por Susane Zanotti (EBP/AMP)
Da Comissão de Mídias
Doce Amargo, história em quadrinhos de João Marcos Mendonça, lançada neste mês de setembro, é um convite para não esquecermos as rupturas do maior desastre socioambiental da história do Brasil. Consequência da ruptura da barragem da Samarco que liberou uma avalanche de rejeitos de mineração contaminando a bacia do Rio Doce, em Minas Gerais e no Espírito Santo, e alcançou o oceano Atlântico. O autor, morador da cidade de Governador Valadares que tinha o Rio Doce como única fonte de abastecimento, escreve e ilustra em HQ sua experiência desse trauma coletivo, norteada por um antes e um depois da tragédia ocorrida há quase 10 anos. Leitura imperdível para a V Jornada!
Do livro de 186 páginas, destaco três cenas que remetem ao colapso, à memória, ao trauma em suas dimensões de furo (troumatisme) e excesso (tropmatisme) e indicam um modo de tratamento pela palavra e pela arte. “O caos bate à porta”, em um dia como outro qualquer, o professor universitário – enquanto se arrumava para ir ao trabalho, ouve fragmentos de uma notícia de tv – palavras soltas, sem sentido: rompeu, barragem, Mariana, muita lama, Samarco. “A lama” do desastre em Mariana atingiu milhares de metros cúbicos e percorreu muitos quilômetros de extensão, provocando destruição, desaparecimentos de pessoas e morte. Lama, rejeitos, barragem: palavras que a partir dali fazem parte do cotidiano da família de João Marcos e da população que teve sua vida completamente transfigurada. “Doce amargo” – é título da obra, nomeação dos efeitos dessa tragédia na água do rio por uma criança com 6 anos – “deixou de ser doce, deve estar amargo”. “Pode ser também doce amargo”.

MENDONÇA, J. M. Doce amargo: um relato em quadrinhos do maior desastre ambiental do Brasil. Editora Nemo, 2025, 184p.

Comments (1)
Susane e demais da Comissão de Mídias, que feitura linda em quadrinhos tão bem escrita e ilustrada em arte por toda parte e a sutileza do enredo a transmitir tão assombrosa experiência; e , a eleição oportuna deste material a contemplar a temática da nossa Jornada tão bem descrita por Susane, nos provoca a aprofundar , ainda mais, nosso estudo e investigação sobre o TRAUMA. Agradecida, parabenizo-as.