Acontece #007

Dezembro 2013

 

ACONTECE EBP – ESPECIAL BUENOS AIRES LACANIANA 2

Nesta edição do Acontece EBP trazemos um número especial dedicado os eventos da Buenos Aires Lacaniana 2, semana em que a cidade portenha congregou variados eventos do campo freudiano. Em destaque noticiamos, em uma pequena resenha, a II Jornadas da Nova Rede CEREDA América e da Jornada Internacional do CIEN. Em seguida, temos o discurso de encerramento do Seminário Internacional HAUN proferido por Glacy Gorsky, onde de modo preciso temos um recorrido dos principais pontos levantados na discussão do Seminário ...ou pior ocorrida no dia 21 de Novembro. Ademais temos um registro da conferência proferida na Universidade de Buenos Aires por Jorge Forbes no dia 27de Novembro. À convite da Faculdade de Psicologia da UBA, sua intervenção centrou-se no seguinte tópico: “A genética pede análise: Inconsciente e responsabilidade diante do desenvolvimento científico-tecnológico”. Por fim, temos o prazer de apresentar no Acontece EBP o texto na íntegra da apresentação do ENAPOL feita por Sérgio Laia na ocasião da abertura do encontro. Quem esteve presente constatou como o diálogo entre a clínica lacaniana e a cultura oferecem perspectivas novas na apreciação sobre o real no século XXI. Agradecemos o autor que gentilmente cedeu sua produção ao DR.

 

JORNADA INTERNACIONAL DO CIEN

“Me incluo desde fora” foi o título da Jornada Internacional do CIEN, ocorrida no último dia 20 de Novembro em meio às atividades da Semana Buenos Aires Lacaniana II. Tal como exposto no argumento da jornada, a expressão título do encontro “sintetiza um modo quase paradigmático o ponto central de muitas das experiências do CIEN”. A investigação da jornada centrou-se em verificar quais os modos pelos quais cada criança ou adolescente pode responder sintomaticamente aos forçamentos das “etiquetas” da ordem social, seja da escola, família e outros.


A jornada contou com a participação de Eric Laurent, Juan Carlos Indart, Rômulo Ferreira da Silva e Beatriz Udenio que teceram comentários sobre os casos clínicos apresentados, além de fomentarem a conversação em torno das questões suscitadas.


Na ocasião foi apresentado por Ana Martha Wilson Maia, da Comissão de Coordenação e Orientação do CIEN Brasil, o livro recém-lançado: “Crianças falam! E tem o que dizer”.

 

*II Jornada da Nova Rede CEREDA América

A II Jornada da Nova Rede CEREDA ocorreu no dia 20 de Novembro e teve como título “Corpo, Saber e Segredo na Infância”. Sobre esta rubrica, buscou-se investigar pela via da conversação sobre casos clínicos a incidência e a transmissão do gozo no entrelaçamento entre o corpo, saber e segredo. Conforme o argumento do encontro: “Tanto no segredo que a criança não quer contar, quanto no que não é contado para a criança, trata-se de um gozo inconfessável que toca as relações familiares, afeta o corpo e deixa marca. A clínica nos mostra que os segredos de família retornam nos sintomas de pais e filhos, dando lugar às comédias familiares que sempre cobrem um real indizível que se transmite através das gerações”. Os trabalhos apresentados pelos analistas das variadas pontas desta grande rede colocaram à prova a política lacaniana de auxiliar a criança na defesa de sua singularidade frente ao forçamento do lugar de puro objeto de gozo da civilização. Eric Laurent participou da Jornada comentando casos clínicos apresentados por Cristina Vidigal (NRC Brasil) e Elena Sper (NRC NEL). Cristina Drummond (Núcleo Pereré – MG) e Analícea Calmon (Núcleo Carrosel – BA) comentaram casos clínicos de analistas da NEL e EOL na ocasião das mesas: “Saber, segredo e loucura” e “Agitações e Segredos”, respectivamente.  Cristina Maia (Núcleo UNI DUNI TÊ – Campina Grande – PE) e Valéria Ferranti (Núcleo Ciranda – SP) coordenaram a discussão de casos clínicos em distintas ocasiões. Por fim Lucia Mello e Inés Seabra Abreu Rocha (Núcleo de Pesquisas Psicanálise com Crianças – MG) apresentaram o caso clínico “Uma Menina Agitada”.

