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Editorial Litorâneo #09

Cassandra Dias

“A única vantagem que um psicanalista tem o direito de tirar de sua posição, sendo-lhe esta reconhecida como tal, é a de se lembrar, com Freud, que em sua matéria o artista sempre o precede e, portanto, ele não tem que bancar o psicólogo quando o artista lhe desbrava o caminho”.[1]

Dessa relação com a arte, o psicanalista se beneficia. Dois modos de tratamento do real que articulam inconsciente, linguagem e corpo. Nessa incursão por esse campo, não cabe ao analista interpretar uma obra de arte, mas sim, se deixar ser tocado por ela.

Essa edição do Litorâneo converge para essa perspectiva através de duas atividades que trazem a interlocução com o campo da arte: a recém criada atividade Cinema e Psicanálise, coordenada por Késia Ramos e apoiada pela Comissão de Cinema e Psicanálise da Rede FAPOL na EBP e  uma Noite de Biblioteca, que versou sobre a escrita, em particular, sobre a poesia.

Da primeira, recolhemos momentos preciosos acerca das contribuições da Sétima Arte para o debate sobre temas candentes da subjetividade: as considerações de Késia Ramos sobre o diálogo entre o cinema e a psicanálise, a partir da sua paixão pelo cinema transformada em uma causa para essa atividade; a questão trans, através do filme Girl com os comentários de Ondina Machado e o tema da solidão feminina, através do filme Certas Mulheres, comentado por Graciela Bessa. Duas leituras que propiciaram um vivo debate para os amantes do cinema e da psicanálise, articulando questões epistêmicas através do cinema.

Da Noite de Biblioteca sobre o analista e a escrita, pudemos contar com a presença de Fátima Pinheiro, que nos contemplou com sua vivência singular de lalíngua expressa em poesia e generosamente, compartilhada no coletivo. Extraindo do sentido suas modulações, circunscrevendo o que, da letra, se escreve. Na articulação do inconsciente como político, procurando estar à altura da subjetividade da sua época, sem recuar diante do pacto civilizatório e seus horrores, estetizando pela via das palavras, seu fazer poético.

Fátima nos proporcionou uma experiência linguageira nessa noite, tirando consequência das palavras de Lacan:  “não sou um poeta, sou um poema”. [2]

Desejamos que a leitura da incursão dos psicanalistas pela arte produzam ressonâncias na formação de cada um.


[1] LACAN, J. – Homenagema Marguerite Duras pelo arrebatamento de Lol. V. Stein In: Outros Escritos , p 200. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. , 2003. (Campo Freudiano no Brasil).
[2] LACAN, J. – Prefácio à edição inglesa do Seminário 11  In: Outros Escritos, p 568. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003 (Campo Freudiano no Brasil).
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