Modalidades do silêncio – entre o dizer e o calar

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Eixo: silêncio e sintoma

Maria Teresa Wendhausen[1]

O eixo que me foi proposto pelo Conselho da EBP, “Silêncio e sintoma”, me remeteu à questão da transferência de trabalho na medida em que ela se pauta por um desejo de saber, ou seja, aquele que remete cada um à sua solidão subjetiva.

“A Escola é uma soma de solidões subjetivas”[2], nos diz Miller. No curso El banquete de los analistas, Miller propõe: “o que guiou Lacan na fundação de sua Escola foi a tese da transferência de trabalho, que é uma tese que concerne à psicanálise […] ao seu ensino, mais precisamente, concerne à transmissão do ensino da psicanálise”[3].

Destaco os significantes silêncio e ensino. Que relação há entre eles?

Podemos dizer que o silêncio é condição para o ensino, ou melhor, como coloca Lacan, “a verdade pode não convencer, o saber passa em ato”[4]. Mas, de que silêncio se trata aí e por que ele é condição para o ensino?

O silêncio está referido aqui ao silêncio da estrutura, como nos esclarece Irene Kuperwajs, “se trata do silêncio que habita a linguagem e do qual se marca a estrutura mesma enquanto mostra o impossível de dizer”[5]. Remete, portanto, cada um ao exílio da relação sexual; à sua solidão, ao um só, sem o Outro; a um vazio.

Penso que se trata do vazio que pode fazer ressoar.

Nestes termos, o silêncio é condizente com o dizer, com o ato, ato de ensinar.

Aqui me pergunto: como conceber o sintoma dentro desta perspectiva desenvolvida?

O ensino não vai sem o sintoma de cada um, ou, nas palavras de Elisa Alvarenga, “Lacan sempre retornou a essa questão do ensino da psicanálise e formulou, mais tarde, que o psicanalista ensina em posição analisante. Isso equivale a dizer, a meu ver, que o ensino da psicanálise se dá a partir da experiência e do sintoma de cada um, daquilo que lhe toca o corpo”[6].

Para finalizar, lanço duas últimas questões: como fazer reverberar o sintoma de cada um na Escola? Seria o tema deste Congresso, proposto pelo Conselho da EBP, um dos modos de fazê-lo?


[1] Psicanalista, membro da EBP/AMP.

[2] MILLER, J.-A. Teoria de Turim: sobre o sujeito da Escola. Opção Lacaniana online, nova série, São Paulo, ano 7, n. 21, p. 7, nov. 2016.

[3] MILLER, J.-A. El banquete de los analistas. Buenos Aires: Paidós, 2000. p. 160.

[4] LACAN, J. Alocução sobre o ensino. (1970) In: LACAN, J. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. p. 310.

[5] KUPERWAJS, I. Silêncios. Apresentação no XXIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano. Disponível em: https://www.encontrobrasileiro2020.com.br/wp-content/uploads/2020/12/Kuperwajs-Irene-Sile%CC%82ncios.pdf. Acesso em: 12 jun. 2023.

[6] ALVARENGA, E. Ensino e transferência de trabalho. Arteira – Revista de Psicanálise, Florianópolis, n. 10, out. 2018.