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O CÉU DE LALÍNGUA

por José Augusto Rocha

O Céu da Língua — peça escrita e encenada por Gregório Duvivier — é uma ode à língua e ao nosso esforço hercúleo de nomear as coisas. Desde o Crátilo, diálogo socrático, está em jogo por que as coisas têm o nome que têm. É um tantinho cômico assistir que tal esforço se traduz em produzir equívocos entre os falantes. O Céu da Língua é, também, no título, uma metáfora. Como tantas que compõem a linguagem. Como tantas, por assim dizer, que compõem tantos versos. O velho Saussure, por exemplo, de acordo com Barthes, dizia que as palavras são moedas sem lastro. Um exercício que, antes de qualquer coisa, mostra que mesmo o grande linguista também pode flertar com a poesia. Um exercício igualmente interessante, porém, seria recolhermos as metáforas e metonímias que compõem o céu dos neuróticos. Este arco que busca fazer do sentido o que obturaria o gozo opaco do sintoma.

N’O Céu da Língua há a presença de lalíngua nos balbucios e sons desprovidos de sentido, como se no fracasso de sentido lalíngua nos mandasse lembranças; momento este no qual se faz ouvir as marcas no corpo, a vibração que ecoa no encontro traumatizante entre a carne e o significante, deixando o rastro de um gozo opaco e, portanto, sem sentido. Conferimos sentido às palavras na intenção de alcançarmos a coisa. Nesse céu neurótico, compomos uma série de sentidos na intenção de elaborar o que do real se fez encontro — contingente e traumático. O que descobrimos, entretanto, a partir de uma análise, muito mais do que o léxico fantasmático, é a capacidade de vibrar em torno desse “nhã nhã” que faz Um corpo em nós.

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