposto no início, ou objeto causa (a), poderíamos nos perguntar ao final. 


Zular nos ensina que o que está em jogo para o poeta não é dizer, mas sugerir, oferecendo um lugar outro para a nomeação. Há um efeito de furo que marca a condição paradoxal da poesia e da psicanálise. Não basta constata-lo. É preciso saber como se contorna esse furo, como se nomeia, se constrói esse litoral. A obra de Mallarmé é sua singularidade frente ao furo, que o livro de Attié vai aos poucos nos mostrando.

 

1Roberto Zular, professor de Teoria Literária e Literatura comparada da USP.


2 Anotações feita pela autora da resenha extraída da fala de Roberto Zular no evento Atividade da Diretoria da EBP-SP, Noite da Biblioteca, "Mallarmé O Livro – O que o poeta ensina ao analista sobre a relação entre palavras e corpos" em 21 de maio de 2014.


3 Attié, J. (2013). Mallarmé, o livro. Rio de Janeiro: Forense, p. 1.
4Referência do comentador.


5 Anotações feita pela autora da resenha extraída da fala de Roberto Zular no evento Atividade da Diretoria da EBP-SP, Noite da Biblioteca, "Mallarmé O Livro – O que o poeta ensina ao analista sobre a relação entre palavras e corpos" em 21 de maio de 2014.


66 Idem.

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EBP ESPÍRITO SANTO

DIRETORA RESPONSÁVEL – TÂNIA PRATES

 

No mês de julho continuaremos trabalhando o texto de Jacques-Alain Miller Extimidad.
Referência: MILLER, J. A. Extimidad. Buenos Aires: Paidós, 2010.
Coordenação: Tânia Mara Alves Prates (Aderente da Delegação ES da EBP) - Coordenadora da Biblioteca-Delegação ES
Data e Hora: Atividade semanal - terças-feiras, às 20 h 30 na sede da Delegação ES da EBP

Data: 01 de julho – Capítulo XIX Las ficciones del outro y del objeto – Alberto Murta

Data: 08 de julho – Capítulo XIX Las ficciones del outro y del objeto – Alberto Murta
CINEMA E PSICANÁLISE

Esta atividade tem como objetivo a discussão da produção da sétima arte sob o olhar da psicanálise. Em cada encontro será visto um filme com posterior discussão dos assuntos abordados.
Data: Sábado dia 26 de julho, às 9 h "Temple Grandin", filme de 2010, direção de Mick Jackson (Estados Unidos).

 

 

Este número 12 do Bibliô nos contempla com um excelente bate papo entre Laura Rubião e Yolanda Vilela, editora da revista digital da EBP-Minas intitulada Derivas Analíticas. Parabenizamos os colegas mineiros por mais um esforço em manter, ao estilo Freudiano e Lacaniano, o diálogo com saberes afins à Psicanálise.
Confiram!


Revista de Psicanálise e Cultura da EBP-MG
www.revistaderivasanaliticas.com.br

Description: C:\Users\Win7\Downloads\Imagem Revista Derivas Analíticas (1).JPG
O projeto de criação de uma revista digital da EBP-MG não é recente. No caso  de Derivas Analíticas, sua criação foi ganhando contornos a partir das discussões sobre a versão online da Curinga, a revista impressa da Seção Minas, no site da EBP-MG. Nesse sentido, decidiu-se que alguns de seus números esgotados e já digitalizados seriam disponibilizados no site da Seção. Estávamos no início de 2013 e eu começava a assumir a coordenação da revista Curinga. Pareceu-me que o momento era oportuno para submeter à Diretoria da EBP-MG o projeto de criação de uma revista digital que se distinguisse da Curinga, tanto no que diz respeito ao meio de divulgação quanto ao próprio conteúdo a ser veiculado. A atual diretoria da Seção Minas apostou no projeto e, com a equipe de publicação que eu acabara de constituir, passamos a trabalhar paralelamente nessas duas frentes, ou seja, dando continuidade à Curinga – que registra, sobretudo, a produção da EBP-MG – e impulsionando o projeto da Derivas, cujas rubricas foram, então, se delineando.


No que me diz respeito, eu gostaria de dizer que durante a minha graduação tive acesso à antiga revista Isso, dirigida por Sérgio Laia e Wellington Tibúrcio, publicação que tinha em seu conselho editorial colegas como Antônio Beneti e Luiz Henrique Vidigal. Aquela revista teve um forte impacto sobre mim, pois trazia artigos muitíssimo originais ligados à cultura, o que ampliava consideravelmente o horizonte dos nossos estudos em psicologia e, embora tenha se limitado a um único número, ela deixou marcas suficientes para alimentar meu desejo de reintroduzir uma articulação com a cultura de forma mais decidida no seio da EBP-MG. Durante um bom tempo fiquei aguardando os artigos anunciados para o segundo número da Isso, tal como o curioso título do texto de Ram Mandil: "A Geringonça de Gôngora"...