 

 

 

 


Encerramento – Seminário Internacional HAUN

Glacy Gonzales Gorski

 

Queridos colegas,

Chegou o momento de concluirmos um trabalho que se iniciou há meses atrás envolvendo a comunidade analítica e que hoje foi realizado superando as expectativas, já que tivemos quase 400 pessoas inscritas, o que muito nos alegra.
Através do Seminário Internacional haun: Leituras do Seminário 19: ... ou pior de Jacques Lacan, que recebeu a orientação da comissão científica – composta por Elisa Alvarenga, Marcus André Vieira e coordenada por Jésus Santiago –, retomamos o modo de trabalho iniciado na AMP, em 1991, nos Seminários Avançados sob os auspícios de Jacques Alain Miller e Éric Laurent.  Segundo Leonardo Gorostiza, a lógica de trabalho nestes seminários se centra nos pontos opacos e contraditórios da teoria e da clínica e ele nos lembra que Jacques-Alain Miller assinala que aí se trata de recuperar um esforço do próprio Lacan para pensar contra si mesmo. Neste seminário, mais uma vez, evidenciou-se que a leitura do texto lacaniano é um trabalho sempre inacabado que depende do esforço de cada sujeito e do seu engajamento em promover uma aliança do rigor doutrinal com uma pergunta singular de cada um.


Assim, a preparação coletiva junto com o espírito de investigação se revelou como marcas distintivas do modo de trabalho na preparação deste Seminário.  Movidos pelo som do haun, a comissão de redação do boletim – composta por mim, Maria Josefina Sota Fuentes e Cleide Pereira Monteiro instigou e fomentou, nos últimos meses, uma série de discussões através de atividades preparatórias em cada Seção e Delegação e através da publicação dos trabalhos enviados pelos colegas. Estes trabalhos nos serviram de referências para trabalharmos sobre as fórmulas da sexuação, do não-todo, explorando vias do saber que nos articulam com a matemática, com a lógica e com a filosofia, possibilitando avançarmos na reflexão sobre o há-um, aforisma fundamental para a compreensão do ultimíssimo Lacan.


A seguir traremos, então, de forma sucinta, um resumo do que se realizou no Seminário Internacional nesta tarde profícua no contexto da Buenos Aires Lacaniana. Marcando o início dos trabalhos, contamos com as valiosas contribuições de Éric Laurent que, amavelmente, acolheu nosso convite para elaborar o argumento eixo dos trabalhos. Através de uma brilhante apresentação, Laurent construiu, de forma cuidadosa – e com rigor epistêmico –, o argumento sobre Por que o Um ? e nos esclareceu, de forma precisa, o estatuto do aforismo há-um.  Ele refletiu sobre o tratamento que o Um teve na filosofia desde Sócrates revelando que se tratava, aí, de uma leitura do Um circunscrito como castração simbólica. Com o intuito de diferenciar o Um da inscrição, pontuou que, em Lacan, o há-um tem a ver com o gozo, e explicitou, então, que ele não é sensação, mas ausência. Por fim, afirmou que o gozo tem a ver com o gozo feminino e que, portanto, se situa do lado da falta, da ausência.


Da mesa que operou segundo a modalidade da disciplina do comentário extraímos da fala de Jorge Forbes a precisa diferenciação que ele nos apontou entre o traço unário e o há- um; ele destacou que enquanto o primeiro se associa ao simbólico, o segundo, o há-um é da ordem do real. E, por fim, sublinhou que uma análise na perspectiva do há-um deve possibilitar que o analisando suporte o estranhamento do amor.
E do trabalho de Ana Lúcia pontuamos que ela se dedicou a esclarecer o estatuto do há-um distinguindo ficção e fixões, ser e existência, escuta e leitura. Apoiando-se em Jacques-Alain Miller, circunscreve a leitura como um esforço em manter a distância entre sentido e palavra. De forma elucidativa, ela nos trouxe fragmentos de Appelfeld que tentam abordar o que resta como “repetição de um gozo inesquecível” e, assim, nos demonstra, de forma bem precisa, que o gozo é algo que nos devora, que é pura repetição sem sentido, a qual podemos nomear como um encontro com o real.


