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Palavras do Conselho Deliberativo

Margarida Maria Elia Assad – Presidente do Conselho Deliberativo

Seção Nordeste, uma realidade!

A Seção Nordeste está formada. Uma Seção múltipla reunindo membros de vários Estados do nordeste. Cada um de nós trabalhou de forma decidida desde 2019 para que a Seção pudesse se constituir. Várias conversações, reuniões, textos sobre a política da Escola, Seminários de membros, enfim trabalhamos com afinco. Certamente tivemos que elaborar nossos lutos, a perda de um lugar já familiar; relações que existiam entre membros de muitos anos de trabalho foram expandidas pela chegada de novos colegas. Novos estilos de trabalho, e novos sintomas, diferentes daqueles que já havíamos acostumados a lidar. Toda essa multiplicidade de elementos nos tirou de certa zona de conforto; esse luto ainda tem seus restos, e estamos elaborando na certeza que o destino da Seção está em nossas mãos.

É desse luto que tiramos a certeza de fazer um aggiornamento. Esse termo italiano foi usado pelo Papa João XXIII no sentido de “atualização” dentro da Igreja. Aggiornamento é atualização no sentido , não de superação, mas de atualizar aquilo que trazemos na nossa bagagem para um momento novo e criativo. A Seção Nordeste está fazendo seu aggiornamento, está procedendo, com o cuidado necessário, o contorno desse novo entre nós. Lembro o que nos disse Jacques Alain Miller em sua carta à Escola Brasileira de Psicanálise no momento de sua constituição: “Enfim é preciso a todo momento, visar o longo termo. Um Escola é feita para durar, e é um organismo muito vasto e complexo. Não se pode conduzi-la com golpes bruscos no volante; tampouco se pode deixá-la estagnar: se ela deixa de avançar, vai regredir.” Estamos seguindo essa orientação na condução à frente da Seção Nordeste.

Gostaria de registrar o que tem sido para mim presidir o primeiro Conselho dessa Seção. Foi com enorme satisfação que aceitei esse desafio, e só o fiz porque sabia estar cercada de amigos. Colegas, na sua maioria, com quem eu já havia trabalhado antes , outros que passei a conhecer e dividir o trabalho diário desse momento, com quem a delicadeza , e às vezes, a intempestividade, nos surpreende e anima.  Tenho aprendido muito sobre o conselho dado por Miller de não se utilizar de golpes bruscos nessa condução, mas sem deixar que o trabalho fique estagnado. Estar num Conselho tem me exigido muito no sentido de não poder adormecer diante de cada demanda, de cada movimento que um trabalho de Escola requer. Esse manejo só se sustenta pelo que a minha própria experiência de análise e de Escola me trouxe. A formação na Escola de Lacan é preponderantemente aprender a lidar com os sintomas, mas não qualquer um. A função do Conselho numa Escola de Lacan é tratar analiticamente dos sintomas que surgem na Escola, visando interpretá-los como pontos de fixação que precisam ser lidos à luz da formação analítica. Nossa particularidade nesse ofício de conselheiros é que, nesse lugar, não estamos sós como acontece numa relação analítica. Tratamos desses sintomas num coletivo de membros que fazem parte desse Conselho. Essa configuração permite que o tratamento dado na condução das questões seja feito por uma outra via , a da transferência de trabalho, visando a orientação lacaniana dentro do seu funcionamento. Essa configuração nos ensina e nos forma.

Muitas vezes nos olham como tarefeiros, sempre cheios de atribuições. Tal leitura desconhece que não se trata de tarefas, mas de desejo, não estamos ali por uma necessidade , mas por uma escolha . Certamente que irá implicar numa outra necessidade, aquela própria ao objeto e ao significante, que nos torna singularidades e não uma massa de trabalhadores. Cada um com sua própria causalidade, é levado a essa heresia que nos fala Lacan a respeito do sinthoma. A escolha pelo trabalho decidido dentro da Escola não nos torna mais um numa massa, pois, como disse Miller em sua aula de 24 de junho de 2017,  “a heresia, da qual fazemos uma bandeira encontra ali o lugar onde se ancora profundamente na língua, e vemos que aquilo que pertence ao registro da escolha também pertence ao registro do gosto.”

Nosso trabalho no Conselho, assim como na Escola de Lacan – e na interlocução que estabelecemos com as demais instâncias da Seção, da EBP e da AMP – segue na direção de apostar nessa satisfação do trabalho e zelar para que cada um que faça parte desse coletivo, seja como membro, cartelizante ou participante de nossas atividades , possa experimentar essa satisfação e entusiamo. Ao fazer de nossas atividades uma escolha, as tornamos parte de uma formação herética no bom sentido que nos fala Lacan no Seminário 23. Trata-se de fazer a opção pela aposta no sinthoma, ou … o pior. Essa é a aposta da Escola de Lacan. Essa é a aposta que fazemos quando assumimos uma instância ou a escolha pela Escola de Lacan:  a aposta no sinthoma, seja como analisante, analista, ou fazendo parte da engrenagem do funcionamento da Escola.

Envio a todos que estão conosco nessa via um bom encontro com nossa Seção Nordeste/EBP/AMP. Forte abraço.

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