1. Qual é a linha editorial da D.A?


Derivas Analíticas é fundamentalmente uma revista de psicanálise e cultura. Suas rubricas se estendem sobre quatro eixos principais. Sua rubrica mais epistêmica, Mathesis, contempla textos conformes à nossa orientação, podendo ser de autores da EBP ou de outras escolas da AMP. Esperamos que, embora prevaleça nos textos dessa rubrica a dimensão teórica da psicanálise de orientação lacaniana, eles possam encontrar ecos, repercutir em leitores de outras outros campos do saber. Além disso, a revista conta com mais três rubricas ou seções: Aquele texto..., que resgata artigos que fizeram a história da EBP e da EBP-MG; Você disse contemporâneo? Uma rubrica que funciona como uma antena, captando as manifestações culturais oriundas das artes, da literatura ou da filosofia; e, por fim, a rubrica Sinopses, resenhas, etc. & tal, que traz textos mais breves que contemplam lançamentos culturais que possam interessar tanto aos psicanalistas quanto aos leitores de outras áreas.


2. Qual o interesse de uma revista como esta para a comunidade analítica?


Historicamente, se a psicanálise resiste e sobrevive é, entre outras coisas, por não dar as costas às disciplinas que lhe são conexas. Freud e Lacan, por exemplo, foram, antes de tudo, pensadores da cultura. Eles eram extremamente atentos ao que se passava à sua volta, considerando em suas clínicas e elaborações teóricas aquilo que recolhiam da cultura, seja no campo das artes plásticas, na literatura, na filosofia ou outros. Levar em conta o que se passa no plano das disciplinas que lhe são afins impede que a psicanálise caia num certo anacronismo, o que seria muito problemático. A meu ver, o interesse para a comunidade analítica de uma revista como Derivas Analíticas consiste na renovação que ela pode representar. O passe, por exemplo, é um procedimento que renova e reinventa a psicanálise através de cada A.E nomeado; da mesma forma, essa revista digital nascente pode contribuir para que a psicanálise continue se reinventando, afinal, como diz Lacan, o psicanalista deve estar à altura da subjetividade de sua época. Os psicanalistas devem certamente estar atentos ao que se passa no plano cultural; contudo, é igualmente importante que leitores de outros campos do saber vislumbrem o que se passa em nosso campo. Nesse sentido, Derivas Analíticas é bastante ambiciosa: ela pretende alçar a psicanálise de orientação lacaniana para fora de nossa comunidade, oferecendo-se a leitores que possam constatar a que ponto a psicanálise é uma teoria e sobretudo uma práxis conectada com a contemporaneidade.


3. Qual a periodicidade da revista e como estão os preparativos para o próximo número?


A proposta é que Derivas Analíticas seja quadrimensal. Essa periodicidade, que compreende três números anuais, permite introduzir uma temporalidade que nos parece interessante. Em outras palavras, nossa aposta é que tal periodicidade introduza uma "desaceleração" no leitor, se posso dizer assim, para que o ato de leitura seja menos volátil e consequentemente menos banal. Quanto aos preparativos para o próximo número, estamos a todo vapor. As matérias e os artigos já estão definidos e o leitor terá belas surpresas!

 

URBANAS – Bibliô Indica


ACONTECERÁ

Neste número de Urbanas trazemos notícias do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano através de uma entrevista com o diretor do Encontro Henri Kaufmanner.É interessante acompanhar como Henri vai desenhando um histórico do evento e seu tema, assim como relacionando as palavras chaves do Encontro: Trauma e Violência.


Acompanhem!


Por Tânia Abreu


1) Você pode nos contar como surgiu a idéia de unir dois assuntos tão contemporâneos, violência e trauma, no tema do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano?

 

A orientação lacaniana, naquilo que ela aponta para um psicanalista a altura de seu tempo, sempre nos manteve ligados e atentos às questões da cidade. Deste modo, em nossa prática da psicanálise, estamos inseridos nas discussões, criação e sustentação de diversos espaços institucionais que se ocupam dos efeitos da violência na cidade ou que são mesmo linha de frente em lidar com sua presença. Portanto, o problema da violência, para nós, não é exatamente uma novidade. O que foi nos provocando ao longo dos últimos anos foi a forma com que essa passou a se apresentar, bem como as respostas que sua incidência vem produzindo. Foi esta dupla face do problema que nos colocou diante da quase urgência de nos ocuparmos deste tema de uma maneira mais formalizada.


A partir de 2012 vimos assistindo de forma crescente, o reaparecimento no Brasil de políticas higienistas e segregadoras orientadas particularmente para a abordagem dos usuários de drogas. As internações compulsórias como opção política do estado naquele momento nos convocaram, aqui em Minas, como psicanalistas, a uma posição. Convidamos interlocutores e iniciamos uma discussão que resultou no mesmo ano em nossa jornada que tinha como tema "A Política da psicanálise na era do direito ao gozo".  Afinal, a biopolítica, ancorada no discurso de redução da violência, explicitamente mostrava sua cara na busca de um controle dos corpos daqueles que mostram com sua presença os excessos da realidade do consumo, o gozo que se esconde por detrás do discurso capitalista e como os corpos são afetados pelo mesmo.


Paralelo a isso, os acontecimentos violentos no dia a dia de cada um de nós, e na vida dos nossos analisantes não nos deixou dúvidas sobre a oportunidade de abordar em um encontro nacional, as formas como a violência se apresenta, como isso afeta os corpos, e como a psicanálise pode contribuir, na medida que sua política se sustenta no singular do sintoma e não em formas higienistas de controle.


Assim, inserimos o trauma, pois como cada sujeito, cada falasser opera com a sua própria experiência traumática é uma invenção absolutamente singular, e é preciso resgatá-la das idéias generalizantes da cultura, particularmente das classificações produzidas pelo mundo contemporâneo.

