Késia Ramos (EBP/AMP)

 Nesta edição do Litorâneo #17, a construção da editoração imagética nos conduz às profundezas oceânicas, onde as águas-vivas flutuam em seu balé silencioso. Seres paradoxais, ao mesmo tempo delicados e letais, deslizam pelas correntes sem uma intenção própria clara, mas podem provocar um encontro abrupto e doloroso.

Com sua aparência fluida e, ainda assim, ameaçadora, a água-viva encarna algo da experiência do Real—um encontro que não se traduz, que excede a organização simbólica e que, ao se apresentar, pode suscitar tanto fascínio quanto terror. Sua transparência etérea não a torna menos concreta; pelo contrário, reforça sua existência enigmática, marcada pelo que escapa à captura do olhar e da linguagem.

Na psicanálise lacaniana, o real é aquilo que insiste além do sentido, que retorna sempre ao mesmo lugar, impossível de ser simbolizado. A água-viva, com seus movimentos imprevisíveis, seus tentáculos invisíveis e seu pulso silencioso, parece dançar nesse mesmo registro: um jogo entre a presença e a ausência, entre o visível e o inapreensível.

Convidamos você a apreciar estas imagens, permitindo que algo desse balé oceânico ressoe para além do olhar.