Késia Ramos (EBP/AMP) Nesta edição do Litorâneo #17, a construção da editoração imagética nos…
Editorial Boletim Litorâneo #17
Francisco Santos
Lacan escreve: “Pois o real não espera e não espera nomeadamente o sujeito, já que nada espera da fala. Mas, está ali, idêntico à sua existência, ruído onde tudo se pode ouvir, e prestes a submergir com seus estrondos o que o ‘princípio de realidade’ constrói nele sob o nome de mundo externo”[1]. É como dizer: o real está aí fora, emos de encontrá-lo, basta ter ouvidos atentos à escuta, olhos abertos aos novos sintomas, a clínica continua a nos ensinar – e além. Como diz Cassandra Dias em sua fala, seguimos a trilha de Lacan em direção ao real.
Foi então que, no apagar das luzes do passado ano, a Seção Nordeste da Escola Brasileira de Psicanálise se reuniu em João Pessoa para abordar o real, seguindo os passos das contingências que surgem na clínica – mas também nos territórios, sem deixar de olhar para a cidade. O Boletim Litorâneo #17, – lançado no mês que marca o quinquênio deste surgimento do real avassalador que foi a pandemia de Covid-19, vale lembrar – recolhe aquilo que se decantou desses dias de trabalho.
De início, Késia Ramos faz a palavra ser imageticamente bela, transcrevendo o que vemos nessas eloquentes imagens que adornam e indicam cada rubrica desta edição.
Para abordar a Jornada, então, as falas de Bibiana Poggi, Margarida Assad, Cassandra Dias e Elizabete Siqueira circunscrevem a Jornada em suas esferas política, epistêmica e clínica, como convém à psicanálise de orientação lacaniana, de olho no real: sem o perder de vista, sem jamais tocá-lo. Este cuidado nos trabalhos da Jornada surge também nas ressonâncias trazidas pelos integrantes da Nova Política Juventude da Escola Brasileira de Psicanálise. Bibiana ainda traz uma reflexão derradeira deste evento anual, na condição de Presidente do Conselho da Seção Nordeste.
Uma boa vista, uma boa leitura!
[1] LACAN, J. Resposta ao comentário de Jean Hippolite sobre a “Verneinung” de Freud. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 390.