Editorial #7

Caros colegas, membros da EBP, Com esta postagem retomamos a sequência do Blog do Passe da EBP, após nossa Assembleia Geral. Na AGO não foram poucas as questões surgidas relativas ao funcionamento do passe e às atividades da EBP em torno do dispositivo. O Blog do Passe é o espaço que temos para que essas e outras questões possam ressoar em nossa Escola, mais além de uma temporalidade tão pontual. Com a conversa entre seus membros a EBP poderá avançar nas elaborações dos efeitos da atual crise do Passe que toquem em sua especificidade de Escola. Afinal, se o AE é nomeado como sendo da Escola Una, é importante conversarmos sobre como vemos e experimentamos essa crise em sua especificidade no Brasil. As edições anteriores do Blog já trazem um inicio de conversa que esperamos consiga, de fato, acontecer. Como espaço restrito aos membros buscamos que as questões possam ser colocada sem necessariamente a exigência superegóica do saber. Embora compartilhemos a ideia da importância do passe e de seus efeitos de formação, não desconhecemos também que não são muitos os AEs na história da EBP, e, ainda, não desconhecemos que os dispositivos relativos ao passe concorrem, por seu próprio funcionamento, com a presença de poucos colegas. Essa conversa, portanto, não deixa de ser uma novidade para muitos de nós. Assim, o Blog do Passe é um convite para que os membros da EBP se façam presentes com sua escrita e suas questões sem precisar recuar diante do não saber. Convidamos a todos os colegas a se manifestarem enviando suas contribuições para os e-mails: kaufmanner@gmail.com e glacygonzalesgorski@gmail.com . Nessa retomada do Blog do Passe, o primeiro após a composição do novo Conselho da EBP, trazemos uma edição especial. Jésus Santiago gentilmente nos cedeu o texto de sua apresentação no Seminário de

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A escrita real no passe não é autoficção

Jésus Santiago  O passe é certamente a culminação do desacordo de Lacan com as concepções sobre o final da análise e a formação analítica que tiveram lugar no movimento psicanalítico após a morte de Freud. Até a proposição do passe, em outubro de 1969, a formação analítica esteve relegada ao suposto caráter didático da análise do candidato à psicanalista. Em A análise finita e a infinita já aparecem os primeiros indícios do sistema da análise didática que visa atingir os resultados exigíveis para a formação analítica. Freud afirma, por exemplo, que a análise do analista “deve gerar no aprendiz de psicanalista a firme convicção na existência do inconsciente”. Trata-se, assim, de uma “aprendizagem que acontece quando através do material recalcado e de percepções até então inverossímeis, torna-se possível ao candidato uma primeira apreensão do único método garantido para a atividade psicanalítica”.[1] Chama a atenção, nesse texto, o emprego do número de termos que resvalam para uma concepção didática ou mesmo pedagógica da análise de formação do psicanalista. Robustece-se essa concepção com a inclusão de uma observação de Ferenczi do “quão fundamental é para o sucesso” de sua prática “que o analista tenha aprendido a partir de seus próprios ‘enganos e erros’ e que tenha adquirido domínio sobre os ‘pontos fracos da própria personalidade’”.[2] É o próprio final de análise que está em questão nessa concepção didática da análise, pois exigir do analista “um grau mais elevado de normalidade psíquica e correção como comprovação de sua habilidade profissional” é, no fundo, empenhar-se para que a figura do analista possa funcionar – diz Freud – como “modelo para o paciente em determinadas situações ou mesmo como professor”.[3] Didática versus experiência Ao contrário dessa perspectiva didático-pedagógica, Lacan fez valer o final do tratamento analítico como experiência, precisamente como uma solução que se extrai

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Editorial #6

Neste sexto número do Blog do Passe da EBP, Henri Kaufmanner e Alberto Murta compartilham as ressonâncias produzidas pelo Encontro Marcado com o Passe e pelos textos de colegas publicados no Blog (https://www.ebp.org.br/passe/). Como entender o mutualismo e as experiências identitárias, a fragilidade do Um, o regime de castas e a idealização em nossa comunidade analítica? São provocações com as quais os autores nos convidam ao debate. O Passe é sempre sobre a época, assim como os sintomas do Passe, que revelam o nosso tempo e seus impasses que nos cabe enfrentar. A um passo da permutação da Presidência do Conselho da EBP, deixo a moderação do Blog com os votos de que que cada um se encoraje a endereçar ao futuro Presidente a sua própria contribuição e que possamos extrair deste debate as melhores consequências para a nossa Escola. Maria Josefina Sota Fuentes Presidente do Conselho da EBP