 

2) A violência nas cidades é um tema que ocupa o cotidianos de nossas vidas e é discutido em várias instâncias do saber, desde a política partidária que define nosso dia-a-dia no âmbito legislativo e jurídico ao campo da sociologia. Como a psicanálise pode contribuir com esse debate? Há algum olhar específico da psicanálise para este tema? 

 

Partamos do pressuposto básico e fundamental para nós, de que a psicanálise é uma prática do singular. Isso pode inicialmente parecer contraditório, na medida em que nos ocupamos de um tema que se observa como um fenômeno coletivo, social e político. Não por acaso nosso tema apresenta esse contraponto entre o trauma e a violência. O Trauma para a psicanálise diz respeito a como o corpo é afetado pela linguagem, como o sexual acontece no corpo, e como essa experiência é impossível de se reduzir às palavras, carregando ai nesse impossível o seu valor de trauma. A presença do Trauma em nosso tema aproveita exatamente essa ambiguidade entre o que é o trauma para a psicanálise e o que é o senso comum que se tem dele na cultura. Assim, esse aparente paradoxo entre o singular e o coletivo pode ser trabalhado.


Há um fio condutor em nosso tema, mesmo que pensemos em trauma em sua amplitude semântica, e a violência. Ambos carregam em suas acepções a presença de um excesso e de um silêncio. É por se tratar de uma presença silenciosa e excessiva de uma experiência de corpo, que a psicanálise pode contribuir.
A Violência é uma marca do humano, algo que aponta para a sua insuficiência enquanto falasser, para lidar com aquilo que excede sobre seu corpo.


Como já apontava Freud, e não somente ele (lembremos Benjamim) as leis carregam em si a violência. Contudo, essa se mantinha ordenada pelas forças do estado, e seus instrumentos de regulação.
No nosso tempo o esvaziamento do sentido e da função reguladora do Pai produziu algo como uma pulverização, quase como a produção de uma violência prét-a-porter, pronta para ser consumida a cada esquina.  Assim encontramos as formas de violência como um novo gadget a ser consumido na sociedade do espetáculo, e encontramos também a violência como resposta do estado ou de fundamentalismos, tentando controlar os corpos por sua segregação e por práticas também violentas.


A psicanálise nos permite entrar nesse cenário sustentando a idéia de que é possível não somente escutar e favorecer no singular de cada um sua própria solução para esse excesso silencioso, como também, propor dispositivos institucionais, não segregadores e que favoreçam a emergência desse singular.

 

3) Se recorremos aos meios de consulta contemporâneos como Google ou Wikipédia veremos que ali o relato de "situações traumáticas" é extenso e que, como em outros campos do saber, o que é da ordem do subjetivo nestas situações tende a não ser abordado. O que a psicanálise de orientação lacaniana tem a dizer, de novo e singular, sobre esta constatação? Este fato será abordado no XX Encontro?

 

Não podemos desconhecer as situações sociais e as diversidades de respostas com que os grupos respondem aos acontecimentos traumáticos. Não se trata disso quando buscamos ressaltar a especificidade da idéia de trauma para a psicanálise. O Outro social tem seus mecanismos, e os grupos tendem a repetir estes mecanismos em situações coletivamente traumáticas. Desconhecer isso seria desconhecer, por exemplo, a existência do "jeitinho brasileiro". Um analista a altura do seu tempo é também um analista a altura da língua do Outro social no qual se insere. Isso é inclusive uma das motivações para um Encontro que seja Brasileiro. Operar com o trauma e com a violência no Brasil necessariamente exige um manejo dos psicanalistas com os semblantes de nossa cultura. Por isso, nossa inserção na cidade nos cobra uma participação como analistas, interpretando estes semblantes, propondo soluções institucionais que permitam esse aparecimento do singular, atravessando as soluções coletivizantes da sociedade, mas não as desconhecendo. Ser um psicanalista no Brasil é certamente diferente de ser um psicanalista na França ou nos Estados Unidos.


Apesar destas diferenças, destas multiplicidades de laços sociais, e em contraponto a estas, temos a nossa experiência de Escola, que como nos lembra Miller busca na interpretação a sustentação de seu laço, e os relatos do passe nos permitem cernir, como é possível ir do publico ao privado, do coletivo ao singular, atravessando toda essa rede simbólica tão múltipla e diversa.


O que, portanto a psicanálise pode trazer a esta discussão é o esforço no sentido de perfurar as estruturas homogeneizantes, para que algo do um a um possa se produzir, e que assim, cada um possa produzir a partir de seu próprio modo singular de gozo, um caminho para tratamento do indizível das experiências de seu corpo.


4) Em linhas gerais, no que o XX Encontro tem a contribuir com a formação do analista?


Bem, acho que em linhas gerais eu respondi nas duas primeiras perguntas.


O Encontro Brasileiro é uma oportunidade de fazermos uma sintonia mais apurada entre a psicanálise em intensão e a psicanálise aplicada. É um momento em que as questões mais agudas de nosso tempo podem ser abordadas, atualizadas, com a participação e contribuição dos colegas de todo o país, em sua diversidade e originalidade.


Acrescentaria ainda que o Encontro Brasileiro, como seu nome já diz, é, nesse mundo de desencontros, uma oportunidade de nos encontrarmos, conversarmos, reafirmar nossos laços e por que não, o que me parece também importante na formação de um analista, festejarmos...ah sim, festejarmos!!