Na mesa que versou sobre a lógica do tratamento, Fátima Sarmento se interrogou, tendo como referência a experiência clínica, como pensar o Um que agita o corpo do autista. Ela questionou, então, como é possível pensar o acontecimento de corpo no autismo, uma vez que existe uma desconexão do Outro. Ela também teceu reflexões importantes sobre a direção do tratamento ao sublinhar que a aposta do analista reside na transformação da iteração em repetição.


Angelina Harari, por sua vez, tendo como antecedente seu passe, abordou a Histeria com o intuito de extrair a lógica da histérica e do aomenosum, que ela demanda diferenciando da histeria sem aomenosum, ou seja, sem a amarração fálica, ou seja, uma histeria sem o dois. Ela questionou, ainda, a mudança de rumo presente no ensino de Lacan, e levantou a suposição de que, “com a histeria rígida se trataria de uma perspectiva do discurso analítico no final de análise”.


O trabalho de Ram Mandil trouxe uma contribuição valiosa ao demonstrar, apoiado na sua experiência como analisante, o que na sua vida revelou-se como um encontro traumático, resultado do choque entre lalíngua e o corpo, e que teve, como efeito, um acontecimento de corpo. Trazendo passagens de sua experiência de análise, ele revelou a existência de duas vertentes do acontecimento de corpo: a da mortificação e a da produção de gozo. Através de seu impactante texto, Ram demonstrou, de forma notável, que o há-um é o que reitera produzindo gozo.


Na mesa perspectiva do conceito, o trabalho de Luiz Fernando Carrijo da Cunha, movido pelo intuito de cingir o ponto fundamental da proposição do há-um, realizou um interessante diálogo com os seminários 18 e 20, assinalando que, no seminário 19, podemos constatar o esforço de Lacan em construir um discurso fora do semblante, mas que possa sustentar um laço estreito com ele (o semblante) numa perspectiva puramente matemática.


Do texto de Marcela Antelo retomo sua pergunta, que é fundamental: O Um que nos convoca, o há-um, é de estrutura ou é justamente o que dela escapa? Ela sublinhou, então, que o único equívoco da existência seria o zero inicial, e nos lembrou que Miller, a guisa de esclarecimento apropriadamente, diferencia, na escrita, o Um que há com a letra latina (I) do Um da série (1) dos números arábicos.


Mirta Zbrun, apoiando-se em Canguillem, elucidou o que é a perspectiva do conceito, e destacou que este seminário possibilitou “uma verdadeira reviravolta epistêmica no ensino de Lacan abrindo os caminhos para o aprofundamento da reflexão sobre a antinomia do gozo do Um e do Outro”. Ela evidenciou, ainda, que o aforismo há-um leva a outro Lacan tendo como consequência a constituição de uma clínica do real, do gozo do Um.


Tendo como referência o argumento desenvolvido por Éric Laurent e as contribuições dos colegas, foi possível vivenciarmos um rico debate no qual contamos com o empenho dos comentadores: Bernardino Horne; Jésus Santiago; Sérgio de Castro e Romildo do Rego Barros. Destacamos, também, a coordenação eficiente e as intervenções precisas dos coordenadores das mesas: Simone Souto da EBP; Marina Recalde, da EOL, e Mário Ramirez, da NEL, assim como o engajado debate que se instaurou com a participação da plateia. Em nome da comissão de organização e do Presidente do evento expresso os nossos agradecimentos a todos.


Também gostaríamos de agradecer a equipe de tradutores que possibilitou a confecção de um boletim na língua espanhola, assim como a publicação de textos, produzidos na língua francesa e que foram produtos do Seminário sobre o Seminário 19, coordenado por Philippe La Sagna na ECF.


Neste momento, gostaríamos de expressar nossa gratidão a todos aqueles que responderam à convocatória para procederem, um a um, uma elaboração coletiva em consonância com um desejo de investigar sobre a temática do há-um, o que possibilitou, à comissão de redação do boletim haun, publicar 13 números com trabalhos, por vezes densos, sobre temáticas difíceis que possibilitaram trazer subsídios valiosos para a leitura do Seminário.  Anunciamos, então, que já estamos preparando a publicação de um livro cujos textos poderão ser publicados conjuntamente com os trabalhos que hoje foram aqui apresentados.


