Estamos reunidos sob a orientação lacaniana em direção ao tema da adolescência que teve como inspiração o texto de Jacques-Alain Miller “Em direção à adolescência”(1). Para a psicanálise, a adolescência não existe como conceito, mas devemos estar abertos aos significantes da cultura da nossa época e deles nos servirmos para que seja mantido o corte que a psicanálise proporciona nos discursos ditos naturais. O discurso que introduzimos no mundo não é natural. Ele se pauta na relação extraterritorial do sujeito que fala, confrontando-o com aquilo que não é apreensível pelo universo da palavra. A palavra é nosso veículo, porém, é do real incontornável que devemos nos ocupar. Cada vez mais, o imaginário se apresenta como possibilidade de que possamos atingir o inexorável de cada um e a adolescência se apresenta como terreno propício para o aprofundamento de nossas inquietações. A questão é se essa imagem, que pode tecer o real, relança ao laço social. A adolescência é uma ruptura do que está posto, o surgimento do novo, ao mesmo tempo em que é também um apelo por reconhecimento e agrupamento em torno imagens, visuais ou sonoras e intervenções envolvendo o corpo próprio. É interessante notar que as gírias e maneirismos de linguagem, tipo assim … uma certa forma de incluir o outro em sua fala, tá ligado?, envolve o enorme contingente que habita nosso mundo, independentemente da idade cronológica.
A adolescência se apresenta como uma espécie de paradigma em nossos tempos. Por um lado, é cada vez mais precoce e, por outro lado, se prolonga indefinidamente. Verificamos o apagamento entre o púbere e o adolescente e também, uma enorme diminuição da diferença entre o adolescente e o adulto, não só em relação ao adulto jovem. Em nossa concepção e acolhendo esse significante da cultura, a entrada na adolescência caracteriza-se pela tomada da palavra sem a autorização dos pais, porém, em busca do reconhecimento dessa tomada de posição por alguns outros. Dos impasses surgidos a partir do desejo, que irrompe do encontro do homem com a palavra, poderemos escutar as saídas, as invenções recolhidas da clínica psicanalítica.