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Diretoria de Cartéis e Intercâmbio- Seção NE

Biênio 2023-2025 

Sobre os cartéis:

Em “Ato de fundação” (1964), Lacan[i] apresenta o cartel como a condição de pertinência à Escola, como sua base e como dispositivo que faz resistência à normatividade, à burocratização e à mestria na psicanálise. Inaugura uma forma de trabalho entre os analistas, entre não analistas, para o ensino e para a transmissão da psicanálise.

O cartel ao longo de sua história foi sendo aperfeiçoado por Lacan a partir da experiência adquirida. Em 1980, ele oferece novas indicações para o seu funcionamento, a partir desse momento ele surge como o órgão de base da Escola da Causa Freudiana (ECF), e formaliza-se que devem ser quatro as pessoas que se escolhem para fazer um trabalho que deve ter um produto. Um produto individual e não coletivo. Seus componentes se escolhem em torno de um tema de interesse comum, a partir do qual cada um recortará um aspecto ou questão. É um coletivo de trabalho no qual um sujeito encontra-se dividido por essa questão, se dirigindo ao vazio do saber, que não está em ninguém, mas na realização do trabalho. A constituição do cartel passa por um segundo momento que é o da escolha do “mais-um” com o qual devem estar de acordo todos os seus integrantes. Para além de selecionar, discutir e dar saída ao trabalho de cada um, o “mais-um” deve também velar pelos efeitos internos e provocar a elaboração. Cabe-lhe produzir um trabalho e cuidar para que se mantenha o furo do saber, enlaçando o produto singular de cada um ao coletivo da Escola.

O cartel provém da palavra “cardo”[ii] que em latim significa gonzo, dobradiça. Este dispositivo tem, portanto, uma relação de dobradiça que enoda a psicanálise em intensão com a psicanálise em extensão. “Cuidar dessa ação dobradiça, é cuidar da formação do analista e da sobrevivência da psicanálise”[iii].

Podem participar de um cartel aqueles que praticam a psicanálise ou queiram estudá-la, membros e não membros de Escola – daí sua importante particularidade de ser um dispositivo que permite uma primeira aproximação com a Escola. No entanto, para a escolha do “mais-um”, orienta-se que este seja, preferencialmente, um membro da Escola, ou alguém transferido ao trabalho de Escola.

Para evitar ou reduzir os efeitos de grupo, esta invenção lacaniana propõe algumas orientações: depois de um ano, dois no máximo, o cartel deve ser dissolvido, visando-se evitar o chamado “efeito de cola”.

Para concluir, podemos dizer, que dispositivo do cartel indica sua capacidade em impulsionar efeitos de formação analítica, viabilizando o debate em torno de investigações que colaboram para a abertura da prática e da teoria psicanalítica.

Para formar um cartel: A lista “Procura-se cartel”, ver aqui, é um espaço onde são encontrados os proponentes a cartel. Neste espaço, haverá um formulário solicitando os seguintes dados: nome, contato e tema de interesse, preencha-os, selecione “Seção Nordeste”, e encaminhe.  Aguarde que outras pessoas, também interessadas no tema entrem em contato. A diretoria de cartéis irá acompanhar esse movimento, articulando a fim de facilitar essa construção.

Sobre o Intercâmbio:

Dimensão na qual procura-se sustentar atividades que implicam uma articulação da psicanálise com outras formas de conhecimento, que envolve uma aproximação com o vivo de uma comunidade, sua presença na cidade, num diálogo que seja fecundo para tratar a subjetividade de uma época. Um ambiente de troca aí se constitui, visando construir diferentes possibilidades de lidar com os sintomas contemporâneos. Momento em que a psicanálise pode verificar o alcance do discurso analítico, recolhendo os efeitos desses encontros na nossa comunidade analítica e no Outro social.

