Bibliô #09

Abril 2014

Boletim eletrônico das Bibliotecas da EBP

Tânia Abreu

 

Editorial

Neste número do boletim Diretoria na Rede encontraremos comentários sobre o sofrido período do golpe militar no Brasil, que completa seu cinquentenário. Para combater e contracenar com o cenário negro imposto pelos militares a arte, os livros, a música foram os aliados de nossa intelectualidade.


Neste Bibliô vemos que a contracena proposta pelas bibliotecas da EBP tem como pano de fundo a poesia Mallarmeniana, sempre referenciada a de James Joyce na nossa comunidade analítica, como podemos acompanhar em debates sobre filmes que aludem à escrita deste autor. Nossas seções e delegações encerram o mês de março com as águas geradas pela poesia deste poeta obscuro e abrem o outono com o lançamento, na EBP, do livro do colega Joseph Attié, Mallarmé, O Livro. Estudo psicanalítico. As atividades propostas incluem debates com interessados e especialistas em Mallarmé de outras áreas, assim como a exibição do vídeo de apresentação do livro feita pelo autor, Joseph Attié.


A equipe do Bibliô Referência, liderada por Mirta Zbrum, contribui com o estudo do livro de Attié apresentando o primeiro texto sobre o mesmo escrito por Heloísa Caldas e intitulado Uma perda seca. Heloísa centra seu comentário sobre no matema sinthomático do autor.


Por outro lado, as Bibliotecas, cumprindo sua tarefa de contribuir com a formação do analista, discutem o Real do século XXI incluindo aí a temática do trauma e da violência, eixos centrais do XX Encontro do Campo Freudiano no Brasil que acontecerá em novembro de 2014 na cidade de Belo Horizonte.

 

É com muito prazer que a recém criada Diretoria de Biblioteca da Escola Brasileira de Psicanálise anuncia o lançamento da revista Colofon 34. Será lançada em Paris por ocasião do IX encontro da AMP.
O tema é sobre o modo singular como o dinheiro é tratado na teoria Lacaniana, tema declinado em diversas rubricas. salientamos que três colegas brasileiros- Iordan Gurgel, Sérgio Laia e Tania Abreu-, escreveram para este numero em partes diversas da revista.

 


No nosso próximo Biblio, ja com a revista lançada, teceremos maiores comentários sobre os textos.


Boa leitura!

 

ATIVIDADES NAS SEÇÕES E DELEGAÇÕES

 

EBP-MG – Diretora de Biblioteca – Laura Rubião

Mallarmé ficou conhecido como aquele outorgou ao poeta a missão de “ceder a iniciativa às palavras” desde que elas pudessem endossar uma ‘crise do verso’, que é também crise da narrativa descritiva e da representação. O seu gesto nos faz deparar com o ponto  ilegível e inacabado d’O Livro porvir,  por meio de uma escrita que, como letra, tangencia o real.


O Livro de Joseph Attié sobre a obra do poeta surge como uma fonte inesgotável de trabalho para explorarmos essa vertente do que “não cessa de não se escrever”.

 

Abril – 29
A escrita e o real: lançamento do livro Mallarmé O Livro, estudos psicanalíticos de Joseph Attié
Responsável: Márcia Rosa
Comentários: Yolanda Vilela

 

EBP-RIO – Diretor de Biblioteca – Fernando Coutinho

ACONTECEU

Resenha da Noite da Biblioteca do dia 10 de fevereiro de 2014

Na noite de 10 de fevereiro de 2014, a convite da Diretoria da EBP RJ e de Fernando Coutinho, nosso diretor de Biblioteca, Manoel Barros da Motta e eu, Elza Marques Lisboa de Freitas, tivemos a oportunidade de comentar o excelente filme "Os vivos e os mortos" cuja direção foi de John Huston.


 Esse filme foi feito sobre um conto de James Joyce, "Os mortos". Manoel Mota nos falou sobre os temas recorrentes em Joyce, tal como o da "epifania", acontecimento também abordado por Elza como tendo sido enfatizado pelo diretor no tratamento que dá da história. Ele nos diz também da escolha que Lacan faz, na intensão de estudar a psicose, em outras obras de Joyce, principalmente em "Ulisses", quando o autor recorre a um uso especial da língua inglesa, especialmente os neologismos.  Manoel entre tantas outras contribuições ressalta a importância que a musica tem na obra de Joyce, importância que ganha mais relevo ainda, pois a musica, no livro descrita com palavras, no filme aparece não na palavra mas na sonoridade, diretamente. Observação equivalente fiz eu, quando aponto que Huston, para mostrar a importância que Joyce dá ao que chama de "paralisia", uma estagnação da sociedade como um todo, na política, nos hábitos imutáveis, no convívio social, ao dirigir a filmagem insiste no caráter repetitivo das situações, dos diálogos, no movimento lento da câmera sobre objetos, por sinal muito lindos, em uma mesa. A crítica política surge também no diálogo do personagem principal com uma jovem senhora, feminista sem dúvida, que o checa em sua estagnação. Sua técnica nos traz um distanciamento enevoado, como uma nevasca que se prolonga no lusco-fusco encobrindo os vivos e os mortos.


