2020
LEITURAS EM CENA
Coordenação: Isabel do Rêgo Barros Duarte, Maricia Ciscato e Renata Martinez
O Leituras em Cena está em seu segundo ciclo de trabalho. O primeiro, encerrado em meados de 2019, teve como marca o estudo teórico em torno do tema da segregação, impulsionado pela viva parceria com a Cia. dos Atores e pela peça “Insetos”, de Jô Bilac. Essa parceria funcionou tão bem que decidimos dar continuidade a ela em um novo ciclo de estudo. Desta vez, estamos nos debruçando sobre a peça “Júlio César”, que está sendo adaptada pela Companhia para ser apresentada em meados de 2020. Essa peça de Shakespeare nos abriu novas portas de pesquisa, levantando questões atuais que vão desde o lugar do “Um do Pai” hoje até a multiplicidade que implica o “Um do corpo”.
2019
Apresentação Leituras em Cena
Renata Martinez
05/07/2019
Olá boa noite, é com imenso prazer que dou as boas vindas a todos hoje! Essa é uma noite especial para nós do “Leituras em Cena”. Nós abrimos nossas janelas para os Insetos, abrimos nossa casa, a seção Rio da Escola Brasileira de Psicanálise, para receber presenças tão importantes nessa trajetória que construímos até aqui.
Muitos sabem que esse evento estava marcado para a noite do 17 de maio, mas tivemos que adiá-lo pelo caos que se instalou após as chuvas que deixaram nossa cidade amputada. Confesso que hoje pela manhã me deu um certo friozinho na barriga… Esse adiamento inverteu uma ordem e fez com que apresentássemos o Leituras aqui na seção, numa noite de 2a feira, antes da própria Leitura ocorrer.
O projeto, acolhido fortemente pela atual Diretoria, já tem uma estrada e acho importante situá-la rapidamente. Assim como apresentar os “coletivos” envolvidos e quem os sustenta.
Serei breve: começamos a nos reunir, Maricia Ciscato, Isabel do Rego Barros Duarte e eu, Renata Martinez, em março de 2018. Em julho, juntaram-se a nós Dinah Kleve, Natasha Berditchevsky, Patricia Patterson e Thereza De Felice. O que nos uniu foi a angústia diante dos tempos atuais, diante de nossa clínica e dos acontecimentos a nossa volta, a sensação frequente de “fim do mundo”, ou melhor, do fim de um tipo de mundo em que acreditamos e apostamos. Brincávamos na época que éramos “corpos angustiados”…
Não me canso de repetir e novamente escolho o mesmo fato pra ilustrar o que estou dizendo: março de 2018, assassinato de Marielle Franco, comoção, indignação, mas também paralisia e frustração. Claro que, bem antes disso ou de lá pra cá, presenciamos muitos acontecimentos bizarros, muita coisa se passou… E o mal estar permaneceu ou mesmo cresceu. O “Leituras em cena” tem sido uma nova maneira de lidar com tudo isso.
A psicanálise, desde Freud, nos oferece ferramentas de leitura para o mal estar na civilização. Mas nossa ideia era explodir as fronteiras, queríamos trabalhar com outras línguas de tratamento do mal estar. A arte, mais especificamente o teatro, pelo impacto da palavra e pela presença dos corpos – atores e plateia – , nos pareceu um caminho a seguir e foi nessa busca que Insetos se apresentou pra nós.
Eu tinha assistido a peça no CCBB em maio e, em agosto, quando a Editora Cobogó lançou o livro, inserimos o texto em nossos encontros. Que potência de transmissão! A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida… Frase de Oscar Wilde que vocês poderão verificar daqui a pouco, ao ouvirem a leitura…
Nessa peça que comemora os 30 anos da Cia dos Atores, o texto de Jô Bilac, foi intensamente trabalho pelo diretor convidado, Rodrigo Portella, que não pode estar aqui hoje conosco, e pelos atores Cesar Augusto, Gustavo Gasparani, Marcelo Olinto e Marcelo Valle – esses maravilhosos que estão aqui -, e mais Susana Ribeiro, cuja ausência sentimos muito. Coletivamente, puseram a mão na massa e criaram os personagens e seu próprio texto adaptado para o espetáculo no palco.
A publicação de Insetos é linda e faz parte da coleção Dramaturgia da Editora Cobogó, que tem hoje uma coleção enorme de teatro contemporâneo, são 58 títulos publicados! Se quiserem, vocês podem comprar o livro ali na casa 16. A edição traz as duas versões do texto lado a lado, é um trabalho muito delicado. Queremos agradecer imensamente à Isabel Diegues, editora chefe da Cobogó que está aqui hoje pra participar da conversa e topou a parceira conosco com muita empolgação.
Essa é a terceira vez que nós nos encontramos para uma roda de conversa. Por “nós” quero dizer a Cia dos Atores, a editora Cobogó e o Leituras em Cena. Em dezembro, a convite da Cia dos Atores, estivemos no palco da Sede das Cias na Lapa após o espetáculo para uma conversa com diretor, atores, editora e a plateia. Em fevereiro, foi a vez de adentrarmos a Carpintaria, uma galeria de arte que aposta no diálogo com outras linguagens. Ali, numa conversa animada, nos misturarmos às artes plásticas e aos atores na exposição “Perdona que no te crea” cujas fronteiras se queriam mesmo borradas. Foram duas experiências intensas.
Agora, para esquentar nossa terceira conversa pública convidamos o psicanalista Marcus André Vieira e o escritor Luiz Eduardo Soares.
Marcus é de casa, psicanalista da EBP/AMP, conduz há dois anos um seminário intitulado “A psicanálise do fim do mundo”. Muitas das ideias que nos impulsionam a sustentar o “Leituras em Cena” foram retiradas desse seminário e não podíamos deixar de convidá-lo para estar aqui conosco.
O Luiz Eduardo além de cientista político, antropólogo e escritor é amante e conhecedor de teatro. O Luiz esteve em nosso 2o encontro na Carpintaria quando participou da leitura e da excelente conversa que tivemos lá. Apostamos que sua contribuição e suas ideias nos trarão força para seguirmos trabalhando.
Passemos então a leitura de cenas de Insetos e depois a conversa! Obrigada

