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Comentário sobre “As pulsões e seus destinos”.

Obras incompletas de Sigmund Freud. Belo Horizonte: Autêntica Ed., 2017, p.23-24 e 33.

Fernanda Cristina Gomes de Carvalho (Associada ao CLIN-a)

Logo no início do artigo As pulsões e seus destinos, Freud chama a pulsão de “conceito fundamental”[1], a qual atua como uma “força constante” no “interior do organismo”[2]. Em seguida acentua que a pulsão é uma exigência de trabalho imposta à mente em virtude de sua relação com o corpo.

Para entender os apontamentos de Freud sobre a pulsão, é importante retomar o Seminário 11, no qual Lacan se esforça em diferenciar as bases entre instintos e pulsões.

A força constante da pulsão não permite a sua associação com uma função biológica, uma vez que esta possui sempre um ritmo – organizado para funcionar como conexão entre o mundo externo e o programa interno[3]. A pulsão, por ser constante, não modifica a sua força ao atingir a satisfação, o que parece ser um tanto paradoxal.

Freud nos lembra que “a meta (ziel) de uma pulsão é sempre a satisfação”[4]. A pulsão consegue se satisfazer sem atingir o seu alvo, pois isto implicaria se restringir à função biológica da sexualidade, ou seja, atingir o objetivo da reprodução. Por isso a pulsão para Lacan é sempre parcial, nunca completa o seu circuito, indicando para uma falta, um resto.

Para Lacan, não podemos dizer que a satisfação não é atingida, entretanto ela é paradoxal na medida que coloca em jogo a “categoria do impossível”[5] – do real.


[1] Freud, S. (1915/2017). “As pulsões e seus destinos”. Obras incompletas de Sigmund Freud.  Belo Horizonte: Autêntica, p. 17.
[2] Idem, p. 19.
[3] Brousse, M-H. (1997). “A pulsão II” In: Feldstein, R., Fink e Jaanus, M. (orgs.) Para ler o Seminário 11 de Lacan: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
[4] Freud, S. (1915/2017). “As pulsões e seus destinos”. Obras incompletas de Sigmund Freud.  Belo Horizonte: Autêntica, p. 25.
[5] Lacan, J. (1964/2008). O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 164.
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