O estilo que faz Escola Késia Ramos (EBP/AMP) Esses tais artefatos que diriam minhas angústias,…
Editorial Boletim Litorâneo nº10
Cassandra Dias
Cartel e Passe. Essa edição do Litorâneo – última sob minha editoração – toma os pilares da Escola de Lacan como tema de trabalho a partir das produções que se fizeram na EBP Nordeste em torno desses dois dispositivos.
“Que a Escola possa garantir a relação do analista com a formação que ela dispensa, portanto, está estabelecido”.[1]
No centro dessa formação, a lógica do cartel e do passe diz de uma torção promovida por Lacan em relação a uma política institucional que mantém aberta a questão: o que é o psicanalista?
Tomando essa pergunta enquanto causa, assim os praticantes atravessados pelo discurso analítico, um a um, se esforçam em dar provas da sustentação desse discurso no mundo.
Também esse tem sido o desafio dessa comunidade analítica situada do lado de baixo do Equador, no Nordeste brasileiro. Ao mesmo tempo em que oferta um espaço de formação, também se forma. O boletim Litorâneo nasceu como mais um veículo de difusão desse trabalho para fazer ressoar os fluxos, as ondas e as marés desse oceano em que navegamos nesse percurso de formação.
Portanto, trazemos hoje dois textos que versam sobre o dispositivo do cartel, colhidos em ocasiões muito especiais: uma Noite de Cartéis em que me dediquei a pensar sobre o lugar do Mais Um e a fala de Cláudia Formiga, na abertura da I Jornada de Cartéis da EBP Nordeste. As duas atividades se constituíram em uma demonstração viva da potência do trabalho de cartel que abriga dezenas de cartelizantes mantendo-se como essa porta de entrada aberta para as produções e para a Escola.
Da atividade “Aposta no passe hoje”, contamos com a contribuição de Sandra Grostein que nos contemplou com um profundo levantamento sobre o percurso do passe na Escola Brasileira de Psicanálise, permitindo pensar sobre a crise atual como um momento oportuno para não perder de vista que “esse real provoca seu próprio desconhecimento, ou até produz sua negação sistemática”. [2] Nisso consiste a atualidade do passe, revisitado a partir da insistência do real.
É considerando o real em jogo na formação dos psicanalistas que interpelamos os dispositivos e redobramos a aposta no fazer coletivo. O momento da II Jornada da EBP Nordeste foi o ponto para onde convergiu e desembocaram as correntezas dos múltiplos afluentes de praticantes da psicanálise, desejosos por interrogar acerca da evaporação do pai. Com seu texto, Sandra Conrado nos brinda com uma leitura do acontecimento jornada, capturando o espírito que a animou e revelando as sutilezas daquilo que foi tecido por muitos. Uma bela fotografia de um momento tão especial.
E, para concluir esse trabalho de editoração do Litorâneo, é preciso registrar aqui, um agradecimento especial à equipe que criou e navegou nessas águas junto comigo: Késia Ramos e Bruno Senna, responsáveis pela escolha das imagens que conversaram com a escrita, estabelecendo para cada edição, um conceito imagético atravessado por referências preciosas e elegantemente diagramado. Foi na borda entre psicanálise e arte, entre escrita e memória, que o Litorâneo foi concebido e executado, com gentileza e poesia. Poesia essa que Késia Ramos nos apresenta em sua enunciação.