Késia Ramos (EBP/AMP) Nesta edição do Litorâneo #17, a construção da editoração imagética nos…
Ideología TCC y política de la felicidad
Bibiana Poggi (coordenadora)
Fernanda Vasconcelos, Maria Carolina Queiroz, Rejane Tito, Roberta Gusmão, Rosa Reis e Silvia Farias
Em 2023, o Conselho da Seção Nordeste sugeriu um modo de funcionamento para a Orientação Lacaniana que envolvesse GTs. Proposta aceita com entusiasmo pelo nosso grupo, o qual pôs-se a trabalhar mensalmente com ricas discursões, que foram levadas ao público em forma de questões, proporcionando um debate importante. Tais questões foram sintetizadas a fim de serem publicadas, são elas:
– No início desta aula, Miller abriu a palavra aos colegas Pierre G Guéguen e Jean Daniel Matet, os quais traziam algo de novo às questões políticas nas Instituições Médico-Sociais. Matet afirmava que as IMS são guiadas pelas teorias da TCC e equivalentes. Criou um serviço orientado pela psicanálise dirigido às crianças menores de seis anos, obtendo irrefutáveis resultados de apaziguamento ao comportamento delas. Uma nova diretoria, usando de “violência inusitada” se fez contrária a tudo que é subjetivo e apontou a psicanálise pela falta de transmissão escrita, “acusada de não ter pertinência e carecer de valor científico (…)”.
– Muitas instituições na França foram impactadas por leis que objetivavam uma nova ordem nas relações médico-sociais, modificando as condutas administrativas e de trabalho em espaços de tratamento de crianças “não adaptadas”. O uso do termo autismo foi classificado no registro da deficiência, e generalizado para qualquer transtorno infantil em que exista ausência de lesão cerebral e atraso na sociabilização ou na fala; desestimulando assim as sutilezas diagnósticas, tão valiosas para a psicanálise. A nova ordem pedia o apagamento da palavra para privilegiar a abordagem instrumental cognitivista.
– A aula segue abordando a prática das TCCs em contraponto à psicanalítica, com uma visão crítica do predomínio da escrita no ambiente cognitivo comportamental sobre a palavra, tida como sem relevância num contexto em que o que importa apenas é a observação objetiva. A palavra perde seu valor e o percurso individual se dissolve até ser reduzido a uma variável que faz desaparecer a subjetividade. A psicanálise, ao contrário, ignora os números e os dados estatísticos em seu campo. Podemos até dizer que, nela, o número como tal é nada, pois os sujeitos do inconsciente não se adicionam.
– Em sua fala Miller traz a obra O rinoceronte, do dramaturgo Eugene Ionesco. Nesta peça, as pessoas vão se transformando em rinocerontes e assumindo um comportamento bestial. A obra aponta, analogamente, para a presença insidiosa de um poder de massificação e achatamento dos sujeitos reduzidos a uma condição de brutalidade.
– Por fim, Pierre G Guéguen fala sobre a política da felicidade da Grã-Bretanha, que tinha o intuito de erradicar a depressão, afirmando através das neurociências que é possível detectar se uma pessoa está feliz ou não. Para a Psicanálise, as vias para investigar a felicidade são orientadas pelo sintoma e sua satisfação paradoxal. Em Televisão, Lacan afirma que “o sujeito é feliz”. A palavra felicidade tanto no francês como em outras línguas aponta para o encontro fortuito, assim, “o sujeito é feliz já que ele só pode dever tudo ao acaso.” Não há nenhuma programação simbólica que possa organizar, de forma previsível, a experiência da felicidade humana.