À Mirta Zbrun e sua equipe pelo belo trabalho Bibliô – referências Seminário 19 reitero nosso Muito obrigado! todos podem testemunhar que este livro, uma produção bilíngue que foi lançado hoje, se configura como ferramenta extremamente útil , uma vez que  possibilita a aproximação de dois campos semânticos da América Latina que ora se reuniram compartilhando dúvidas, pontos obscuros da nossa experiência clínica assim como os avanços.
Agradecemos, também, a presença de todos os colegas do Brasil, da EOL e da NEL. À presidente da EOL Flory Krüger e ao seu diretor Daniel Millas, assim como à Alícia Arenas, Presidente da NEL, ao Presidente do VI ENAPOL Ricardo Seldes e ao Diretor Patrício Alvarez pela contribuição na divulgação, assim como aos funcionários da EOL pelo carinhoso e eficiente apoio logístico: Muchas gracias!


De forma especial, agradecemos ainda a Heloísa Telles que, recorrendo à ponte aérea São Paulo x Buenos Aires pôde colaborar, efetivamente, tornando este encontro uma realidade. Obrigada também, por nos facilitar o acesso a Tomie Ohtake, que, através de sua importante obra, ilustrou o vazio, equívoco de nossa existência. A Tomie e Ricardo Ohtake nossos sinceros agradecimentos pela autorização de publicação do belo quadro.
Por último, é pertinente sublinhar que, se é com o amor que tudo se inicia é com ele que se conclui a experiência de análise. Lembramos que tendo em vista essas reflexões, dedicamos o último número do haun à temática do amor, trazendo um editorial com um título translinguístico  Aún el amor , ilustrado pelo quadro de Zucchi intitulado Psiche surpreende o amor. Editamos um texto da colega Petitpierre, da ECF que, consideramos importante retomarmos neste momento. A autora apoiando-se em Lacan, aponta que, ao se investigar sobre o amor, o fundamental é extrair dele o ponto de estranheza: o amor que rejeita o dois. Perguntamos, então, quais seriam as consequências para o discurso analítico quando o amor é tomado na dimensão do Um sozinho cuja significação está fora da semântica e da articulação significante. Como pensar, neste contexto, sobre o amor de transferência?  Estas questões abrem novas sendas e descortinam novas perspectivas de trabalho instigando à pesquisa do tema do Encontro Nacional de Cartéis da EBP.


Finalizo, agora, com as derradeiras palavras de Lacan que encerram o resumo do Seminário ...ou pior, livro 19, publicado no anuário da Escola Prática de Estudos Superiores 1972-73:


 

“Bendigo aqueles que me comentam, por enfrentarem a tormenta que sustenta um pensamento digno, ou seja, não contente em ser batido em veredas do mesmo nome. Que constituam estas linhas rastro de feliz acaso [bon-heur] (...) ”.


Até breve! Hasta pronto!

 

 

Psicanálise para o mundo

O evento público, hoje, é na Faculdade de Psicologia da Universidade de Buenos Aires.


A cátedra de Psicologia, Ética e Direitos Humanos I, cujo titular, Professor Juan Jorge Michel Fariña, teve a satisfação de convidar para a Conferência Inaugural o Dr. Jorge Forbes, da Universidade de São Paulo.


Foi muito agradável contar com a presença e o entusiasmo da Decana desta Casa de Estudos, Professora Lic. Nélida C. Cervone, do Secretário de Pesquisas, Professor Martin J. Etchevers, dos docentes, pesquisadores e estudantes, não apenas de nossa faculdade, mas também de outras universidades de prestígio na América Latina.


No âmbito desse importante congresso, que fortalece os vínculos entre as universidades da região, Dr. Jorge Forbes intitulou sua conferência “A genética pede análise: Inconsciente e responsabilidade diante do  desenvolvimento científico-tecnológico”.  


