
“Como podemos pensar a transferência nas urgências subjetivas? Embora a transferência não esteja estabelecida quando um sujeito se apresenta a um analista com alguma urgência, ainda assim, há um endereçamento da fala. No Seminário 10, Lacan[1] nos lembra que a passagem ao ato é o apagamento do sujeito. O endereçamento da fala ao Outro pode, então, permitir que o sujeito encontre um último fio de simbólico para fazer laço e não ser apagado, tecendo um destino que não seja o pior. Endereçar a fala seria, portanto, uma possibilidade de suspender a urgência do ato para dar lugar à emergência da palavra”.
Intervenção feita por Wilson Lima na Segunda Preparatória à IV Jornada da Seção Nordeste sobre o eixo II: As subjetividades contemporâneas e suas urgências, em 20.08.24.
“Urgência e tempo são significantes fundamentais para pensarmos, diante da irrupção do real, a clínica em nosso tempo. Em Urgência sem emergência?, Romildo do Rêgo Barros comenta uma intervenção na qual estes dois momentos são destacados. Frente à ameaça de passagem ao ato de um paciente, o analista buscaria relançá-lo numa dimensão de temporalidade na qual a espera engendrasse a dimensão do sujeito. “Quem atende uma urgência é alguém que está apostando em um futuro”, ele escreve. A escuta, com efeito, faz inscrever a possibilidade de futuro nos casos nos quais há a abolição momentânea do tempo.
Desde Freud, há uma relação entre inconsciente e tempo. Contudo, nosso tempo é um tempo que corre. Um tempo que é puro instante de ver. Um tempo que, a seu modo, convoca o analista a ser um objeto versátil e intervir no próprio tempo. A urgência não é o trauma em si. Falta-lhe exatamente os predicados que uma experiência analítica pode devolver. No tempo do Outro que não existe, recompor um Outro de suplência pode provisoriamente acolher a urgência como um resposta ao real no momento pelo qual o sujeito pode formular outras respostas e até mesmo novas perguntas”.
Intervenção feita por José Augusto Rocha na Segunda Preparatória à IV Jornada da Seção Nordeste sobre o eixo II: As subjetividades contemporâneas e suas urgências, em 20.08.24.
[1]Lacan, J. [1962-1963] O Seminário, livro 10: a angústia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005, p. 129.
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