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Eixos Temáticos 3 – O analista e a diversidade dos sintomas da época

Anamaria Vasconcelos e Cassandra Dias

“Que antes renuncie a isso, portanto, quem não conseguir
alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época…Que ele conheça bem a espiral a que o
arrasta sua época na obra contínua de Babel e que conheça sua
função de intérprete na discórdia das línguas”…[1]

Essas palavras, tão divulgadas entre os analistas, correm o risco de parecerem um imperativo que não cabe reflexão. O tempo de compreender, para a grande advertência que elas nos trazem, soa como uma interpretação, abrindo enigma quanto à subjetividade de cada época.

E diante de qual subjetividade a época atual nos coloca?

Se o declínio do Nome do Pai, enquanto significante norteador nos indica concomitantemente, a queda do simbólico, a clínica nos revela as cicatrizes advindas da evaporação do pai.

Alterações das subjetividades, onde prevalecem a dimensão do eu em um narcisismo vazio, inibições e angústia, um inconsciente recoberto pelo imaginário, urgências e passagens ao ato, adicções e toxicomanias, identificações identitárias, crises das mais diversas ordens em todos os campos da experiência humana. Crise parece mesmo ser um significante da nossa época, marcada pelo excesso e pela precipitação, na medida em que o simbólico não mais sustenta as colunas do templo.

Como nos situarmos, portanto, na espiral que nos arrasta, sem que percamos de vista, a função de intérprete a que Lacan se refere?

Interessa-nos, nesse eixo, recolher dos praticantes da psicanálise, suas estratégias e ensinamentos de intervenção na clínica, que nos permitam não recuar nem retroceder diante dos impasses que os novos tempos nos colocam. Nos consultórios e instituições, na psicanálise em intensão, mas também em sua extensão, como verificar o desejo que é próprio ao analista? Como ele opera diante dos sintomas da nossa época?

Manter a hipótese do inconsciente em um mundo norteado pelo objeto em posto de comando, puro real sem lei, é reafirmar a posição da psicanálise pelo singular de cada um e velar pela presença do psicanalista no mundo, como um leitor da subjetividade de sua época.


[1] LACAN, J. – Função e campo da fala e da linguagem  in  Escritos – p 322, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed. 1998.
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