Forbes conseguiu desdobrar de maneira lúcida e clara, como a psicanálise pode caminhar ao lado da ciência. Ao contrário do que disse uma vez a revista Time "O avanço da ciência vai diminuir o progresso da psicanálise".


E ocorre justamente o contrário.


A ciência avança, sim, mas com a sua sombra. E é  exatamente essa parte obscura que o progresso carrega, a que gera um não-saber tão profundo, que só será possível encará-lo com uma invenção responsável.
A ética da psicanálise nos confronta com esse não-saber insistente, um real sempre e absolutamente novo, e nossa resposta é a responsabilidade da invenção.


O cientista ignora que, além do real da ciência que tudo pode classificar, existe un sujeito que é sempre exceção, falta em ser e solidão.


Quanto mais avança a ciência, mais forte se faz o discurso da psicanálise, porque esse resto que não se pode classificar é o sujeito que será interpelado pela ciência do particular, que é como Lacan chama o discurso psicanalítico no Seminário 11.


Forbes relata que, ao trabalhar no Centro de Genoma Humano da Universidade de São Paulo, pode pensar na psicanálise como um discurso que, embora não ande de mãos dadas com a ciência, é o único interlocutor responsável. Desta maneira, a clínica psicanalítica confronta o sujeito com sua absoluta singularidade.
Benvindo Dr. Forbes à nossa universidade.


Esta conferência inaugura o começo de intenso intercâmbio intelectual entre nossos países.

 

Lic. Patricia Gorocito


Psicoanálisis para el mundo (original em espanhol)

 

El acontecimiento público hoy es en la Facultad de Psicología de la Universidad de Buenos Aires.

 

La cátedra de Psicología, Ética y Derechos Humanos I  cuyo titular; el Profesor Juan Jorge Michel Fariña tuvo el agrado de invitar en Conferencia Inaugural al Dr. Jorge Forbes de la Universidad de Sao Paulo.

 

Fue muy grato contar con la presencia y el entusiasmo de la Decana de esta Casa de Estudios, la Profesora Lic. Nélida C. Cervone, el Secretario  de Investigaciones el Profesor Martín J. Etchevers, docentes, investigadores y estudiantes no sólo de nuestra facultad sino también de otras prestigiosas universidades de América Latina.

 

En el marco de este importante congreso que fortalece los vínculos entre las universidades de la región, el Dr. Jorge Forbes tituló su conferencia “La genética pide análisis: Inconsciente y responsabilidad ante el desarrollo científico-tecnológico”.

 

Forbes logró desplegar de manera lúcida y clara como el psicoanálisis puede avanzar a la par de la ciencia. Lo contrario de lo que alguna vez dijo la revista Time “El avance científico va a disminuir el progreso del psicoanálisis”.

 

Y lo que ocurre es todo lo contrario.

 

La ciencia avanza, sí, pero con su sombra. Y justamente esa parte oscura que tiene el progreso genera un no saber tan profundo que sólo será posible enfrentarlo con una invención responsable.

 

La ética del psicoanálisis nos confronta con ese no saber insistente, un real siempre absolutamente novedoso y nuestra respuesta es la responsabilidad de la invención.

 

El científico ignora que más allá del real de la ciencia que todo puede clasificar hay un sujeto que siempre es excepción, falta en ser y soledad.

 

Más avanza la ciencia y más fuerte se hace el discurso del psicoanálisis porque ese resto que no puede clasificar es el sujeto que será interpelado por la ciencia de lo particular, según Lacan denomina al discurso psicoanalítico en el Seminario 11.

 

Forbes relata que al trabajar en el Centro de Genoma Humano de la Universidad de Sao Paulo puede pensar el psicoanálisis como un discurso que si bien no va de la mano de la ciencia es el único interlocutor responsable. De esta manera la clínica psicoanalítica confronta al sujeto con su absoluta singularidad.

 

Bienvenido Dr. Forbes a nuestra universidad.

 

Esta conferencia inaugura el comienzo de un intenso intercambio intelectual entre nuestros paises.