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Não sabido

 Henri Kaufmanner Caros colegas da EBP, Queridos Tânia, Sérgio e Louise, Resolvi escrever a partir de suas cartas e das ressonâncias em mim provocadas pelo Encontro Marcado com o Passe. Diversas questões ali surgidas foram já assinaladas na carta de Louise Lhullier. Gostaria, contudo, de ressaltar uma outra questão que me tocou particularmente e foi trazida por uma colega da Espanha. Não estaria o Passe tomado pelas experiências identitárias ou mutualistas de nosso tempo, como efeito da lógica contemporânea em nossa Escola? Bem, ao menos foi o que entendi da questão apresentada pela colega. Éric Laurent prontamente descartou essa preocupação, lembrando que o Passe é um dispositivo sempre atravessado por sua verificação. Não somente uma nomeação se dá a partir da transmissão de uma experiência singular de análise a um Cartel, como também, o assim nomeado AE, terá três anos para sustentar essa nomeação diante da comunidade da Escola Una. Como acentuou Laurent, nem sempre esse ensino deixa de gerar, digamos, suas desconfianças. Em suma, não é algo que aconteça sem revelar seus furos. Como pensar então a crise do dispositivo do Passe? Pergunto-me frequentemente como é que a realidade contemporânea atravessa nossa Escola. Estaríamos no mais aquém do Passe, ali onde a hierarquia não é tocada pelo gradus, atravessados pela tensão da prevalência no mundo da imagem, das lógicas identitárias ou do politicamente correto, expresso mais claramente a partir da discussão do movimento Woke? Foi nesse escopo que a pergunta da colega da Espanha me tocou. Quais os dispositivos da Escola, no caso do Brasil, por exemplo, para lidar com o mutualismo, tão tentador em uma Escola continental, como lembrou Miller na ocasião do Encontro Marcado com o Passe? Nessa perspectiva, ganha relevo a questão relativa ao AE como intérprete da Escola, na medida em que a tomamos como

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A fragilidade do Um na EBP

Alberto Murta No contexto da fundação da Escola Brasileira de Psicanálise, Jacques Alain-Miller nos convocava a revigorar o movimento da EBP, por meio do estatuto do Um. Ainda hoje, passados 27 anos, estamos atravessando momentos que dizem respeito aos efeitos da fragilidade do UM no interior da EBP. Quero dizer que não se pode passar despercebido em relação às pontuações, às interpretações, que foram arroladas no encontro marcado com o Passe, sob os auspícios da AMP, e que têm incidências no funcionamento da Escola Brasileira de Psicanálise. Afinal, por que o Um da EBP continua frágil? De qual Um Miller nos interpreta quando diz: “O Um da Escola é frágil e será bem-vindo tudo o que venha reforçá-lo com uma condição – que o Múltiplo o aceite de bom grado”[1]? Miller, em uma lição de março de 2011, aborda o gozo do desaparecimento, mediante o apagamento do UM. Tendo constatado a fragilidade do Um frente ao múltiplo na EBP, será que podemos abordá-la como uma modalidade de apagamento do Um? Desdobro minha questão: será que esta fragilidade do Um tem incidências nas nomeações de AE pelo Comissão do passe na EBP, já que o AE pertence à Escola Una? Como fazer torções entre o Um e o Múltiplo quando o próprio Lacan nos adverte que não podemos promover deslizamento do Um ao Ser e, com isso, testemunhar o que ele chama de uma certa impotência? Tomemos de empréstimo a proposição lacaniana presente no “ato de fundação da EFP”, quando deparamos com um certo ressoar do Um, somente só: “Fundo – tão sozinho como sempre estive em minha relação com a causa analítica – a Escola Francesa de Psicanálise”[2]. Vou me deter a um pequeno questionamento relativo ao início da primeira frase: “Fundo – tão sozinho como sempre estive”. Qual é

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Editorial #5

dia 19 de março, para que todos os membros da EBP tenham acesso ao material. Aguardamos seu texto (josefinasfuentes@gmail.com e lfe.camargo@gmail.com) e esperamos que visite o Blog, exclusivo aos membros da nossa Escola (https://www.ebp.org.br/passe/). Maria Josefina Sota Fuentes Presidente do Conselho da EBP Encontro marcado com o Passe (Versão modificada) Associação Mundial de Psicanálise Sábado – 19 de março de 2022 Língua: Português Acesse!

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Editorial #4

Este quarto número do Blog do Passe da EBP recolhe as ressonâncias do que foi o memorável Encontro marcado com o Passe da Escola Una. A carta de Louise Lhullier inspira novos comentários, assim como a de Sérgio de Mattos, encaminhada às vésperas do seu precioso testemunho do dia 19 de março. Aguardamos o envio do seu texto (josefinasfuentes@gmail.com e lfe.camargo@gmail.com). É possível acessar o Blog do Passe da EBP, exclusivo aos membros da nossa Escola, no seguinte link:  https://www.ebp.org.br/passe/. Maria Josefina Sota Fuentes Presidente do Conselho da EBP

