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Editorial Boletim Litorâneo nº11

litoraneo011_001Cleide Monteiro  – Diretora de Biblioteca

Drão!
O amor da gente
É como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela noite escura…
Drão!
(Gilberto Gil)

O Litorâneo, boletim que recolhe os frutos de “nossa caminhadura”, apresenta os primeiros brotos colhidos pela atual Comissão de Biblioteca, fazendo valer a dimensão política deste instrumento que leva ao leitor, neste primeiro número da atual Diretoria, o trabalho vivo das instâncias (Conselho e Diretoria) de uma Seção ainda jovem.

O Litorâneo abre com o texto de Anamaria Vasconcelos, uma carta que chega ao seu destino: uma convocatória do Conselho da Seção Nordeste para seguir os passos do trabalho de Escola de uma Seção através do Seminário de Orientação Lacaniana, norteado pelos Cursos de Jacques-Alain Miller que fazem o Uno da Orientação. Durante todo este ano de 2023, a comunidade analítica da Seção NE, através da constituição de grupos de trabalhos, tem se debruçado sobre o Curso de Miller Todo mundo é louco. Anamaria nos apresenta o fundamento desta frutífera escolha que tem sustentado as transferências de trabalho e um rico campo de investigação.

A Diretoria da Seção Nordeste também se faz presente neste Litorâneo através das noites de cartéis e de biblioteca. Liége Uchôa, Diretora de Cartéis e Intercâmbio, anuncia o vivo do trabalho dessa Diretoria, que faz operar a potência do dispositivo do cartel. Ela nos apresenta as sementes da ação lacaniana e sua atualidade através do produto de uma noite de cartéis que teve como convidada Fernanda Otoni, que veio nos falar sobre O cartel e a ação lacaniana. Como ampliar essa ação que tira consequências do ato analítico, como Lacan o define, em uma época de ameaça à psicanálise?, pergunta que o texto de Liège nos convoca. O cartel nos serviria de norte “para conduzir a política da psicanálise na cidade sustentada no discurso analítico”?, tomando de empréstimo uma interrogação posta por Liège.

Articular “cartel e ação lacaniana” foi a provocação feita à Fernanda Otoni e que a pôs a trabalho. O leitor terá a oportunidade de ter acesso às palavras de Fernanda, anunciando que, quando um cartel acontece, aí se verifica a ação lacaniana. O cartel como máquina de guerra que faz “buracos na cabeça”, tem a potência de lançar “bombas de enunciação”.

O enlace do cartel com ação lacaniana que o texto de Fernanda propicia nos convoca à leitura de como a psicanálise adentra na conversação com a sociedade, estando o analista nela situado desde uma posição de extimidade. A posição na sociedade de exilado no interior, seria o que alavancaria a ação lacaniana? É a questão que Fernanda nos convida a pensar, fazendo-nos passear por uma reflexão sobre os tempos atuais. Recupera a força da psicanálise que, como “passageira anônima”, se infiltra, com o corte e a costura, nos mais variados contextos do tecido civilizatório.

O texto de Fernanda produz abalos, traz provocações e formulações muito interessantes, exala o perfume de uma psicanálise viva! Confiram.

Na sequência do boletim, em uma toada desejante, deparamo-nos com o convidativo preâmbulo de Késia Ramos – Psicanálise, violência e um Elephant na sala – ao texto de Nohemí Brown, nossa convidada de uma das Noites de Biblioteca, dedicada ao Cinema e Psicanálise. O filme Elephant (2003), que retrata o massacre ocorrido em 1999 em uma das escolas americanas é o escolhido para nos guiar em um profícuo debate sobre a atualidade da temática da violência nas escolas, levando-nos a interrogar sobre o que a psicanálise orienta acerca desse excesso contemporâneo, como já anuncia Késia, questão retomada por Nohemí em seu texto.

Nohemí Brown nos desperta para a questão: por que justamente nas escolas a violência como sintoma social tem cada vez mais se presentificado? O que a escola encarna hoje?

Há um elefante na sala, mas que ninguém quer ver. Que elefante é esse? É o que escapa do “não se quer ver”, que torna o filme um indicador do novo real que a escola encarna hoje.

Nohemí convida a não ficarmos na pura crítica, mas começar a ler esse ponto cego do qual não se ver, mas se quer vigiar. Qual lugar para a opacidade?

Muitas questões convidativas à boa leitura!

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