 

Lic. Patricia Gorocito

 


GRAVIDADE DOS CORPOS, INCIDÊNCIAS DA FALA*

Sérgio Laia**

 

Para este VI ENAPOL, seguimos na contracorrente da psicologia, da psiquiatria, de uma vulgata psicanalítica e ainda dos escaneamentos do cérebro, da explicitação do funcionamento dos hormônios. Essas propostas de que tomamos distância afirmam que o corpo fala enquanto que nós seguimos o viés de que, com o corpo, se fala, mas ele – campo privilegiado do “gozo opaco por excluir o sentido” – permanece mudo mesmo que, nesse silêncio abissal, nos convoque a falar, numa tagarelice sem fim.

 

Ficção científica, “mistério do ser falante

Em Gravidade, filme de Alfonso Cuarón, me impressionou a tagarelice. De início e até praticamente a metade, o astronauta Matt Kowalski, interpretado por George Clooney, a protagoniza. Ao longo da segunda metade, quando a catástrofe irrompe e a astronauta Ryan Stone, representada por Sandra Bullock, fica sozinha no espaço, sem qualquer retorno da Terra e de quem quer que seja, há um solilóquio contínuo, silenciado apenas na sequência final. Assim, o filme é tomado por falas e corpos que orbitam no espaço do qual Ryan Stone destaca paradoxalmente o silêncio como a coisa que mais lhe agrada.


Para Matt Kowalski, é a última missão espacial, pois irá se aposentar. Sua falação é marcada por certo tédio e uma aparente despreocupação frente à rotina que, há anos, ele vê e repete a uma enorme distância da Terra. Quanto a Ryan Stone, a princípio menos falante e, em boa parte de seu contínuo solilóquio na segunda metade do filme, muito menos dispersiva, somos informados, por ela mesma, de que se lançou no espaço, por um lado, como um modo de obter financiamento para uma pesquisa que vinha realizando na Terra e, por outro lado, para fazer frente a uma tragédia pessoal relacionada à morte acidental de sua única filha. Temos, portanto, um casal que se encontra e se perde, na ausência de toda gravidade, em pleno espaço, mas que não forma classicamente um par amoroso.


Pareceu-me oportuno tematizar Gravidade à  luz do que temos chamado de Falar com o corpo: a crise das normas e a agitação do real. Afinal, além da tagarelice, outro elemento me chamou atenção: diferente da simetria e do panorama clean de 2001: uma odisseia no espaço ou do ambiente aterrorizante e orgânico-corpóreo da trilogia Alien, a crise das normas e agitação do real em Gravidade não se distanciam do que vivemos atualmente, e cada vez mais – os protocolos são a faceta institucional da tagarelice humana, mais um tipo de defesa contra o real sem lei que, por sua vez, se impõe aos corpos tomados pela solidão de um gozo autoerótico. Assim, se o caso Katharina surpreendeu Freud por “constatar que as neuroses podiam florescer a uma altura superior a 2.000 metros” , as sagas solitário-tagarelas de Kowalski e Stone situam igualmente tal florescimento numa distância da Terra em que os corpos, mesmo desprendidos da atração gravitacional, permanecem como o que Miller nos convida a cingir sob a forma de instrumentos para falar .

 

Segurando a barra

Enquanto via esse filme, lembrei-me do que Lacan sustentava um pouco mais de um mês depois do desastre (que acabou se revertendo como um sucesso) da missão designada como “Apollo 13”. Lacan, a princípio, destacou que a ciência faz “surgir no mundo coisas que não existiam de modo algum no nível de nossa percepção”, tais como “as ondas” detectáveis na voz humana e que, embora bem menos perceptíveis que os cabos pelo quais, por exemplo, os corpos dos astronautas se conectam a naves espaciais ou a fontes de oxigênio, também não deixam de dar corpo a conexões. Em seguida, provavelmente em uma alusão às tensões vividas pelos tripulantes e por quem acompanhava a missão de Apollo 13, afirma:


“esses astronautas, ... a quem no último momento ocorreram alguns pequenos aborrecimentos, seriam provavelmente muito mais tensionados... se não tivessem sido todo o tempo acompanhados por esse pequeno a da voz humana. Assim, eles podiam se permitir dizer apenas bobagens como, por exemplo, que tudo ia bem quando tudo ia mal” .

