O estilo que faz Escola Késia Ramos (EBP/AMP) Esses tais artefatos que diriam minhas angústias,…
A mulher não existe
Wilson Lima
“A mulher não existe” é um dos aforismos de Lacan que surpreendem e nos convocam a extrair deles algumas considerações.
“A mulher não existe” é também o tema do próximo Congresso da Associação Mundial de Psicanálise, que terá o formato de uma Grande Conversação Virtual Internacional em 2022. Com o lançamento do argumento, a voz de Christiane Alberti ecoou por todas as Escolas que constituem a AMP fazendo ressoar o tema da Grande Conversação.
No nosso litoral, as ressonâncias do argumento se fizeram ouvir na Seção Nordeste durante uma Conversação Preparatória para a I Jornada da Seção Nordeste: “O enigma da sexuação – O que nos ensina a experiência analítica sobre Isso”. Do argumento e dessa conversação, destaco três pontos:
Semblantes e sexuação – Onde o sujeito contemporâneo se aloja no sexo? As fórmulas da sexuação introduzidas por Lacan são um farol no mar de múltiplas nomeações de gênero que surgem na atualidade. Alojar-se na “parte dita homem” é colocar-se sob o regime do gozo fálico. Alojar-se na “parte dita mulher” é colocar-se sob o regime do gozo não-todo fálico. O caso clínico apresentado por Cleide Pereira ilustrou que “a coisa” que provoca o mal-estar de um sujeito diz respeito ao enigma da sexuação. Onde alojar-se? Como se virar com Isso?
Vozes, falas e palavras de amor – As vozes das mulheres que reivindicam direitos iguais aos dos homens ecoam por toda parte. A novidade freudiana nos ensinou a ouvir o que elas têm a dizer. Lacan, por sua vez, aproxima a fala e o gozo. E assim, na experiência analítica, a voz das mulheres, uma a uma, se faz ouvir na direção do que concerne o seu modo de gozo, que como destacou Eliane Baptista, passou a ser concebido no último ensino de Lacan a partir do feminino. “O ser sexuado dessas mulheres não-todas não passa pelo corpo, mas pelo que resulta de uma exigência lógica na fala”[1]. É também pela fala endereçada a um analista que as mulheres podem se queixar da falta das palavras de amor, exigência que se mostra como uma via possível para fazer suplência à falta no Outro.
O feminino – Lacan postula no lado feminino um gozo suplementar, insituável, mas que não é exclusivo das mulheres. Trata-se de um gozo que “se sustenta mais além do sentido fálico”[2]. Aquelas ou aqueles que levaram uma experiência de análise até o fim podem testemunhar sobre isso e nos ensinam que o feminino é esse vazio onde cada falasser pode se alojar, inventando um saber fazer com isso que a sexuação tem de enigmático.