O estilo que faz Escola Késia Ramos (EBP/AMP) Esses tais artefatos que diriam minhas angústias,…
Editorial Boletim Litorâneo nº14
Késia Ramos
Membro da EBP/AMP
A fórmula Todo mundo é louco, completada no texto de Lacan por um “ou seja, delirante”, não deixa de fazer ressoar, porém, algum rangido. De fato, a imputação de loucura e de delírio ainda decorre da clínica. Seria validar, ao que parece, o fim da clínica, mas em termos que pertencem à clínica. Ora, esse não é o único paradoxo introduzido por esse aforismo. Com efeito, Todo mundo é louco, quem diz isso? Só pode ser um louco[1]
E eis que desponta a edição do Boletim Litorâneo dedicado ao Seminário de Orientação Lacaniana da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Nordeste.
Pelos trilhos do tempo, Jacques-Alain Miller ministrou cursos de psicanálise dedicados ao ensino de Jacques Lacan. Os Seminários de Orientação Lacaniana têm como objetivo promover o estudo e a investigação da doutrina de Lacan desenvolvida nestes cursos de psicanálise escritos por Jacques-Alain Miller. A realização dos seminários é conduzida em todas as Seções da Escola Brasileira de Psicanálise, sob a responsabilidade de seus respectivos Conselhos Deliberativos.
Para o analista em formação, o estudo e as discussões dos cursos de Jacques-Alain Miller realizados durante os seminários constituem o princípio da tese que orienta o trabalho do analista, com o cuidado e rigor abordados nos temas mais fundamentais em discussão hoje no Campo Freudiano.
No ano de 2023, a Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Nordeste escolheu a leitura do curso Todo el mundo es loco[2], desenvolvido por Jacques-Alain Miller nos anos de 2007-2008. Essa decisão não apenas estava alinhada com a temática do Congresso mundial da Associação Mundial de Psicanálise, realizado em fevereiro deste ano, mas também se deve à abordagem detalhada e audaciosa encontrada neste curso de Miller. Essa abordagem oferece uma orientação precisa e perspicaz em termos epistêmicos, clínicos e políticos, orientando os praticantes da psicanálise a situarem-se na complexidade da época atual, indo além da perplexidade e da indignação.
A coordenação das reuniões do Seminário de Orientação Lacaniana foi realizada pelo presidente do Conselho Deliberativo, Cleyton Andrade, e pela secretária Ruth Jeunon. A orientação da leitura foi conduzida por um coordenador, responsável por convocar os colegas participantes para os grupos de trabalho, nos quais as discussões eram realizadas e textos foram elaborados como resultado. Esses textos continham destaques de passagens do curso de Miller, possibilitando que a palavra circulasse em torno das reflexões e articulações apresentadas na reunião do Seminário de Orientação Lacaniana. Isso enriqueceu as conversas e discussões sobre o capítulo em questão, destacando a responsabilidade e a formação do analista nos tempos que correm.
Da primeira à última reunião do seminário, foram apresentadas e discutidas referências preciosas, tais como: a interpretação que Miller faz da própria psicanálise ao forjar a expressão “Psicanálise Líquida”, possibilitando assim a discussão sobre o que ele aponta como “Clínica Acontecimento”, como resultado da passagem do primeiro para o último Lacan; a clínica nodal, como a lógica da topologia borromeana, como via para um saber fazer com essa clínica acontecimento; os estatutos da interpretação na última clínica; a “Bússola do Último Ensino”, permitindo trabalhar de forma mais enfática a articulação moebiana entre a clínica e a época, a clínica e a política.
Os textos, produtos dos grupos de trabalho que seguem aqui no boletim, trazem uma leitura que permitiu pensar sobre o que é peculiar à psicanálise, ao seu discurso que a torna sustentável até hoje, tanto na clínica quanto no mundo.
Agradecemos aos conselheiros da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Nordeste, a cada coordenador e colega que se dispôs a compor os Grupos de Trabalho dos capítulos propostos, bem como aos participantes do Seminário de Orientação Lacaniana que abrilhantaram as conversas e discussões.
Boa leitura!