Sobre a Diretoria de Cartéis e Intercâmbio
Para o biênio 2025-2027, seguimos apostando no cartel como órgão de base e porta de entrada da Escola, tal como formulado por Lacan em D’Écolage[1]. Esses princípios norteiam nosso trabalho: o cartel como um dos pilares fundamentais da Escola — seja no ensino, na transmissão ou na formação do analista.
Em O Ato de Fundação [2](1971/2003), Lacan esclarece a composição e o funcionamento de um cartel. Quanto à composição, devem participar, no mínimo, três e, no máximo, cinco integrantes, além do mais-um. Este, como ensina Lacan, é quem seleciona e dá destino ao trabalho de cada participante. Cada um, incluindo o mais-um, trabalha em torno de um tema ou questão de investigação, escrevendo um texto que testemunha o percurso e a experiência vivida.
O acontecimento do cartel é marcado por encontros, desencontros, estudos e crises — já que não há cartel sem crise. O trabalho leva em conta a dimensão do real em jogo e aposta no que cada um pode fazer a partir do próprio sintoma. Como observa Horne[3] (2021), o cartel promove uma outra relação com o saber, e não há cartel sem crise.
Em Cinco variações sobre o tema da elaboração provocada [4](1994), Miller nos ensina que :
- O cartel é um apelo ao trabalho.
- É efeito de uma elaboração sempre provocada, a partir do sujeito suposto saber e do significante-mestre, que retira o cartelizante do gozo da preguiça.
- Como elaboração discursiva, o cartel possibilita uma mudança em relação ao saber e faz frente ao discurso do mestre e ao discurso universitário, apostando na enunciação e na causa analítica.
- O mais-um tem a função de agente provocador: introduz e mobiliza a dimensão do furo no saber, convocando os cartelizantes ao trabalho.
- A arte de fazer-se mais-um consiste em introduzir a dimensão do vazio, descompletar o cartel e apostar no trabalho do um a um, preservando o traço singular de cada participante e evitando os fenômenos de grupo.
A duração de um cartel é variável, podendo chegar a, no máximo, dois anos de funcionamento, seja presencialmente ou de modo online. Os participantes podem pertencer a seções diferentes da Escola Brasileira de Psicanálise.
Nosso trabalho, na Diretoria de Cartéis e Intercâmbio, se organiza em três eixos: a Noite de Cartéis, o Procura-se Cartéis e as atividades de Intercâmbio. Todas essas ações ocorrem pela plataforma Zoom, sempre nas segundas terças-feiras de cada mês — com exceção do Procura-se Cartéis, realizado aos sábados pela manhã. Além dessas atividades, realizamos anualmente a Jornada de Cartéis da Seção Nordeste e a Jornada Nacional de Cartéis, ocasião em que são apresentados os produtos escritos dos cartéis.
Na Noite de Cartéis, nos deixamos ensinar pela experiência dos mais-um e dos cartelizantes, a partir de um tema escolhido. Já nas atividades de Intercâmbio, buscamos promover articulações entre a psicanálise e outros campos do saber. No Procura-se Cartéis, apresentamos as plataformas digitais, orientamos sobre como inscrever um cartel e acompanhamos o processo de sua formalização.
Convidamos você, caro leitor, a participar de cada uma de nossas atividades. Esperamos e apostamos que o cartel continue sendo, em nossa Escola, um espaço privilegiado de elaboração provocada, lugar de enunciação, encontros e desejo de saber.
Diretoria de Cartéis e Intercâmbio
Karynna Nóbrega (EBP/AMP)
Ana Ocileide, Ísis Maurício, José Augusto Rocha (NPJ) e Marina Fragoso (NPJ)
[1] LACAN, Jacques. D´Écolage in: BROWN, N. (organizadora) Cartel, novas leituras São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2021.
[2] LACAN, Jacques. Ato de Fundação in: BROWN, N. (organizadora) Cartel, novas leituras São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2021.
[3] HORNE, Bernardino. Sobre a crise no cartel: há cartel sem crise? BROWN, N. (organizadora) Cartel, novas leituras São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2021.
[4] MILLER, J-A. Cinco variações sobre o tema da elaboração provocada in: Manual de cartéis Minas Gerais: Escola Brasileira de Psicanálise Ed. Scriptum, 2010.