Nossa sala, com um bom numero de convidados, foi animada por perguntas e comentários. Tivemos inclusive a presença de algumas pessoas de fora, com alguns estudantes da PUC.


Pessoalmente agradeço a Fernando a oportunidade tão rica e interessante.

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Elza Marques Lisboa de Freitas

 

EBP-SC Diretora de Biblioteca – Laureci Nunes

Noites de Biblioteca

 

03 abril 2014 –
Deus e o Sujeito suposto saber – Carmen González Táboas, por Eneida Medeiros Santos
Causa – Claudio Godoy, por Maria Teresa Wendhausen
Progresso – Jesús Ambel, por Silvia Espósito
Horário: 20h30
Coordenação de mesa: Flávia Cera
Atividade aberta e gratuita  - local sala 903, sede EBP-SC.
Coordenação: Laureci Nunes – diretora de biblioteca da EBP-SC

 

ACONTECEU

Noites de Biblioteca EBP-SC

 

A primeira atividade de 2014 iniciou a série das Atividades Preparatórias para o IX Congresso da AMP.
Nesta noite foram apresentados, por seus tradutores, quatro verbetes que compõem o Scilicet, Um real para o século XXI..


O primeiro deles, Decifração, de Marie Hélène Brousse, foi apresentado por Luis Francisco E. Camargo que destacou a relação desta com a interpretação. Luis Francisco acentuou o caráter do não acréscimo do sentido nesta operação que, ao contrário, funcionaria como uma chave para a logicificação do ordenamento da série dado pelo significante mestre. 


O segundo verbete, Silêncio, de Claudia Lijtinstens, foi apresentado por Laureci Nunes que trouxe à baila a discussão entre o silêncio pulsional e o do analista apresentando uma série de desdobramentos das formas de apresentação do silêncio, entre elas o que a mulher guarda no seu gozo, o gozausência, o mutismo do silêncio no coração do fantasma, o silêncio da culpa e da vergonha, para elucidar o silêncio do analista, silêncio vital, que se enlaça com o desejo.


O Imaginário foi o terceiro verbete apresentado por Cinthia Busato, de autoria de Debora Nitzcaner. Deste verbete, Cinthia destacou os três momentos abordados no texto, a saber: o Estádio do Espelho, sua transformação em objeto a e sua relação com o real. Estes três tempos foram trabalhados na perspectiva da pergunta inicial do texto: o imaginário é o que era? Na sua última vertente, a da relação com o real, diante das ofertas e variedades de gozo do século XXI, e da dificuldade da prática do “sem igual”, colocou-se a instigante pergunta de Débora que encerra o texto: “é por acaso que o imaginário tenta prevalecer à desordem do simbólico?”


O último verbete, apresentado por Oscar Reymundo, foi o Um (Y’a d’l’Un) de Xavier Esqué. Oscar acentuou o trânsito no ensino de Lacan no qual questionou a supremacia do simbólico sobre o real e este questionamento “significa que Lacan descobriu que, assim como o simbólico é a mola do imaginário (por isso falamos de efeitos imaginários do simbólico), o real é a mola do simbólico”. Este novo tempo do ensino de Lacan é marcado pelo Há-Um e pelo “não há relação sexual”, pelo buraco e não pela falta, marcado pela existência e pelo sinthome, enfim, pelo Um e sua repetição e pelo real como contingência. Este movimento de Lacan aponta para uma mudança de rumo na clínica e para um novo posicionamento político da psicanálise, essenciais para pensar o século XXI uma vez que : “de um lado, as manifestações do real neste século se apresentam de forma dispersa e desordenada, o encontro com Um real é sempre, pela sua contingência, singular para cada um. E de outro lado, precisamente ai onde, o simbólico amarrava e agora falta, encontraremos todas as bricolagens com o real que cada um tenta realizar e que as sociedades concebem para poder dispor as relações entre os homens”.


Leonardo Scofield, que coordenou a mesa, convidou ao debate orientando sua leitura dos quatro verbetes pela via da desmontagem da defesa contra o real amarrando-a com cada uma das linhas propostas nos eixos temáticos do IX Congresso da AMP.


À pergunta que abriu esta Noite de Biblioteca, “o real muda com sua época?”, poderíamos acrescentar outra que, de certo modo, está sempre circulando, sobretudo, em tempos de grande desordem no real: como analisar hoje?


