Liège Uchôa EBP/AMP Diretora de Cartéis e Intercâmbio da EBP Seção Nordeste É com imensa…
Editorial Boletim Litorâneo #16
O estilo que faz Escola
Késia Ramos (EBP/AMP)
Esses tais artefatos que diriam minhas angústias, tem umas que vêm fácil, tem muitas que me custa. Tem horas que é caco de vidro, meses que é feito um grito, tem horas que eu nem duvido, tem dias que eu acredito. Então seremos todos gênios quando as privadas do mundo vomitarem de volta todos os papéis higiênicos. (Paulo Leminski)
Assim como na poética de Leminski, o trabalho do cartel é feito de cortes, costuras e invenções que dão forma ao indizível. É nesse movimento que a II Jornada de Cartéis da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Nordeste se realizou, reafirmando o cartel como dispositivo essencial para a formação e transmissão em psicanálise.
A II Jornada de Cartéis O Produto do Cartel: sua escrita, um estilo apresentou uma instigação singular: escutar a trama da escrita de cada cartelizante, em nome próprio. Os produtos apresentados não precisavam ser conclusivos; poderiam ser investigações em curso ou em construção. Cada participante foi convocado a transmitir sua relação com o saber analítico, respondendo à lógica do não-anonimato e possibilitando que cada um desse seu testemunho, enunciasse e ensinasse aquilo que não se ensina — um estilo.
A presença de Marilsa Basso, diretora de Cartéis e Intercâmbio da EBP, foi um convite à escuta cuidadosa e à reflexão sobre como o cartel que, em sua simplicidade radical, se torna um campo de criação singular. Sua fala nos lembrou que a escrita do cartel não se encerra no saber, mas abre caminhos para a invenção e o estilo. Cassandra Dias, com sua palavra potente e dançante, entrelaçou conexões que sustentam a comunidade analítica e mostrou que o trabalho do cartel é também um trabalho de enlace.
Na abertura, Liège Uchôa ressaltou a riqueza dos produtos dos cartéis, seja na conclusão de investigações, seja no ponto de partida de novas elaborações. Foram fundamentais as contribuições das comissões de trabalho para o sucesso da jornada. A Comissão Científica, coordenada por Eliane Batista e Karynna Nóbrega, esteve atenta à qualidade e à diversidade das apresentações. A Comissão de Infraestrutura, liderada por Érick Leonardo, garantiu o suporte necessário para a realização do evento. A Comissão de Divulgação e Mídias, sob a coordenação de Ísis Maurício, assegurou que a jornada alcançasse um público amplo e diverso.
Entre os participantes que compõem a Nova Política da Juventude, destacaram-se José Ronaldo de Paulo, Marina Fragoso, Nelson Matheus Silva e José Augusto Rocha, cujas contribuições evidenciaram a força e a singularidade de cada escrita. Os textos apresentados trouxeram vitalidade e rigor, mostrando que a singularidade do cartel acolhe tanto a angústia do inédito quanto a intensidade de um estilo em formação. Como na poética de Leminski, as palavras apresentadas na jornada foram cacos, gritos e crenças transformadas em escrita.
A prática acumulada desde a invenção deste dispositivo institucional mostra o quanto ele é fecundo na leitura dos textos de referência, no estudo dos conceitos fundamentais e na investigação permanente em psicanálise. É, por isso, um instrumento de formação dos analistas e um órgão de base da Causa freudiana.
A II Jornada de Cartéis reafirmou que o cartel é um dispositivo vivo, onde cada sujeito encontra sua forma de fazer Escola. A escrita, nesse contexto, é o ato de dar forma ao real, transmitindo aquilo que não se ensina, mas que, através do estilo, se reinventa e persiste.
As imagens que compõem a diagramação do Boletim trazem a arte em desenho a lápis de mãos. Essas mãos, trabalhadoras e expressivas que escrevem, constroem, contam histórias, criando contornos delicados e marcantes se alinham ao espírito artesanal que permeia o trabalho do cartel.
Sigamos aprendendo com Leminski, com os cartéis e com o desafio de transformar o singular em transmissão. Este Boletim Litorâneo é dedicado à II Jornada de Cartéis da EBP Seção Nordeste, O Produto do Cartel: sua escrita, um estilo.
Boa leitura!