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Um pedaço clarescuro 

Sérgio de Mattos Cara Tânia, Espero que sua carta chegue ao seu destino. Mas qual é esse destino? Aí está. No que toca ao passe, acho que o melhor é ir tateando e ir adiante. Recém nomeado, me deparo, logo no primeiro depoimento, com notícias de um disfuncionamento. Um modelo passa a ser interrogado. Apesar das diferenças de funcionamento em cada uma das Escolas, as ressonâncias repercutem nas estruturas afins. Onde estamos, para onde vamos? Vou abordar suas perguntas de uma maneira “lateral”, por aproximação. Começo colocando algumas ideias que me ocorreram, as faço um pouco às soltas, tentando evitar um espírito excessivamente crítico que possa inibir um fluxo que pode ser oportuno neste momento, que precisa ser de abertura. Começando uma conversa. Impasse. Primeiro, aposto que o passe é o lugar dos impasses fecundos. Esse tempo, no qual algum disfuncionamento aparece, é, a meu ver, o coração mesmo desse dispositivo. Como poderia funcionar se não admitisse no próprio funcionamento a possibilidade do seu fracasso? Sem essa pedra de tropeço, não seria o passe uma banca de doutores a julgar a experiência segundo o escopo do já sabido? Paradoxo. Cabe ao passe topar com um pedaço de real, esse que, como tal, consiste em não se ligar a nada, mas que é um caroço em torno do qual o pensamento divaga. Abordá-lo pela linguagem, pela cópula (ligar um significante a outro), é uma via de desvio muito pouco reluzente, obscura, como diz Lacan no Seminário 23, e continua: “Obscura, aqui é uma metáfora, porque se soubéssemos um pedaço de real, saberíamos que a luz não é mais obscura que as trevas, e vice-versa”.1 O passe pathos. Continuo com o Seminário 23: Um dia um tal de Newton achou um pedaço de real, isso provocou um frio na espinha de todos aqueles que pensavam,

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Notícias do lado de cá

Louise Lhullier Querida Tânia, Buscava uma forma de escrever algo para este blog e a modalidade epistolar que você inaugurou me agradou muito. Então, sigo por aí, embora mais pela via de compartilhar minhas próprias inquietações do que de respostas às questões que você coloca. A conversação de sábado, 19 de março, trouxe à luz o incômodo com as disfunções do dispositivo do Passe, que apareceu de formas variadas nos informes de diferentes Escolas da AMP, sob diversas nomeações. Entre outras: inércia, automaton, decepção, regionalismo, mutualismo, efeito homogeneizador da leitura da experiência de análise sob o império do ultimíssimo ensino de Lacan, descuido. Foram apresentadas questões sobre as nomeações, o funcionamento do dispositivo, a contribuição epistêmica daí esperada, as instâncias do passe e o exercício das diversas funções. Os AEs, seus testemunhos e o ensino que a partir daí se espera do dispositivo também estiveram em foco na conversação. As reações não se fizeram esperar: por aqui falou-se em frisson, animação, mas também em preocupações, angústia…  Enfim, a Escola vive! O que me inquieta não tem a ver com esse instante de ver, que me parece fecundo e oportuno, mas com alguns movimentos daí decorrentes que me parecem apressados. Para mim, o tempo para compreender ainda não foi suficiente, muito menos sinto que já tenha chegado o momento de concluir. Em Polêmica política, Miller fala de nossa “formação” como um “tipo de atmosfera que seria preciso visar e da configuração geral da nossa conversação”1, em que “dizemos sim, dizemos não, talvez, por que não? E mudamos de ideia”2. Como ele, gosto e aprendo com esse tipo de conversação democrática e me agrada pensar que ainda temos tempo para, talvez, mudar de ideia a respeito de alguns encaminhamentos propostos, avançando na exploração dos problemas apontados.  Como Antonio de Ciaccia, neste momento escolho a prudência. Tomo como exemplo

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Editorial #3

Neste número, uma carta e um texto escritos por duas colegas da EBP convidam ao debate sobre o Passe na Escola. Contra os regionalismos, a função da Escola Una está em causa. Dois grandes momentos a ela consagrados se aproximam: o Encontro Marcado com o Passe e a Grande Conversação da Escola Una. Os membros inscritos na Grande Conversação Virtual Internacional da AMP e, portanto, nestas atividades, receberão em breve um dossiê da AMP e poderão participar deste grande encontro. Quem desejar tomar a palavra está convidado ir dirigir-se a uma sede de sua Seção no sábado e no domingo, dias 19 e 20 de março. Quem desejar escrever sobre o Passe para o Blog da EBP, envie seu texto para josefinasfuentes@gmail.com e lfe.camargo@gmail.com. A noite de hoje também promete. Das 19h30 às 22h30, a EBP se prepara para a Grande Conversação Virtual Internacional da AMP que também se aproxima. A Conversação dos Membros da EBP cria esse terreno onde cada um poderá colocar algo de si e fazer existir a Escola de Lacan. Maria Josefina Sota Fuentes Presidente do Conselho da EBP

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