Por Flávia Cera

 

Delegação Goiânia/ Distrito Federal -Diretora de Biblioteca – Ordália Junqueira

09/04 – Exibição do filme de Joseph Attié apresentando seu livro: “Mallarmé O Livro: Estudo Psicanalítico”. Após exibição iniciaremos uma Conversação sobre o livro.
Local: Sede da Delegação Geral em Goiânia
Horário: 19h30
Responsável: Ordália Junqueira

 

Delegação Paraíba – Diretora de Biblioteca – Cristina Maia

ACONTECEU

 

SOIRÉE NA DPB – Cinema e Psicanálise
Esta atividade vem trazendo um excelente público para a DPB, pois é um  momento em que nos servimos dos filmes para que cada participante possa fazer seus comentários, articulações com a psicanálise, com um  debatedor encarregado de sustentar a discussão.

 

 

O próximo encontro será em 15 de abril, quando os debatedores serão as próprias coordenadoras da Soirée - Cristina Maia e Pauleska Nóbrega - e Aury Tertuliano, que irá levar pontuações sobre sua recém apresentada monografia de conclusão de curso 'Impasses no feminino: devastação em Camille Claudel'.

 

 

 

Em 18 de março, vimos 'O lado bom da vida', com Sandra Conrado como debatedora. Mostramos flashes do momento.


Em 18 de março, vimos ‘O lado bom da vida’, com Sandra Conrado como debatedora. Mostramos flashes do momento. (MARCELO, NÃO CONSEGUI COLAR AS IMAGENS QUE ENCAMINHEI PARA SEU MAIL)
 O próximo encontro será em 15 de abril, quando discutiremos o filme Claudel, os debatedores serão as próprias coordenadoras da Soirée - Cristina Maia e Pauleska Nóbrega.


Aury Tertuliano, fará pontuações a partir de sua recém apresentada monografia de conclusão de curso ‘Impasses no feminino: devastação em Camille Claudel’.

 


ATIVIDADES DA COMISSÃO DE BIBLIOTECA DA DELEGAÇÃO ES DA EBP

Leitura da Orientação Lacaniana 2013
 

No mês de abril continuaremos trabalhando o texto de Jacques-Alain Miller Extimidad.
Referência: MILLER, J. A. Extimidad. Buenos Aires: Paidós, 2010.
Coordenação: Tânia Mara Alves Prates (Aderente da Delegação ES da EBP) - Coordenadora da Biblioteca-Delegação ES
Data e Hora: Atividade semanal - terças-feiras, às 20 h 30 na sede da Delegação ES da EBP

 

Data

Capítulo

Apresentação

01 04 2014

XII – ¡Alarma de bomba!

Alberto Murta

08 04 2014

XIII – Frustración de goce. Frustración de amor

Olenice

15 04 2014

XIII – Frustración de goce. Frustración de amor

Olenice

22 04 2014

XIV – De la imagen de goce

Adelmo Rossi

19 03 2014

XIV - De la imagen de goce

Adelmo Rossi

 

Cinema e Psicanálise

Nesta atividade será apresentado um vídeo de entrevista com o psicanalista Joseph Attié, no qual ele apresenta e discute o seu livro, “Estudos psicanalíticos - Mallarmé, o livro”, lançado no Brasil em 2013 pela Editora Forense Universitária, com 568 páginas. Nesta ocasião serão vistos e discutidos tanto o livro, esta entrevista e fragmentos da obra de Mallarmé.
Data:
Sábado dia 12 de abril, às 9 h – “Apresentação de Estudos psicanalíticos - Mallarmé, o livro por seu autor Joseph Attié”, entrevista do autor para seus amigos brasileiros – 2014.

 

 


MALLARMÉ / LACAN

 

Dedicamos este Bibliô Referências a “Mallarmé O Livro. Estudo Psicanalítico” - obra do psicanalista francês Joseph Attié publicado recentemente no Brasil pela editora Forense Universitária, graças à iniciativa de Manoel Barros da Motta. Vale ressaltar, além do valor da obra, o significativo prefácio assinado por François Regnault.
Publicamos aqui um comentário de Heloisa Caldas que não só investiga o texto, extraindo dele interessantes consequências, como mantém um diálogo rigoroso e criativo com a obra. Intitulando seu comentário Uma perda seca, ela discorre com precisão e elegância sobre uma frase do poeta “tudo, no mundo, existe para culminar em um livro” para poder concluir “que poeta e poesia vivem disso: da concretude diferencial de uma perda”.


Boa leitura!