 

5) Para concluir, que orientações gerais você pode dar aos interessados em comparecer ao XX Encontro?


Primeira orientação geral:  VENHAM! INSCREVAM-SE E VENHAM!!!


O Boletim esseOesse e o blog do Encontro trazem todas as informações necessárias. As inscrições são feitas online no próprio blog com diversas formas de pagamento. Lá se encontra também a programação do XX Encontro bem como dos eventos satélites, orientações para o envio de trabalho, e para acomodação. Vocês verão que o Encontro traz também a contribuição de outros setores da sociedade que se ocupam de nosso tema, o que abre a possibilidade para que aqueles que transitam por outros discursos se aproximem de nossa conversa.


Esperamos vocês com muito entusiasmo!!



 

http://www.encontrocampofreudiano.org.br

 


REFERÊNCIAS DO SEMINÁRIO LIVRO 6 DE JACQUES LACAN: "O DESEJO E SUA INTERPRETAÇÃO"
(1958-1959)

 

Pesquisa realizada por: Mirta Zbrun (Coordenação). Clarisse Boechat; Lenita Bentes; Leonardo Scofield; Maria Aparecida Malveira; Paula Legey; Patricia Paterson; Vicente Gaglianone; Rodrigo Fraga; André Antunes da Costa.

 

Apresentação

Gostariamos de convidar os leitores a compartilhar do universo Bibliô Referências, dos efeitos desta pesquisa e dos frutos de uma "interveção Lacaniana". Atualmente, alguns analistas se dedicam a compilar efeitos de suas leitura do Seminário VI e em buscas de suas referências no próprio Lacan, em Miller e em autores referidos por estes, com o objetivo de constituir um recurso que auxilie o estudo cuidadoso deste seminário. O livro no qual concluirá este trabalho também se presta para orientar a prática clínica de cada analista que se dedica ao "desejo e sua interpretação".


Vocês encontrão nos próximos DR uma versão "agalmática" do trabalho. Neste apresentamos os capítulos IV, V e VI distribuidos, cada um deles, em temas que os introduzem, algumas referências de autores nele presentes e algumas proposições realizadas por colegas.


Nestes capítulos é possível acompanhar com clareza o percurso de Lacan para a concepção do desejo. Ele revela seu circuito e o localiza no grafo, desde sua referência ao significante, passando pela constituição da fantasia, até esboçar o que se tornará uma grande virada em seu ensino com a subversão do que ele concebe como objeto a.


Neste percurso, Lacan se serve de dois sonhos. O primeiro é o da pequena Anna, trabalhado no capítulo IV, a partir do qual ele evidencia o caráter inapreensível do objeto de desejo. Através do sonho com objetos a ela "interditos", Lacan extrai o valor do significante dito (ainda que não-dito) no serramento do desejo. Ele afirma que o interdito desvela o desejo pelo significante.


Nos dois capítulos seguintes, Lacan se serve do sonho do pai morto. Ainda em sua investigação sobre o significante, ele faz uma digressão na gramática francesa para dizer que a negação ne instaura a divisão no sujeito inconsciente. A partir de duas outras referências que merecem ser conferidas, ele avança na construção da fantasia afirmando que o mais íntimo do sujeito é suportado pelo objeto. Em seguida, a noção de objeto apresenta, pelos termos de ponto de pânico e extimidade, as bases de uma virada em sua concepção do objeto. O primeiro destes é o momento em que o sujeito desaparece atrás do significante e tem que se enganchar ao objeto do desejo. O segundo refere-se ao mais íntimo sem deixar de ser exterior, o que permite interrogar sobre o estatuto do objeto imaginário a-a' que, posteriormente, assume o lugar de causa de desejo.


Ao retomar no capítulo VI o sonho do pai morto acrescido da interpretação freudiana "segundo seu voto", Lacan da um passo muito importante em seu ensino que o conduz ao mais além do Édipo. Miller, em seu discurso conclusivo do PIPOL VI discorre longamente a este respeito. Na investigação do que há de mais profundo do desejo, Lacan localiza o Édipo como uma máscara e indica, como um mais além, a estrutura significante e a relação imaginária. Porém, ao deparar-se com a inconsistência do significante, resta ao sujeito afrontar-se com o objeto a. Além disso, no sonho em que o pai é morto, este se apresenta como a imagem do objeto que se interpõe ao sujeito para fazer dela o suporte da ignorância perpetua que vela seu desejo. Temos aí, a concepção de Lacan neste seminário sobre a fantasia S/<>a como o mais profundo da estrutura do desejo.


Vocês terão acesso desenvolvimento integral destas proposições tão logo seja publicado o próximo livrro.

 

Leonardo Scofield

 

BERNARD D'AGESCI (b. 1756, Niort, d. 1829, Paris)  Lady Reading the Letters of Heloise and Abélard c.1780 Oil on canvas, 81 x 65 cm Art Institute, Chicago  For most eighteenth-century critics (e.g. Jean-Jacques Rousseau), novel reading by proper young wo
Tela de Bernard D'Agesci: lady readingthe letters of Héliose and Abélard. c. 1780 - Art Institute Chicago.

