“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la,
fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é,
iluminá-la ou ser por ela iluminada.”[1]

Na Escola Brasileira de Psicanálise, o termo Biblioteca remete ao lugar onde livros e referências bibliográficas são guardados, abarcando também as propostas de intercâmbio que favorecem conversas e investigações. Colocado no plural, este significante fica condizente com as características da EBP, que conta com Bibliotecas nas sete Seções.

A orientação que se direciona para este espaço de intenção, enfatiza a “seriedade” destacada pelo Campo Freudiano. Ou seja, o que se recebe do que é realizado numa Biblioteca está diretamente relacionado com o que se contribui. Por este prisma o foco recai nas consequências, nos efeitos de formação para aquele que se debruça no acervo e participa das atividades.

Como uma das modalidades de trabalho inseridas no Campo Freudiano, as Bibliotecas da EBP apresentam uma relação estreita com a FIBOL. Inscritas na Federação Internacional de Bibliotecas de Orientação Lacaniana do Campo Freudiano ( FIBOL), as Bibliotecas das Seções acompanham suas premissas.

Deste modo, estas Bibliotecas encarregam-se de abrir seus espaços físicos e virtuais a quem se interessar, funcionando como locais que sustentam a ação lacaniana.

Por meio das atividades desenvolvidas, temas candentes são abordados, favorecendo também conversas entre a psicanálise e áreas afins. Eis um modo de aproximar-se da contemporaneidade, instigando leituras a partir da psicanálise.

O acervo físico de cada uma das Bibliotecas é composto essencialmente por obras que abordam a psicanálise, inseridas na orientação lacaniana. A Língua Portuguesa é  predominante, mas obras em outros idiomas também estão presentes. Um modo de marcar a diversidade que a Associação Mundial de Psicanálise contempla. Assim as referências de Freud, Lacan, Miller… juntam-se aos livros de vários autores e periódicos, ambos ligados ao Campo Freudiano.

As Bibliotecas das Seções apresentam acervos distintos e atividades próprias, explicitando o múltiplo na EBP. Concomitantemente, retratam a capacidade de favorecer laços, sustentando propostas entre as Bibliotecas, através de trocas epistêmicas e de experiências. 

Se uma das funções da Diretoria de Biblioteca da EBP é dar espaço ao múltiplo, ela zela também pelo Uno da Escola. Este Uno é sustentado pela orientação lacaniana que favorece contornos às atividades, publicações, conversações e posicionamentos na EBP. Com este fim foi criada uma Biblioteca UNA como um espaço virtual, no qual estarão reunidas as referências bibliográficas elencadas nas Bibliotecas das Seções, onde este Uno também se apresentará. Outro modo da Biblioteca da EBP fazer conversar o múltiplo e o Uno é incentivando e acompanhando a realização de pesquisas com um tema de interesse para a EBP.   

Com o trabalho que acolhe membros de Escola e interessados na psicanálise, as Bibliotecas se engajam no desafio de “ sustentar polêmicas, praticar a discussão e instruir-se em novas fontes…”[2] Um desafio renovado pelas contingências, permutações e trabalho decidido.

[1] Poema Guardar,  de Antônio Cícero.
[2] MILLER, JUDITH FIBOL In: https://www.nel-amp.org/sv/biblioteca.fibol