Mirta Zbrun

 

Sobre Stéphane Mallarmé: poeta e crítico literário, autor de uma obra ambiciosa e difícil, Mallarmé nasce em Paris em 18 de março de 1842 e morre em 9 de setembro de 1898. Começa a publicar seus poemas na revista Le Parnasse contemporain (O Parnaso Contemporâneo); dirigiu e escreveu La Dernière Mode. Destacou-se por uma literatura que se mostra ao mesmo tempo lúcida e obscura, promovendo uma renovação da poesia na segunda metade do século XX. Sua influência é fortemente sentida nos poetas contemporâneos. Figura central nos anos 1880 de um grupo de escritores, dentre os quais se destacam o poeta Paul Valéry e os romancistas André Gide e Marcel Proust. O poema experimental Un Coup de Dés (Um Lance de Dados), escrito em 1897 e publicado em 1914, será sua obra mais revolucionária.

 

Uma perda seca

Sobre Mallarmé O livro de Joseph Attié.
Por Heloisa Caldas
O que mais me chamou atenção no livro de Joseph Attié, Mallarmé O livro, – além obviamente de nos oferecer um precioso estudo psicanalítico sobre literatura – foi a demonstração do matema  sinthomático do escritor. Como Attié diz “falar do matema de sua vida é dizer que a escrita de seu sintoma, além do Nome-do-Pai, o prende a uma ordem de causalidade tal que isso foi vivido sintomaticamente por ele como a forma de sua criação poética” .


Isso nos lembra que o pioneirismo de Lacan para pensar o sinthoma –  redução mínima do sintoma a um bem dizer da pulsão – partiu do estudo da arte e da vida de Joyce. Na mesma trilha, Attié nos ensina sobre o saber fazer de Mallarmé. Intitula, não por acaso, seu trabalho Mallarmé O livro, fazendo eco a “Joyce O sintoma”. ‘O livro’, repetidamente perseguido pelo escritor – que chegou a dizer: “tudo, no mundo, existe para culminar em um livro” – nomeia seu sinthoma.


A repetição, sabemos desde Freud, é do gozo. Um gozo que J.-A. Miller ressalta como impossível de negativizar e que escorre na escrita do escritor francês. Mallarmé foi um dos primeiros poetas a valorizar a letra como objeto; letra absconso, como ele a nomeia, signo por excelência, separado do campo da representação. Valendo-se dessa letra material, ele produz um objeto oco, objeto a. Sua escrita não vale tanto pelo que diz, mas pelo que ressoa. Resultado: o espaço virtual dessa escrita objeto denuncia seu caráter de furo. Entre o branco da página e a palavra, uma enunciação aponta ao fracasso da linguagem. O ritmo e a melodia do verso, que marcam o tempo na poesia, remetem sempre ao futuro anterior. Teria sido o que jamais foi ou será.


Em Um lance de dados jamais abolirá o acaso, o autor parece então alcançar sua letra de gozo, o significante, nos termos de Attié, que “vem fechar o trabalho de luto” de tantas perdas vividas numa “perda seca e definitiva”. Se o primeiro Mallarmé diria “inebriar-se sabiamente com o perfume da tristeza”, com Um lance de dados atesta uma subversão que lhe faz dizer “não, eu não tornarei a encontrar jamais o que perdi”.


Encontramos aí a saída contingente do impasse que ele propõe: se nada ocupa um lugar, há apenas o lugar em si, um lugar em sua positividade  residual. Se nada pode realizar seu sonho, ‘O livro’, Mallarmé desfia sua arte de lidar com o fracasso. Em termos de espaço, ‘O livro’ é não livro; em termos de tempo, seu advento teria sido. Duas formulações que negam a possibilidade de qualquer existência substancial de ‘O livro’. Por outro lado, demonstram, de forma cabal, o gozo que na repetição se reitera. Há ‘Um livro’ que ex-siste à poética que o evoca. Apenas sua identificação fracassada promove sua pouca identidade e sustenta, em um tempo eterno, o indomesticável acaso. Se por essa via, o ideal de ‘O livro’ morre, ao mesmo tempo, a afirmação reiterada da diferença vivifica. Poeta e poesia vivem disso: da concretude diferencial de uma perda.

 

ATTIÉ, J. (2013). Rio de Janeiro: Forense, p. 201-202.

Idem, p. 205.

 

 

COMISSÃO EDITORIAL

Redação: Tânia Abreu
Equipe: Mirta Zbrun, Fernanda Otoni, Ana Martha Maia, Laureci Nunes e Bernadette Pitteri
Coolaboradores: Fernando Coutinho (RJ), Laura Rubião (MG), Nilton Cerqueira (BA), Cynthia Freitas (SP), Carolina Queiróz (PE), Laureci Nunes (SC), Célia Winter (PR), Anícia Ewerton (MA), Aparecida Andrade de Lima (MG/MS), Ordália Alves Junqueira (GO/DF), Cristina Maia (PB), Tânia Prates (ES) e Cláudia Formiga (RN).
Logomarca: Bruno Senna e Luiz Felipe Monteiro