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Editorial Boletim Litorâneo #13

Maria de Lourdes Aragão e Francisco Santos

O Litorâneo #13 marca a continuidade dos trabalhos da Seção Nordeste, recuperando momentos e conteúdos importantes do ano que passou, na esteira dos temas atuais das jornadas e congressos de 2024. O ano começou a todo vapor com o XIV Congresso da Associação Mundial de Psicanálise; seguiremos com o Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, em novembro próximo. Os textos desta edição estão em consonância com esses grandes eventos e os demais do ano de 2023 e deste ano de 2024 também.

Sandra Conrado, baseada na peça Último Édipo, faz uma leitura de como essa repaginação da clássica obra de Sófocles serve para a psicanálise pensar o eterno tema das demandas de análise: pais e filhos. Ela analisa a peça e como esta pode ilustrar os nossos tempos: tempos da desoneração do pai totêmico, da indignação filial, do imperativo superegoico da ciência e das novas formas sintomáticas que surgem do encontro contemporâneo dos falasseres com o real.

Uma noite na Aldeia retrata a rica experiência de Jose Augusto Rocha e Cleyton Andrade no encontro marcado com o Cacique Caboquinho Potiguara, um dos nomes e das vozes que se fizeram ouvir para além do universo indígena nas palavras do próprio autor.

O Cacique Caboquinho adquiriu um saber ancestral sobre um povo, uma gente, como é ser um Potiguara, a força de um nome, todo esse saber que não é da ordem do mestre, mas de um saber que se movimenta sobre o gozo, do corpo e do outro, aproximando desta maneira indígenas e psicanalistas. Como diz com propriedade José Augusto, certas experiências não se dobram ao sentido: antes experimentam-se com o corpo, como num ritual de Toré (manifestação de grande importância para os indígenas) ou em uma análise.

Isis Maurício, em um texto que concerne à sua experiência enquanto membro da comissão da Diretória de Cartéis da Seção Nordeste, apresenta-nos uma produção destacando três frentes de trabalho: Noites de cartéis, Procura-se cartel e Momentos de intercâmbio, onde descreve o trabalho rico do cartel com suas construções coletivas através de leituras, estudos, debates, discussões nas quais cada cartelizante na sua singularidade produz e contribui num processo que causa efeitos na formação de cada um.  Nesse sentido, como ela aponta, uma formação que não tem fôrma, mas através da qual algo se forma, um desejo, uma transferência de trabalho. E a partir desse ponto, ela reflete sobre seu lugar enquanto analista em formação e a se autorizar na sua prática clínica a partir do seu próprio saber, não mais esperado pelo mestre.

Ainda nesta edição, destacamos mais uma Noites de Biblioteca trazendo o lançamento do livro Lacan Chinês de Cleyton Andrade, atividade esta coordenada por Francisco Santos e que teve como convidado Fabián Fajnwacks, psicanalista, membro da Escola da Causa Freudiana de Paris, da Escola da Orientação Lacaniana da Argentina e também professor na Universidade Paris VIII Vincennes Saint-Dennis, além de ter escrito um dos posfácios da edição do livro  revista e ampliada.

Na noite do dia 12 de dezembro último, Késia Ramos teve como convidado Niraldo de Oliveira Santos, psicanalista praticante, membro da AMP/ EBP e diretor geral da Seção São Paulo para discutir conosco o filme alemão Ich bien dein Mensch com título adaptado no Brasil de O homem Ideal, e nos apresenta como seria a tradução direta do alemão,  nada menos do que um título que tem tudo a ver com a mensagem que talvez o filme queira provocar, ou seja, Eu sou o teu ser humano. E como nos diz Késia o enredo gira em torno de uma cientista que, para obter financiamento para seus estudo, concorda com um acordo incomum: viver com um robô humanoide por três semanas que será programado para ser seu parceiro perfeito. Sem mais spoiler leiam o texto de Késia e acompanhem as questões por ela levantadas.

Niraldo faz uma análise mesmo do filme, nos dois sentidos. Primeiro, porque esmiuça as cenas, cata as falas e destaca os personagens e seus discursos, a própria diretora do filme e o contexto do tema, explorando referências legais e sociais sobre a inserção da inteligência artificial na cultura. Mas também conduz a quem já assistiu a uma nova sessão, e a quem ainda não viu, a vontade de conhecer Alma e suas desventuras ao encarar o impossível da perfeição e o abismo da falta, causa de desejo que encontra na tecnologia um “gatilho”, como gostam de dizer hoje em dia. O Tom é como alguns homens: parece que entende tudo sobre as mulheres, mas obviamente não sabe nada sobre uma mulher, e isso acaba por abrir um espaço, uma fresta por onde o desejo de Alma surge, em meio à estupefação inicial de um discurso sem falhas da tecnologia.

Esta edição representa as boas-vindas da Diretoria da Seção Nordeste ao ano de atividades que esperamos seja profícuo. A todos, um bom proveito na leitura, que sirva como porta de entrada para mais um ano de intenso trabalho que se inicia na Escola de Lacan em terras nordestinas.

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