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A psicanálise líquida e o nó 

Gisella Sette (coordenadora)
Ângela Pinto, Beatriz Pinon, Tereza Batista, Tereza Christina Lyra, Virginia Fernandes e Zaina Pereira

Resultou da leitura e da discussão de aulas anteriores, levando-nos a considerar de extrema importância o introduzido por Miller no início deste Seminário: os tempos correm e o deserto cresce, isto articulado ao pensamento de Bauman da liquefação da civilização. Na apresentação, foi utilizado um caso clínico de acontecimento de corpo como ilustração.

Miller inicia com questionamentos sobre a atual prática da psicanálise nos tempos da  liquidez. Esta evolui com o desenvolvimento do capitalismo e das singularidades dos sujeitos, levando-o à seguinte questão: como manejar essa liquidez numa intervenção propriamente analítica?

A partir daí, Miller recorre à linguagem articulada ao gozo de lalíngua. Significa, então, que a palavra é líquida. Na análise, o aspecto líquido dela vai se impondo à medida que a fala surge sem a exigência de comunicar. É importante realçar que o gozo de lalíngua é originário, antes dele não há gozo; isso implica no fato de que seu encontro com o corpo introduz um excesso de gozo. Este, mais tarde, será definido como acontecimento de corpo.

Sendo assim, lalíngua é a substância, a matéria da linguagem. Quer dizer que a linguagem  vai se constituir como um sistema estruturado, dirigido ao Outro a partir da elucubração de saber, do saber fazer com lalíngua.

Na atualidade, os corpos não são mais regidos pelas mesmas normas de antes, isto impõe à clínica acompanhar a mudança dos tempos. O que era sentido e decifração, agora escapa. É preciso recorrer à estrutura do nó descrito por Lacan no seu último ensino. A sessão não é mais ordenada pelas formações do inconsciente, mas pelos acontecimentos de corpo. Nos tempos da psicanálise líquida, é preciso operar com o corte e com a leitura das marcas de gozo deixadas pelo encontro traumático do significante com a carne.

Lacan em Joyce sustenta que o sintoma é um acontecimento de corpo. O episódio da surra  de Joyce e da relação entre pele e corpo conduz à estrutura adequada à psicanálise líquida, que é o nó. O nó borromeano de três que Lacan constrói para Joyce tem um lapso entre real e simbólico. Isso faz o imaginário deslizar e o real se interpenetrar com o simbólico. Assim, considera-se, que o Sinthoma, fruto do último ensino, fornece um enlaçamento que permite estabilidade aos três registros.

Hoje, a psicanálise líquida se apresenta como “não-toda-líquida”, pois aposta sua solidez com a flexibilidade dos nós borromeus. A intervenção pelo corte e pela costura, numa clínica contemporânea, favorece outras possibilidades de enodamentos.

Ao final, sentimos falta de um debate.

Será que foi o tema da aula, ou a solução dada por Miller para uma intervenção através dos enodamentos borromeanos?

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