 

Esse modo de desdizer o que estava acontecendo mostra, segundo Lacan, que “a voz humana, com seu efeito de fazer com que lhes segurem a barra..., não desvela de modo algum sua verdade” . Em francês, “com que lhes segurem a barra” é literalmente de vous soutenir le perinée e Laurent já esclareceu, aqui mesmo em Buenos Aires, que se trata de uma “paráfrase para dizer que se mantinham em ereção”, ou seja, “’sustentar o moral’”, “manter alguém em ereção... é a função da fala” .


As falas, portanto, gravitam nos corpos mesmo quando eles procuram em vão se isolar da força gravitacional dos sintomas que lhes são parceiros na existência. Assim, quando tudo parece irremediavelmente perdido para Ryan Stone, ela começa a falar cada vez mais e, no ápice da catástrofe espacial, imersa em sua agitação corporal solitária, essa astronauta que recebera do pai o nome de um homem porque ele desejava ter um filho e que, após perder sua única filha, se precipita no espaço, encontrará uma solução fazendo falar-lhe o corpo de Matt Kowalski que já não teria mais como estar a seu lado. Numa espécie de sonho que a faz reverter a catástrofe na qual se encontrava, ela vai consentir com o que procurava se defender seja na Terra, seja no espaço, conectando-se, como uma mulher, à fala de um homem que não é seu pai. Só assim ela – que é uma Stone (literalmente uma pedra) – poderá ter seu corpo de novo atraído rumo à Terra.

 

Uma diferença

Embora comprovando a precisão do que nos orienta aqui neste VI ENAPOL, Gravidade termina convocando-nos a um novo começo: há um silêncio no final, mas uma nova e tagarela saga parece poder se descortinar. Por isso, retomando a afirmação de Lacan sobre os astronautas da Apollo 13, a voz humana permitiu a eles e a qualquer um de nós segurar a barra em plena catástrofe dos corpos, mas sem que seja desvelado “sua verdade”. Ora, é esse desvelamento que deverá se processar, de modo exclusivo (permito-me dizer assim), nas intervenções que gravitam a partir do que, graças a Jacques-Alain Miller, temos chamado de orientação lacaniana.


À época do Seminário 17, Lacan distingue esse desvelamento de uma precipitação do tipo desmascaramento recorrendo à concepção heideggeriana de que a verdade, ao se velar, se revela. Por sua vez, quanto à posição do analista, Lacan esclarece que a relação com o real e com o impossível faz do analista mais um objeto a no mundo povoado por esse objeto e, ao mesmo tempo, cabe-lhe mostrar o quanto de “vento da voz humana” existe nesses objetos silenciosos em torno dos quais os corpos cada vez mais gravitam imersos no gozo e na angústia.


Da quase-tragédia de Apollo 13 ao mundo atual onde nos é dado a ver Gravidade, tanto a agitação do real nos corpos tomados pelos objetos a, quanto a crise das normas em sua impotência de responder ao real sem lei, tem tomado dimensões astronômicas. Vivemos cada vez mais em um mundo onde os falasseres, como os personagens de Gravidade, falam sozinhos porque, segundo o Lacan do Seminário 24, não dizem “nada mais do que uma única e mesma coisa” , ou seja, estão só e imersos no gozo que lhes é opacamente inconsciente, se lançando a aventuras mundanamente estratosféricas. Uma diferença pode se impor (e teremos a chance de verificá-la uma vez mais neste VI ENAPOL) quando alguém, segundo Lacan, “decide dialogar com um psicanalista”, ou seja, com um corpo alheio ao seu e que poderá lhe reverberar, como um parceiro-sinthoma, de modo surpreendente, a fala que – surda ou ruidosamente – cada um mantém, como um inesgotável solilóquio, com o corpo.


* Texto apresentado na Abertura do VI Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana (ENAPOL), no dia 22 de novembro de 2013.

** Psicanalista, Analista Membro da Escola (AME), pela Escola Brasileira de Psicanálise (EBP), Membro da Associação Mundial de Psicanálise (AMP); Professor titular da Universidade FUMEC (Fundação Mineira de Educação e Cultura); Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Programa de Pesquisa e Iniciação Científica da Universidade FUMEC (ProPIC).

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