 

CAPÍTULO IV

O SONHO DA PEQUENA ANNA

TEMA I - A CIÊNCIA DOS SONHOS

 

Na última década do século XIX, Freud começou a sua própria exploração do fenômeno dos sonhos, trabalhando contra um pano de fundo de quase cinquenta anos de intensas pesquisas e teorizações sobre a questão. Freud considerou Traumdeutung como sua mais importante obra. Nela elabora a teoria sobre a análise dos enigmas dos sonhos em que o desejo toma um estatuto central. Lacan relata que mergulhou numa releitura dessa obra de Freud para trabalhar o tema daquele ano que era o desejo e sua interpretação. 

 

PROPOSIÇÕES
A - O DESEJO VEICULADO PELA MOLA DA FALA.
B - TODA A APREENSÃO DA REALIDADE ESTÁ SUBMETIDA NA BUSCA DO SUJEITO PELO OBJETO DO DESEJO.

 

TEMA II - O INTERDITO DESVELOU O DESEJO NO SONHO QUE SE EXPRIME E DESLIZA PELO SIGNIFICANTE

 

Lacan assinala que o sonho da pequena Anna, tratado por ele neste capítulo, é extremamente simples – pelo menos na aparência, e servirá para articular o desejo no sonho e a interpretação. Esse sonho da pequena Anna é apresentado por Freud como um sonho que traz o desejo em sua nudez.


No capítulo XII de O seminário, livro 5: as formações do inconsciente (1999[1957-58], p. 229), Lacan assinala que é um sonho que se encontra desde a primeira edição da Traumdeutung de Freud, especificamente no capítulo III - O sonho é uma realização de desejo eassinala quea pequena Anna sonha justamente com o que lhe foi proibido, por conta de uma dieta necessária na ocasião, - cerejas, morangos, framboesas, pudim – ou seja, tudo que entrou numa característica propriamente significante. Ela não sonha simplesmente com o que atenderia a uma necessidade, mas com o que se apresenta à maneira de um banquete, ultrapassando os limites do objeto natural da satisfação da necessidade, traço essencial encontrado em absolutamente todos os níveis, seja qual for o nível típico da satisfação alucinatória. No sonho, os significantes se apresentam em uma série de nominações, cuja escolha é precisamente o que foi interdito. Aquilo com que a pequena Anna tinha que lidar era o dito que não, formado pelo princípio da censura. Uma operação com o significante sobre um indizível. Isto supõe, nos diz Lacan, que esse significante é dito, o sujeito se deu conta  que o dito que não, resta dito, mesmo que ele não seja executado. Uma criança de 19 meses foi bem capaz de perceber o sentido da frase da sua babá, que interditou a realidade da sua satisfação. É um sonho de uma experiência vivida e tem a vantagem de ser abordado pelo significante. O interdito desvelou o desejo que se exprime e desliza pelo significante, sobre a cadeia significante, embutido nas palavras ditas pela pequena Anna, pelas quais desliza seu desejo. É uma experiência estruturada em uma série de Niederschriften – significante que Lacan faz equivaler àsmarcas de escrita. Freud dizia que nas Vorstellungs representant – traços que tem uma fixação libidinal - sempre haveria um investimento libidinal, que era necessário trabalhar.

 

PROPOSIÇÕES
A - A DIRETRIZ DO PRAZER NÃO É A DIRETRIZ DO DESEJO.
B - A DIREÇÃO DO PRAZER E A INTERDIÇÃO DA REALIDADE.
C - DIRETRIZ DO DESEJO.

 

TEMA III - A TOPOLOGIA DO DESEJO

 

Lacan se servirá da topologia para situar o desejo em relação a um sujeito definido através de sua articulação com o significante. Retoma o grafo do desejo, nesta parte da aula, para explicitar que, "o sujeito, pelo fato de articular sua demanda, é tomado num discurso, do qual ele não pode fazer com que não seja ele mesmo, construído enquanto agente da enunciação, ele não pode aí renunciar sem esse enunciado, pois é se apagar, então, totalmente, como sujeito, sabendo aquilo de que se trata". O sujeito só acede à enunciação por um ponto de cruzamento A, o discurso do Outro, no qual o sujeito está implicado.

 

PROPOSIÇÕES
A - UMA DISTINÇÃO QUE NÃO SE FAZ POR UMA LOCALIZAÇÃO TEMPORAL, MAS POR UMA LOCALIZAÇÃO TENSIONAL.
B - O "NÃO-DITO" DEIXA O DITO, O SINAL DO RECALQUE.

 

AUTORES CITADOS
Sigmund Freud : A Interpretação dos sonhos (1900-1901). Em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Vol. V. Trad. de Jaime Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
Wladimir Alexandre Granoff: (1924-2000). Psiquiatra e psicanalista francês. Lacan faz referência a ele para localizar um problema essencial, a diferença essencial entre a diretriz do prazer e a diretriz do desejo. E faz referência a ele a propósito da comunicação de Granoff – "Ferenczi, faux problème ou vrai malentendu", sessão científica da S.F.P. se 2-XII-1958, em Psychanalyse n° 7, p. 255-282.
Jean-Henry Fabre: (1823-1915). Naturalista francês para quem o instinto era impermeável à experiência.
Gustav Theodor Fechner: (1801-1887). Matemático e físico brilhante que trabalhou com Wundt, Weber e Fechner na Universidade de Leipzig, Alemanha; o berço da psicologia moderna no final do século XIX.
Alfred Binet: (1857-1911).  Pedagogo e psicólogo francês. Criou os primeiros testes de inteligência cujo objetivo era verificar os progressos de crianças deficientes do ponto de vista intelectual.
Jean Piaget: (1896-1980): Psicólogo e biólogo suíço. Produziu uma das mais importantes teorias sobre o desenvolvimento humano.
Georges Le Bidois: (1863-1938). Linguista e crítico da língua francesa. Lacan faz referência a ele com relação a discussão dos critérios a se adotar frente ao Ne expletivo.
Sándor Ferennczi: (1873-1933). Analista eminentemente clínico, foi um dos organizadores e defensores do movimento psicanalítico.
Ivan Petrovich Pavlov: (1849-1936). Fisiólogo russo, premiado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1904 por suas descobertas sobre os processos digestivos de animais.
Wilhelm Fliess. (1858-1928). Médico alemão, amigo de Freud, com quem trocou correspondência. Lacan evoca a Carta 52, na qual Freud é levado a supor a origem psíquica, uma espécie de ideal, que não pode ser tomada como uma simples Wahrnehmung, tomada de verdade. Nesta carta 52, Freud retoma o circuito do aparelho psíquico. O que ele procura explicar não é qualquer estado psíquico, mas aquilo a partir do que ele surge, porque só há isso acessível, e que se revela fecundo, na experiência da cura – os fenômenos de memória. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. Trad. de Jaime Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