Proposta de trabalho da Diretoria de Cartéis e Intercâmbio (Biênio 2023-2025)

A Diretoria de Cartéis e Intercâmbio da Seção NE, biênio 2023-2025, ciente da importância dos cartéis para a formação do analista, pretende continuar o trabalho de zelar por seu bom funcionamento, assumindo os desafios que se apresentam neste trajeto. Desejamos que a semente da episteme, da política e da clínica, laçada pela Escola Brasileira de Psicanálise tenha na Seção Nordeste, seu devido tratamento ensejando um trabalho coletivo e singular que seja profícuo, estimulante e consequente. Além disso, é fundamental que não percamos de vista o intercâmbio que a psicanálise precisa ter com outros campos do conhecimento, numa aposta de criar espaços de troca onde a psicanálise pode demonstrar a força dos seus conceitos e princípios, bem como, se deixar ensinar por outras práticas ao se fazer presente na vida da cidade. Em tempos céleres, num mundo líquido, em que o ciframento tenta guiar o que é próprio ao falasser, os cartéis e o intercâmbio, podem ser ferramentas fundamentais para a “ação lacaniana”, que aposta nas invenções para lidar com o mal-estar da época. Desejamos verificar a potência dessa ação.

 Visando possibilitar que as perspectivas aqui apresentadas possam ser colocadas em prática, objetivamos o que segue:

  • Acompanhar os interessados em formar cartéis nos encontros “Procura-se Cartel”, visando facilitar os impasses que giram em torno dessa formação, além disso, criar aí um espaço de leitura para reflexão sobre esses dispositivos. Esses encontros serão online, sem transmissão aberta, apenas restritos aos interessados em formar cartéis;
  • Promover as “Noites de Cartéis”, com temáticas que possam indicar a riqueza desse dispositivo para a psicanálise: seja na clínica, na política, ou na episteme. Podendo também se constituir como um dos espaços de preparação para nossa Jornada em 2023; Estes encontros serão transmitidos através da plataforma Zoom;
  • Provocar para que os temas das nossas jornadas, seminários, encontros, congressos, façam parte dos estudos e pesquisa dos cartéis. A formação de cartéis fulgurantes pode ajudar na produção de trabalhos para esses eventos;
  • Criar estratégias de articulação para a escolha do “mais-um”, aspecto que vem sendo reiteradamente colocado como um ponto de dificuldade para a estruturação dos cartéis;
  • Atentar para os instrumentos da formação dos cartéis: o “procura-se cartéis” e, “catálogos on-line”. Além de manter a atualização desses instrumentos, consideramos que os mesmos vão nos mostrar o movimento da nossa comunidade analítica em torno do seu interesse pelos cartéis. Além disso, podem nos dar uma boa indicação de como andam essas buscas, os temas mais procurados, suas principais dificuldades, etc.
  • Promover atividades de intercâmbio através de temas que são recorrentes em nosso contexto, cujo diálogo possa servir para interpretar nossa época. Possíveis temáticas para o intercâmbio: Psicanálise e Inteligência Artificial; Psicanálise e Neurociência; Psicanálise e Feminicídio; Psicanálise e Medicina; Psicanálise e Racismo; Psicanálise e Política; Psicanálise e violência; Psicanálise e Saúde Mental, etc.

Para mais informações, a diretoria de cartéis e intercâmbio e sua comissão – Erick Leonardo, Isis Maurício e Januário Marques – se colocam à disposição para acompanhá-los nesta desafiante tarefa de formação e funcionamento dos cartéis.

Acesse-nos por meio dos canais de comunicação da Seção Nordeste, ou através do e-mail:diretoriacarteisnordeste@gmail.com

 

Liège Uchôa
Diretora de Cartéis e Intercâmbio da EBP-Seção Nordeste
Comissão de Cartéis e Intercâmbio: Erick Leonardo, Isis Maurício, Januário Marques

[i]  LACAN, Jacques. “Ato de fundação”. In: Outros Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.  (Campo freudiano no Brasil).
[ii] STELLA, Jimenez. “O Cartel”. In: O Cartel: Conceito e funcionamento na escola de Lacan/ Stella Jimenez (org.). Rio de Janeiro: Campus, 1994.
[iii] Disponível em https://ebp.org.br/acaodobradica/wp-content/uploads/2016/04/Para-bem-dizer-a-acao-lacaniana-na-EBP.pdf
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