Editorial Boletim Dobradiça

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O Boletim Dobradiça inicia um novo ciclo e se insere na série de boletins que tomaram como orientação este significante: Dobradiça. A atual Diretoria de Cartéis e Intercâmbios da EBP, através desta publicação, visa fortalecer o laço e a reflexão entre nós com relação aos cartéis e aos intercâmbios, em sua articulação com a Escola e para além dela com o mundo que nos rodeia.
O ano de 2020 com seu cenário de pandemia trouxe enormes desafios para a sociedade. No âmbito da comunidade de analistas que compõe a nossa escola, a prática clínica, a troca teórica e a manutenção dos laços não ficam ilesos. Esse boletim foi elaborado com a intenção de contribuir para que possamos atravessar cuidadosamente esse período, mantendo um vivaz interesse pelo que surge de novo ao longo do caminho.
Dobradiça, significante que nomeia o boletim de Cartéis e intercâmbios sinaliza sua função mecânica de sustentar o que divisa passagens e denota uma forma de conexão entre os espaços. Nosso boletim percorre um caminho moebiano, um íntimo que se desdobra em público, recolhendo os efeitos de extimidade que possam advir.
O Cartel enlaça é a sessão que abre nosso boletim. A cada número, convidaremos três colegas a escreverem sobre o funcionamento do Cartel nos dias de hoje: como este se aproxima e no que se desvirtua do plano Lacan? Nesse número conversamos com colegas membros da Escola sobre o Cartel à distância: o que muda no cartel sem o encontro presencial? Stella Jimenez, Marcelo Veras e Antônio Benetti, partiram dessa questão e trouxeram pontuações fundamentais a partir da experiência como Mais-Um em cartéis que seguem funcionando mesmo durante o confinamento. Cada um, a seu modo, contribuiu para que sigamos no esforço de elaboração sobre o dispositivo de Cartel, tal como funciona ou fracassa hoje.
Em seguida, na seção Musas, Cleyton Andrade destaca uma imagem que recebera por WhatsApp e que parecia antecipar o que estava por vir. Antes da chegada do novo coronavírus Covid-19 no Brasil, circulava pelas redes a foto do “homem bolha”, uma cena longínqua e quase onírica em que ele se protegia de um perigo invisível. Seria esse nosso destino?
Prosseguindo na via de intercâmbios, chegamos Na língua do Outro, onde temos a oportunidade de acompanhar a entrevista com o professor Renato Janine Ribeiro, uma conversa instigante sobre democracia e ética que, como nos provoca nosso entrevistado, abordará pontos cruciais que vão além da discussão habitual da psicanálise, mas dos quais a psicanálise não deve fugir. A entrevista aborda questões que se complexificam em nossos dias e nos demandam um posicionamento ético frente à desigualdade social que assola nosso país e que se escancara ainda mais no contexto da pandemia. Janine Ribeiro aborda também a tensão permanente entre democracia e república: enquanto a primeira se articula ao desejo, nas palavras do entrevistado, “o próprio da democracia é o desejo”, a outra se sustenta na contensão e na renúncia. Ribeiro segue na sua instigante análise de nossa época e chega na questão da “presença à distância”, propiciada pelo advento da internet com seus efeitos democráticos sobre o acesso e produção de conhecimento e os desafios éticos inerentes à comunicação em rede.
Desejamos a todos uma boa leitura!

Ana Tereza Groisman (EBP/AMP)