 

REFERÊNCIAS NA OBRA DE LACAN
Lacan, J. O Seminário, livro 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise (1954-1955). Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
______. O Seminário, livro 4: A relação de objeto (1956-1957). Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
______. O Seminário, livro 5: As formações do inconsciente (1957-1958). Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

 

CAPÍTULO V: O SONHO DO PAI MORTO: « SEGUNDO SEU VOTO »

 

TEMA I - A NEGAÇÃO INSTAURA A DIVISÃO DO SUJEITO

 

PROPOSIÇÕES
A - NEM QUE SIM NEM QUE NÃO: A DISCORDÂNCIA COMO ENTRE-DOIS.
B - COMO A NEGAÇÃO FORCLUSIVA EVIDÊNCIA O QUE SE QUER ANULAR.

 

AUTORES CITADOS
Éduard Pichon: (1907-1977) Em parceria com Jacques Damourette, Edouard Pichon, um dos maiores linguistas franceses, produziu o "Essai de Grammaire de la langue française". A teoria construída por ele é apropriada por Lacan para pensar nos desdobramentos de seu axioma: "o inconsciente é estruturado como linguagem".
Damourette, Jacques et Pichon, Edouard (1911-1952). Des mots à la pensée. Essai de grammaire de la langue française, Paris: D' Artrey, Vol. VII.

 

TEMA II - O AVARO E SEU BONÉ

 

Lacan aborda as relações do sujeito com o objeto utilizando dois exemplos, um extraído de um livro e outro de um filme. Do primeiro, um livro de Simone Weil, ele retira a questão: "se chegássemos a saber aquilo que o avaro perdeu quando lhe roubaram seu boné, aprenderíamos muito." Do filme, chamado A regra do jogo de Jean Renoir, ele comenta uma situação em que um personagem, um colecionador de caixas de música, enrubesce quando se depara com uma caixa especialmente bela "ele se apaga, desaparece, está muito envergonhado".

 

PROPOSIÇÕES
A - O MAIS ÍNTIMO DO SUJEITO É SUPORTADO PELO OBJETO.
B - O PONTO DE PÂNICO COMO EXTIMIDADE.
C - INDESTRUTIBILIDADE DO DESEJO.

 

AUTORES CITADOS
Jean Renoir (1939). A regra do jogo (filme).
Lise Deharme (1933). Voeux secrets. Em: Cahier de curieuse personne. Paris: Des Cahiers Libres, p. 27.
Simone Weill (1947). La Pesanteur e la Grâce. Paris: Librairie Plon, 1988.
Sigmund Freud. A Interpretação dos sonhos (parte II) (1900-1901). Em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Vol. V. Trad. de Jaime Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
Sigmund Freud. A negativa (1925). Em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Vol. XIX. Trad. de Jaime Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
REFERÊNCIAS NA OBRA DE LACAN
Lacan, J.. O Seminário, livro 3: As psicoses (1955-1956). Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
REFERÊNCIAS DE PESQUISA
Daniel Defoe (1719). Robinson Crusoé. Rio de Janeiro: Scipione, 2004.
Jacques Lacan (1959-1960). O Seminário, livro 7: A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
Jacques Alain Miller. Presentación del Seminário 6. Disponível em: <http://nel-medellin.org/blog/presentacion-del-seminario-6-por-jacques-alain-miller/>
Jacques Alain Miller. O Outro sem Outro. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/170317493/El-Otro-Sin-Otro-Jacques-Alain-Miller>
Jacques Alain Miller. Extimidad. Buenos Aires: Paidos, 2010.

 

TEMA III - A CASTRAÇÃO DO OUTRO NO SONHO DO PAI MORTO, OU A ESTRUTURA DO DESEJO
Neste capítulo, Lacan recorre ao sonho do pai morto (Freud, 1900) para indicar como e onde o desejo se articula. No sonho, o sujeito vê o pai morto diante dele e é tomado de profunda dor porque "ele não sabia" (que estava morto). Trata-se de um sonho absurdo que, segundo Freud, revela o repúdio a um pensamento recalcado. Lacan sublinha que a dimensão do absurdo reflete uma contradição ligada à própria estrutura do inconsciente e aponta para uma ignorância necessária à constituição do sujeito no campo do desejo. Este sonho traz a marca de um não saber (ou um saber não sabido) que é próprio à entrada do sujeito na dialética do Outro, pela estrutura da diferença que há entre enunciado e enunciação. Se, de início, o sujeito experimenta o não saber pela crença de que o Outro sabe todos os seus pensamentos, a descoberta de que isso não é verdadeiro inaugura a via por onde poderá constituir o seu "não dito" e fundar, assim, a dimensão do inconsciente. É por essa via que Lacan aborda a função do desejo no sonho, situando-o no grafo, entre a alienação significante e o mais além onde se introduz a dimensão do não dito.

