Boletim Litorâneo Edição Especial – Agosto 2021
EDITORIAL
Cassandra Dias – Diretora de Biblioteca
No último mês de 2021, acontecerá a I Jornada da Seção Nordeste, fundada a partir de uma Nova Geografia instalada na Escola Brasileira de Psicanálise, que alterou o funcionamento local de três regiões geográficas: nordeste, centro oeste e sul que formaram três novas Seções da Escola, respectivamente: Seção Nordeste, Seção Leste Oeste e Seção Sul.
A Jornada encerrará esse primeiro ano de funcionamento da Seção Nordeste que mobilizou os seus membros na construção de uma comunidade de interesse decidida a fazer desse território um litorâneo psicanalítico múltiplo e orientado em relação ao Uno da Escola.
Em torno do enigma da sexuação, uma elaboração coletiva está em curso, verdadeiro work in progress. A edição especial desse boletim, que reúne o material produzido até então, é dedicada a esse trabalho decidido sob a regência de José Carlos Lapenda e Glacy Gorski na Diretoria Geral e Elizabete Siqueira à frente da Comissão Científica.
Apresentamos o argumento geral em que se traçam as premissas dessa investigação, assim como os eixos temáticos, as atividades preparatórias e os textos de orientação que norteiam o caminho epistêmico, com destaque para os textos do nosso convidado Fabián Fajnwaks.
Que a leitura desse material sirva para aproximar o que ressoa para cada um do enigma da sexuação, enlaçando uma transferência de trabalho dirigida à Escola de Lacan no Nordeste.
ARGUMENTO GERAL
Glacy Gonzales Gorski e Elizabete Siqueira
O título escolhido para a I Jornada da Seção Nordeste: O enigma da sexuação – O que nos ensina a experiência analítica sobre Isso é um convite dirigido à comunidade analítica para participar de uma conversação sobre este tema fundamental que, de início, tem como pressuposto um distanciamento de toda e qualquer concepção essencialista, construtivista ou identitária.
Argumentos dos Eixos Temáticos
Eixo 1: – A mulher que não existe: uma escrita do Um
Responsáveis: Cleide Monteiro e Eliane Baptista
Este eixo se propõe a extrair as consequências do aforismo lacaniano de que “A mulher não existe”. O artigo “A” que designa o universal só existe barrado (Ⱥ). Dessa perspectiva, nada se pode dizer da mulher. Não sendo possível o conjunto de todas as mulheres, pois não existe mulher que esteja em posição de exceção, o que há são mulheres a serem tomadas uma a uma; cada nome de mulher vale em si mesmo cumprindo a função de letra.
Eixo 2: O saber in-sabido do sexo.
Responsáveis: Cleyton Andrade e Liége Uchoa
Desde Freud encontramos ao menos duas formas de resistência ao sexual. Ambas decorrem de uma relação entre o pensamento e o sexual. Na primeira, o pensamento é alçado à categoria de defesa contra o sexual, contra o real do sexo. O pensamento se pretende regulador e promotor da normatização de uma renúncia moral à sexualidade. Uma forma de saber que pode se valer de narrativas…
Eixo 3: A não-relação sexual: o real, a existência e o amor
Responsáveis: Bibiana Poggi e Rosa Reis
O amor não faz Um, disse Lacan ao opor-se fortemente à ficção de que dois, o homem e a mulher, na relação sexual possam fazer Um.
Lacan também esclareceu que aquilo “que deveria resultar da linguagem, ou seja, a possibilidade de a relação sexual se inscrever nela de algum modo, mostra de forma precisa, e na realidade, seu fracasso. Ela não é inscritível”.
CONVERSAÇÕES PREPARATÓRIAS
1ª Preparatória – 20 julho
- O enigma da sexuação
- Texto base: A escolha do sexo – a experiência enigmática da sexuação. Fabián Fajnwaks
- Responsáveis: Anamaria Vasconcelos e Cassandra Dias
2ª Preparatória – 17 agosto
- A Mulher que não existe: uma escrita do Um
- Responsáveis: Cleide Monteiro e Maria Eliane Baptista
- Texto base: A Mulher Não Existe. Christiane Alberti. Argumento do Congresso AMP 2022
3ª Preparatória – 21 setembro
- O saber in-sabido do sexo
- Responsáveis: Cleyton Andrade e Liége Araújo
- Texto base: Sobre a clínica do corpo falante: sexuação, diferença sexual e relação sexual. Jésus Santiago
4ª Preparatória – 26 outubro
- A não relação sexual: o real, a existência e o amor
- Responsáveis: Bibiana Poggi e Rosa Reis
- Texto base: Culturas queer: alteridade e homossexualidades. Fabián Fajnwaks
A escolha do sexo – A experiência enigmática da sexuação
Fabián Fajnwaks
“O ser sexuado se autoriza de si mesmo. De si mesmo e de alguns outros” . Esta afirmação de Jacques Lacan, em 9 de abril de 1974, em Os Não-Tolos erram, usando a mesma fórmula conhecida, “o analista se autoriza de si mesmo” , assinala que há um real em jogo na sexualidade, o que implica que, para se nomear sexuado, (Leia mais) o ser falante não pode encontrar apoio somente nos semblantes que lhe vêm do Outro…
A Mulher Não Existe
Argumento do Congresso AMP 2022
Christiane Alberti
Um vento soprou. De todos os lados surgem vozes de mulheres quebrando um silêncio que vem de longe. Elas clamam legitimamente por seu desejo de igualdade e de liberdade, denunciam as injustiças sexistas a as violências acometidas contra as mulheres. A psicanálise faz sua parte nesse movimento.
Sobre a clínica do corpo falante: sexuação, diferença sexual e relação sexual
Jésus Santiago
Jacques-Alain Miller afirma que, com o Seminário 20, mais, ainda, Lacan serra o tronco da árvore sobre o qual havia posto todo o seu ensino. Qual é esse tronco? É o fato de que a linguagem, a fala e, enfim, a estrutura constitue o pilar com o qual a discursividade do Outro captura o organismo vivo. É exatamente no decorrer do mais, ainda, que Lacan põe em questão o conceito mesmo de linguagem, que, portanto, passa a ser considerado como conceito derivado e secundário com relação à invenção do conceito de lalíngua...
Culturas queer: alteridade e homossexualidades*
Fabián Fajnwacks
A psicanálise lacaniana poderia dividir até certo ponto, pelo menos, a crítica que as teorias queer fizeram, desde sua origem, aos estudos gays e lésbicos: elas lhes reprovam a reprodução do pensamento straight contra o qual elas se ergueram.
As teorias queer pensavam que uma nova normatividade saída, desta vez, das fileiras da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais) começava, então, a nascer…