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Editorial Boletim Litorâneo nº15

Cleide Pereira Monteiro

O Litorâneo, em sua função de fazer ressoar o vivo da experiência de Escola a partir do que acontece em nossas atividades, traz, em seu 15º número, o produto de uma atividade preparatória para o XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, ocorrida em Natal, no dia 23 de março de 2024.

Lacan, em um movimento de reconquista do campo aberto por Freud, aposta na fundação de sua Escola, a cada vez reinventada por cada um que a ela se dirige como ancoradouro da formação analítica. Uma Abertura, assim intitulado um momento inaugural em terras natalenses, indica que é nas fendas que se abrem que um trabalho de Escola, experiência feita por muitos, se tece no um a um. Neste retorno às bases,  contamos com as falas da Diretora da Seção Nordeste, Cassandra Dias; da Diretora Geral da EBP, Patrícia Badari; e da então Presidente do Conselho da EBP, Maria do Carmo Dias Batista.

Cassandra Dias, em seu texto de abertura da atividade, nos convoca a pensar sobre o funcionamento institucional a partir de uma decisão solitária de Lacan, que de forma inédita, funda sua Escola colocando em seu cerne a questão-causa do que é um psicanalista. Questão sempre renovada por cada um que faz da Escola uma experiência que se funda e se refunda em um movimento desejante orientado pela tríade Freud-Lacan-Miller.

Seguindo o propósito epistêmico do momento, Patrícia Badari traz em seu texto uma abertura especial rumo XXV EBCF, cujo tema – Os corpos aprisionados pelo discurso… e seus restos – nos instiga à investigação. Vale conferir o profícuo trabalho de pesquisa que Patrícia nos apresenta, provocando, na ocasião, um debate caloroso.

Texto costurado com a expressão latina mutatis mutandis, aborda com contundência as mudanças dos tempos e a presença do psicanalista na civilização como aquele que recolhe os efeitos destas mutações que trazem, em seu cerne, o gozo disjunto do Outro, como vem demonstrar práticas as mais variadas (sexuais, amorosas, comunidades de gozo, até os neo-órgãos tatuados colhidos do cinema pela psicanalista). Nestas práticas, assistimos ao enxame de novos significantes mestres que surgem no discurso contemporâneo como tentativa de nomear os modos de gozo da atualidade, provocando muitas vezes novos processos de segregação. Patrícia interroga sobre “quais as saídas possíveis”, o que propõe a psicanálise na atualidade do último Lacan? “O que são os corpos hoje?”.  Qual política norteia a prática analítica? Confiram as diretrizes dadas por Patrícia para avançarmos nestas questões e em algumas outras com as quais ela nos provoca.

Maria do Carmo Dias Batista, em uma leitura viva e atenta da fala de Patrícia Badari, nos brinda com algumas palavras que ressoam o que foi esse momento em nossa Seção. Dentre tantos pontos importantes, desde a música e a sétima arte referidas por Patrícia, Maria do Carmo destaca, a partir de Crimes do futuro, a pele como objeto pulsional, interrogando se este seria um novo objeto a. Interpela-nos ainda ao problematizar a segregação a partir da “supostas comunidades de gozo”, “irmão na raiz (raça) do corpo”, lembrando que Lacan já advertia que o racismo se enraíza na fraternidade do corpo.

Finaliza seu comentário do texto de Patrícia, com a “metáfora da submersão”, interrogando: “como falar do corpo sem as palavras?”. Bora discutir mais sobre isso? O XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano vem aí.

Este Litorâneo é uma abertura sob vários aspectos! Uma boa leitura!

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