 

PROPOSIÇÕES.
A - "SEGUNDO SEU VOTO", OU INTERPRETAÇÃO ENTRE ENUNCIADO E ENUNCIAÇÃO.
B - FANTASIA MAIS ALÉM DO ÉDIPO.
AUTORES CITADOS.

 

Sigmund Freud. A Interpretação dos sonhos (parte II) (1900-1901). Em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Vol. V. Trad. de Jaime Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
Sófocles. Tragédia de Édipo em Colono, em que pronuncia a frase: "Melhor seria não ter nascido".

 

REFERÊNCIAS NA OBRA DE LACAN.

 

Lacan, J.O Seminário, livro 10: A Angústia (1962-1963). Rio de Janeiro: Zahar, 2005. Lacan trabalha neste seminário a dimensão da dor de existir, aqui introduzida através da relação do sujeito com a morte.
________. Posição do inconsciente no Congresso de Bonneval (1960, retomado em 1964). Em: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. Neste escrito, Lacan se refere à última frase de Freud na "Interpretação dos Sonhos", também abordada neste capítulo.

 

CAPÍTULO VI

 

INTRODUÇÃO AO OBJETO DO DESEJO

 

TEMA I - FANTASIA COMO GUIA DE INTERPRETAÇÃO DO DESEJO DO SONHO
Lacan inicia este capítulo por retomar da gramática francesa a importância da "negação", referindo-se ao sonho do pai morto. Serve-se desta referência para afirmar que os termos que encarnam as palavras foraclusivas ou discordâncias designam o traço. Lacan localiza a frase: "Ele não sabia que ele estava morto" no grafo do desejo e afirma que a negação migra da enunciação ao enunciado. Ele parte do sonho como aquele que porta e marca o ponto de incidência real do desejo. Ele interroga assim, a função do desejo inconsciente pela fórmula da fantasia - S/<> a.

 

PROPOSIÇÕES
A - O DESEJO DE MORTE NO SONHO.
B - A IMAGEM DO OBJETO COMO DEFESA CONTRA O DESEJO.
C - S/<>a À PROVA DA FENOMENOLOGIA DO DESEJO.

 

AUTORES CITADOS

 

Jacques Damourette (Paris 1873 - Sarcelles 1943). Linguista francês que junto com Edouard Pichon, escreveu a gramática francêsa de orientação psicológica tida como monumento. Também foi o secretário geral da importante revista de linguística "Le français moderne".


Jacques de la Palice (ou de la Palisse). Nobre militar Francês, senhor de la Palice, de Pacy, de Chauverothe, de Bort-le-Comte e de Héron, nasceu em 1470 e faleceu a 23 de fevereiro de 1525 . Como Marechal da França do reinado de Francisco I, combateu os exércitos italianos e morreu na  batalha de Pavia. A sua popularidade junto aos soldados fez nascer várias canções militares a seu respeito. Uma dessas canções, cantada após a sua morte, possuía os seguintes versos: "S'il n'était pas mort il ferait envie", (Se ele não estivesse morto, faria inveja) a qual foi deformada em "s'il n'était pas mort il (ƒerait – serait) en vie" (se ele não estivesse morto faria/estaria vivo); desta frase saiu o termo «lapalisada», que designa uma forte evidência, uma situação extremamente óbvia. Mais tarde esta frase vai inspirar uma canção satírica de Jacques de la Monnoye a qual reza "Un quart d'heure avant sa mort, il était encore en vie" (Um quarto de hora antes da sua morte, ele ainda estava vivo). As duas primeiras estrofes da canção "La Mort de La Palice" encontram-se no livro "La Clé des chansonniers" (Ballard, 1725), e as restantes cinco no Manuscrito 12666 da Biblioteca Nacional de França.

 

TEMA II - O IMPASE DA AFÂNISE

 

Há na relação do sujeito com o significante o impasse essencial de que não há outro signo do sujeito que o signo de sua abolição de sujeito, nos diz Lacan. Ele também afirma nesta lição que o próprio dos impasses é justamente que eles são fecundos e o interesse de Lacan nesse impasse específico – do sujeito em sua relação de abolição, de afânise diante do significante – aponta para as ramificações em que o desejo se engaja. Com Lacan, tentaremos distinguir essas ramificações pelas diferentes vias por ele apontadas para se interrogar a afânise.

 

PROPOSIÇÕES
A - AFÂNISE E CASTRAÇÃO.
B - AFÂNISE E OBJETO.

 

O sujeito, por sua desaparição, sua afânise mediante o encontro com um objeto, revela um ponto essencial ao redor do qual se passa sua relação com o objeto: trata-se de impedir a satisfação guardando sempre os objetos de desejo. Como a satisfação se afasta no horizonte, o desejo faz com que os objetos valham mais por seu valor de troca, do que pelo seu uso efetivo.

