Rosane da Fonte
Como o poeta, encontramos uma pedra “no meio do caminho”. Um real contingente se lançou em nossa caminhada. Como contorná-la?
O presencial que sustenta o laço na Escola foi provisoriamente deslocado para o epistêmico, pela via do Cartel no qual Lacan precisa a conexão entre o individual e o coletivo.
O cartel, na Escola de Lacan, não é só uma ferramenta de trabalho, ele instaura uma política. Não ceder diante do real que está no cerne da Escola e na formação do analista.
Sua lógica institui um funcionamento que aloja a questão de cada cartelizante, tendo o Mais Um, como agente provocador. É um dispositivo com tempo limitado, em que a hierarquia e o mestre não vigoram. Cada participante, é representado por um S1, que o designa na diferença, e tem o encargo de produzir um texto em que se revela a singularidade. Aí está o valor do Cartel.
Para Guy Briole, os membros do cartel, incluindo o mais-um, participam com seu estilo, traços, maneira de colocar-se e de transmitir dando lugar à diversidade.
A psicanálise é apresentada por Lacan como um campo aberto à espera da elaboração teórica dos analistas. Os cartelizantes, com o vazio que lhes concerne, seu desejo e seu entusiasmo, provocam o coletivo Escola, abrindo janelas para novas questões e novos Cartéis.
Em tempo do virtual, sigo Marcelo Veras: o isolamento de corpos não implica, necessariamente, isolamento social, a marca do humano é a linguagem, e as redes sociais estão aí para favorecer os encontros.
Nessa via, Miller, na fundação da EBP, destaca a importância do Affectio societatis, expressão que põe em relevo o que se faz só e o que não se faz só, sem os outros. Desse modo, a Escola abriga o que se faz só: a análise, o ensino e, ao mesmo tempo, a dignidade do que fazemos juntos: o cartel, as conversações… Não há Escola sem o coletivo.
Assim, nesse Encontro de Cartéis acolhemos os resíduos daqueles que vieram à Seção NE nesse momento de sua consolidação para vivificá-la.
Individual e coletivo se enlaçam e fazem Escola.