 

AUTOR CITADO

 

Ernest Jones. Citado por ter sido responsável pelo conceito de afânise, como eliminação do desejo frente ao temor da castração. Lacan, por sua vez, relê o termo como fading: desaparecimento do desejo e, além disso, apagamento do próprio sujeito.

 

TEMA III – DO HIPOPÓTAMO À MULHER: O VALOR DE TROCA E O VALOR DE USO

 

Lacan parte do signo para tratar da distinção do sinal e do objeto. Inicia com o rastro na areia, sinal com que Robinson Crusoé marca seu passo de sexta-feira na areia, dois traços, uma cruz, sinal este que se separa do objeto. O significante pode assim estender-se a muitos elementos do domínio do sinal entanto ele começa pelo que se apaga do traço. A pergunta é como se faz para que os "objetos humanos", além das pegadas na areia, passem de um valor de uso a um valor de troca, sendo eles mais sensíveis que no plano social?

 

PROPOSIÇÕES

 

A - O PASSO DO SIGNIFICANTE AO SIGNO.
B - DO OBJETO EMPENHADO AO DESEJO, OU DE COMO ELE REVELA SUA FUNÇÃO DE PENHOR DO DESEJO.
C - O HIPOPÓTAMO EMPENHA SEU EXCREMENTO JUNTO COM SUAS PASTAGENS E COMO O HOMEM EMPENHA O OBJETO QUE ELE SERÁ.

 

AUTORES CITADOS

 

Jacques Brosser: Naturalista, historiador das religiões e da filosofia francesa. Sua obra L'Ordre des choses com prefácio de Gaston Bachelard, foi editada por Plon, 1958; 2e edição, Julliard, 1986.
Karl Marx: Autor de "A Miséria da Filosofia" nasce em Tréveris em 5 de maio de 1818 e morre em Londres em 14 de março de 1883. Fundador da doutrina comunista, economista, filósofo e historiador. A "Miséria da filosofia" é a resposta à "Filosofia da Miséria" de Proudhon, livro escrito em 1847 e publicado em Paris e Bruxelas, onde o autor critica a Economia e a Política de seu adversário.

 

Buffon conde de, Georges-Louis Leclerc: Nasce em setembro de 1707 e morre em Paris em 1788.  Naturalista, matemático e escritor, suas teorias influenciaram duas gerações de naturalistas, entre os quais se contam J. B. de Lamarck e C. Darwin. Sua obra "História Natural", com 44 volumes - retrata um estudo comparativo das ciências, analisando os reinos animal, vegetal e humano, contém descrições cientificas e considerações filosóficas.

 

T.S. Eliot: Poeta modernista, dramaturgo e crítico literário inglês nascido nos Estados Unidos. Recebe o Prêmio Nobel de Literatura em 1948. Seu poema "The Hipopotamis" pode ser encontrado em Poems. T.S. Eliot. New York: Alfred A. Knopf, 1920.

 

Ernest Jones: Neuropsiquiatria e psicanalista, biógrafo oficial de Sigmund Freud, foi aluno de Emil Kraepelin. Introduziu a psicanálise na Grã-Bretanha e foi presidente da Associação Psicanalítica Internacional, IPA. Tornou-se próximo de Freud através da sua correspondência e escreveu sua biografia intitulada The life and work of Sigmund Freud  - A vida e a obra de Freud, incomparável acervo para compreender o contexto social e político da época, as influências intelectuais, médicas, filosóficas e culturais de Freud, assim como o crescimento do movimento psicanalítico no mundo.

 

Claude Lévi-Strauss: Antropólogo, considerado fundador da antropologia estruturalista, nasce em Bruxelas em 28 de novembro de 1908 e morre em Paris em 30 de outubro de 2009.  Professor honorário do Collège de France, ocupou a cátedra de antropologia social. Desde seus primeiros trabalhos sobre "os povos indígenas do Brasil", no qual estudou em campo, no período de 1935 a 1939, até a publicação de sua tese "As estruturas elementares do parentesco" em 1949, publicou uma extensa obra reconhecida internacionalmente.

 

REFERÊNCIAS NA OBRA DE LACAN.

 

Lacan, J. O Seminário, livro 3: As psicoses (1955-1956). Rio de Janeiro: Zahar, P. 192
________. O Seminário, livro 2: O eu na teoria de Freud e na técnica psicanalítica. (1954-1955) Rio de Janeiro: Zahar. Ao introduzir a noção de simbólico, Lacan reenvia a Lévi-Strauss em As estruturas elementares do parentesco, onde ele trata da troca generalizada, base das estruturas complexas que caracterizam a sociedade moderna.

 

Formatação final: Patrícia Paterson

 

 

 

COMISSÃO EDITORIAL

Redação: Tânia Abreu
Equipe: Mirta Zbrun, Fernanda Otoni, Ana Martha Maia, Laureci Nunes e Bernadette Pitteri
Coolaboradores: Fernando Coutinho (RJ), Laura Rubião (MG), Nilton Cerqueira (BA), Cynthia Freitas (SP), Carolina Queiróz (PE), Laureci Nunes (SC), Célia Winter (PR), Anícia Ewerton (MA), Aparecida Andrade de Lima (MG/MS), Ordália Alves Junqueira (GO/DF), Cristina Maia (PB), Tânia Prates (ES) e Cláudia Formiga (RN).
Logomarca: Bruno Senna e Luiz Felipe Monteiro